Segue a transcrição feita por um conhecido, da apresentação do projeto de resolução apresentado pela tendência petista Articulação de Esquerda, na reunião do Diretório Nacional do PT realizada dia 7 de dezembro de 2024. O texto abaixo recebeu uma revisão parcial.
Bom, pessoal, queria começar pela situação mundial.
Tem uma boa notícia na situação mundial, que é a crise do capitalismo e a decadência dos Estados Unidos.
A má notícia é que a reação deles é brutal contra nós, criando uma situação perigosíssima.
É isso que vários aqui destacaram.
Tem um avanço da violência imperialista, e por conta disso não dá para ter um documento nosso que não fale de Palestina e não fale de Cuba, e tem um avanço da extrema-direita.
E esse avanço da extrema-direita não vai ser detido pela "união de todos os democratas".
Por exemplo, não vai ser detido com uma aliança com Biden.
Ele só vai ser detido se a esquerda conseguir fazer uma defesa ativa da soberania, dos direitos, do bem-estar, do desenvolvimento; e recolocar em pauta no debate da sociedade a defesa do socialismo.
Não basta, na nossa opinião, olhando para o Brasil, que a gente lembre do nosso passado glorioso, até porque a gente não quer ser um partido que tem um grande passado pela frente.
E não basta também o conjunto de ações parlamentares e governamentais.
Tem que ter uma ação ativa do PT, no âmbito da educação, da organização e da mobilização do povo brasileiro.
E, neste sentido, o dia 10 de dezembro é um grande teste.
E a CUT tem razão quando debateu a necessidade de vincular a luta contra o golpe com a defesa da tributação dos ricos, com a recusa à PEC do estupro e com a luta contra a escala do 6x1.
Então, todo o conjunto das pautas do povo brasileiro tem que estar presente, senão a luta pela democracia não ganha materialidade, não ganha carne.
E, nesse sentido, eu queria dialogar, a partir do nosso texto, com o que outros aqui falaram.
Em relação ao golpe, claro que, finalmente, o partido tem que apoiar enfaticamente a medida proposta pelo Zaratini sobre o artigo 142 da Constituição, mas nós temos que incluir outras questões.
Primeiro, nenhuma ilusão com os "legalistas" que, sabendo do golpe, disseram que não iam participar dele.
Não dá para aceitar que continue a formação dos oficiais, desde 1964, com base na ideia de que a intervenção militar é a defesa da democracia.
Aliás, recomendo as pessoas ouvirem o discurso feito pelo presidente da Coreia do Sul, abre aspas, segundo o qual para defender a democracia liberal se decreta o estado marcial.
E é preciso lembrar do ministro da defesa, pessoal. O Múcio é cúmplice do golpismo. Ele queria GLO no dia 8 de janeiro. Ele quer salvar os seus amigos, familiares e parentes.
E o Lula tem que falar, como já foi dito aqui.
Sobre o tema da inflação, que está pouco presente nos documentos, no texto da CNB chega-se a dizer que a causa é climática.
A causa da inflação é, em primeiro lugar, o predomínio do agronegócio, a ausência de reforma agrária no país, o controle da distribuição de alimentos para um oligopólio.
E se não tiver medidas concretas nesse sentido, rápido, o tema da inflação vai ser corrosivo.
E, por fim, mas mais importante, o tema do pacote.
Veja, nós fazemos uma crítica duríssima ao pacote.
Primeiro, porque é um sacrifício inútil.
O capital financeiro não vai parar de nos pressionar.
Em segundo lugar, porque é um sacrifício auto-imposto.
Nós estamos fazendo esse pacote para cumprir o novo marco fiscal que nós mesmos inventamos, que prevê o déficit zero, apesar dos alertas feitos por muita gente dessa direção, de que isso provocaria cortes.
Em terceiro lugar, é um sacrifício inócuo, porque não toca nos juros.
Alguém pode dizer que os juros são um problema do Banco Central.
Sim, mas a taxa de inflação é definida por um conselho onde o governo tem incidência. E o Ministério da Fazenda e do Planejamento aceitaram uma meta que causa isso.
E, no Banco Central, até quando nós vamos colocar a culpa no Bob Fields Neto?
Até que assuma o Galípolo, que tem dito que vai manter a taxa de juros e que não vai intervir no mercado de câmbio?
Nós temos um problema nessa área muito grande.
Em quarto lugar, o pacote é completamente desequilibrado.
O pacote apresenta bondades, algumas das quais são tímidas, como no caso dos militares; não fala nada dos subsídios, 600 bilhões de reais.
Ademais, essas medidas dependem da aprovação, da concordância do lado de lá.
Não foram nem ao menos apresentadas até agora.
As medidas que foram apresentadas para debate no Parlamento são as contra nós.
E as medidas em si contêm crueldades tecnocráticas.
Eu vou citar aqui duas.
A gente incluiu nos textos a comemoração do crescimento do PIB.
Só que a partir de agora, se for aprovado o pacote, isso não vai ser incorporado no salário mínimo.
Como é que você ganha o povo para a ideia de que o desenvolvimento é bom para o país e diz para o povo que não vale o que nós aprovamos em 2023, que era a incorporação do PIB; e que agora vai só incorporar uma parte?
Como é que você conquista as pessoas para a ideia de que o nosso crescimento é diferente do crescimento que a direita e a classe dominante sempre defendeu?
E o BPC, pessoal, sinceramente, eu fico enojado com os tecnocratas de merda que inventaram as medidas que são propostas.
Essas pessoas não têm ideia do que elas estão causando na vida de muita gente.
Não têm ideia.
E, ademais, e principalmente, porque nós somos um partido político, não uma confederação de economistas, os efeitos políticos do pacote são gravíssimos.
Vão nos levar a perder apoio no núcleo duro nosso, que são os que ganham até dois salários mínimos; o pacote nos faz correr risco na eleição de 2026.
Olha o que aconteceu com o Biden e com a Kamala Harris dos Estados Unidos.
E, mesmo que a gente ganhe num cenário desses, ganharemos em piores condições, sob um cerco ainda maior.
Por isso, a nossa opinião é que o pacote tem que ser profundamente revisto.
E que a direção do partido deve dizer isso para o governo.
Agora, desculpa, Fontana, embargo auricular não é o melhor remédio nesse momento.
O melhor remédio é o posicionamento político.
Porque é de política que se trata.
E, por fim, eu queria comentar sobre o espírito geral da coisa, que é o da celebração.
O texto da CNB começa com essa palavra - "celebramos" - e mantém esse espírito do começo até o fim.
Eu queria lembrar, e eu lembrei ontem disso, tive um déjà vu, ou déjà vi, sei lá como fala em francês, da celebração feita em 2013, sobre os 10 anos da nossa chegada ao governo.
E, logo depois, o mundo caiu sobre nossas cabeças.
Eu lembrei da celebração de 2014, a nossa grande vitória sobre a direita.
E, depois, veio Levy, o ajuste ortodoxo, e o mundo caiu sobre nossas cabeças.
Nós acabamos de ter 2024 e, eu não sei como, tem um espírito de celebração.
Pessoal, nós fomos derrotados. Nós fomos derrotados.
Eu sou daqueles que acham que o problema envolve um pouco de tudo.
Envolve a federação, que, na nossa opinião, deve acabar.
Envolve o PT, evidentemente, erros que nós cometemos.
Mas o principal é que eles cresceram.
Eles cresceram. E não foram quaisquer eles, como já foi lembrado aqui, foram partidos da extrema-direita, como o PL.
Baita crescimento.
Mesmo onde nós os derrotamos, como em Fortaleza, nós tivemos uma vitória eleitoral, mas eles saíram muito fortalecidos.
Então, eu acho que a gente deve dosar a celebração que algumas pessoas acham necessária pelo espírito natalino, ou pela ideia de que nós só podemos dar boa notícia para o povo, ou pela ideia... a gente tem que dosar isso com um pouco de preocupação sensata.
Aqui nesse Diretório Nacional, na boa, em todas as tendências, eu não conheço uma pessoa que não esteja profundamente preocupada com a situação.
Profundamente preocupada.
Isso não transparece nas resoluções?
A quem que nós estamos querendo enganar?
A nós mesmos?
A direita?
A quem?
Nós temos que dosar celebração, que alguns acham indispensável, com preocupação e com medidas práticas.
E com isso eu queria terminar.
Aqui, por exemplo, o companheiro Jilmar incluiu na sua fala a defesa do acordo Mercosul-União Europeia.
Eu peço sinceramente às pessoas, vamos debater isso aqui nesse diretório.
Lembrem do Celso Amorim dizendo: "é um acordo neocolonial".
O que mudou?
Alguém aqui leu o acordo?
Alguém que leu os termos?
Estão celebrando o que exatamente?
Eu não sei.
Porque, na verdade, só o agronegócio tem a celebrar nesse acordo.
Então, enfim, eu espero que desse debate resulte uma resolução mais equilibrada, que corresponda ao ambiente real do país e ao pensamento médio desse diretório.
Obrigado.
Muito obrigado.
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