quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Chega de PT?

Este é o programa mínimo da oposição: votar em Aécio para “acabar com a raça do PT”.

Para variar, a direita tem motivos e propósitos claros.

Também para variar, entre partidos e pessoas que se dizem de esquerda, há controvérsia sobre o que significaria, do ponto de vista prático, uma derrota do PT nas eleições presidenciais de 2014.

No caso do PV de Eduardo Jorge e da ampla maioria da direção do Partido Socialista Brasileiro, prevaleceu o apoio a Aécio Neves no segundo turno, por afinidades programáticas.

Agora, vejamos o que dizem a respeito dois textos divulgados no dia 8 de outubro de 2014, um assinado pelo Diretório Nacional do Partido do Socialismo e da Liberdade e outro assinado pelo militante do PSTU Valério Arcary.

O primeiro texto diz que o projeto do PSOL “sai fortalecido das urnas” e que os 5 deputados federais e os 12 deputados estaduais eleitos “farão a diferença nos seus estados e no Congresso Nacional na luta por mais direitos”. Afirma, ainda, que o PSOL deu conta da “principal missão política” que havia se proposto para esta eleição, a saber, apresentar “a melhor candidata e a melhor proposta para o Brasil”, constituindo-se “como a principal referência da esquerda coerente”.

E o que a “principal referência da esquerda coerente” tem a dizer sobre o segundo turno das eleições presidenciais? 

Afirma que um segundo turno, “quando não nos sentimos representados nele, é muitas vezes mais do veto que do voto”. Diz que Aécio Neves, PSDB e aliados são os representantes “mais diretos” da classe dominante e do imperialismo. Recomendam que os eleitores do PSOL “não votem em Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais”. Deixa claro não ser “cabível” qualquer apoio dos filiados do PSOL. Ataca a “provável capitulação de Marina Silva à candidatura tucana”, o que seria “aderir ao retrocesso”. Acusa Dilma de estar “distante do desejo de mudanças que tomou as ruas no ano passado” e de ter feito um governo que “atuou contra as bandeiras mais destacadas” da campanha do PSOL. E conclui dizendo que “se Dilma vencer o segundo turno, o PSOL seguirá como oposição de esquerda e lutando pelas bandeiras que sempre defendemos, inclusive durante a campanha eleitoral”.

Portanto, pode-se votar em Dilma, pode-se até fazer campanha por ela, mas o PSOL como Partido optou por não recomendar o voto em Dilma.

Haveria muito que dizer a respeito da posição oficial do PSOL, mas o fundamental a ser dito, na minha opinião, é que subestima os danos que causaria, à classe trabalhadora brasileira e à esquerda latino-americana, uma vitória de Aécio.

Aliás, é muito revelador que partidos e pessoas que professam o internacionalismo secundarizem o impacto internacional que teria um giro à direita no governo do Brasil.

Subestimar os danos que causaria, à classe trabalhadora brasileira e à esquerda latino-americana, uma vitória de Aécio também é o erro fundamental do PSTU, cuja posição está expressa no texto assinado por Valério Arcary.

Arcary diz que o PT estaria “exagerando nas tintas” e abraçando “um discurso catastrofista que quer apresentar a disputa entre Aécio e Dilma como um armagedon político”, numa “campanha de dramatização [que] não é educativa”.

Arcary reconhece que Aécio é “um horror” e “merece ser combatido impiedosamente”. E concede que “devemos dialogar com nossos colegas de trabalho, em especial aqueles que por fadiga e cansaço com os governos de colaboração de classes liderados pelo PT, podem estar inclinados a votar nele”. 

Mas, diz Arcary, “os marxistas não indicam nunca a escolha do carrasco menos cruel”.

Ou seja, a posição do PSTU é nem Aécio, nem Dilma.

Arcary reconhece que “a maioria do movimento organizado dos trabalhadores deseja derrotar Aécio”. Mas diz que não pode votar em Dilma “porque nos últimos doze anos o PT governou o Brasil ao serviço do capitalismo”. Resumidamente: “o capitalismo brasileiro não tem porque temer o PT”. Não estaria em jogo uma “disputa entre o capital de um lado e o trabalho do outro”, mas sim “dois projetos de gestão do capitalismo, ainda que com diferenças de ênfase”.

Arcary deveria lembrar que em 1964 também houve uma disputa entre “dois projetos de gestão do capitalismo”. Logo, “diferenças de ênfase” podem ter imenso impacto sobre a vida dos trabalhadores e da juventude brasileira.

Portanto, mesmo supondo que ele estivesse correto na sua apreciação sobre o PT e os governos Lula e Dilma, ainda assim votar nulo só teria lógica em dois casos: ou para quem acha que Dilma vai ganhar de qualquer jeito ou para quem aderiu à tese do quanto pior, melhor.

Arcary diz que “os trabalhadores e a juventude, em situações políticas de estabilidade da dominação capitalista, não têm expectativas elevadas, ou seja, não acreditam senão em reformas nos limites da ordem existente.” E afirma que “o papel dos socialistas não pode ser o de reforçar essa prostração político-social, mas, ao contrário, o de incendiar os ânimos, inflamar a esperança, e combater a perigosa ilusão de que é possível regular o capitalismo”. Afirma, ainda, que “a tarefa daqueles que defendem o programa socialista consiste em demonstrar para os trabalhadores que era e é possível ir além”. “Às vezes, infelizmente, muitas vezes, é preciso ter a firmeza de nadar contra a corrente”.

Novamente, este raciocínio de Arcary só teria sentido em dois casos.

O primeiro caso é o de quem acha que existe uma “corrente” favorável ao PT. Mas todos os dados indicam o contrário: “nadar contra a corrente” neste momento é trabalhar ativamente para impedir a vitória da direita. Sendo esta a situação, então não tomar posição em favor de Dilma e/ou defender o voto nulo na prática favorece a derrota do PT e a vitória da direita.

O segundo caso é o de quem acredita que uma vitória da direita vai “incendiar os ânimos” dos jovens e trabalhadores. Arcary percebe que este raciocínio percorre o terreno perigoso do quanto pior, melhor. Provavelmente por isto ele afirma que “Dilma não corre o risco de ser derrotada pela oposição de esquerda. Dilma corre o risco de ser derrotada por si mesma”.

De fato, se acontecesse uma derrota, a principal responsabilidade política seria do meu partido, o Partido dos Trabalhadores. Mas uma “oposição de esquerda” que valha este nome não pode subestimar o desastre que uma vitória de Aécio causaria para a classe trabalhadora brasileira e para a esquerda latino-americana.

Cabe a nós, apoiadores da reeleição da presidenta Dilma Rousseff, ampliar nossa votação no segundo turno, em particular buscar os 4 milhões de votos que tivemos em 2010 e que não compareceram em 2014. Parte destes votos é de eleitores progressistas e de esquerda, que “por fadiga e cansaço” com os governos liderados pelo PT, podem estar inclinados a votar nulo ou a não fazer campanha no segundo turno.

A estes eleitores, mais do que as comparações de praxe entre passado e presente, cabe lembrar que com Dilma haverá um ambiente político mais favorável à luta por mudanças importantes como a reforma política, através de uma Constituinte exclusiva; como a democratização da comunicação; como a revisão da Lei de Anistia; como a reforma tributária progressiva, com taxação das grandes fortunas; como a jornada de 40 horas; como a revisão do fator previdenciário; como a criminalização da homofobia; como a revisão dos índices de produtividade agrária.

E aos líderes de partidos como o PSOL e o PSTU, mesmo correndo o risco de ser acusado de “dramatização”, gostaria de lembrar as palavras de um conhecido militante socialista, proferidas em meados de 1931 contra a política do Partido Comunista Alemão: Sair à rua com a palavra de ordem “Abaixo o governo Bruning-Braun!” quando, dada a relação de forças, este governo só pode ser substituído pelo de Hitler-Hindenburg, é aventureirismo puro.

Dada a atual relação de forças, não tomar posição em favor de Dilma ou pedir voto nulo é objetivamente favorecer Aécio, piorando a situação objetiva e subjetiva da classe trabalhadora brasileira e afetando negativamente o conjunto da esquerda brasileira, PSOL e PSTU incluídos. 

Para evitar isto, divergências claras, pedimos vosso voto em Dilma. 





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