Um amigo de outro país perguntou o seguinte: “a eleição da presidência do Partido será muito disputada ou apenas um procedimento para legalizar a indicação do candidato favorito do presidente Lula?”
Respondi a ele que ainda não é possível ter certeza.
Entre os muitos motivos disponíveis, lembrei que o “candidato preferido” ainda não tem o apoio da chamada tendência majoritária. Esta, por sua vez, carece de maioria absoluta. Logo, a preços de hoje, não se pode descartar nenhum cenário.
Entretanto, mantidas as condições atuais de temperatura e pressão, é possível ter certeza do seguinte: não importa quem venha a ocupar a presidência do Partido entre 2025 e 2029, esta pessoa fará de tudo para que Lula seja candidato e vença as eleições presidenciais de 2026.
Esse é, aliás, o grande argumento de quem defende a candidatura do “favorito”, a começar por ele próprio, que está ensaiando se apresentar como sendo mais lulista do que petista.
Entretanto, há pelo menos dois motivos para concluir, da mesma premissa, a conclusão oposta.
A premissa é a seguinte: aconteça o que acontecer em 2025 e 2026, salvo o indizível, Lula seguirá sendo a melhor alternativa para que a presidência do Brasil continue ocupada por alguém de esquerda.
Importante dizer que Lula não é a única alternativa: a depender do desempenho do governo e, também, a depender das alternativas presidenciais que venham a ser apresentadas pelas duas direitas, a esquerda dispõe de outras candidaturas capazes de vencer a eleição de 2026.
Mas, salvo ele mesmo não queira ou não possa, nenhuma das outras possíveis candidaturas de esquerda reúne melhores condições do que Lula.
Isto posto, por quais motivos é melhor ter, na presidência do PT, alguém que não seja o (atualmente) “favorito”?
O primeiro motivo é o seguinte: Lula sofre pressões imensas, vindas de dentro e de fora do governo. A maior parte destas pressões vêm dos capitalistas e de seus representantes. Um dos muitos papéis do PT é contrapor-se a estas pressões. Mas para contribuir positivamente nesta contraposição, a pessoa que vier a ocupar a presidência do PT não pode se comportar como ministro de Lula. Ou seja: precisa entender que o papel do Partido não se resume a defender o governo. Inclusive para melhor defender o governo, cabe ao Partido, também, criticar o governo e, principalmente, orientar politicamente o governo. Atitudes que não convivem bem com as razões que levam alguém a ser “favorito”.
O segundo motivo pelo qual é melhor ter, na presidência do PT, alguém que não seja o (atualmente) “favorito” é o seguinte: a vida não termina em 2026. Aconteça o que acontecer na próxima eleição presidencial, caberá ao PT continuar trabalhando pela transformação do Brasil. Esta missão se tornará ainda mais complicada do que é hoje, entre outros motivos porque em 2030 Lula não será candidato à presidência da República. Mesmo que nada mais aconteça, este simples fato será o pano de fundo de uma imensa luta acerca dos destinos do Partido. Para contribuir positivamente nessa luta, a pessoa que vier a ocupar a presidência do PT tem que ser mais petista que lulista. Ou seja: precisa entender que o Partido, para seguir forte e influente, não pode depender de um indivíduo, por mais importante que seja seu papel na história. Precisamos de dezenas de milhões de pessoas ideologicamente motivadas, organizadas de forma democrática e conduzidas por uma direção coletiva. Uma concepção de partido que não convive bem com a lógica do “favoritismo”.
Com base no que foi dito anteriormente, a pergunta do amigo de outro país poderia ser refeita assim: “a eleição vai dotar o Partido de uma direção à altura do momento histórico ou continuaremos aquém das necessidades?”
Neste caso a pergunta seria diferente, mas a resposta continuaria sendo a mesma. Até porque muito dependerá da nossa “militância vietnamita” concluir que vivemos um momento de transição histórica, no qual nosso “favoritismo” será maior se tivermos uma direção partidária que saiba, ao mesmo tempo, assoviar e chupar cana.
(sem revisão)
Por que "militância vietnamita"?
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