segunda-feira, 13 de julho de 2020

A crise e o momento socialdemocrata


Num debate de que participei recentemente, ouvi a defesa de que após a crise, talvez venha um “momento socialdemocrata”.

Por óbvio, quem falou isto não estava referindo-se a socialdemocracia brasileira, nem tampouco a outras variantes neoliberais da socialdemocracia.

Por “momento socialdemocrata”, fazia referência a altos níveis de bem-estar social e de liberdades democráticas.

Pode ser que seja este o cenário pós-crise?

Pode ser, sempre pode ser.

Mas também pode ser um cenário Global Mad Max.

Ou um cenário de expansão capitalista, com mais desigualdade e menos liberdade, sem falar de mais opressão das periferias pelas metrópoles.

Mas suponhamos que o cenário seja o melhor dos mundos: um cenário de mais igualdade com mais liberdade.

A pergunta é: o que vai tornar possível este cenário?

Uma epifania?

Todos os capitalistas do mundo inteiro vão receber uma mensagem divina e vão mudar seu jeito de ser, de agir e de pensar?

Se houver alguma lógica na história, a única coisa que pode fazer os capitalistas aceitarem fazer grandes reformas, é o medo de uma grande revolução.

Portanto, quem de verdade quer um “momento socialdemocrata”, devia torcer o bastão para a esquerda.

Foi isso o que ocorreu depois dos 30 anos de crise, entre 1914 e 1945.

O chamado Welfare State só foi possível, em uma pequena e relativamente pouco povoada região do mundo, depois de uma hecatombe, no curso da qual ocorreu uma onda revolucionária.

O “momento socialdemocrata” que existiu até hoje não foi produto da evolução espontânea do capitalismo, nem de sua auto reforma, mas sim foi imposto à classe dominante em circunstancias muito especificas.

Entre estas circunstâncias, é preciso lembrar a existência do imperialismo em geral e dos Estados Unidos em particular, o que facilitou aos capitalistas europeus fazer as concessões que fizeram.

A julgar por esta experiência histórica, se não houver uma pressão socialista revolucionária, não haverá nada de positivo, nem mesmo uma socialdemocracia.

Por isso, até quem se contenta com o programa mínimo, deveria estimar melhor a importância de defender o programa máximo.


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