Quais as propostas que inspiram sua candidatura a presidente nacional do PT?
Minha
candidatura foi lançada pela chapa "A esperança é vermelha", para
defender três idéias fundamentais: eleger Dilma em condições dela fazer
um segundo mandato melhor do que o atual, alterar a estratégia e alterar
o funcionamento do Partido.
O segundo mandato de Dilma tem que ser melhor do que
o atual. Isto significa, em nossa opinião, um mandato marcado pelas
reformas estruturais: reforma política via Constituinte, Lei da Mídia
Democrática, reforma tributária com taxação sobre as grandes fortunas,
reformas urbana e agrária, um salto de qualidade e de financiamento para
as políticas sociais, com destaque para saúde, educação e transporte
etc.
Para isto ser possível, precisaremos de aliados que estejam de acordo com estas reformas. Aliado que vota e se comporta como inimigo, não é aliado.Noutras palavras, defendemos não apenas uma tática para reeleger Dilma, mas uma estratégia para mudar estruturalmente o Brasil.
A estratégia implementada a partir dos anos 1990, sob comando de José Dirceu, não é adequada para o Brasil de 2013 e os próximos anos.
Aquela estratégia era baseada em alianças com partidos de centro-direita e com o grande capital, tolerância frente ao oligopólio da mídia e prioridade para o institucional.
Precisamos de uma nova estratégia, democrático-popular e socialista, que priorize os aliados de esquerda, que enfrente a direita e o grande capital, que democratize a comunicação e dê prioridade para a mobilização e organização social..Uma tática e uma estratégia distintas, exigirão muito mais do PT.
Nosso Partido tem um passado do qual me orgulho e muitos êxitos presentes. Mas temos que ser o partido do futuro, um partido conectado com as necessidades de um Brasil que pede reformas estruturais, com as urgências de uma América Latina que exigem integração regional, com os dilemas de um mundo em crise que precisa se libertar da ditadura do Capital.Para ser este partido do futuro, o PT precisa reconectar com sua base social, com a classe trabalhadora, com a juventude, com as mulheres, os negros, o movimento ambiental, indígena, lgbt.
Precisa recuperar sua autonomia e sua capacidade de dirigir os mandatos, os governos e as campanhas eleitorais. Precisamos de instâncias e dirigentes que respondam à base do Partido, não que atuem como "correias de transmissão" desta ou daquela liderança. E precisamos voltar a fazer política também nos anos ímpares, não apenas quando há eleições.Se não mudarmos o PT, e rápido, seremos tragados pela burocratização, pela degeneração, pela domesticação, pela institucionalização que nos ameaçam.Como o senhor avalia o PT hoje, passados os dois mandatos do ex-presidente Lula e diante do desenrolar do governo da presidente Dilma Rousseff?Os 10 anos de governo Lula e Dilma foram globalmente positivos para o Brasil. Estamos melhores do que estávamos sob governo FHC e melhores do que estaríamos caso Serra ou Alckmin tivessem vencido as eleições de 2002, 2006 e 2010.Entretanto, melhoramos a vida do povo, mas não mudamos as estruturas mais gerais do país. É por isto, aliás, que o ritmo da melhoria vem caindo e os problemas vem crescendo: ou fazemos reformas estruturais, ou teremos regressão política, social e econômica.Qual o efeito disto sobre o PT? Por um lado, somos o maior e num certo sentido o melhor partido do Brasil. Mas, por outro lado, somos o maior partido num ambiente político em que os partidos são rejeitados por amplos setores da população. E somos o maior partido, num contexto em que os partidos são profundamente influenciados pelo poder econômico, o que causa sobre o PT fenômenos deletérios.Traduzindo em miúdos: o PT cresceu e ficou mais forte, mas ao mesmo tempo vem perdendo aceleradamente características que são fundamentais para um partido da classe trabalhadora, para um partido que precisa ser militante, para um partido que escolheu ser socialista.Sintetizando numa imagem: um jovem que hoje tem 20 anos olha o Brasil e vê desigualdade, olha a política e vê muita corrupção, olha a presidência e vê o PT lá há dez anos. Muito facilmente este jovem pode ser capturado pela idéia falsa, segundo a qual o PT é o culpado por tudo isto que está aí. Para evitar isto, precisamos de uma política certa e de um funcionamento diferente do atual.Na sua ótica, quais as conseqüências, para o PT, das concessões feitas pelos governos Lula e Dilma Rousseff, em termos de alianças político-partidárias, em nome da governabilidade?Vejo três consequências.
A
primeira delas é a dos rendimentos cada vez mais decrescentes, para
emprestar um termo de economista. As alianças com partidos de
centro-direita, se é que algum dia foram efetivamente indispensáveis e
úteis, hoje são certamente muito mais ônus do que bônus. E se o país
muda pouco por causa disso, o PT é afetado negativamente. É preciso
dizer claramente: parte da base de apoio nominal do governo comporta-se,
de fato, como oposição.
A segunda consequência é sobre o desempenho
eleitoral do PT. Em troca do apoio à candidatura presidencial, o PT tem
feito concessões eleitorais que reduzem seu desempenho. Ganhamos três
vezes a presidência da república e nossa bancada na Câmara mantém mais
ou menos o mesmo tamanho. Em muitos estados, deixamos de ter candidatos a
governador e apoiamos candidaturas de setores historicamente inimigos
nossos, como é o caso do clã Sarney.
A terceira consequência é sobre nossa imagem. Uma
fotografia com Paulo Maluf, por exemplo, perde mais do que votos. Afeta a
credibilidade do Partido, cria confusão em nossa base social e
eleitoral. E para um partido de esquerda, coerência pode não ser tudo,
mas é muita coisa.
É importante dizer que sou a favor de alianças. E
alianças se faz com quem é diferente de nós. Especialmente alianças de
segundo turno. Porém, alianças tem que ser feitas em torno de programas.
Quando fazemos alianças estritamente pragmáticas, na verdade estamos
nos aliando em torno do programa de nossos inimigos ou adversários.
O escândalo do mensalão, que tragou ilustres lideranças petistas, não esfarinhou de modo irreversível o discurso ético do PT, que está na gênese do partido, e o nivelou por baixo, igualando o partido a prática das legendas das quais pretendia se distinguir?
Este
é o desejo da grande mídia e também é a impressão de metade da
população, segundo pesquisa feita por nós mesmos. Mas se a essência
fosse igual a aparência, não haveria ciência, certo?
De cara, estou seguro de que o mensalão não existiu.
O termo pegou, foi uma invenção digamos criativa daquele deputado
Roberto Jefferson, que com ela queria nos acusar de um crime contra a
Constituição. Mas como ele mesmo reconheceu, nunca houve pagamento
mensal de ninguém, muito menos com o objetivo de comprar votos de
parlamentares.
Em segundo lugar, o PT é muito maior do que as
atitudes efetivamente cometidas por alguns petistas, por mais
importantes que estes petistas sejam e por mais graves que sejam suas
atitudes. E que fique claro que eu considero gravíssima a adoção, por
parte de alguns, de uma sistemática de financiamento igual aquela que o
PSDB adotou em Minas Gerais. Independente de ser ou não crime, a
promiscuidade com aquele Marcos Valério e seu modus operandi foi e é
algo terrível e extremamente danoso para o PT.
Em terceiro lugar, há que se considerar a vida real.
Na vida real, o PT é o único dos grandes partidos que efetivamente
defende acabar com o financiamento empresarial das campanhas eleitorais.
Enquanto houver financiamento empresarial, haverá corrupção em grande
escala, porque haverá facilidade para a ação dos corruptores. Também na
vida real, foi no governo de petistas, Lula e Dilma, que o Estado
brasileiro reconstruiu vários mecanismos importantes de combate à
corrupção.
Portanto, acho que perdemos muito, mas daí a
esfarinhar e ficar igual aos partidos conservadores, vai uma grande
distância. O PT não é igual a direita, nem mesmo quando setores do PT se
esforçam neste sentido.
Sabe-se que a política é a arte da conciliação, mas nem por isso desobriga da dignidade. Sob essa perspectiva, há como justificar a aliança dos governos petistas, com o aval do próprio ex-presidente Lula, com quadros do jaez do ex-presidente Fernando Collor
Eu não acho
que a política é a arte da conciliação. A política é a luta pelo poder, e
a luta pelo poder exige conflito e conciliação. Um partido como o PT,
que deseja fazer mudanças profundas no Brasil, precisa de mais conflito e
menos conciliação. Conciliação demais é igual a mudança de menos; e se é
para mudar pouco, ou não mudar nada, para que mesmo que precisamos do
PT?
Em análise atribuída ao ex-presidente Lula, na possibilidade da conjuntura inviabilizar a reeleição da presidente Dilma, a alternativa natural do PT seria alinhar-se com a eventual candidatura do governador Eduardo Campos. O senhor concorda com essa análise?
Lula
nunca disse isto. Dilma será nossa candidata em 2014. E Eduardo Campos,
a preços de hoje, será um dos candidatos da oposição contra nós.
Derrotado em 2014, não sei o que Eduardo Campos fará em 2018. Mas o PT
terá candidatura presidencial em 2018.
Qual o balanço que o senhor faz do PT no Pará, após o desastroso mandato da ex-governadora Ana Júlia Carepa?
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