Um dos debates que surgem, quando discutimos o programa de
transformação do Brasil que está sendo analisado pelo PT, é do que exatamente estamos falando.
De um programa para as eleições 2020?
De um programa emergencial, que deve ser apresentado no
Congresso nacional, como alternativa imediata para os problemas imediatos?
De um programa de salvação nacional, para o day after ao
Bolsonavírus?
Ou de um programa de médio prazo?
A ausência de definição clara causa todo tipo de
mal-entendido.
Por exemplo, leva algumas pessoas a descartar determinadas
propostas, não pelo mérito, mas por conta da correlação de forças.
Como parece óbvio, a correlação de forças é um argumento
muito importante no debate de curto prazo, no debate tático.
Não é absoluto, mas é importante.
Mas mesmo esta importância relativa da correlação de forças é um
argumento que perde muita relevância, se estamos discutindo temas de médio e longo
prazo.
Por exemplo: todos dizem ser a favor da igualdade social.
Mas é óbvio que não há condições de estabelecer a igualdade
social, digamos, amanhã.
Apesar disso, não conheço quem utilize a “correlação de
forças” como argumento para ser contra a inclusão da igualdade social como meta
programática.
Neste caso, o pressuposto é que a igualdade pode ser
construída, ao longo de um processo no qual se criarão as condições.
Neste sentido, afirmar como meta construir a igualdade faz
parte do próprio processo de acúmulo de forças.
Paradoxalmente, quando se fala de incluir no programa,
explicitamente, o objetivo de construir o “socialismo”, é comum que alguém
invoque o argumento da correlação de forças.
O argumento seria correto, é óbvio, se alguém estivesse
propondo como meta emergencial (para
amanhã, por exemplo) “construir o socialismo”.
Afinal, construir o socialismo supõe que a classe trabalhadora disponha dos meios
para determinar o rumo geral da sociedade.
E estes meios não estão disponíveis hoje, nem amanhã. Supõe,
entre outras tantas coisas, que a classe trabalhadora controle instrumentos de
poder que, hoje e amanhã, não estão nem estarão ao nosso dispor.
Mas se o debate é sobre incluir o socialismo como nossa meta
programática, um objetivo de médio prazo, para o qual devem convergir nossos
esforços, qual é o sentido de questionar esta meta com o argumento da “correlação
de forças”?
A única razão que me ocorre é: atrapalha.
Supostamente, atrapalharia nossos objetivos eleitorais,
atrapalharia nossas propostas emergenciais, atrapalharia nossa luta contra
Bolsonaro, falar de socialismo, mesmo que deixemos claro que se trata do
socialismo como uma meta de médio prazo.
Claro que quem chega a esta conclusão, precisa responder
duas coisas: 1/por qual motivo não defende abandonar, oficialmente, a luta pelo
socialismo? 2/se não pelo socialismo, pelo que mesmo acumulamos forças?
A conclusão, na minha opinião, é inescapável: tem um setor
da esquerda para quem o tema do socialismo se tornou um incômodo.
É seu direito
pensar assim.
Mas poderiam enfrentar o debate de mérito, ou seja, explicar por
quais motivos consideram que o socialismo não é a melhor alternativa estratégica idônea
à crise sistêmica em que o mundo e o Brasil estão metidos.
Simplesmente porque o Socialismo fracassou integralmente em todo e qualquer lugar em que foi tentado, total ou parcialmente, deixando para trás um rastro de miséria e destruição. Não basta?
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