A secretaria nacional de organização acaba de divulgar o "resultado final" do processo de eleição direta das direções do Partido dos Trabalhadores.
Talvez ainda ocorram alterações, pois há recursos para serem votados. Mas os números grossos não devem se alterar.
Ao todo votaram 549.970 pessoas em todo o país.
Comparação: em 2001 votaram 221 mil pessoas; em 2005 votaram 314 mil pessoas; em 2007 votaram 326 mil pessoas; em 2009 votaram 518 mil pessoas; em 2013 votaram 421 mil pessoas; em 2017 não dispomos do número; em 2019 votaram 351 mil pessoas.
Importante lembrar que o número total de filiados é hoje bem maior do nos anos anteriores.
Por exemplo: em 2001 o número de filiados era de 401 mil pessoas. Votaram 221 mil. Em 2005 o número de filiados era de 910 mil. Votaram 314 mil. Em 2007 o número de filiados era de 1 milhão e 86 mil. Votaram 326 mil. Em 2009 o número de filiados era de 1 milhão e 387 mil. Votaram 421 mil. Em 2013 o número de filiados era de 1 milhão 718 mil. Votaram 421 mil. Em 2017 o número de filiados era aproximadamente 1 milhão 765 mil. Não disponho do número de votantes. Em 2019 não disponho do número de filiados. O número de votantes foi 351 mil.
Em 2025 votaram 549 mil pessoas, frente a um universo de filiados de 2 milhões e 949 mil. Ou seja: 18,6%. Em 2013, que foi um PED similar ao atual, votaram 24,5% dos 1 milhão e 86 mil filiados.
Infelizmente, comprovando a difícil relação entre Pravda e Isveztia, o site do PT postou que o "PT faz maior PED da sua história com quase 550 mil votantes".
Seja como for, estes números exigem uma reflexão política (a influência da conjuntura) e organizativa (acerca da natureza das filiações). Afinal, estamos diante de um crescimento fofo: o aumento no número de filiados não acompanha o aumento da militância, pois nem mesmo cresce o percentual de pessoas que fazem o mínimo, a saber: votar na eleição das direções.
Dos 549.970 que compareceram para votar, parte votou branco ou nulo. No caso dos presidentes, houve 31 mil votos brancos e nulos. No caso das chapas nacionais, houve 41 mil votos brancos e nulos.
Fato que também merece uma análise: pelo menos 10 mil pessoas votaram para presidente e não votaram nas chapas. Dada a diversidade de chapas nacionais, a única explicação possível deriva de algo que foi dito por uma filiada em Ribeirão das Neves: "é aqui que voto para presidente?"
Entre os votos válidos, Edinho teve 73% dos votos.
Já a chapa da tendência Construindo um novo Brasil teve 51% dos votos válidos.
Portanto, do ponto de vista aritmético a atual maioria ampliou seu controle sobre o Diretório Nacional: de 45% a 51%.
Há várias explicações para este resultado. Uma bem simples e totalmente acaciana é a seguinte: eles tiveram mais votos que antes.
Há razões políticas e organizativas que explicam isso. Entre as razões organizativas, destaco uma: o crescimento no número de eleitores.
Em 2019 votaram 351 mil pessoas. Em 2025 votaram 549 mil pessoas. Ou seja: 198 mil pessoas a mais. Esse crescimento beneficiou principalmente a chapa da CNB.
Vejamos a trajetória desta chapa, desde 2005, quando disputou pela primeira vez com este nome:
-em 2005, 116 mil votos (41,9%)
-em 2007, 126 mil votos (42,68%)
-em 2009, 252 mil votos (55,1%)
-em 2013, 200 mil votos (53,62%)
-em 2017, a CNB teve 49,83% dos votos no congresso
-em 2019, a CNB teve 46,9% dos votos no congresso
-e agora, em 2025, teve 257 mil votos (51%)
Como o modelo de votação em 2019 e 2025 foi diferente, não é possível uma análise direta. Mas como em 2019 votaram 351 mil pessoas, os 46,9% da CNB significa algo perto de 164 mil votantes.
Claro que os números exatos não são esses, mas é possível dizer que entre 2019 e 2025 a CNB cresceu mais ou menos de 164 mil para 257 mil votantes. Algo como 93 mil votos a mais. Se esta estimativa estiver correta, a CNB teria capturado a maior parte dos novos votantes, boa parte dos quais muito provavelmente são recém filiados ao Partido.
Os 10 estados nos quais houve mais novas filiações em 2025 foram: Rio de Janeiro (+82 mil), Pernambuco (+26 mil), Ceará (+39 mil), Pará (+25 mil), Maranhão (+21 mil), Espírito Santo (+3700), Amazonas (+10 mil), Piauí (+7,6 mil), Sergipe (+8,4 mil) e Amapá (+8,4 mil).
Os 10 estados onde se concentram os votantes adicionais são: Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão.
Abaixo o número de votantes adicionais, nos 10 estados citados:
-em Alagoas votaram mais 10.352
-na Bahia votaram mais 14.249
-no Ceará votaram mais 20.833
-em Minas Gerais votaram mais 16.526
-no Pará votaram mais 13.894
-no Paraná votaram mais 10.768
-em Pernambuco votaram mais 11.906
-no Rio de Janeiro votaram mais 45.648
-em São Paulo votaram mais 10.869
-no Maranhão votaram mais 6.763
O desempenho eleitoral do PT nesses estados justifica esse crescimento? Se tomarmos como parâmetro 2024, a resposta é não. Na maioria destes estados tivemos um péssimo resultado eleitoral nas eleições do ano passado.
Para recordar: 202 das 252 prefeituras que o PT conquistou no primeiro turno de 2024 estão concentradas em cinco estados. Bahia e Piauí com 50 cada, Ceará com 47, Minas Gerais com 35 e Rio Grande do Sul com 20.
Portanto, a presença de Alagoas, Pará, Paraná, Pernambuco, Maranhão, São Paulo e Rio de Janeiro na lista de crescimento expressivo no número de votantes no PED 2025 em relação ao PED 2019 deve-se a outros fatores.
Naqueles 10 estados citados votaram 161 mil pessoas no PED 2025 a mais do que votaram no PED 2019.
Nas outras 17 unidades da federação, estão os demais 37 mil votantes adicionais. Este número é menor do que o número de votantes adicionais que houve apenas no estado do Rio de Janeiro: 45 mil.
Vamos agora cruzar a relação acima (estados onde mais cresceu o número de votantes) com a relação de estados onde a CNB foi mais votada.
Os 10 estados onde a CNB recebeu maior número de votos são os seguintes:
-Rio de Janeiro: 42.092 votos
-São Paulo: 35.638 votos
-Ceará 34.544 votos
-Pará 23.428 votos
-Minas Gerais 18.002 votos
-Pernambuco 17.993 votos
-Maranhão 13.239 votos
-Paraná 12.484 votos
-Bahia 12.273 votos
-Piauí 9.497 votos
Como se pode constatar, a diferença entre as duas listas reside em Alagoas e Piauí. Em Alagoas houve muitos votantes adicionais, mas a CNB não foi a principal beneficiada. E no Piauí não houve muitos votantes adicionais e a CNB foi muito bem votada.
Os outros estados são os mesmos. No RJ, SP, CE, PA, MG, PE, MA, PR, BA e PI, a chapa da CNB recebeu cerca de 222 mil dos 257 mil votos obtidos em todo o Brasil.
Com um detalhe: do total de 257 mil votos, incríveis 42 mil vieram do Rio de Janeiro, estado onde nosso desempenho em 2024 foi sofrível.
Para além das obviedades acacianas, também há conclusões políticas e organizativas a tirar destes números.
Uma conclusão óbvia é que se eliminarmos da equação aquilo que não deveria estar lá - filiações industriais, compra de votos, ingerência explícita de pessoas vinculadas a outros partidos, pessoas votando no lugar de outras, atas adulteradas, abuso de poder econômico, uso da máquina, influência eleitoral das emendas parlamentares, assédio de diversos tipos, intimidação contra fiscais, manipulação das comissões organizadores por parte de determinadas chapas e candidaturas, pequeno ou nenhum debate oficial entre as posições concorrentes etc. - o resultado teria sido outro.
Com uma equação depurada, talvez a maioria do Partido continuasse moderada, mas esta maioria seria devidamente moderada por uma maior influência da esquerda.
Outra conclusão, não tão óbvia, é a seguinte: a CNB fez um brutal esforço e extraiu disso um crescimento de... 6 pontos percentuais.
Detalhe: em alguns casos, o esforço brutal foi feito para que uma facção da CNB tentasse derrotar outra facção da mesma CNB.
Pergunta: o preço pago (em alguns casos é preço mesmo) para alcançar esta maioria absoluta vale a pena para o Partido como um todo?
(Noutro texto, a análise prossegue.)
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