quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Sandra Starling

Ao mesmo tempo que somos tomados de emoção, cada vez que vemos as ruas alegres pela militância de esquerda em favor da candidatura Dilma Rousseff...

Ao mesmo tempo que somos tomados de indignação, quando vemos a direita desfilar seus ódios, rancores, preconceitos e violências...

Ao mesmo tempo, somos tomados de espanto ao ver algumas pessoas com passado de esquerda declinarem seu voto em Aécio.

O espanto dura pouco, pois a história está cheia de casos assim. 

Gente que no passado militou na esquerda e, em algum momento, passou para o lado de lá.

Para citar dois vivos, Serra e Fernando Henrique.

Para citar um morto-vivo, Carlos Lacerda.

Para minha tristeza, é também o caso de Sandra Starling.

Sua declaração de voto em Aécio está reproduzida ao final.

Cito: "Quero ter a coragem de enfrentar esses 12 anos em que o PT se julgou a consciência política do Brasil".

Cito: "censura ao IPEA".

Cito: "Não compactuo com esse tipo de método".

Teria o que dizer a respeito disto.

Mas não tenho nada a dizer acerca do que vem depois.

Cito: "Vou votar no Aécio, com todo o medo que ele me causa de que venha a aumentar o peso da exclusão sobre os trabalhadores, as mulheres, os homossexuais, aqueles excluídos enfim – mas não vou me calar diante das mentiras que a Dilma vem assumindo".

Cito: "Qualquer que seja o resultado, para mim, terei cumprido meu dever de brasileira: arrisquei a perder ou a ganhar – para os outros que sofrem, não para mim, porque nada tenho a perder".

Starling tem medo de Aécio.

Starling tem medo de que, com Aécio, aumente a exclusão sobre os trabalhadores.

Starling tem medo de que, com o Aécio, aumente a exclusão sobre as mulheres.

Starling tem medo de que, com o Aécio, aumente a exclusão sobre os homossexuais.

Mesmo assim, Starling prefere votar em Aécio.

Por causa das "mentiras"? Por causa da "censura"??

Vejamos: mesmo que os problemas apontados fossem verdade, mesmo que no quesito "mentiras e censuras" o PSDB de Aécio não fosse campeão absoluto, mesmo assim o compromisso com os de baixo vem em primeiro lugar para quem tem o coração do lado esquerdo do peito.

Há muito tempo não tenho notícias de Sandra. Não sei quando, como e porque seu coração mudou de lado. Mas com esta decisão, na batalha decisiva de 26 de outubro, ela estará nas trincheiras do inimigo. Com seu voto, ajudará aqueles que querem piorar a vida dos excluídos.

Sandra acha, provavelmente sem perceber o sentido ambíguo que a frase adquire no contexto, que ela nada tem a perder, ganhe quem ganhar

Mas ela está enganada. 

Pois a classe trabalhadora, a maioria do povo brasileiro e latino-americano, tem muito a perder (e a ganhar) nesta eleição. 

Quem não leva isto em consideração, perdeu algo fundamental. Que não perceba isto, já diz tudo sobre o tamanho da perda.





Segue a íntegra do texto de Sandra Starling

http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2014/10/22/Blog_do_JM/Fundadora-condecorada-do-PT-vai-votar-em-Aecio-Neves.shtml

Meu voto crítico em Aécio é um veto ao voto a Dilma

Sempre gostei de aprender.

E ontem aprendi com o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, que resolveu, ao contrário de mim, dar um voto crítico em Dilma e um veto ao Aécio. Lembrei-me do tempo em que juntos lutamos (nós e o PSDB) contra o Collor e fizemos o abraço na Av. do Contorno e na campanha de vestir- se preto contra o Presidente que sofreu o impeachment.

Vou fazer o contrário do Freixo.. Quero ter a coragem de enfrentar esses 12 anos em que o PT se julgou a consciência política do Brasil e no qual fez e aconteceu como os demais, em tudo, – para , afinal, me deter na censura ao IPEA porque o IPEA, órgão do próprio governo, não demonstrou o que todos os que pelejam para entender este país já percebiam: a desigualdade social não diminuiu a ponto de ser significante do ponto de visto estatístico – logo, na lógica da Dilma Rousseff, que se parece à de Delfim Netto na ditadura, deve-se esconder os dados que não são a favor do partido que nos agrada.

Não compactuo com esse tipo de método.

Fiz uma oposição consciente e determinada ao governo de FHC, quando fui líder do PT na Câmara dos Deputados. O resto de minha história não tem a menor importância. Ia, inclusive, usar meu direito de ser “idiota”- como diziam os atenienses e deixar de votar. Mas não vou me abster.

Vou votar no Aécio, com todo o medo que ele me causa de que venha a aumentar o peso da exclusão sobre os trabalhadores, as mulheres, os homossexuais, aqueles excluídos enfim – mas não vou me calar diante das mentiras que a Dilma vem assumindo.

Qualquer que seja o resultado, para mim, terei cumprido meu dever de brasileira: arrisquei a perder ou a ganhar – para os outros que sofrem, não para mim, porque nada tenho a perder.

Bom voto a todos no domingo.

* Sandra Starling, fundadora do PT, foi deputada federal e líder da bancada petista na Câmara.

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