segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Nas vésperas

Pode haver muita tensão pós-eleitoral.

Seja por atos agressivos de aecistas.

Seja por decisão política da campanha tucana, frente à uma quarta derrota presidencial consecutiva.

Não sei dizer qual será a posição do conjunto da cúpula tucana.

Mas já sabemos qual é a posição de um de seus integrantes: Alberto Goldman. 

Esta posição, que já foi criticada por Breno Altman, está disponível no seguinte texto:

http://www.psdb.org.br/o-brasil-rejeitou-o-pt-dilma-nao-teria-condicoes-de-governar-o-brasil-por-alberto-goldman/

A crítica de Breno Altman está aqui: 

http://operamundi.uol.com.br/brenoaltman/2014/10/20/tucanos-flertam-com-golpismo/


No final de seu texto, Goldman pergunta o seguinte: "ainda que vitoriosa nas urnas, Dilma teria condições de governar o Brasil?"

O que motiva a pergunta de Goldman?

Não são as dificuldades da economia internacional ou nacional.

Não é o apoio congressual nem a capacidade de gestão.

O que motiva a pergunta de Goldman é a composição social do eleitorado de Dilma.

Segundo Goldman, no primeiro turno "o Brasil rejeitou o PT". 

E prossegue: "Dilma recebeu 41,5 % dos votos válidos no primeiro turno das eleições. Os restantes são 58,5%, somando-se Aécio, Marina e os nanicos. Todos, sem dúvida, que fazem oposição ao PT. Os brancos e nulos não computados nessa conta ( 9% do total de eleitores) e parte das abstenções ( 19% do eleitorado) têm, também, um caráter de rejeição".

Se Goldman ficasse por aqui, seu texto seria apenas acaciano. 

Pois é óbvio que se temos segundo turno, é porque ninguém teve maioria absoluta no primeiro.

E o sistema eleitoral em dois turnos permite exatamente que alguém se eleja, com maioria relativa ou absoluta, graças aos votos de quem fez outra opção no primeiro turno.

Em 2002, 2006 e 2010, Lula e Dilma não tiveram maioria absoluta no primeiro turno. Mas ganharam o segundo turno. E governaram o país.

Ao compararmos os oito anos de FHC-vitorioso-no-primeiro-turno com os oitos anos de Lula-vitorioso-no-segundo turno, constatamos que ter maioria de votos já no primeiro turno influi, mas não determina a governabilidade, muito menos o conteúdo e o êxito de uma administração.

Acontece que o questionamento de Goldman é de fundo, bem fundo, fundo mesmo: ele não considera que os votos em Dilma tenham o mesmo valor que os votos dados a Aécio.

Reproduzo as palavras de Goldman: "O Brasil do trabalho formal, produtivo, dos seus trabalhadores e empresários, no campo e na cidade, o Brasil da cultura e da tecnologia –essa é, de fato, a elite brasileira – rejeitou, por ampla maioria, o PT e sua candidata. Deu mais votos à Aécio e Marina. Os outros, com todos os direitos que lhes devem ser garantidos e com toda a proteção social que a sociedade lhes deve, são os excluídos. Deram a maioria dos votos à Dilma."

E aí vem o corolário: "A pergunta que qualquer pessoa intelectualmente honesta deve se fazer é se com esse perfil político do eleitorado, ainda que vitoriosa nas urnas, Dilma teria condições de governar o Brasil?"

Cientificamente, o raciocínio de Goldman é baseado em vários sofismas, meias verdades e mentiras completas acerca do "mapa de votação" e da estrutura de classes existente no país.

Aliás, neste terreno científico, o raciocínio de Goldman tem paradoxais afinidades eletivas com um raciocínio incorreto cometido por nossa campanha, quando insistimos em cortejar e almejar um país "majoritariamente classe média".

Mas o problema principal de Goldman não está na "ciência pura", mas nos seus desdobramentos políticos: o raciocínio deste tucano é potencialmente golpista.

Afinal, qualquer pessoa "intelectualmente honesta" consegue perceber que a tese de fundo, bem fundo, fundo mesmo de Goldman é a seguinte: o voto do pobre não é tão legítimo assimE como o voto do pobre não é tão legítimo assim, o governo dele resultante tampouco será tão legítimo assim. 

Por isto é que Goldman questiona se Dilma, "ainda que vitoriosa nas urnas, teria condições de governar o Brasil?"

Se o pensamento de Goldman for hegemônico na cúpula tucana, o pós-eleitoral será mesmo muito tenso.

Sendo assim, não basta vencer as eleições.

Temos que vencer com uma diferença que contenha o golpista potencial que existe na alma de certos tucanos.

Por isto, nas vésperas do day after, temos que ampliar ao máximo a diferença pró-Dilma; coesionar ao máximo a frente democrática contra o retrocesso neoliberal; e alertar as camadas populares, os setores democráticos, progressistas, de esquerda, socialistas, sobre o que pode estar sendo planejado pelo lado de lá.

No mesmo sentido, devemos estar preparados para de tudo um pouco, seja na campanha de rua, seja no debate na Globo, seja nos meios de comunicação, seja nas pesquisas, seja no acesso dos eleitores às urnas, seja no momento da totalização e divulgação dos resultados.

Para que o day after seja uma grande festa do povo, é preciso lembrar que prudens cum cura vivit, stultus sine cura.

Para quem não entende latim e está sem acesso ao tradutor automático, basta o seguinte:

*nós, cum cura;

*eles, sine cura.


Nenhum comentário:

Postar um comentário