terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Barba, cabelo e bigode?

Rodrigo Pacheco (DEM) foi eleito presidente do Senado e Arthur Lira (PP) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados.

No Senado não houve surpresa. Afinal, Pacheco foi apoiado tanto por Bolsonaro quanto pela bancada do PT.

Já na Câmara dos Deputados, muita gente acreditava que haveria segundo turno e até mesmo que Baleia Rossi (MDB) pudesse vencer.

Mas não foi isso que aconteceu: Lira levou no primeiro turno com 302 votos, enquanto Baleia teve apenas 145 votos. 

Para registro: a oposição (PT, PCdoB, Psol, PSB, PDT e Rede) tem 129 parlamentares. Claro que muitos parlamentares destes partidos não votaram em Baleia; mesmo assim, o candidato de Temer & Maia teve menos votos da direita (“centrão” gourmet) do que da oposição de centro e esquerda.

Com apoio do PT ou sem apoio do PT, com apoio do PSOL ou sem apoio do PSOL, Baleia perderia do mesmo jeito; e Lira seria eleito no primeiro turno do mesmo jeito.

A esquerda, em particular nosso Partido dos Trabalhadores, terá que debater se fez a coisa certa, quando abriu mão de ter um bloco próprio e uma candidatura própria, preferindo apoiar uma candidatura golpista que ao final se demonstrou incapaz até mesmo de atrair apoio expressivo na própria direita. 

Também caberá analisar a eleição do restante da Mesa e os impactos sobre as presidências de comissões e relatorias, que para muita gente eram quase ou mais importantes que a disputa da presidência.

A preços de agora, a impressão é que Churchill tinha razão: http://valterpomar.blogspot.com/2021/02/o-pt-na-mesa-sera-que-o-churchill-tinha.html

Entretanto, o mais importante é avaliar qual o efeito político da dupla vitória de candidaturas apoiadas por Bolsonaro. 

Será a véspera do Apocalipse, com Bolsonaro e seus aliados controlando a maior parte das instituições? Será um prenuncio de uma nova vitória cavernícola em 2022?

Argumentos deste tipo foram usados e abusados, no debate interno ao PT, para nos empurrar a apoiar Baleia Rossi. Curiosamente, foram deixados de lado quando se debatia a presidência do Senado. Mais curiosamente ainda, não se adotou, nem se cogita adotar, nenhuma medida prática à altura dos perigos que nos rondam.

Entretanto, seja verdade ou exagero, uma coisa é certa: tanto as eleições municipais de 2020 quanto a eleição das Mesas confirmaram que – ao menos na atual situação histórica-- não será por caminhos eleitorais e institucionais, muito menos através de alianças com setores da direita, que a esquerda derrotará Bolsonaro.

Ou mudamos a correlação de forças na sociedade, em particular na classe trabalhadora, ou a disputa institucional continuará sendo decidida em favor da direita (bolsonarista raiz ou bolsonarista eventual, centrão raiz ou centrão gourmet).

Ninguém gosta de derrota. Mas já que fomos derrotados, vamos pelo menos tirar alguma lição do ocorrido, a começar pela máxima do Barão: “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”. Insistir em aplicar uma estratégia superada só vai produzir novas derrotas.

Espero que a direção do PT convoque, mais cedo que tarde, um encontro nacional que sirva para debatermos e aprovarmos uma nova linha política, adequada aos "tempos de guerra" que estamos vivendo.







11 comentários:

  1. Acho que foi um erro apoiar golpistas traidores do povo. Como a esquerda vai dizer que condena o golpe e se alia aos golpistas. Tivemos os mesmos resultados nas eleições municipais. Cansei de ouvir de amigos anti-anti-anti-anti-petistas que nos somos contra o PMDB que traiu o PT e novamente apoiamos esse partido. Onde esta a diferença entre esquerda e direita quando se trata de eleição?

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  2. O fato concreto é que o imptman foi enterrado. Aliás não estava dado, a observar os 302 votos pro governo. E sim, o que nos resta, enquanto partido, é repensar o caminho para seguir lutando, porque com essas táticas não estamos senão renunciando ao combate. A tarefa de quem ousa desafiar o status quo é propor e direcionar as lutas, juntar se a quem se beneficia das regras ideológicas do estabelecido nunca foi sinal de sabedoria

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  3. Por mim, este grupo que se uniu aos golpistas deveria ser varrido do partido como se varre o lixo que nos incomoda.

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  4. Eu que não entendo muita coisa, fiquei muito incomodada com essas alianças, Também espero que sirva de lição! Em terra de cego, quem tem olho é rei! Esse Brasil tá uma cegueira só, que tristeza!

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  5. Eu que não entendo muita coisa, fiquei muito incomodada com essas alianças, Também espero que sirva de lição! Em terra de cego, quem tem olho é rei! Esse Brasil tá uma cegueira só, que tristeza!

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  6. Eu que não entendo muita coisa, fiquei muito incomodada com essas alianças, Também espero que sirva de lição! Em terra de cego, quem tem olho é rei! Esse Brasil tá uma cegueira só, que tristeza!

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  7. Eu que não entendo muita coisa, fiquei muito incomodada com essas alianças, Também espero que sirva de lição! Em terra de cego, quem tem olho é rei! Esse Brasil tá uma cegueira só, que tristeza!

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  8. Nós avisamos, golpista uma vez golpista sempre! Deu no que deu! A militância não era de acordo!

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  9. Acho q o PT se acostumou com as lidas palacianas como forma principal de luta. Erro histórico! Sem perdão.

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  10. Concordo plenamente: ou mudamos a correlação de forças na sociedade, em particular na classe trabalhadora, ou a disputa institucional continuará sendo decidida em favor de outras forças da sociedade, em especifico as suas classe dominantes (donos dos meios, do dinheiro e do capital, e do poder) e seus "funcionários".

    Mas o que é a classe trabalhadora no século XXI? Nada ou quase nada mais do que foi a mesma classe no século XX, a não ser sua condição de classe trabalhadora, isto é, indivíduos que só podem manter-se vivos vendendo suas forças vitais. Toda a resistência criada ao longo do século passado vieram abaixo em sua última década: não foi só o denominado trágico fim do "socialismo real" mas todos o edifício de lutas e identidades criadas ao longo no mínimo 150 anos. Os dois principais instrumentos de luta e representação da classe trabalhadora, os partidos e os sindicatos, passaram por um processo longo, lento, diuturno e quando necessário violento de deslegitimação dessas instituições básicas na luta da classe trabalhadora. Uma identidade social e uma consciência de classe que foi sendo erodida primeiro através da luta política e ideológica empreendida em escala mundial pela imposição da gramática neoliberal (como sabedoria convencional e razão desse novo mundo) e segundo através de uma desses movimentos do capital que se parecem como os movimentos das placas tectônicas da Terra, processos que revolvem os métodos de produção e valorização do capital com impacto direto nas classes trabalhadoras: enorme deslocamento do capital pelo mundo com a "deslocalização" de parte do antigo parque manufatureiro (e agora inclusive da indústria de serviços) das economias centrais para as novas economias asiáticas (isso ainda nos anos 90 do último século). O impacto dessa "revolução" ainda não está totalmente claro de tudo mas algumas coisa são indiscutíveis: precarização e perda de status das classes trabalhadoras das economias centrais, nas economias periféricas a precarização paradoxalmente é vista como um aumento do status das classes trabalhadoras seja com pelo acesso aos bens de consumo que não estavam ao alcance dessas populações (Bangladesh, Filipinas, Indonésia etc etc) seja como emergência de uma nova classe média (China e Vietnam). Na América Latina quase como um milagre a reação às desastrosas experiência neoliberal pode gerar algo parecido mas em menor escala e alcance das experiências supracitadas. O que as Corporações das economias centrais não contavam é que uma dessas economias - a China - viria a construir uma economia que não só rivalizaria com as principais economias centrais mas com a mais poderosa economia central.

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  11. continuação
    A deslegitimação do Estado de Bem Estar Social, ou a outra experiência do "socialismo real", ajudou a precarizar ainda mais a situação da classe trabalhadora nos países centrais, com a apulatina proletarização e a guetização delas. Na periferia o Estado de Bem Estar Social essa deslegitimação foi um pouco mais profunda porque ai não se tratava de destruir mas de impedir a construção de um Estado de Bem Estar Social. As desigualdades sociais tão típicas das economias periféricas começa a prosperar dentro das próprias economias centrais numa inversão diabólica do desenvolvimento.
    A classe trabalhadora atual é o resultado de todos esses processos que destruíram as formas de organização e de representação tradicional, mas que destruíram também o sentido de identidade e principalmente de solidariedade. Hoje a luta não é mais na fábrica ou na porta da fábrica mas nas cidades, nos bairros onde a classe trabalhadora vive e sofre com a ausência e escassez de bens públicos (educação, saúde, condições sanitárias, oferta de lazer e cultura) e com o velho Estado policial, miliciano, marginal incapaz de prover a segurança dos cidadãos que vivem acuados pela truculências dos marginais oficiais e dos marginais do crime (ambos sócios da e na delinquência)
    É nos bairros que temos de estar, a luta é pelo orçamento público, que todos pagam e poucos usufruem. Tem que disputar a classe trabalhadora onde ela vive as dificuldades do dia, refazer os vínculos de representação e de solidariedade da classe trabalhadora, da cidadania viva.

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