O jornal O Estado de S. Paulo publicou um editorial intitulado "Coisa de mafiosos", desancando tanto Trump quanto Bolsonaro. Chega a dizer, inclusive, que frente ao ataque trumpista a reação inicial de Lula foi "correta". Sobra até para Tarcísio, que leva uma paulada: "deplorável".
A íntegra do editorial do Estadão está ao final desta postagem.
O editorial repercutiu muito nas fileiras da esquerda, especialmente aquela que busca reconstruir a frente ampla abalada pela gula da bancada de direita no Congresso nacional e pela insaciável postura da turma da bufunfa financeira.
Sem dúvida, o Editorial comprova que - nas questões que envolvem a soberania nacional - é possível e necessário construir frentes amplas. A grande questão, como sempre, é que não basta definir "contra quem", é preciso também dizer "a favor do quê".
E é nesse ponto que a porca torce o rabo.
Para começo de conversa, diferente do que diz explicitamente o editorial, não estamos diante de uma operação que atende aos "interesses particulares de Trump". Claro que o estilo da besta é inconfundível, mas neste caso existe muito método por detrás da aparente loucura. Afinal, aos Estados Unidos só há um caminho: virar o mundo de ponta cabeça. Pois no mundo que ele forjaram depois de 1945 e depois de 1971, eles estão perdendo o jogo.
Logo, não se trata de uma guerra comercial onde perco um comprador e, então, vou à busca de outro. Trata-se de uma maratona contra quem não vai respeitar absolutamente nenhuma regra, sendo capaz de fazer muito estrago no meio do caminho. Assim sendo, as medidas necessárias para realmente proteger o Brasil deste tipo de violência vão muito além do que a vã filosofia fenícia do nosso grande empresariado é capaz de suportar.
Precisamos de soberania produtiva, o que implica numa industrialização 50 anos em 5. De soberania energética, o que implica recuperar a Petrobrás e a Eletrobrás para o controle 100% público. De soberania alimentar, o que implica em mais reforma agrária e menos agronegócio. De soberania digital, o que significa entre outros coisas Lei de Meios e construir nossas big techs nacionais e preferencialmente públicas. De soberania militar, o que implica mudar o ministro da Defesa, a orientação do oficialato e a doutrina atualmente aceita, de "defesa hemisférica".
Ou seja, precisamos de tudo ao contrário do que é defendido pelo empresariado e pelo Estadão, como se pode constatar pelas posições adotadas no passado recente, em 2018, quando frente ao segundo turno entre Haddad e o agora denominado "mafioso", o Estadão disse tratar-se de uma "escolha difícil". Para quem não lembra, está aqui: Uma escolha muito difícil - Estadão
Um trecho para recordar memória: "De um lado, o direitista Jair Bolsonaro (PSL), o truculento apologista da ditadura militar; de outro, o esquerdista Fernando Haddad (PT), o preposto de um presidiário. Não será nada fácil para o eleitor decidir-se entre um e outro."
Assim, ótimo que agora o Estadão ataque os mafiosos. Mas ninguém se iluda com a disposição de luta exibida no aniversário do 9 de julho. Como diziam amigos antigos, no dia seguinte certos jornais servem apenas para embrulhar peixe.
SEGUE O EDITORIAL DO ESTADÃO
Coisa de mafiosos
Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia
O presidente americano, Donald Trump, enviou carta ao presidente Lula da Silva para informar que pretende impor tarifa de 50% para todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. Da confusão de exclamações, frases desconexas e argumentos esquizofrênicos na mensagem, depreende-se que Trump decidiu castigar o Brasil em razão dos processos movidos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado e também por causa de ações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas que administram redes sociais tidas pelo STF como abrigos de golpistas. Trump, ademais, alega que o Brasil tem superávit comercial com os EUA e, portanto, prejudica os interesses americanos.
Não há outra conclusão a se tirar dessa mixórdia: trata-se de coisa de mafiosos. Trump usa a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o País a se render a suas absurdas exigências.
Antes de mais nada, os EUA têm um robusto superávit comercial com o Brasil. Ou seja, Trump mentiu descaradamente na carta para justificar a medida drástica. Ademais, Trump pretende interferir diretamente nas decisões do Judiciário brasileiro, sobre o qual o governo federal, destinatário das ameaças, não tem nenhum poder. Talvez o presidente dos EUA, que está sendo bem-sucedido no desmonte dos freios e contrapesos da república americana, imagine que no Brasil o presidente também possa fazer o que bem entende em relação a processos judiciais.
Ao exigir que o governo brasileiro atue para interromper as ações contra Jair Bolsonaro, usando para isso a ameaça de retaliações comerciais gravíssimas, Trump imiscui-se de forma ultrajante em assuntos internos do Brasil. É verdade que Trump não tem o menor respeito pelas liturgias e rituais das relações entre Estados, mas mesmo para seus padrões a carta endereçada ao governo brasileiro passou de todos os limites.
A reação inicial de Lula foi correta. Em postagem nas redes sociais, o presidente lembrou que o Brasil é um país soberano, que os Poderes são independentes e que os processos contra os golpistas são de inteira responsabilidade do Judiciário. E, também corretamente, informou que qualquer elevação de tarifa por parte dos EUA será seguida de elevação de tarifa brasileira, conforme o princípio da reciprocidade.
Esse espantoso episódio serve para demonstrar, como se ainda houvesse alguma dúvida, o caráter absolutamente daninho do trumpismo e, por tabela, do bolsonarismo. Para esses movimentos, os interesses dos EUA e do Brasil são confundidos com os interesses particulares de Trump e de Bolsonaro. Não se trata de “América em primeiro lugar” nem de “Brasil acima de tudo”, e sim dos caprichos e das ambições pessoais desses irresponsáveis.
Diante disso, é absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu o boné do movimento de Trump, o Maga (Make America Great Again), e cumprimentou o presidente americano depois que este fez suas primeiras ameaças ao Brasil por causa do julgamento de Bolsonaro.
Vestir o boné de Trump, hoje, significa alinhar-se a um troglodita que pode causar imensos danos à economia brasileira. Caso Trump leve adiante sua ameaça, Tarcísio e outros políticos embevecidos com o presidente americano terão dificuldade para se explicar com os setores produtivos afetados.
Eis aí o mal que faz ao Brasil um irresponsável como Bolsonaro, com a ajuda de todos os que lhe dão sustentação política com vista a herdar seu patrimônio eleitoral. Pode até ser que Trump não leve adiante suas ameaças, como tem feito com outros países, e que tudo não passe de encenação, como lhe é característico, mas o caso serve para confirmar a natureza destrutiva desses dejetos da democracia.
Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump, de Bolsonaro e de seus associados liberticidas. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros, seja qual for o partido em que militam, não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha os ideais da democracia.
As armas e os Barões assinalados
ResponderExcluirQue da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando:
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Hegel no século XIX, já havia vaticinado que era inevitável uma guerra entre a América do Norte contra a América do Sul. Outro historiador do século XX contratado pelos Mesquita para implantar a USP sob patrocínio de Vargas teria dito que "Geografia é Destino" e desenhou o departamento de História em frente da Geografia no mesmo prédio.
mas tudo é um (Parmênides)
https://www.youtube.com/watch?v=gQswz34L1eg