Nós, signatários da tese “Um partido para tempos
de guerra”, atendendo a deliberação da CEN, que pediu que cada chapa
apresentasse uma atualização para seu texto, agregamos ao nosso projeto de
resolução o que segue.
“Um partido para tempos de guerra”: manifesto à militância
petista, às delegadas e aos delegados ao 5º Congresso Nacional do Partido dos
Trabalhadores
A Nação brasileira — e
muito especialmente a população pobre, a classe trabalhadora, os setores
progressistas da classe média — acompanha os debates e aguarda as resoluções do
5º Congresso do PT.
As decisões de nosso
congresso incidirão sobre o presente e o futuro de todos os setores sociais,
das classes trabalhadoras ao empresariado; dos que ampliaram recentemente sua
capacidade de consumo aos setores médios tradicionais; dos que venceram aos que
perderam as quatro eleições presidenciais realizadas desde 2002.
Partidos e governos de
todo o mundo também aguardam com interesse as decisões do 5º Congresso do PT.
As decisões de nosso congresso
vão influenciar a política externa brasileira, as nossas relações com os
Estados Unidos e com os BRICS, os rumos da integração latino-americana e
caribenha.
Mas quem aguarda com maior
esperança os resultados de nosso 5º Congresso é a “nação petista”.
“Nação” composta por
dezenas de milhões de brasileiros e de brasileiras que desde 1980 dedicaram
suas esperanças, empenharam suas melhores energias e recursos para construir um
Partido que fosse capaz de representar os interesses e ajudar a organizar a ação
das classes trabalhadoras na luta por um Brasil democrático, popular e
socialista.
Parte da “nação petista”
compareceu às etapas livres e aos debates preparatórios do 5º Congresso e pediu
mudanças. Mudança na linha política e no funcionamento do Partido, mudança na
ação de nossas bancadas parlamentares e na ação do governo Dilma.
O melhor e mais recente
exemplo deste apelo por mudanças imediatas e profundas é o manifesto assinado
por todos os petistas que integram a executiva nacional da Central Única dos
Trabalhadores, intitulado “O PT de volta para a classe trabalhadora”.
O 5º Congresso deve
encampar as afirmações e as diretrizes indicadas naquele Manifesto, com
destaque para o que citamos a seguir:
“É certo
que na última década a classe trabalhadora teve ganhos significativos. Foram
adotadas políticas econômicas e sociais positivas para a maioria do povo
brasileiro, como a valorização do salário mínimo e a criação de 22 milhões de
novos empregos formais. Ao final de 2014 a taxa de desemprego era de 4,8%, com
a inflação controlada, com 40 milhões de pessoas saídas da extrema pobreza e
com uma nova dinâmica de desenvolvimento regional no país, priorizando o
investimento federal nas regiões Norte e Nordeste”.
“Vieram as
eleições de outubro de 2014, onde a CUT e os movimentos sociais foram
imprescindíveis para a reeleição de Dilma em defesa dos direitos e contra o
retrocesso. Mas o governo, em vez de dar continuidade a essa relação positiva
que garantiu a vitória no 2º turno, optou por uma guinada na política
econômica, com medidas de ataques a direitos dos trabalhadores, sem sequer
dialogar com as centrais sindicais. Aproveitando-se dessa situação, a oposição
e a direita cresceram nas ruas e nas instituições, com o apoio da grande
imprensa”.
“Nessa
situação, o PT ficou no meio do fogo, ora dando sustentação às medidas de
ajuste fiscal do governo, ora defendendo corretamente as nossas bandeiras, como
na luta contra o PL 4330 da terceirização. Causou profunda decepção na
militância sindical petista a aprovação das MPs 664 e 665, que restringem o
acesso das camadas mais vulneráveis de nossa classe a direitos trabalhistas e
previdenciários”.
“É urgente
interromper as tentativas de implementação de uma agenda neoliberal no país que
têm como objetivo central reduzir o custo do trabalho através do desemprego e
da flexibilização das Leis Trabalhistas. O Projeto 4330, da Terceirização, é
parte fundamental dessa agenda, por isso o PT precisa seguir lutando por sua
derrota agora no Senado (PCS 30)”.
“Consideramos
que a política de ajuste fiscal regressivo e recessivo inaugurada com a
nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda coloca o PT contra a
classe trabalhadora e as camadas populares que sempre foram sua principal base
de apoio. Trata-se de uma política econômica que diminui o papel do Estado,
corta investimentos e eleva juros, acabando por restringir direitos sociais,
rebaixar salários e aumentar o desemprego, com impactos negativos no PIB”.
“Sabemos o
que ocorreu na história recente com partidos de esquerda que aplicaram
políticas de ajuste fiscal inspiradas pelo FMI, como se viu em alguns países da
Europa: entraram em crise, foram derrotados em eleições, perderam sua base
social. Não queremos que o mesmo aconteça com o PT!”
“Hoje o
PT, que já gozou do apoio constante de mais de 30% do eleitorado, atinge a sua
mais baixa popularidade. Assistimos a tentativas vindas de forças inimigas de
criminalização de nossos dirigentes e do próprio PT, às quais o nosso partido
não reagiu à altura. Segmentos do Judiciário, a mídia e partidos conservadores
vem tentando criar um cenário que permita abreviar o mandato de Dilma e até
mesmo levar à extinção do PT”.
“Estamos
seguros que só sairemos dessa crise se retomarmos a nossa tradição de partido
da classe trabalhadora, de organização da militância para a luta social e
política. Basta de diretórios esvaziados e burocratizados, com direções que
muitas vezes não têm relação com o movimento dos trabalhadores e setores
populares. É preciso mudar nossos métodos de debate e decisão, em favor de
mecanismos que permitam a real participação dos militantes na vida
partidária”.
“É preciso
que o PT afirme a necessidade do Estado atuar a favor do crescimento, é
necessário reduzir a taxa de juros, fazer com que as tarifas públicas contribuam
para a queda da inflação e implementar programas governamentais de incentivo à
atividade produtiva. O sistema tributário deve ser progressivo, taxando grandes
fortunas e heranças, com uma reforma que desonere salários, taxe lucros,
dividendos e ganhos com a especulação financeira, ao mesmo tempo que se
estimule o aumento de renda dos mais pobres. Os programas sociais do programa
eleito precisam ser iniciados de imediato”.
“Enfim,
uma agenda política positiva, que tenha no centro a valorização do trabalho,
com uma política econômica anti-neoliberal que implica a democratização do
Estado e a realização de reformas estruturais (reforma política democrática,
reforma agrária, reforma tributária e democratização da comunicação)”.
“Ainda é
tempo de mudar de política e de plano econômico, o que, na nossa opinião, é
essencial para a sobrevivência do PT como partido dos trabalhadores”.
Estamos convencidos de que
o espírito presente neste manifesto dos petistas cutistas é amplamente
majoritário nas bases do Partido.
Em resumo: ganhamos a
eleição presidencial na perspectiva de uma transformação democrático-popular do
Brasil, mas corremos um sério risco de desmonte e reversão das mudanças feitas
ao longo dos últimos 12 anos.
Desmonte e reversão que
causariam danos graves aos BRICS, à integração regional, à soberania nacional,
ao desenvolvimento do país, à democracia e ao bem estar da maioria
trabalhadora. E, claro, causariam danos graves também ao conjunto da esquerda
brasileira.
Os delegados e as
delegadas ao 5º Congresso nacional do PT precisam estar cientes, contudo, de
que nossas principais dificuldades não decorrem da ação da oposição de direita,
do oligopólio da mídia ou do grande capital, seja transnacional, financeiro,
agropecuário ou monopolista.
Nossos inimigos e nossos
adversários estão apenas fazendo a sua parte: Cunha presidente da Câmara,
ofensiva conservadora no poder legislativo (redução da maioridade penal;
ampliação da terceirização pela retomada do PL 4.330; constitucionalização do
financiamento empresarial de campanha; PEC 451/2014 que extingue o direito
social à saúde, PLS 200/2014 etc.), Operação Lava Jato, ataque à Petrobras,
prisão do tesoureiro do PT, mobilizações da direita golpista, governos
estaduais tucanos barbarizando professores...
Mas se hoje estão tendo
maior êxito em seus ataques, é devido às dificuldades existentes em nossas
próprias fileiras.
As causas fundamentais de
nossas dificuldades não estão certamente nos movimentos sociais em que atuamos,
mas tampouco devem ser buscadas em nossas bancadas parlamentares e governos, a
começar pelo governo encabeçado pela presidenta Dilma.
Em última análise, as
dificuldades que enfrentamos têm origem nas fileiras do Partido. É
principalmente nelas que devemos encontrar e corrigir o que nos afeta
negativamente. Se o fizermos, será muito mais fácil corrigir os problemas
existentes nos governos, bancadas e movimentos.
Quando olhamos para nosso
Partido, entre virtudes e defeitos, percebemos um problema central.
Por um lado, parte importante de nós, inclusive uma parcela importante de nossas direções, reconhece que a situação é grave.
Por um lado, parte importante de nós, inclusive uma parcela importante de nossas direções, reconhece que a situação é grave.
Por outro lado, ao mesmo
tempo, um grande setor de nosso partido ainda resiste a promover mudanças
imediatas e profundas na linha política, no funcionamento, no financiamento e
no relacionamento do Partido com as classes trabalhadoras.
Recusam-se, por exemplo, a
democratizar o sistema de eleição das direções partidárias; resistem a abrir
mão do financiamento empresarial privado; resistem a ir fundo no tratamento e
no debate da questão da corrupção; resistem a admitir o esgotamento da “aliança
estratégica” com o PMDB.
Um dos principais desafios
do 5º Congresso consiste exatamente em não permitir que este comportamento
conservador impeça nosso Partido de
mudar na direção certa e em tempo hábil.
Os delegados e as
delegadas ao 5º Congresso foram eleitos no ano de 2013. Naquela época, já havia
sinais abundantes de que a situação estava exigindo do Partido uma nova
orientação política, uma nova conduta, um novo padrão de funcionamento, uma
nova relação com as classes trabalhadoras.
Mesmo reconhecendo (em
parte) estes problemas, prevaleceu no PED 2013 a opção por não antecipar o
debate de medidas alternativas, muito menos começar a adotar as medidas
preventivas.
As opções feitas e as não
feitas em 2013 explicam em boa medida o tamanho da confusão, desorientação e
insatisfação instaladas no Partido, já durante as eleições de 2014 e até hoje.
Para que o 5º Congresso
tenha sucesso, os delegados e as delegadas eleitas em 2013 precisam atualizar
seu ponto de vista com a radicalidade necessária para dar conta da situação
política.
A maioria das teses
inscritas para debate no 5º Congresso promete mudanças no comportamento do
Partido, não apenas na formação política, na comunicação ou no combate à
corrupção, mas especialmente no sentido de reatar laços com um grande setor da
classe trabalhadora que confiava em nós, mas agora se distanciou.
A maioria das teses
defende que o PMDB não é aliado das mudanças, sendo necessário construir uma
frente com os partidos, movimentos, setores e personalidades de esquerda,
democráticos e populares que garantiram a eleição de Dilma no segundo turno de
2014.
A maioria das teses aponta
para mudanças na estratégia do Partido, no sentido de que para transformar o
Brasil é preciso combinar luta social e institucional, luta cultural e
organização, tendo como objetivo não conciliar, mas derrotar o grande capital,
a oposição de direita e o oligopólio da mídia.
A maioria das teses sugere mudanças na política do
governo Dilma, no sentido do programa vitorioso no segundo turno das eleições
presidenciais, não aquele vitorioso nas eleições da Câmara dos Deputados no
primeiro turno e tampouco o da atual política econômica.
Mais importante do que as teses em debate no 5º
Congresso, é a já citada opinião e principalmente a atitude prática da
militância petista e simpatizante que atua nos movimentos sociais, sindicais,
populares, comunitários, de juventude, estudantis, mulheres, quilombolas,
contra o racismo, contra a homofobia, pelos direitos humanos e muitos outros.
Esta militância, através das organizações em que atua,
tem feito um esforço imenso para incidir na conjuntura e na direção correta,
inclusive dando passos concretos para construir uma frente democrática e
popular, pela democracia, contra o retrocesso e por reformas estruturais.
Vale dizer que desde o segundo turno até agora, cresceu
a presença espontânea do petismo nas ruas, por exemplo nas jornadas de luta
protagonizadas pela CUT.
Na mesma linha e como já
foi dito, grande parte da militância que compareceu aos debates realizados em
todo o país por conta do 5º Congresso pediu algo que pode ser resumido de forma
simples: que tome posse aquela presidenta Dilma que nós elegemos no segundo
turno da campanha presidencial!
Para dar consequência ao
que é insinuado em parte das teses e exigido por grande parte da militância
petista, especialmente a sindical, nosso Congresso deve iniciar um giro
estratégico, análogo ao que fizemos no 5º Encontro (1987) e no 10º Encontro
(1995).
Mesmo quem defendeu a
estratégia adotada a partir de 1995 e vigente (com inflexões) até agora, deve
reconhecer que as condições gerais da luta de classes no mundo e no Brasil
modificaram-se, inclusive devido à nossa ação.
Nossas vitórias eleitorais,
inclusive quatro eleições presidenciais seguidas, não se demonstraram
suficientes para fazer as chamadas “reformas estruturais” (reforma agrária e
urbana, reforma política e do Estado, democratização da comunicação, reforma
tributária etc.).
E sem reformas como a
tributária, por exemplo, especialmente na atual conjuntura internacional e
nacional, o Estado brasileiro não terá recursos suficientes para financiar o
crescimento, ampliar as políticas públicas e criar as condições para melhorar a
vida dos setores populares.
Neste sentido, o PT deve
defender com desassombro, junto com a reforma tributária, políticas públicas de
qualidade e para toda a população brasileira, com destaque para a efetiva
implantação do Sistema Único de Saúde e para a radical qualificação e o acesso
universal à educação.
Tais propostas marcam a
opção do nosso partido pela implantação de políticas públicas inspiradas na
solidariedade social, em contraposição às políticas que atendem aos interesses
econômicos privados e que visam extinguir direitos sociais e transformar a
saúde e a educação em mercadoria.
Escolhas terão que ser
feitas, sendo que o nível de organização, mobilização e consciência das classes
trabalhadoras cresceu mais devagar do que o ódio dos setores médios e a
oposição do grande capital contra nós. Grande capital que abandonou a política
de “convivência pacífica” que chegou a manter, durante curto período, com
governos e com políticas dedicadas a elevar salários, reduzir o desemprego e
ampliar direitos sociais.
Vivemos e seguiremos
vivendo tempos de conflitos cada vez mais agudos, sendo que depois de anos
priorizando disputas eleitorais, ação parlamentar e de governo, nosso Partido
exibe fortes sinais de atrofia política e ideológica, inclusive um esquecimento
progressivo do nosso objetivo de construir uma sociedade socialista.
Por todas estas razões,
nós da tendência petista Articulação de Esquerda, que apresentamos ao 5º
Congresso a tese “Um partido para tempos de guerra”, defendemos que para seguir
avançando é preciso adotar uma nova linha política global, uma nova estratégia,
da qual decorrem um novo padrão de funcionamento e um novo comportamento do
Partido na luta de classes.
Comportamento que deve se
traduzir, entre outros terrenos, numa política de comunicação partidária de
massas — articulando impressos (jornais e revistas), rádio, televisão e redes
sociais — voltada a defender as posições da classe trabalhadora, fortalecer os
laços com os movimentos sociais, lutar pela ampliação de direitos e liberdades democráticas,
amplificar o alcance do programa democrático-popular e socialista na disputa
ideológica, no plano nacional e internacional, dialogar e organizar nossa ampla
base social, realizar a disputa política e ideológica permanente com nossos
adversários e também com nossos inimigos de classe.
Essas e outras medidas político-organizativas estão
detalhadas na parte final do projeto de resolução “Um partido para tempos de
guerra”.
Ao 5º Congresso cabe
iniciar este giro estratégico,
aprovando uma declaração política e convocando, para o segundo semestre de
2015, um Encontro Nacional Extraordinário, com delegados eleitos nos encontros
estaduais, distrital, municipais e zonais, para eleger um novo Diretório
Nacional.
Este giro parte da
compreensão de que o Partido dos Trabalhadores está diante da maior crise de
sua história. Ou mudamos a política do Partido e a política do governo Dilma;
ou corremos o risco de sofrer uma derrota profunda, que afetará não apenas o
PT, mas o conjunto da esquerda política e social, brasileira e latinoamericana.
A crise do PT decorre,
simultaneamente, de nossas realizações e de nossas limitações.
Tivemos êxito em ampliar o
bem-estar social, a democracia e a soberania nacional. E é este êxito que
explica termos conseguido vencer quatro eleições presidenciais seguidas.
Mas não fomos capazes de
realizar transformações estruturais, que retirassem do grande capital o
controle sobre as alavancas fundamentais da economia e da politica brasileira.
Controlando estas
alavancas, a oposição de direita, o oligopólio da mídia e o grande capital
desencadearam uma ofensiva geral que inclui a desmoralização política e
ideológica do petismo e da esquerda em geral, o estímulo à sabotagem por parte
de setores da base aliada, a pressão para que o governo aplique o programa dos
que perderam a eleição, a mobilização de massas dos setores conservadores, a
ameaça permanente de impeachment e a promessa de nos derrotar eleitoralmente em
2016 e 2018.
Frente a esta situação, o
5º Congresso do PT deve aprovar resoluções que permitam ao Partido, ao conjunto
de sua militância, executar cinco tarefas principais.
A primeira tarefa é
reocupar as ruas. A oposição de direita controla parte importante do
Judiciário, do Parlamento e do Executivo, em seus diferentes níveis. Agora está
trabalhando intensamente para também controlar as ruas, utilizando para isto
sua militância mais conservadora, convocada pelos meios de comunicação,
mobilizada com recursos empresariais e orientada pelas técnicas golpistas das
chamadas “revoluções coloridas”. Caso a direita ganhe a batalha de ocupação das
ruas, não haverá espaço nem tempo para uma contraofensiva por parte da
esquerda. Assim, a primeira tarefa de cada petista deve ser apoiar, participar,
mobilizar e ajudar a organizar as manifestações programadas pelos movimentos e
organizações das classes trabalhadoras.
A segunda tarefa é
construir uma Frente Democrática e Popular. Há várias iniciativas em curso,
algumas delas sem o PT e até mesmo contra o PT. Nosso Partido deve procurar as
forças que elegeram Dilma no segundo turno presidencial e que defendem as
reformas estruturais, propondo a elas que se constitua uma frente popular em
defesa da democracia e das reformas. O programa mínimo desta Frente Democrática
e Popular deve incluir a revogação das medidas de ajuste recessivo; o combate à
corrupção; a reforma tributária com destaque para o imposto sobre grandes
fortunas, a implantação do imposto progressivo, o combate feroz à sonegação
fiscal; a defesa da Petrobrás e da industrialização nacional; a ampliação das políticas
públicas universais como saúde, educação, cultura e mobilidade urbana; a
reforma urbana, a reforma política e a democratização da mídia. A Frente
Democrática e Popular é essencial para derrotar o golpismo e libertar o governo
da chantagem peemedebista. Mas o objetivo principal da Frente Democrática e
Popular é lutar por transformações estruturais, sendo para isto necessário
construir instrumentos de articulação política e de comunicação de massas que
nos permitam enfrentar e vencer o oligopólio da mídia.
A terceira tarefa é mudar
nossa estratégia. Se queremos melhorar a vida do povo, se queremos ampliar a
democracia, se queremos afirmar a soberania nacional, se queremos integrar a
América Latina, se queremos quebrar a espinha dorsal da corrupção, é preciso
realizar reformas estruturais no Brasil, que permitam à classe trabalhadora
controlar as principais alavancas da economia e da política nacional. Para
isto, precisamos de uma aliança estratégica com as forças
democrático-populares, com a esquerda política e social. Precisamos, também,
combinar luta institucional, luta social e luta cultural. Recuperar o apoio
ativo da maioria da classe trabalhadora, ganhar para nosso lado parte dos
setores médios que hoje estão na oposição, dividir e neutralizar a burguesia,
isolando e derrotando o grande capital transnacional-financeiro. Isso implica
abandonar a conciliação de classe com nossos inimigos.
A quarta tarefa é alterar
a linha do governo. É plenamente possível derrotar a direita se tivermos para
isto a ajuda do governo. É possível derrotar momentaneamente a direita, até
mesmo sem a ajuda do governo. Mas é impossível impor uma derrota estratégica à
direita, se a ação do governo dividir a esquerda e alimentar a direita. Por
isto, o 5º Congresso do PT deve dizer ao governo: que os ricos paguem a conta
do ajuste, que as forças democrático-populares ocupem o lugar que lhes cabe no
ministério, que a presidenta assuma protagonismo na luta contra a direita,
contra o PIG e contra a especulação financeira.
A quinta tarefa é mudar o
próprio PT. O Partido que temos não está à altura dos tempos em que vivemos.
Das direções até as bases, é preciso realizar transformações profundas.
Precisamos de um partido para tempos de guerra. O que inclui a adoção de
algumas medidas organizativas que estão listadas no projeto de resolução “Um
partido para tempos de guerra”.
Neste espírito de “dar um
giro estratégico”, propomos que o Congresso altere sua metodologia de debates e
votações.
Ao invés de começar
aprovando um texto-base, propomos que se inicie travando um debate político
aberto e que se conclua aprovando uma Declaração Política — que pode ser
intitulada “Declaração à classe trabalhadora e ao povo brasileiro” (por
exemplo) — contendo as principais
conclusões políticas do 5º Congresso.
Em nossa opinião, tal
“Declaração” deveria incluir os seguintes pontos:
1) Análise da situação
internacional, que parta da constatação de que o mundo vive hoje nos marcos da
mais profunda crise do capitalismo desde 1929;
2) Crítica ao receituário
que as nações imperialistas, os governos conservadores e os partidos
neoliberais têm proposto, receituário que inclui medidas como redução de
salários e direitos, corte dos gastos públicos, salvaguarda estatal dos bancos
privados, protecionismo comercial e imposição de novas medidas para a
integração subordinada das nações emergentes à ordem econômica mundial;
3) Reafirmação de que
nossa alternativa inclui, entre seus pilares, uma política externa baseada na
soberania nacional, na integração regional latino-americana e na ação dos
BRICS;
4) Constatação de que, no
mundo pós-crise de 2008, para melhorar a vida do povo, ampliar a democracia,
exercer a soberania e praticar a integração regional, é preciso combinar
políticas públicas com fortes reformas estruturais;
5) Percepção de que
vivemos e viveremos um período de agudização da luta de classes, em âmbito
nacional e internacional, seja porque as nações imperialistas e os grandes
capitalistas desejam ampliar seus ganhos às nossas custas, seja porque as nações
em desenvolvimento e as classes trabalhadoras querem ampliar seus direitos;
6) Indicação de que, neste
novo quadro internacional e nacional, faz-se necessária uma nova estratégia e
uma nova conduta por parte das forças progressistas, democráticas e populares,
movimentos sociais e partidos políticos;
7) Admissão de que esta
nova estratégia e esta nova conduta devem incidir, também, na ação dos governos
encabeçados por petistas, a começar do governo federal dirigido por nossa
companheira presidenta Dilma Rousseff;
8) Reconhecimento de que
não há terceira via: ou seguimos pelo caminho das reformas estruturais ou
abrimos espaço para a retomada de políticas de tipo neoliberal;
9) Esboço de um novo
programa para um novo ciclo de desenvolvimento, cujo núcleo fundamental é um
conjunto de reformas estruturais — como a política, democratização da
comunicação, tributária, agrária, urbana, educacional, sanitária e de
transportes — as quais, combinadas com o fortalecimento do Estado, a manutenção
do regime de partilha na exploração do Pré-Sal, a industrialização e a
ampliação do mercado interno, tornem possível garantir mais democracia, mais
bem-estar social, mais soberania nacional e mais integração regional;
10) Apresentação de um
elenco de medidas imediatas que visem fortalecer a ação do Estado e quebrar o
rentismo, entre as quais: a) reversão da política de juros altos; b) adoção de
impostos sobre grandes fortunas, heranças e dividendos; c) mudança das
alíquotas do Imposto de Renda, elevando seu teto para 50% e aliviando a carga
tributária sobre a maioria dos assalariados; d) retomada da contribuição sobre
movimentação financeira, como instrumento para financiar a saúde pública; e)
tributação de helicópteros, barcos e jatos particulares; f) controle de entrada
e saída de capitais estrangeiros, estipulando taxação inversamente proporcional
ao tempo de permanência no país; g) Aumentar o Imposto Territorial Rural de acordo
com tamanho e utilização e produtividade da terra; h) Fim da isenção sobre
lucros e dividendos (PF e Remessas ao Exterior); i) Majorar a alíquota da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) a cargo dos bancos de 15% para
20%, expresso na MP 675/2015.
11) Estruturação de um
novo modelo de governabilidade e de alianças, assentado pela construção de uma
frente democrática e popular, de partidos e movimentos sociais, do mundo da
cultura e do trabalho, baseada na identidade com as mudanças propostas para o
período histórico em curso, reunificando os que fizeram a diferença no segundo
turno de 2014. Prosseguir na luta pela Constituinte exclusiva, pela reforma
política, pelo fim do financiamento empresarial privado.
12) Proposta de execução
de uma política que mobilize a juventude e as mulheres, os coletivos LGBTT e
antirracistas, os grupos ecológicos e as organizações de direitos humanos. A
frente democrática e popular deve encabeçar a luta pelo fim dos autos de
resistência e pela desmilitarização das polícias militares estaduais; pela
universalização e implantação efetiva do Sistema Único de Saúde (SUS); pela
legalização das drogas; pela descriminalização do aborto; pelo reconhecimento
pleno da união homo-afetiva e outros direitos civis. Destaque para a punição de
todos os agentes de Estado que cometeram crimes contra a humanidade durante a
ditadura militar.
13) Democratização do
Partido, com formação e comunicação interna, fim do PED e regresso ao sistema
dos encontros democráticos, autofinanciamento do PT pelos seus apoiadores, não
receber mais doações empresariais (nem para candidaturas, nem para o Partido). Reafirmação
de que somos um partido que organiza a luta da classe trabalhadora aqui e
agora, que disputamos eleições e governamos, mas que o fazemos tendo como
perspectiva acumular forças na luta por uma nova sociedade, socialista e
democrática.
As delegadas e os
delegados ao 5º Congresso têm em suas mãos imensas responsabilidades. A
principal delas talvez seja manter viva a esperança simbolizada por nosso
Partido, por nossa estrela, por nossa bandeira vermelha e pela nossa luta por
um Brasil democrático, popular e socialista.
Viva o Partido dos Trabalhadores!
Viva a classe
trabalhadora!
Viva o povo brasileiro!
Gostei do texto, muito bom. Eu tenho uma atitude mais modesta diante da realidade, deve ser devido à idade.
ResponderExcluirPara mim dependeremos menos de aliados na medida em que ganharmos mais forças política com mais deputados no Congresso Nacional.
Para tanto se o partido se organizasse para fazer formação política com a população, onde fosse possível, nas escolas, sindicatos, acampamentos de sem-terra, onde pudesse, explicando para a população o que é o ORÇAMENTO da União e como ele é direcionado pelas leis votadas na Câmara dos Deputados.
Explicar que este ORÇAMENTO é disputado por banqueiros, industriais, agro-negócio ou simples ladrões. Dizer sem meias palavras que é com ele que se faz os programas sociais, escolas e universidades públicas, a previdência social e parte do sistema de saúde pública além da reforma agrária (ver art. 184, § 4º da Constituição Federal).
Por este ponto de contato com a realidade que o cidadã conhece pelas ações do governo nos últimos 12 anos poderemos politizar a disputa e fazer o cidadão perceber a importância voto para Deputado Federal, aquele que faz as leis mais importantes do país, que direciona os gastos do ORÇAMENTO da União, que vota leis que precarizam ou protegem os trabalhadores contra a voracidade do capital, que impede ou não a votação de uma PEC que pode reduzir a idade dos penalmente imputáveis.
Acredito que ao explicarmos em formação massiva a disputa pelo ORÇAMENTO da União poderemos fazer o cidadão entender por um ponto concreto como se desenrola a luta politica pelo poder e a importância do Legislativo e do Executivo Federal.
Participei da fundação do partido em fevereiro de 1980, no Colégio Beta, em Salvador, BA, e já vi o partido em situação pior, sem rumo, sem filiados, com grupos sectários dando as ordens.
Deve ser por isso que tenho hoje objetivos bem mais modestos e realistas. Se conseguirmos ser ouvidos em uma linguagem compreensível, sobre algo concreto como o DINHEIRO, o ORÇAMENTO da União e sua disputa política poderemos avançar. É o que penso e tenho tentado por em prática.
Para tanto se o partido se organizasse para fazer formação política com a população, onde fosse possível, nas escolas, sindicatos, acampamentos de sem-terra, onde pudesse, explicando para a população o que é o ORÇAMENTO da União e como ele é direcionado pelas leis votadas na Câmara dos Deputados eu já me daria por satisfeito.
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