Este é o
programa mínimo da oposição: votar em Aécio para “acabar com a raça do PT”.
Para variar,
a direita tem motivos e propósitos claros.
Também para
variar, entre partidos e pessoas que se dizem de esquerda, há controvérsia
sobre o que significaria, do ponto de vista prático, uma derrota do PT nas
eleições presidenciais de 2014.
No caso do
PV de Eduardo Jorge e da ampla maioria da direção do Partido Socialista
Brasileiro, prevaleceu o apoio a Aécio Neves no segundo turno, por afinidades programáticas.
Agora, vejamos
o que dizem a respeito dois textos divulgados no dia 8 de outubro de 2014, um assinado
pelo Diretório Nacional do Partido do Socialismo e da Liberdade e outro assinado
pelo militante do PSTU Valério Arcary.
O primeiro
texto diz que o projeto do PSOL “sai fortalecido das urnas” e que os 5
deputados federais e os 12 deputados estaduais eleitos “farão a diferença nos
seus estados e no Congresso Nacional na luta por mais direitos”. Afirma, ainda,
que o PSOL deu conta da “principal missão política” que havia se proposto para
esta eleição, a saber, apresentar “a melhor candidata e a melhor proposta para
o Brasil”, constituindo-se “como a principal referência da esquerda coerente”.
E o que a
“principal referência da esquerda coerente” tem a dizer sobre o segundo turno
das eleições presidenciais?
Afirma que um segundo turno, “quando não nos sentimos representados nele, é muitas vezes mais do veto que do voto”. Diz que Aécio Neves, PSDB e aliados são os representantes “mais diretos” da classe dominante e do imperialismo. Recomendam que os eleitores do PSOL “não votem em Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais”. Deixa claro não ser “cabível” qualquer apoio dos filiados do PSOL. Ataca a “provável capitulação de Marina Silva à candidatura tucana”, o que seria “aderir ao retrocesso”. Acusa Dilma de estar “distante do desejo de mudanças que tomou as ruas no ano passado” e de ter feito um governo que “atuou contra as bandeiras mais destacadas” da campanha do PSOL. E conclui dizendo que “se Dilma vencer o segundo turno, o PSOL seguirá como oposição de esquerda e lutando pelas bandeiras que sempre defendemos, inclusive durante a campanha eleitoral”.
Afirma que um segundo turno, “quando não nos sentimos representados nele, é muitas vezes mais do veto que do voto”. Diz que Aécio Neves, PSDB e aliados são os representantes “mais diretos” da classe dominante e do imperialismo. Recomendam que os eleitores do PSOL “não votem em Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais”. Deixa claro não ser “cabível” qualquer apoio dos filiados do PSOL. Ataca a “provável capitulação de Marina Silva à candidatura tucana”, o que seria “aderir ao retrocesso”. Acusa Dilma de estar “distante do desejo de mudanças que tomou as ruas no ano passado” e de ter feito um governo que “atuou contra as bandeiras mais destacadas” da campanha do PSOL. E conclui dizendo que “se Dilma vencer o segundo turno, o PSOL seguirá como oposição de esquerda e lutando pelas bandeiras que sempre defendemos, inclusive durante a campanha eleitoral”.
Portanto, pode-se votar em Dilma, pode-se
até fazer campanha por ela, mas o PSOL como Partido optou por não recomendar o
voto em Dilma.
Haveria muito que dizer a respeito da posição oficial do PSOL, mas o fundamental a ser dito, na minha opinião, é que subestima os danos que causaria, à classe trabalhadora brasileira e à esquerda latino-americana, uma vitória de Aécio.
Aliás, é muito revelador que partidos e
pessoas que professam o internacionalismo secundarizem o impacto internacional
que teria um giro à direita no governo do Brasil.
Subestimar os danos que causaria, à classe trabalhadora
brasileira e à esquerda latino-americana, uma vitória de Aécio também é o erro fundamental do PSTU, cuja posição está
expressa no texto assinado por Valério Arcary.
Arcary diz que o PT estaria “exagerando nas
tintas” e abraçando “um
discurso catastrofista que quer apresentar a disputa entre Aécio e Dilma como
um armagedon político”, numa “campanha de dramatização [que] não é educativa”.
Arcary
reconhece que Aécio é “um horror” e “merece ser combatido impiedosamente”. E
concede que “devemos dialogar com nossos colegas de trabalho, em especial
aqueles que por fadiga e cansaço com os governos de colaboração de classes
liderados pelo PT, podem estar inclinados a votar nele”.
Mas, diz Arcary, “os marxistas não indicam nunca a escolha do carrasco menos cruel”.
Mas, diz Arcary, “os marxistas não indicam nunca a escolha do carrasco menos cruel”.
Ou seja, a
posição do PSTU é nem Aécio, nem Dilma.
Arcary
reconhece que “a maioria do movimento organizado dos trabalhadores deseja
derrotar Aécio”. Mas diz que não pode votar em Dilma “porque nos últimos doze
anos o PT governou o Brasil ao serviço do capitalismo”. Resumidamente: “o
capitalismo brasileiro não tem porque temer o PT”. Não estaria em jogo uma “disputa
entre o capital de um lado e o trabalho do outro”, mas sim “dois projetos de
gestão do capitalismo, ainda que com diferenças de ênfase”.
Arcary deveria
lembrar que em 1964 também houve uma disputa entre “dois projetos de gestão do
capitalismo”. Logo, “diferenças de ênfase” podem ter imenso impacto sobre a
vida dos trabalhadores e da juventude brasileira.
Portanto,
mesmo supondo que ele estivesse correto na sua apreciação sobre o PT e os
governos Lula e Dilma, ainda assim votar nulo só teria lógica em dois casos: ou
para quem acha que Dilma vai ganhar de qualquer jeito ou para quem aderiu à
tese do quanto pior, melhor.
Arcary diz
que “os trabalhadores e a juventude, em situações políticas de estabilidade da
dominação capitalista, não têm expectativas elevadas, ou seja, não acreditam
senão em reformas nos limites da ordem existente.” E afirma que “o papel dos
socialistas não pode ser o de reforçar essa prostração político-social, mas, ao
contrário, o de incendiar os ânimos, inflamar a esperança, e combater a
perigosa ilusão de que é possível regular o capitalismo”. Afirma, ainda, que “a
tarefa daqueles que defendem o programa socialista consiste em demonstrar para
os trabalhadores que era e é possível ir além”. “Às vezes, infelizmente, muitas
vezes, é preciso ter a firmeza de nadar contra a corrente”.
Novamente, este
raciocínio de Arcary só teria sentido em dois casos.
O primeiro
caso é o de quem acha que existe uma “corrente” favorável ao PT. Mas todos os
dados indicam o contrário: “nadar contra a corrente” neste momento é trabalhar
ativamente para impedir a vitória da direita. Sendo esta a situação, então não
tomar posição em favor de Dilma e/ou
defender
o voto nulo na prática favorece a derrota do PT e a vitória da direita.
O segundo
caso é o de quem acredita que uma vitória da direita vai “incendiar os ânimos”
dos jovens e trabalhadores. Arcary percebe que este raciocínio percorre o terreno
perigoso do quanto pior, melhor. Provavelmente por isto ele afirma que “Dilma
não corre o risco de ser derrotada pela oposição de esquerda. Dilma corre o
risco de ser derrotada por si mesma”.
De fato, se
acontecesse uma derrota, a principal responsabilidade política seria do meu
partido, o Partido dos Trabalhadores. Mas uma “oposição de esquerda” que valha
este nome não pode subestimar o desastre que uma vitória de Aécio causaria para
a classe trabalhadora brasileira e para a esquerda latino-americana.
Cabe a nós,
apoiadores da reeleição da presidenta Dilma Rousseff, ampliar nossa votação no segundo turno, em particular buscar os 4 milhões de
votos que tivemos em 2010 e que não compareceram em 2014. Parte destes votos é
de eleitores progressistas e de esquerda, que “por fadiga e cansaço” com os
governos liderados pelo PT, podem estar inclinados a votar nulo ou a não fazer
campanha no segundo turno.
A estes
eleitores, mais do que as comparações de praxe entre passado e presente, cabe
lembrar que com Dilma haverá um ambiente político mais favorável à luta por
mudanças importantes como a reforma política, através de uma Constituinte
exclusiva; como a democratização da comunicação; como a revisão da Lei de
Anistia; como a reforma tributária progressiva, com taxação das grandes fortunas; como a jornada de 40 horas; como
a revisão do fator previdenciário; como a criminalização da homofobia; como a revisão
dos índices de produtividade agrária.
E aos
líderes de partidos como o PSOL e o PSTU, mesmo correndo o risco de ser acusado
de “dramatização”, gostaria de lembrar as palavras de um conhecido militante
socialista, proferidas em meados de 1931 contra a política do Partido Comunista
Alemão: Sair à rua com a palavra de ordem “Abaixo o governo Bruning-Braun!”
quando, dada a relação de forças, este governo só pode ser substituído pelo de
Hitler-Hindenburg, é aventureirismo puro.
Dada a atual
relação
de forças, não tomar posição em favor de Dilma ou pedir voto nulo é
objetivamente favorecer Aécio, piorando a situação objetiva e subjetiva da classe trabalhadora
brasileira e afetando negativamente o conjunto da esquerda brasileira, PSOL e
PSTU incluídos.
Para evitar isto, divergências claras, pedimos vosso voto em Dilma.
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