segunda-feira, 9 de março de 2015

Vaccarezza: um problema de olfato?

Acho que foi em 1993 que Candido Vaccarezza disputou a presidência do Diretório Municipal do PT na cidade de São Paulo.

Venceu aquela disputa com o apoio da esquerda petista.

Logo após a votação, duas militantes me informaram que não haviam votado nele. Preferiram votar em branco.

Na época, fiquei chocado com o fato de não terem votado naquele que era, afinal, o nosso candidato. Mas ambas demonstraram ter muito mais olfato do que eu.

(Uma destas militantes continua até hoje na Articulação de Esquerda. A outra, infelizmente, morreu pouco tempo depois.)

Militante desde os anos 1970, acredito que com passagens pela Ação Popular, Organização Comunista Democracia Proletária, Movimento de Emancipação do Proletariado, Movimento Comunista Revolucionário e por uma tendência petista chamada Força Socialista, no final dos anos 1980 Vaccarezza veio para a Articulação dos 113.

Como integrante da velha Articulação, Vaccarezza participou do movimento Hora da Verdade e da fundação da Articulação de Esquerda.

Em 1995, junto com Rui Falcão, Sílvio Pereira, José Mentor e outros, Vaccarezza ajudou a garantir a eleição de José Dirceu à presidência nacional do PT, no Encontro Nacional do PT em Guarapari (ES).

Premiado com a secretaria-geral nacional do PT, Vaccarezza dela foi apeado quando se descobriu que ele fora cargo comissionado no gabinete do vereador Brasil Vita.

Não acompanhei de perto as peripécias posteriores do personagem, até que eleito deputado federal passou a ocupar um papel destacado na articulação de um setor da bancada do PT na Câmara dos Deputados, disputando e ocupando postos importantes, cumprindo um papel particularmente nocivo no debate sobre a reforma política.

Por conta disto, em 2014 defendemos que o Encontro Estadual do PT-SP negasse legenda para Candido Vaccarezza ser candidato às eleições de 2014.

Sua defesa foi feita por Emídio de Souza, prefeito de Osasco e presidente estadual do Partido. Detalhes do episódio podem ser lidos aqui:

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/ao-companheiro-emidio-presidente-do-pt.html

Vaccarezza não foi reeleito. Dizem os entendidos que o investimento que fez junto a determinada igreja não teve o retorno que combinara.

Contudo, mesmo sem mandato Candido Vaccarezza não saiu de cena: seu nome foi incluído na relação dos que serão investigados em decorrência da chamada Operação Lava Jato.

E o que faz Vaccarezza neste contexto? Adivinhem??

Concede entrevista atacando a presidenta Dilma e o PT!!!

O que confirma a tese segundo a qual “vamos bater na presidenta e no PT” é o esporte preferido por todos aqueles que buscam proteção da direita.

Vejam abaixo a entrevista de Vaccarezza:

http://poderonline.ig.com.br/index.php/2015/03/08/alvo-da-lava-jato-ex-lider-do-governo-dispara-contra-dilma-nao-tem-projeto-e-a-articulacao-e-uma-tragedia/

Olhando o conjunto da entrevista, percebe-se que Vaccarezza não tem emenda: aqui e ali suas críticas parecem ser de esquerda, mas seu movimento vai sempre para a direita.

Por exemplo: Vaccarezza critica a presidenta por não negociar “com sua própria base”. Mas o que ele defende é a reforma da CLT. Por isto ele fala em permitir “a negociação de sindicatos patronais com os sindicatos dos trabalhadores”, “acordos que reduziriam a burocracia e melhorariam a produção”.

Perguntado se vai sair do PT, Vaccarezza diz que pretende discutir as divergências que tem com o governo, dentro do PT. Mas... “o problema é que o PT não está aberto para a discussão, isso está ficando cada vez mais claro”. E conclui dizendo que não nasceu no PT e não tem que morrer no PT...

Não faço ideia se as investigações judiciais vão conseguir provar se Vaccarezza é culpado daquilo que é acusado.

Entretanto, levando em conta os ensinamentos de 2005, espero que a direção nacional do PT convoque os que estão sendo investigados para prestar esclarecimentos.

Com base nestes esclarecimentos, que o Partido decida caso a caso como proceder. Defender convictamente quem merece ser defendido. Suspender a filiação quando for o caso, para proteger o Partido. E propor o imediato desligamento de quem, pelo conjunto da obra, não merece estar entre nós.

Na minha opinião, este é o caso de Vaccarezza.

Afinal, a idade geralmente faz a gente perder a visão. Mas as vezes faz o olfato ficar mais apurado. 


Segue a entrevista 


DOMINGO, 8 DE MARÇO DE 2015

O ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que há um bom tempo vem se desentendendo com seu partido  e aparece na lista de investigados na Operação Lava Jato, decidiu encampar as críticas à presidente Dilma Rousseff. Ao Poder Online, Vaccarezza, que foi líder do governo na Câmara no primeiro mandato de Dilma, disse que a presidente “não tem consistência” e que sua articulação política é uma “tragédia”.
“Este governo que está sendo conduzido pela presidente Dilma Rousseff por nunca ter tido um projeto claro para o país. É um governo que não tem consistência. Cuja articulação política é uma tragédia”, disse Vaccarezza, que se empenha em negar as suspeitas de envolvimento em desvios da Petrobras, que justificaram a inclusão de seu nome nas investigações da Lava Jato. 
O ex-deputado, que não conseguiu se reeleger, chegou a conversar nos bastidores uma possível troca de legenda. Ele nega que tenha planos de deixar o PT, acompanhando a ex-ministra Marta Suplicy. Disse que vai brigar dentro do partido para que o rumo do governo seja discutido. Mas não deixou de disparar também contra o colega e prefeito paulistano, Fernando Haddad, que deve ter Marta como adversária pelo PSB na eleição de 2016. “Marta é a melhor prefeita que São Paulo teve nos últimos anos. Ela é muito melhor, inclusive, que o Haddad”, disse.
Sobre seu envolvimento na Lava Jato, ele se queixa da cobertura da imprensa e diz que não há indícios que justifiquem sua inclusão na lista de investigados. Confira os principais trechos da entrevista:
 A ex-ministra Marta Suplicy aparentemente acertou tudo com o PSB. Diziam que o senhor iria com ela. Vai mesmo?
Este governo que está sendo conduzido pela presidente Dilma Rousseff peca por nunca ter tido um projeto claro para o país. É um governo que não tem consistência. Cuja articulação política é uma tragédia. Não tem projeto concreto em áreas essenciais. É só olhar a política energética. A política de juros. O problema desse governo é que não tem planejamento. Não tem lado. Olha só a inflação. A inflação, no Brasil, não é uma inflação de demanda. É uma crise da produtividade, que é baixa demais, combinada a uma burocracia sem tamanho.
Mas o que o senhor defende que seja feito?
Nessa questão, por exemplo, porque é que o governo não negocia com sua própria base? Se o governo permitisse a negociação de sindicatos patronais com os sindicatos dos trabalhadores, poderiam ser feitos vários acordos que reduziriam a burocracia e melhorariam a produção. Precisamos de um governo que inicie a reforma tributária para, daqui a dez anos, termos um sistema de fato mais eficiente. E não fazer essa desoneração desgovernada que ela (Dilma) faz, para estourar lá na frente. Se as medidas certas fossem tomadas, seria possível arrecadar muito mais.

Mas o senhor vai sair do PT?
Eu tenho divergências claras com esse governo. Mas eu quero discuti-las dentro do PT. O problema é que o PT não está aberto para a discussão, isso está ficando cada vez mais claro. Eu não nasci no PT e não tenho que morrer no PT, mas eu quer discutir essa situação dentro do meu partido.

O senhor apoia a decisão da Marta?
A Marta foi a melhor prefeita que São Paulo teve nos últimos anos. Ela é muito melhor, inclusive, que o Fernando Haddad. A Marta fez CEUs na cidade inteira. Conseguiu fazer as coisas andarem depois de herdar uma cidade totalmente endividada. Onde não tinha de onde tirar dinheiro, ela deu um jeito de ter investimento. O (Gilberto) Kassab fez uns cinco CEUs na gestão dele, em seguida. E o Haddad só fez um até agora, que já estava praticamente pronto.

O senhor fala em brigar dentro do PT, mas como fica seu envolvimento na lista da Lava Jato?
A cobertura da imprensa em relação ao meu caso é desonesta. Tudo o que o Paulo Roberto Costa disse que tenha referência ao meu nome em momento algum justifica a inclusão do meu nome em lista alguma. O que houve foi que uma pessoa disse que ouviu que eu teria estado em algum lugar para supostamente receber dinheiro. Isso nunca existiu. Tudo o que tem contra mim vem de terceiros, que disseram para terceiros e repetiram para terceiros. Não tem o menor sentido.


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