Em dezembro de 2024, o camarada Lindbergh disse que “Galípolo vai ser a melhor noticia para o governo em 2025”.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Galípolo e a crise
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
A ministra Gleisi e a presidência tampão
A imprensa vem noticiando que Gleisi Hoffmann vai compor o ministério de Lula.
Se for verdade, pode ser uma mudança muito positiva para o governo.
Aliás, no universo paralelo onde as coisas acontecem na hora mais adequada, Gleisi teria assumido um ministério já no início de 2023.
Neste mesmo universo paralelo, a renovação da direção partidária (o famoso PED) teria ocorrido no prazo estatutário - ou seja, também em 2023 - e, em decorrência, não haveria porque o DN eleger um presidente tampão.
Voltando ao ministério: desde a ida de Dino para o STF, falta um ministro combatente.
Inclusive por isso, repetimos, a ida de Gleisi para o ministério pode ser uma mudança muito positiva.
Dizemos pode, porque há circunstâncias que vão operar no sentido contrário. E, evidente, muito dependerá das instruções que o presidente Lula dê.
Entretanto, a ida de Gleisi para o ministério gera uma dificuldade para o PT.
O tamanho desta dificuldade depende, em parte, da pessoa que será escolhida para exercer o mandato tampão.
A escolha caberá ao Diretório Nacional, cuja reunião ainda não foi convocada. E precisa ser, pois até agora não temos regulamento do PED 2025!
Voltando à presidência: esperamos que não se repita o que ocorreu em 2005, quando o autodenominado "campo majoritário" escolheu para ser "tampão" o então ministro Tarso Genro, que uma vez no cargo virou candidato à presidência, de onde foi ejetado por suas próprias palavras.
Aliás, em vários pontos - política fiscal e monetária conservadora, adiamento do PED, presidente tampão - estamos fazendo entre 2023 e 2025 algumas coisas parecidas com o que fizemos entre 2003 e 2005.
Motivo pelo qual é essencial organizar e aprofundar o debate político, principalmente estratégico, sem o qual o Partido e o governo não conseguirão fazer a mudança de rumo indispensável para nossa vitória em 2025, 2026 e além.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Pesquisa GenialQuaest: nada de novo, nada de bom
Acaba de ser divulgada nova pesquisa GenialQuaest.
Segundo esta pesquisa, caiu a "aprovação do trabalho que o presidente Lula está fazendo".
Aprovam: 47.
Desaprovam: 49.
As categorias em que prevalece a aprovação são: nordestinos, até dois salários mínimos, pessoas pretas, 60 anos ou mais, católicos, pessoas que não têm religião, pardos e mulheres.
Segundo a mesma pesquisa, a avaliação do governo Lula está assim: 37% negativa, 31% positiva e 28% regular.
Metade dos pesquisados acha que "o Brasil está indo na direção errada".
Já 39% acha que estamos indo na direção certa. E 11% dos entrevistados não sabem responder.
Sobre as promessas de campanha, 65% diz que Lula não está conseguindo fazer aquilo que prometeu, contra 30% que acha que Lula tem conseguido.
Confirmando a polarização, 47% acha que Lula seria "bem intencionado", contra 46% que acha que ele não seria bem intencionado.
Por óbvio, 43% dos entrevistados têm visto mais notícias negativas sobre o governo, contra 28% que assistem notícias positivas e 25% que não têm ouvido notícias.
A notícia negativa mais citada, bidu, é sobre o pix: 66% acham que o governo "errou mais diante de toda polêmica envolvendo o pix".
Dos entrevistados, 39% acham que a economia do país piorou e 32% acham que ficou na mesma. Só 25% acham que melhorou.
E 83% acham que o preço dos alimentos subiu.
A pesquisa traz outras informações.
Nenhuma delas pode ser considerada positiva.
Mas a verdade é que nenhuma delas pode ser considerada novidade.
Ainda que nesta pesquisa tenhamos cruzado de vez a linha vermelha, o fato é que todas as pesquisas feitas desde janeiro de 2023 até janeiro de 2025 já indicavam que, sem mudanças em nossa atuação, corremos enormes riscos em 2026.
Ou risco de uma vitória em piores condições do que as atuais.
Ou risco de uma derrota.
(Enquanto isso, o Banco Central pede mais independência.)
Que mudanças devemos fazer?
Há quem acredite que bastariam pequenos ajustes, que nos permitam chegar melhor em 2026. Como há quem acredite que nosso problema seria, essencialmente, de "comunicação".
Ilusão.
Especialmente em tempos de Trump (the winter is coming), ou fazemos mudanças profundas e rápidas na estratégia política, ou "não há como dar certo".
Espero que esta seja a opinião majoritária da Nação Petista, que em 6 de julho de 2025 vai eleger uma nova direção para o Partido dos Trabalhadores.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
O que dizer de uma coisa assim?
Li no Diário da Causa Operária o seguinte texto: A educação não resolverá todos os problemas do mundo - Diário Causa Operária
No meio do texto, tem o seguinte parágrafo: "Ser professor não é garantia de grande sabedoria ou até mesmo de ter conhecimento correto. Pare para pensar em todos os professores que você já teve na sua vida. Todos eles falavam coisas que correspondiam à realidade? Todas as aulas, ou até mesmo a maioria delas, eram realmente úteis? Claro que não. Para ilustrar, basta pensar em figuras famosas que se dizem professoras, tais como Pablo Marçal, Valter Pomar ou a Mulher Melão. Sendo aluno deles, é improvável que você aprenda algo útil ou até mesmo algo que corresponda à realidade, e é assim com vários outros professores que dão aulas por aí."
Não sei se o cidadão que assina este texto já assistiu alguma de minhas aulas. Se assistiu, certamente não gostou.
Também não sei por qual motivo ele me compara com Pablo Marçal (prefiro não fazer a outra pergunta).
O que sei é que concordo com a premissa do autor: "a educação não resolverá todos os problemas do mundo".
Mas a falta de educação e a baixaria no debate político também não.
Nesse e noutros quesitos, o PCO segue a mesma escola do cavernícola: a estética da grosseria.
Para alguns petistas que querem saber sobre o Renova na eleição do Andes
Este texto foi escrito a pedido de petistas que perguntam o que está acontecendo na eleição do Andes.
Expressa única e exclusivamente meu ponto de vista pessoal.
Na última semana de janeiro de 2025 acontece o Congresso do Andes Sindicato Nacional.
Depois do Congresso, acontece a eleição para a diretoria do Sindicato.
A eleição anterior para a diretoria do Andes foi disputada por três chapas.
A chapa menos votada era composta, majoritariamente, por militantes vinculados ao PSTU.
Outra chapa, a que ganhou, tinha no seu interior uma maioria vinculada ao PSOL e ao PCB.
A chapa que ficou em segundo lugar, intitulada “Renova Andes”, era composta majoritariamente por militantes do PT.
Faltou pouco para a chapa do Renova ganhar: cerca de 300 votos.
Detalhe: a chapa vencedora usou seu controle do aparelho para, entre outras coisas, impedir que pudessem votar os/as docentes da UFMG e da UF de São Carlos, universidades onde a chapa do Renova tinha grande apoio.
Na eleição deste ano, se não houver novas manobras, é possível que estas duas Universidades possam participar da eleição. O que supostamente aumentaria as chances do Renova.
Mas….
…. há uma crise no Renova, explicitada na divulgação recente de dois textos.
O primeiro texto foi divulgado pelos “renovistas” que defendem uma composição entre o Renova e a atual diretoria do Andes. O primeiro texto intitula-se "CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE INTERNO NO RENOVA ANDES. ELEIÇÕES ANDES -SN (2025-2027)", que posso enviar a quem solicitar.
Evidentemente, nem todo mundo que assina o primeiro texto concorda, admite ou assume que se pretende uma composição com a atual diretoria do Andes.
Mas vários dos que assinam o segundo texto têm "convicção e provas" de que se trata disso. E isso não surpreende, pois pelo menos desde a última eleição do Andes ficou evidente a existência, no interior do Renova, de uma divergência profunda de concepção sindical.
Esta divergência se manifestou durante a greve, no balanço da greve e na discussão sobre os critérios para composição da chapa.
Quem quiser compreender melhor as concepções em jogo, deve ler os dois textos.
Por fim: como este é um texto para petistas, uma informação adicional é necessária.
Nos dois textos, há signatários/as petistas e não-petistas. No primeiro texto, pró aliança com a atual diretoria do Andes, há uma hegemonia de petistas vinculados a tendência O Trabalho. No segundo texto, há um protagonismo compartilhado entre petistas independentes e petistas vinculados a DS, AE e CNB, entre outras.
O que vai acontecer nos próximos dias? Haverá o Congresso do Andes e nele se inscreverão os chamados triunviratos (presidente, secretário-geral e tesoureiro). Só pode inscrever chapa quem inscrever triunvirato. Mas não necessariamente quem inscreve triunvirato consegue inscrever chapa.
Mas pelos triunviratos poderemos saber se um setor do Renova vai conseguir se aliar com a diretoria, se a diretoria vai conseguir manter sua unidade, em que lugar estará o PSTU.
A única coisa que sabemos com certeza é que o Renova vai ter uma chapa. Afinal, esta é a decisão inarredável dos que lançaram o segundo texto.
domingo, 19 de janeiro de 2025
Sobre Cantalice, azia e Cassandras
Tenho um amigo que diz não entender porque “gasto tempo” polemizando com os Tuítes Completos de Alberto Cantalice.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Matéria no jornal OESP sobre o PED
Segue no endereço a seguir, bem como nas imagens ao final, matéria publicada hoje, no jornal OESP, acerca do PED.
Publico também as respostas por escrito que enviei ao jornalista autor da matéria.
1 - O PT discute o modelo de votação para o próximo PED: voto direto, como previsto no estatuto, ou voto indireto, em que os filiados elegem delegados que, por sua vez, escolhem a direção. Qual modelo o senhor defende e por quê?
Nas eleições deste ano de 2025, defendo o voto direto, em que os filiados escolhem diretamente as direções e presidências em todos os níveis. A alternativa que está sendo proposta é pior, pois junta os defeitos da eleição direta com os defeitos da eleição indireta. Defendemos que o PT faça um plebiscito sobre o método de eleição das suas direções. Esta decisão de fazer um plebiscito foi adotada por um congresso do Partido e nunca foi cumprida. Quando este plebiscito ocorrer, defenderei o método 100% congressual, que nos parece o mais adequado.
2 - Há também divergências sobre a ordem de inscrição das chapas. O estatuto do PT estabelece prazos de 120 dias antes do PED para chapas nacionais, 90 para estaduais e 60 para municipais. Entretanto, há uma proposta para alterar essa ordem, começando pelas chapas municipais e finalizando com as nacionais. O senhor apoia essa mudança? Por quais razões?
Não apoio esta mudança. Defendo que se mantenha o previsto no estatuto. A eleição é principalmente nacional, portanto faz todo o sentido iniciar a inscrição pelas chapas e candidaturas nacionais. Isto ajuda a organizar politicamente a inscrição das chapas estaduais e municipais. Os que defendem mudar o estatuto estão preocupados, antes de qualquer outra coisa, em ganhar tempo para tentar resolver suas divergências internas, uma vez que ainda não resolveram que candidatura apoiarão para apresidência nacional do PT. Mas os problemas de uma tendência não podem provocar mudanças no estatuto do Partido.
3 - O senhor apresentou emendas ao regulamento do PED? Se sim, poderia detalhá-las?
Em linhas gerais, as emendas que apresentamos ao regulamento do PED proposto pela SORG nacional foram as seguintes:
No Art. 3º: A Comissão de Organização Eleitoral Nacional, conforme calendário a ser definido, organizará debates entre as chapas nacionais e os (as) candidatos (as) à presidência.
-Propomos que o artigo terceiro seja transferido para outro capítulo do regulamento e que seja expandido. É preciso incluir, entre as tarefas da COEN, além de organizar debates, produzir uma tribuna de debates virtual, organizar um programa na TVPT sobre o PED em que se façam entrevistas com todas as chapas e candidaturas, enviar material impresso de toda as candidaturas para o endereço de todos os filiados etc. Nosso PED não pode conter os problemas da democracia eleitoral tradicional.
No Art. 5º: O mandato dos membros efetivos e suplentes das direções partidárias, dos Conselhos Fiscais e das Comissões de Ética eleitos será de 4 (quatro) anos.
-Propomos que o artigo quinto seja acrescido de um item: o congresso do Partido, a ser realizado proximamente, poderá decidir a redução do mandato das direções. O que ocorreu entre 2019 e 2024 comprovou que nossas direções resistem mal a mandatos tão prolongados.
No Art. 9º:
G) A inscrição de candidato (a) a presidente (a), para os diretórios estaduais e para a direção nacional, deverá ser acompanhada por uma lista de apoio, assinada por pelo menos 10% do diretório do respectivo nível.
-No artigo 9, item g, propomos duas alterações: reduzir o percentual e agregar um outro critério. Não faz sentido que o direito de concorrer à presidência nacional dependa, unicamente, de quem integra um Diretório eleito em 2019. Notem que não estamos falando apenas do DN, estamos falando de todos os diretórios em todo o país. Assim, propomos que se estabeleça pelo menos um critério adicional, por exemplo, o apoio formal de X número de filiados. Em segundo lugar, ao menos no DN o critério de 10% rompe com a tradição que acumulamos nos PED anteriores a estes, portanto propomos que o percentual seja de 5%.
L) Serão aceitas chapas incompletas, desde que preencham pelo menos 30% das vagas em disputa para as chapas nacionais e 50% das vagas em disputa para as chapas estaduais, municipais e zonais;
M) Nos municípios onde houver a inscrição de apenas uma chapa, o número de integrantes deverá obrigatoriamente assegurar o preenchimento de todas as vagas disponíveis na instância municipal.
-No art. 9, item “L”, propomos tirar o termo “incompletas”. Não há que falar de incompletas. As chapas podem ter até X integrantes, mas não precisam ter obrigatoriamente Y, salvo no caso indicado no item “M”.
No Art. 16, A) As chapas estaduais deverão indicar, até 15 de junho de 2025, um fiscal por local de votação.
-Propomos inserir em algum lugar que esta pessoa designada pela chapa terá seu nome na lista de aptos daquele município em que estiver sendo fiscal. Do contrário, ela não votará.
No Art. 17:
C) A apuração nos municípios que não atingirem o quórum será efetuada somente para contabilizar os votos destinados às chapas estaduais e nacionais, quando o município estiver apto a votar nas mesmas.
-Achamos que precisa debater esse item.
E) Encerrada a apuração, a Instância Municipal comunicará imediatamente o resultado da eleição à Comissão de Organização Estadual, através de arquivo digitalizado e além do resultado da eleição.
-No artigo 17, item “e”, tem uma redação que precisa ser corrigida: “e além”.
No Art. 22: O Encontro Nacional será realizado nos dias 1o, 2 e 3 de agosto de 2025 e terá 600 delegados (as) que serão indicados pelas chapas inscritas em nível nacional, proporcionalmente à votação obtida por cada chapa.
a) O Encontro Nacional terá a seguinte pauta:
o O Brasil e o Mundo;
o A realidade brasileira e os desafios do PT;
* Mudanças no mercado de trabalho
* Novas dinâmicas sociais, da periferia à classe média
* Os desafios da Comunicação
o Tática, política de alianças, programa para as eleições 2026;
-Propomos alterar a pauta do Encontro Nacional para que sejam quatro pontos: Situação brasileira e mundial. Programa, estratégia e tática do PT. Organização partidária. As eleições 2026. Argumentos: i)há muitos outros subitens da situação brasileira que merecem destaque, não apenas os indicados; ii)é preciso debater a estratégia; iii/é preciso debater a organização partidária; iv/é preciso separar o debate sobre a tática do Partido, da discussão sobre a tática nas eleições 2026.
Finalmente, onde couber, é preciso incluir a data em que a SORG vai divulgar, primeiro para conferência e depois de forma definitiva, a lista de filiados com direito a votar e serem votados em todo o Brasil. Além disso, propusemos também normatizar a campanha, a começar pela garantia de recursos para as chapas e candidaturas fazerem campanha, o acesso igualitário aos espaços de comunicação do Partido, o envio dos textos de apresentação das chapas e candidaturas para todos os filiados via correio etc.
4 - A tendência Articulação de Esquerda terá um candidato à presidência nacional do PT? Caso afirmativo, já há um nome ou prazo para definição?
Sim, teremos candidatura da AE à presidência nacional do PT. Decidiremos quem, assim como definiremos a composição de nossa chapa nacional, nos dias 13, 14 e 15 de março. quando faremos o nono congresso nacional da tendência petista Articulação de Esquerda. Mas nossa definição pode ser antecipada, caso o Diretório Nacional do PT antecipe o prazo de inscrição. Em qualquer caso, teremos candidatura da AE para a presidência nacional do PT.
5 - Em sua avaliação, qual será o principal desafio da próxima direção nacional do PT e do próximo presidente nacional?
São muitos desafios: reafirmar o PT como partido anticapitalista e socialista; reconstruir nossa presença junto a classe trabalhadora; reorganizar e redemocratizar o Partido; contribuir para a retomada das lutas sociais; organizar o enfrentamento do agronegócio, do capital financeiro, do imperialismo estadunidense; derrotar a extrema-direita e a direita neoliberal tradicional; ajudar o governo Lula a tomar medidas que transformem o Brasil, com destaque para a ampliação do bem-estar social, para a reforma agrária, a industrialização e para a integração latinoamericana e caribenha; nos preparar para disputar e vencer as eleições presidenciais de 2026 e 2030.
6 - Na sua opinião, qual deve ser o perfil ideal para o próximo presidente nacional do partido?
Alguém que seja 100% petista, comprometido com o método da direção coletiva, disposto a derrotar a oposição, capaz de defender nosso projeto socialista. E convicto de que precisamos de mudanças na linha do governo, inclusive na economia.
Batalha do pix: o PT e o conjunto da esquerda brasileira precisam reagir... mudando o rumo do governo
Como quase todo mundo, fiquei sabendo pela imprensa o que o governo pretendia fazer acerca do pix.
O que veio em seguida é sabido: a direita fez o que sempre faz, o governo respondeu com a eficácia de sempre, o PT e a esquerda estavam tentando defender, quando o governo resolveu recuar antes que o estrago fosse maior.
O lado de lá comemorou o recuo como prova de que não apenas fizeram certo, mas também como prova de que fizeram a coisa certa. Um inimigo esperto resumiu assim a coisa toda:
No lado de cá, algumas pessoas externaram publicamente seu desespero. É o caso, para citar um insuspeito de esquerdismo, de Zeca Dirceu:
Outros estão fazendo o que podem para reduzir danos. Um exemplo é o deputado Lindbergh Farias:
Outro exemplo é o da presidenta nacional do PT, companheira Gleisi Hoffmann:
Mas, embora isso deva ser feito, não basta reduzir danos e atacar o lado de lá. É preciso perceber que há graves problemas do lado de cá.
Um desses problemas é a dificuldade de reconhecer onde está o centro do problema.
Exemplo disso é o artigo recém-publicado de Alberto Cantalice, segundo o qual “há que se continuar exigindo uma mudança de rota na comunicação, porém, cada um de nós tem que fazer a sua parte”.
O texto de Cantalice está aqui: O PT e o conjunto da esquerda brasileira precisam reagir | Brasil 247
O governo pode trocar o comando da comunicação.
E cada um de nós pode fazer de tudo, até mesmo romaria, que só isso não vai resolver.
Há um problema político na orientação do governo, especialmente mas não somente no ministério da Fazenda.
A mesma lógica que produziu aquela tecnocrática e malfadada proposta sobre o Benefício de Prestação Continuada, agora levou à produção desta proposta sobre o pix.
Para não falar outra coisa, falta inteligência política em determinadas decisões.
E se nada for feito, de onde saíram estas propostas, sairão outras. E de nada vai adiantar culpar a comunicação, muito menos culpar os inimigos, que aliás agem como agem porque são inimigos.
Como diria um cada vez mais contorcionista chapa-branca: “não pode dar certo!”
Portanto, quem precisa reagir não é apenas, nem principalmente "o PT", tampouco "o conjunto da esquerda".
Quem precisa "reagir" é aquela parte que dirige o governo, que precisa mudar de rumo.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
"Quaquá está certo"
O jornalista Luís Nassif publicou um texto intitulado "Quaquá está certo: os Brazão são bode expiatório de Carlos Bolsonaro".
O texto de Nassif pode ser lido aqui:
No segundo parágrafo do texto de Nassif, pode-se ler o seguinte: "O deputado Quaquá está correto. Não há nenhuma lógica nessa versão de um crime praticado pelos irmãos Brazão – ligados à pequena delinquência do Rio de Janeiro, não ao Escritório da Morte, como os Bolsonaro".
Não sei em que parâmetros Nassif se baseia, para qualificar como "pequena" a delinquência dos irmãos Brazão.
Acho o termo "pequena" muito modesto, em se tratando de uma dupla com "passagem", entre outros lugares, na Câmara dos Deputados e no Tribunal de Contas.
Mas estou de acordo com Nassif acerca do seguinte: os Brazão são delinquentes.
Na minha opinião, delinquentes barra pesada.
Acerca de delinquentes, Quaquá tem dois pesos e duas medidas.
Alguns delinquentes ele ameaça com a "vala" e diz que o pau vai comer.
Outros, ele trata como se fossem de estimação.
Os motivos, eu imagino.
Sobre o outro ponto, acerca do qual Nassif diz que Quaquá está "correto", reproduzo abaixo o que eu escrevi dia 1 de julho de 2024.
Está tendo grande repercussão um trecho da entrevista concedida por Washington Quaquá para a Hildegard Angel.
O Brasil 247 divulgou um recorte, que pode ser conferido aqui:
https://x.com/brasil247/status/1807355674478903575?s=46&t=nfCl0UX4p-m3ApNw6ANlQg
Nele, Quaquá declara ter “certeza absoluta” de que os Brazão não são culpados pela morte de Marielle Franco.
Os Brazão podem não ser culpados? Podem.
A acusação contra os Brazão pode estar sendo utilizada para desviar a atenção dos verdadeiros culpados? Pode.
Portanto, Quaquá pode estar certo? Também pode.
Ele pode estar certo acerca do envolvimento da família cavernicola? Com certeza pode.
Mas nada disso explica a "defesa serial" que Quaquá faz dos Brazão.
Neste particular, sua postura pública afeta negativamente o Partido ao qual ambos pertencemos.
Ademais, “certeza absoluta” acerca de quem foi o mandante só tem ou quem foi o mandante, ou quem tem provas “absolutas” sobre quem foi o mandante.
Portanto, a ênfase “absoluta” de Quaquá neste caso revela ou que ele sabe muito mais do que diz, ou bazófia de fanfarrão.
Ao se expor tanto na defesa de dois bandidos contumazes, Quaquá passa a impressão ou de que perdeu qualquer parâmetro, ou de que deve algo, ou de que teme o que ambos possam fazer e dizer, ou que sua tática de disputar o voto do bolsonarismo o está levando longe demais.
Aliás, nenhuma das hipóteses é contraditória com as demais.
O que eu pensava em julho de 2024, sigo pensando agora.
Diferente de Quaquá, não quero mandar ninguém para a vala.
Mas tampouco tenho "delinquente de estimação". Nem grande, nem médio, nem pequeno.
domingo, 12 de janeiro de 2025
Quaquá e o “dinossauro soviético”
-de 25 de janeiro de 2024: Valter Pomar: “Quero ser amigo do Quaquá”
-de 25 de março de 2024: Valter Pomar: O PT e as dúvidas de Quaquá sobre Brazão
-de 10 de abril de 2024: Valter Pomar: Quaquá e Chiquinho Brazão
-de 1 de julho de 2024: Valter Pomar: A "absoluta certeza" de Quaquá
-de 21 de setembro de 2024:Valter Pomar: Quaquá testemunha em favor de Brazão
-de 7 de dezembro de 2024: Valter Pomar: Sobre pedidos de comissão de ética
Quanto aos “elogios” feitos por Quaquá, o “imbecil” é do mesmo gênero e nível daquilo que ele já escreveu a respeito no grupo de zap do Diretório Nacional do PT, como se pode confirmar nas imagens reproduzidas ao final.
Quanto a “dinossauro soviético”, achei até simpático.
Embora não seja necessário ser “dinossauro” nem “soviético” para ser contra um vice-presidente nacional do PT sair em defesa de gente como os irmãos Brazão.
Basta ter bom-senso.
ps. a ilustração no início deste texto é de um Therizinosaurus.
sábado, 11 de janeiro de 2025
Cantalice e Alice
Alberto Cantalice, autor dos Tuítes Completos, postou no dia 10 de janeiro o seguinte:
“Maduro se mantém pela aliança com as Forças Armadas. Seu estilo, às avessas, tem similitude com o inominável que governou por aqui de 2019 a 2022.”
https://x.com/albertocantalic/status/1877844380511285328?s=46&t=9QQhX4OUwhkRA-Crj7kPWw
Cantalice teria razão ao dizer que “Maduro se mantém pela aliança com as forças armadas”?
Parcialmente.
Maduro possui imenso apoio popular, especialmente forte nos setores mais pobres da população, fato que “tem similitude” com o que ocorre no Brasil, com Lula e o PT.
Mas se Maduro contasse apenas com apoio popular, se não tivesse também o apoio das forças armadas, das policias e das milícias, provavelmente já teria sido derrubado pela aliança entre oligarquias e imperialismo.
Por óbvio, as forças armadas da Venezuela não “têm similitude” com as do Brasil, entre outros motivos porque no período Chavez houve uma profunda reestruturação de todo o aparato de segurança e defesa.
Graças a essa reestruturação, acontece na Venezuela - pelo menos até agora - algo pouco usual: as forças armadas e policiais sustentarem um presidente de esquerda.
Cantalice teria razão ao dizer que o “estilo” deste presidente de esquerda “tem similitude” com o inominável?
“Às avessas”, Cantalice não tem razão.
Desconheço se Cantalice já esteve na Venezuela, se conhece Nicolas Maduro ou se já ouviu seus discursos, inclusive os improvisos em que o presidente da Venezuela fala de sua “origem obrera”.
Desconheço, também, se Cantalice fez uma análise comparada entre as políticas dos governos de esquerda e de direita.
Desconheço, mas imagino que não, motivo pelo qual a “comparação” feita por Cantalice “tem similitude” com a feita recentemente por Alice Weidel.
Mais detalhes sobre Alice, aqui: https://amp.dw.com/pt-br/por-que-n%C3%A3o-faz-sentido-chamar-hitler-de-comunista/a-71269808
Para além dos “estilos” e “similitudes”, existe um fato: a turma do Cavernícola apoia abertamente Guaidó Segundo & Corina. Se tem alguém confuso nesta história, não é a direita.
A nota 19 do Itamaraty
No ano de 2025, o Itamaraty soltou 19 notas.
As primeiras dezoito foram sobre os seguintes assuntos:
Entrada em vigor do acordo de sede entre Brasil e a Corte Permanente de Arbitragem
Eleição Presidencial no Líbano
Discurso do Ministro Mauro Vieira por ocasião do Seminário Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal – 8 de janeiro de 2025
Concessão de agrément ao Embaixador designado do Brasil na Belarus
Incêndios na Califórnia
Facilitação das exportações de couro brasileiro para o Vietnã - Nota Conjunta MRE/MAPA
Abolição da pena de morte no Zimbábue
Terremoto na região autônoma do Tibete e no Nepal
Premiação da atriz Fernanda Torres no Globo de Ouro 2025 - Nota Conjunta MRE/MinC
Ingresso da Indonésia no BRICS
Concessão de agrément à Embaixadora designada da Tailândia no Brasil
Concessão de agrément ao Embaixador designado do Brasil no Panamá
Bombardeios na Faixa de Gaza
Renovação do Pacote Contra a Inflação no México
Concessão de agrément ao Embaixador designado do Brasil na Alemanha
Concessão de agrément ao Embaixador designado do Brasil na Áustria
Abertura de mercado no Vietnã para peles salgadas de bovinos - Nota Conjunta MRE/MAPA
Ataque contra multidão em Nova Orleans, Estados Unidos da América
A nota 19 foi publicada as 10h29 do dia 11 de janeiro.
O título oficial da nota é "sobre a situação na Venezuela".
Mas o conteúdo não entrega o que o título promete.
Afinal, a nota trata apenas de um aspecto da situação na Venezuela.
E, ao tratar deste aspecto, endossa o ponto de vista de parte da oposição venezuelana, a saber: "o governo brasileiro deplora os recentes episódios de prisões, de ameaças e de perseguição a opositores políticos".
Embora a nota reconheça os "gestos de distensão" por parte do governo, nada fala sobre as ações "deploráveis" de parte da oposição, que incluem a infiltração de mercenários estrangeiros, para fazer sabe-se exatamente o quê.
É uma escolha.
Alguns podem achar que notas como essa facilitariam o diálogo com a oposição e, em última análise, contribuiriam para a estabilidade do próprio governo Maduro ou pelo menos da Venezuela.
Se alguém pensa assim, precisa lembrar que vivemos em tempos de Trump, Milei, Vox e Corina.
Randolfe Rodrigues e os fascistas amestrados
Não concordo, mas compreendo os motivos - justos ou injustos - que levam muita gente considerada de esquerda a criticar o que está ocorrendo na Venezuela.
Um exemplo disso é o senador Randolfe Rodrigues, cuja posição pode ser lida aqui: Líder do PT diz que posse de Maduro é “ilegítima e farsante” | Metrópoles
Também não concordo, mas compreendo os motivos que levam o senador a Randolfe a vocalizar posição oposta à aprovada pela direção do Partido dos Trabalhadores.
Randolfe, como se sabe, é um cara de frases fortes, daquelas que a mídia adora repercutir.
Em 2012, por exemplo, disse o seguinte: "O Mensalão foi um divisor de águas. Feriu de morte um partido um partido político que representava a aspiração de ética na política para milhões de brasileiros".
"Feriu de morte".
Isto tudo posto, eu não consigo entender onde Randolfe quer chegar.
Afinal, dizer que a posse de Maduro é "ilegítima e farsante" na prática significa legitimar Guaidó Segundo e seus fascistas amestrados.
É isso mesmo que Randolfe deseja?
Randolfe deseja que tenhamos outro país governado por alguém estilo Milei, Noboa, Bukele?
Quais seriam os efeitos disto sobre o povo venezuelano?
Quais seriam os efeitos disto sobre a América Latina e Caribe?
Quais seriam os efeitos disto na eleição presidencial de 2026 no Brasil?
Para os que acreditam que o governo Biden teria sido essencial para impedir que a intentona golpista prosperasse em 2022, quero lembrar que em 2026 teremos governo Trump.
Quero lembrar, também, que a tática de questionar a decisão da justiça, realizar manifestações violentas, fazer desestabilização midiática, promover ingerência internacional e convocar os militares a derrubar o governo não é uma jabuticaba venezuelana.
Claro, pode ser que Randolfe fale tudo isto apenas para ficar bem na foto junto a seus amigos da mídia e quetais. Mas, no fundo bem no fundo, torça para que o governo Maduro mantenha a extrema-direita local sob controle. Assim, quem sabe, talvez algum dia Randolfe volte a aplaudir Maduro, como também voltou a aplaudir o PT.
Milagre diplomático
Recomendo assistir uma série chamada "Os enviados".
Resumo: dois padres são mandados, pelo Vaticano, para investigar milagres.
E o método deles é simples: se a ciência não explica, é milagre.
Lembrei disso ao ler uma notícia publicada hoje, 10 de janeiro, na Sputnik.
Explico.
Um cidadão transporta ilegalmente, da Bolívia para o Brasil, um senador criminoso.
A respeito ler aqui: Senador boliviano veio ao Brasil com Eduardo Sabóia | Exame
As ações do cidadão causaram a queda do chanceler Patriota, no governo Dilma.
O cidadão é reabilitado pelo Itamaraty pós-golpe.
E quando começa o atual governo, o cidadão pode ser encontrado na Secretaria de Ásia e Pacífico.
Exatamente quando a presidenta Dilma assumia o Novo Banco de Desenvolvimento.
E também quando estávamos negociando intensamente com a China temas estratégicos para o país.
Depois o cidadão vira "sherpa" em Kazan, onde esteve no centro do affaire envolvendo a Venezuela.
Mais sobre isso aqui: Diplomata aposentado sai em defesa do filho, criticado por Maduro | Metrópoles
E agora, se não for invenção da imprensa russa, o cidadão vira coordenador do BRICS no Brasil.
Detalhes aqui: Coordenador do BRICS no Brasil revela à Sputnik prioridades do país para cúpula de 2025 (VÍDEOS) - 10.01.2025, Sputnik Brasil
Que o cidadão continue no serviço público, depois do que fez na Bolívia, talvez a ciência explique.
Mas que o cidadão receba tarefas tão estratégicas, aí não tem explicação científica.
É um milagre.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
O que não é bom para o Brasil é bom para a Venezuela?
A extrema-direita venezuelana prometeu que no dia 10 de janeiro empossaria Guaidó Segundo.
Não rolou.
A extrema-direita prometeu que tomaria as ruas de Caracas.
Tampouco rolou.
A posse de Maduro transcorreu conforme previsto, com forte presença do povo chavista.
Sem que isso signifique que se possa baixar a guarda, o fato é que durante todo o dia 10 de janeiro, ao menos até as 21h20 horário Brasília, o clima em Caracas foi e segue sendo de tranquilidade.
Isto não se aplica, é claro, ao metaverso da grande mídia estrangeira e das redes antisociais: se o que se diz por lá fosse a verdade, a Venezuela estaria vivendo um momento de intensa tensão.
O metaverso - com destaque para o X de Elon Musk - é o espaço preferido pelos brasileiros que querem desabafar sua raiva com o fato de Nicolás Maduro ter tomado posse.
Há desabafos vindos da extrema-direita.
E há, também, desabafos vindos da direita tradicional, inclusive de gente que participa e/ou apoia o governo federal.
Vide Renan Filho: https://x.com/renanfilho_/
Vide, também, Gilmar Mendes: https://x.com/gilmarmendes/
Emir e o "todoísmo”
Quero comentar a seguinte mensagem de Emir Sader:
Mas antes de entrar no grão, uma preliminar: o debate a respeito do que disse Lula acerca da Revolução de 1917 e acerca da Revolução Cubana não é algo secundário, que nada tenha que ver com objetivo do ato de 8 de janeiro de 2025.
Pelo contrário: concordemos ou não com o que disse Lula a respeito, ele está certo ao tratar destes temas em seu discurso.
Transcrevo a seguir o que Lula disse a respeito: "(…) a democracia é tão boa, que ela permitiu que um torneiro mecânico sem diploma universitário chegasse a presidente da República, na primeira alternância concreta de poder neste país. Isso só pode acontecer na democracia, não pode acontecer noutro regime (...) "eu de vez em quando fico brincando, você pega a fotografia da Revolução Russa de 1917, não tem um operário na foto, você pega a fotografia da revolução cubana, também não tem operário, porque eram os intelectuais, os ativistas políticos, os estudantes, as pessoas com um pouco mais de grau, porque historicamente sempre se pensou que trabalhador não prestava para nada a não ser para trabalhar. As pessoas não imaginavam que os trabalhadores pudessem organizar um partido e chegar à presidência da República (...)".
Ao dizer que uma "alternância concreta de poder" só pode "acontecer na democracia, não pode acontecer noutro regime"; e engatar isso com uma referência crítica às revoluções Russa e Cubana, Lula estabeleceu uma indevida contraposição entre "democracia" e "revolução".
Tal contraposição não faz sentido, entre outros motivos porque foram as revoluções que tornaram possível o surgimento do que chamamos, hoje, de democracia.
Sobre este aspecto do problema, Emir Sader - salvo engano de minha parte - escolheu nada dizer.
Emir se concentra noutro aspecto do problema, a saber, a composição social do processo revolucionário e de sua direção.
A esse respeito, repito o que Lula disse: “eu de vez em quando fico brincando, você pega a fotografia da Revolução Russa de 1917, não tem um operário na foto, você pega a fotografia da revolução cubana, também não tem operário, porque eram os intelectuais, os ativistas políticos, os estudantes, as pessoas com um pouco mais de grau, porque historicamente sempre se pensou que trabalhador não prestava para nada a não ser para trabalhar. As pessoas não imaginavam que os trabalhadores pudessem organizar um partido e chegar à presidência da República (...)".
Não sei de que fotos Lula está falando. Se for das revoluções como um todo, há milhares de fotos - tanto de Cuba quando da Rússia - demonstrando o óbvio: a imensa participação de trabalhadores em geral, assalariados em particular, inclusive operários.
Aliás, foram revoluções por isso: viraram o mundo de ponta-cabeça.
Mas é mesmo provável que - como Emir aponta - a “brincadeira” de Lula diga respeito às direções. Aliás, como comentei noutro texto, há uma história engraçada que me contaram, relacionada a uma foto que Lula teria visto no Instituto Smolny.
Partindo desse pressuposto, Emir diz que Lula estaria certo, pois "quem dirigiu as revoluções russa e cubana não foram operários, foi gente de outros setores sociais".
Diferente de Emir, sei muito pouco sobre a composição social do processo revolucionário cubano. Assim, vou me limitar ao caso da Rússia.
Lenin evidentemente não era operário. Assim, Emir estaria correto se tivesse dito que "o principal dirigente da revolução russa não foi um operário".
Mas se considerarmos a cúpula do Partido Operário Social Democrata Russo (bolchevique) ou a cúpula dos Sovietes de Toda a Rússia, Emir deixa de estar correto.
O fato histórico é que a direção do processo revolucionário russo coube a dirigentes de origem popular. Não se tratou apenas de "apoio".
Outra discussão, muito interessante mas impossível de desenvolver aqui, é sobre o papel dos operários estrito senso nos processos revolucionários (e também nas situações não revolucionárias). E também sobre o papel dos intelectuais de esquerda.
Seja daqueles que Emir chama de "esquerdoides [que] ficam nervosos e esbravejam", seja dos “todoístas” inspirados no Hu Guaofeng.
Para quem não lembra, trata-se de um dirigente do Partido Comunista Chinês, que cumpriu um papel importante na queda da Gangue dos Quatro, mas que é mais lembrado por ter dito que “todas” as orientações de Mao sempre estavam corretas e deviam ser obedecidas.
“Todas”!!
Sempre!!
Depois o PC da China mudou de linha, “emancipou as mentes” e passou a “buscar a verdade nos fatos”. Uma orientação que me parece bem mais saudável, mesmo que desagrade os áulicos.