terça-feira, 8 de julho de 2025

PED: estado da arte

Hoje no início da madrugada a secretaria nacional de organização divulgou os resultados da totalização nacional.

Segundo foi explicado, nesta totalização faltariam alguns votos de várias cidades em vários estados. Não foi dito, mas é preciso lembrar que há recursos que ainda não foram apreciados e que podem, em tese, alterar os resultados. Finalmente, há a situação de Minas Gerais, que pode alterar significativamente o resultado, principalmente em benefício das chapas que têm maior presença naquele estado.

Segundo a totalização, teriam votado 450.818 pessoas em todo o Brasil, de um eleitorado total apto a votar composto por 2.949.507 filiados e filiadas. Ou seja, um comparecimento de 15%. 

O número deve crescer, especialmente depois que forem somados os resultados de Minas Gerais, onde há 259 mil filiados. Mas se Minas Gerais mantiver a média nacional, ela agregará cerca de 40 mil novos votantes. Neste caso, o total de participantes no PED 2025 girará ao redor de 500 mil pessoas.

Em comparação a outros partidos políticos existentes no Brasil, é um grande feito. Em comparação ao desempenho do próprio PT, nem tanto. Afinal, em 2001 votaram 221 mil pessoas; em 2005 votaram 314 mil pessoas; em 2007 votaram 326 mil pessoas; em 2009 votaram 518 mil pessoas; em 2013 votaram 421 mil pessoas; em 2017 não dispomos do número; em 2019 votaram 351 mil pessoas. 

O número alcançado até agora (450 mil) está dentro das estimativas, que oscilavam entre 400 e 600 mil participantes. Entretanto, é preciso registrar que em fevereiro de 2025 foram registradas 340 mil novas filiações. Quando comparamos o comparecimento (450 mil) com o número de novas filiações (340 mil), fica evidente que tinham razão os que diziam ser necessário fazer um recadastramento, pois tratava-se de um “número excessivo” e fortemente artificial.

Depois que secretaria nacional de organização divulgar o resultado por estados e cidades, será necessário estudar a distribuição regional e municipal desses votos, o que certamente revelará outras interessantes novidades.

Segundo a mesma totalização, Edinho Silva teria conseguido 311.348 votos ou 73% do total de votos válidos, que seriam 424.944. 

Comparando com o resultado de outros PED, nos quais o comparecimento foi maior, apesar do número total de filiados ser muito menor: Dirceu em 2001 teve 113 mil votos (55,6%); Berzoini em 2005 teve no primeiro turno123 mil votos (42%) e 115 mil votos no segundo turno (51,6%); o mesmo Ricardo Berzoini em 2007 teve no primeiro turno131 mil votos (43%) e 69 mil votos (62%) no segundo turno; José Eduardo Dutra teve em 2009 274 mil votos (58%); Rui Falcão em 2013 teve 268 mil votos (69,5%).

Nos dois processos posteriores, a eleição não foi direta. Na eleição feita entre os delegados aos respectivos congressos nacionais do Partido, Gleisi Hoffmann teve 62% dos votos em 2017 e 71,5% dos votos em 2019.

Portanto, embora possa ter sido inferior em números absolutos, em números proporcionais o resultado obtido por Edinho Silva é similar ao obtido por Rui Falcão e Gleisi Hoffman, confirmando o seguinte: quando se alia a outras tendências partidárias, a candidatura apoiada pela “Construindo um Novo Brasil” conquista cerca de ¾ dos votos válidos.

Isso, assim como o resultado obtido nas chapas, sobre o qual falaremos a seguir, é produto de um combo de fatores: em primeiro lugar, a força política acumulada há décadas; e também as filiações em massa, o uso das máquinas (governo federal, governos da Bahia, Piauí e Ceará, dezenas de prefeituras, dezenas de mandatos parlamentares), o abuso de poder econômico, o apoio da mídia comercial e a parcialidade de inúmeras direções partidárias.

O desempenho das três outras candidaturas também precisa ser analisado com detalhe. Segundo a mesma totalização divulgada pela secretaria nacional de organização, Rui Falcão teria recebido 49.572 votos ou 11,67% dos votos válidos; Romênio Pereira teria recebido 44.167 votos ou 10,39% dos votos válidos; e Valter Pomar teria recebido 19.857 votos ou 4,67% dos votos válidos. Estes números devem se alterar, depois que forem incluídos os votos de Minas Gerais.

Cabe lembrar que a candidatura de Rui Falcão foi apoiada por um combo de tendências, que ele próprio fez questão de enumerar em cada um dos debates de que participou: setores do Novo Rumo, Avante, Democracia Socialista, Diálogo e Ação Petista, Militância Socialista e outros segmentos. Já as candidaturas de Romênio Pereira e de Valter Pomar foram “solteiras”, ou seja, apoiadas apenas por suas respectivas tendências, a saber: Movimento PT e Articulação de Esquerda.

Cabe lembrar, ainda, que havia uma desproporção total no que diz respeito aos apoios recebidos, em termos do apoio recebido por cada uma destas candidaturas, no que diz respeito a deputados federais, deputados estaduais, vereadores e presidentes de diretórios partidários, entre outros. Como um voto vale um voto, nada disto altera os resultados em si, mas deve ser levado em conta na análise que se poderá fazer quando forem distribuídos os dados detalhados por estados e por cidades.

No que diz respeito às chapas, o resultado foi o seguinte: a chapa da CNB teve 51,62% dos votos; a chapa do Movimento PT recebeu 12,21% dos votos; a chapa da Resistência Socialista recebeu 11,22% dos votos; o Campo Popular, um combo de tendências (EPS, Novo Rumo, Avante, Movimento Brasil Popular) recebeu 10,74% dos votos; a chapa Muda PT, um casamento entre as tendências Democracia Socialista e Militância Socialista, alcançou 7,34% dos votos; a chapa Esperança Vermelha recebeu 3,88% dos votos; a chapa da Tribo recebeu 1,81%; a chapa do Diálogo e Ação Petista recebeu 1,18%. 

Estes resultados todos devem sofrer alterações, em alguns casos significativas, depois que forem incorporados os votos de Minas Gerais. Só então, bem como depois da votação dos recursos, é que será conhecida a composição do Diretório Nacional e da Comissão Executiva Nacional.

No caso da CNB, além do número de cadeiras conquistadas no Diretório, é preciso conhecer quem serão as pessoas indicadas. Afinal, como é público, a tendência Construindo um Novo Brasil segue com divergências internas profundas, o que se traduziu inclusive em várias chapas e candidaturas concorrentes em vários estados e em várias cidades do país.

No caso das chapas-combo, é preciso conhecer como ficará a distribuição entre as forças internas, o que permitirá conhecer o tamanho aproximado de cada tendência. Na mesma linha, é preciso considerar o resultado obtido nas disputas pelas direções estaduais e municipais.

Sobre o que não pode haver dúvida, entretanto, é que a tendência CNB ampliou sua maioria no Diretório Nacional, completando trinta anos de hegemonia ininterrupta, mesmo com altos e baixos. A dúvida é saber quais os efeitos disto na atual conjuntura mundial e nacional, em particular levando em consideração as políticas e as atitudes defendidas, durante o PED, pelo candidato à presidência nacional lançado pela CNB.

Evidente que, travada a batalha e conhecidos os resultados, cabe medir muito bem as palavras e evitar o pessimismo e a negatividade. Mas, por outro lado, os fatos recentes confirmam o que dissemos na campanha: precisamos de uma direção disposta a implementar uma tática de polarização política contra as duas direitas, contra a extrema-direita e também contra a direita tradicional neoliberal que comanda o Congresso e o Banco Central. E precisamos de uma estratégia que nos permita lidar com os tempos de guerra que vivemos. Acontece que os discursos e as propostas apresentadas por Edinho Silva e pelos representantes da CNB apontam noutro sentido.

Finalmente, sobre a Articulação de Esquerda, nos cabe fazer um balanço do conjunto do processo e também de nosso desempenho. Do ponto de vista estritamente político, travamos o bom combate e apresentamos com lealdade e nitidez nossas posições ao conjunto do Partido. Do ponto de vista eleitoral, tivemos um resultado numérico similar, mas inferior ao de 2019. Nossa participação no Diretório Nacional e na Comissão Executiva Nacional depende da conclusão da totalização, dos recursos e dos resultados em Minas Gerais.

Claro que se pode argumentar que nosso resultado é na verdade impressionante. Afinal, das 8 chapas nacionais, há algumas que se beneficiaram das disputas regionais e municipais e há outras que perderam com isso. Há chapas que são coalizões de grupos e outras que são impulsionadas por uma única tendência. Há chapas que tem apoio de imensas estruturas e há outras cujo desempenho dependeu quase que unicamente do convencimento político e do engajamento militante. Em todos estes quesitos, nós fazemos parte do segundo grupo. Levando tudo isto em conta, nossa votação embora numericamente pequena é muito valiosa. Mas para preservar os espaços que ocupamos atualmente o Diretório (5 vagas) e na Executiva (1 vaga), não basta ter valor, é preciso superar as barreiras da proporcionalidade.

É nisso que seguimos focados: apurando, totalizando, fiscalizando, recorrendo e disputando os votos do PED que vai ocorrer em Minas Gerais no próximo domingo.

Especificamente sobre Minas: lá haverá PED municipal, PED estadual e PED nacional. Portanto, haverá votação para presidente e para chapas nacionais. A disputa nacional será extremamente influenciada pela disputa estadual. Neste ponto, destacamos a verdade: nossa chapa e candidatura nacional assumiram publicamente a defesa do estatuto partidário e denunciamos o atropelo judiciário. Sendo assim, pedimos à militância petista de Minas que vote na chapa 220. 

Por fim: estas e outras questões serão debatidas em uma plenária nacional virtual que a chapa realizará no dia 10 de julho, das 20h às 22h00. Se você quiser participar, peça o endereço da sala zoom. Lembre de checar se consegue acessar a reunião via celular, para que você possa participar das manifestações convocadas para o dia 10 de julho, pelo fim da escala 6x1, pela redução da jornada e pela tributação dos super-ricos. 

2 comentários:

  1. Breno Altman declarou no X que votou chapa AE e em Rui Falcão.
    Penso que rolou um voto útil na esquerda petista com o senso comum de que petistas históricos da CNB poderiam votar em RF mais moderado.
    Quantos votos teria o youtuber Jones Manoel se fosse um comunista do PT?
    O essencial não é visto com os olhos...

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  2. Solta o anjo do Jones Manoel! Vocês estão numa dissonância cognitiva tão grande que estão enxergando comunista debaixo da cama!

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