segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Comentário sobre dois textos de Luis Felipe Miguel e Milton Temer

Recomendo a leitura dos textos de Luis Felipe Miguel (LFM) e de Milton Temer (MT), reproduzidos ao final.

O texto de LMF começa com uma pergunta: "Está faltando uma revolução?"  

Em seguida, LFM descreve a situação brasileira, cuja síntese é a de que estaríamos "empacados". 

Mais para o final de seu texto, LFM explica que a "revolução" de que ele está falando "não precisa passar por alguma tomada do Palácio de Inverno". 

E conclui defendendo "uma transformação revolucionária do padrão histórico de relacionamento do Estado brasileiro com as elites e com as classes populares. Sem essa revolução, não temos sequer como manter uma democracia liberal minimamente 'civilizada'."

De fato, os obstáculos – econômicos, políticos, legais, institucionais, internacionais, fáticos - que enfrentamos neste terceiro mandato de Lula são imensos. Tão grandes, que para sua remoção faz sentido falar da necessidade de uma “revolução”. 

Entretanto, já que perguntar não ofende, pergunto: como fazer uma "revolução" na relação entre o Estado e as classes, sem fazer uma revolução na relação entre estas mesmas classes? Como fazer uma revolução na relação entre as classes e, ao mesmo tempo, manter uma “democracia liberal”?  Como fazer uma revolução na política sem fazer uma revolução na sociedade? Como falar de revolução numa sociedade capitalista, sem falar de socialismo?

Isto posto, passemos ao texto de Milton Temer.

Temer concorda que faz falta uma "revolução", mas o foco de seu texto está em como enfrentar a situação descrita por Luis Felipe: “o que você nos descreve” não terá solução “sem que uma pressão partidária pela esquerda se organize na luta institucional, de molde a gerar mobilização social”. 

Sempre confiando que perguntar não ofende, pergunto: o que significa “gerar mobilização social” a partir de uma “pressão partidária pela esquerda” que se “organize na luta institucional”? 

Como Temer afirma a esperança de que o PSOL possa contribuir nisto – desde que seu partido consiga “se livrar de sua atual maioria moderada na direção” – imagino que por “luta institucional” ele se refira à ação das bancadas legislativas. 

Se for isto, então Temer está falando de algo que parte do PT já faz, a saber: terceirizar tarefas para os parlamentares. 

Ao menos no caso do PT, esta terceirização não tem resolvido o problema da mobilização social, nem no sentido estrito da mobilização, nem no problema de base, que é a perda de influência dos sindicatos e dos movimentos sociais junto a classe trabalhadora.

Resumo da ópera, ao menos para mim: os textos de Milton Temer e de Luís Felipe Miguel ilustram parte do impasse que vive um setor da esquerda brasileira, profundamente crítico acerca dos rumos do PT, mas com grande dificuldade para oferecer uma alternativa, seja no plano prático, seja no plano teórico.

Isso não acontece por acaso e não acontece apenas no Brasil. 

No plano mundial, há muitos anos que - com as exceções conhecidas - a classe trabalhadora vem sofrendo seguidas derrotas no plano econômico, social, político e cultural. O número de conflitos militares aumentou. A situação ambiental é catastrófica.

Observando a situação com realismo, a conclusão é a seguinte: mesmo que as coisas possam vir a melhorar no médio-longo prazo, a tendência é que no curto-médio prazo as coisas piorem um pouco mais.

Paradoxalmente, é nesse ambiente e talvez apenas nesse ambiente de crise sistêmica que se possa falar, realisticamente, em revolução no sentido de superação do capitalismo e de transição socialista.

Acontece que este mesmíssimo ambiente de crise estimula grande parte da esquerda a adotar uma postura defensiva. Trocando em miúdos: contra uma direita que faz de tudo para piorar o status quo, levanta-se uma esquerda que passa a defender o status quo ("o sistema").

Como já foi assinalado, esta postura defensiva não se limita ao plano das ações práticas, táticas, imediatas; ela também aparece no plano programático, estratégico e teórico. 

Dito de outra forma: tem gente escavando o fosso entre as condições objetivas e as condições subjetivas. 

Os impasses estruturais são cada vez mais brutais, exigindo transformações cada vez mais radicais e imediatas. Entretanto, ao menos por enquanto não é majoritária, nas forças organizadas da classe trabalhadora, a disposição de tentar fazer o que precisa ser feito: virar o mundo de ponta cabeça. 

O fosso entre problemática e solucionática já apareceu outras vezes na história. A dificuldade resultante dele não é, pois, um problema inédito. Nem é um problema fácil de resolver. Aliás, não encontrou solução na maioria das situações ocorridas até hoje. 

Isto posto, se queremos contribuir para sua solução, ao menos naquilo que está ao nosso alcance – a situação brasileira, no santo ano de 2025 e depois – um bom começo é abandonar certos exageros, sejam os direitistas, sejam os esquerdistas.

Um exemplo do primeiro tipo de exagero está nas frases que reproduzo a seguir, extraídas do texto de Luis Felipe Miguel cuja íntegra está ao final. Os destaques são meus: 

“Dá um desânimo desse país. O pior é saber como nosso horizonte está restrito. Podemos sonhar com uma nova vitória em 2026, para evitar que a extrema direita volte ao Planalto, mas não podemos sonhar com um governo que governe. Qualquer governo estará emparedado”.

Curiosamente, este raciocínio supracitado de LFM é parente muito próximo das supostas justificativas apresentadas pelos setores da esquerda que defendem não existir “outra saída senão se curvar mais e mais”. 

Afinal, se nosso horizonte está restrito, se qualquer governo estará emparedado, se não podemos sonhar com algo melhor, não faz sentido reclamar e criticar quem busca pelo menos sobreviver, ainda que à custa de concessões sem fim. 

Um exemplo do segundo tipo de exagero está na passagem a seguir transcrita do texto de Milton Temer: o governo “não está acuado por obra dos céus. Está por opção política de não confrontar os poderosos”. 

Bem que eu gostaria que isso fosse totalmente verdade. Mas não é. 

Claro que Temer tem razão ao dizer que o acuamento não é obra dos céus. Mas também não é obra apenas de quem recua até ficar acuado (Bocage que me perdoe o uso indevido). 

O acuamento é obra, também, do grande capital, do imperialismo, da extrema-direita, da direita tradicional, de seus funcionários e instrumentos. Ao menos neste momento da história do Brasil, só tem um jeito de derrotar esta quadrilha: através de uma frente popular liderada pelo PT e com o apoio do governo Lula.


Segue abaixo o texto do Luis Felipe Miguel 

Está faltando uma revolução?

É difícil olhar para o Brasil de hoje não chegar à conclusão de que estamos empacados.

No Brasil, elegemos a duras penas um governo que devia ser democrático e progressista, mas ele não consegue fazer quase nada. Emparedado pela Faria Lima, pelo Centrão, pelos militares, pelos latifundiários, pelos fundamentalistas religiosos, pela imprensa burguesa, vive de recuo em recuo, de concessão em concessão.

Aprovou um pacote fiscal que, mais uma vez, faz os pobres pagarem a conta. Para aprová-lo, liberou bilhões no pagamento de emendas de parlamentares venais.

Mas nem assim o “mercado” ficou satisfeito. Ele não aceita qualquer gesto de mínima independência, qualquer migalha jogada para satisfazer a base social do governo: quer submissão total e absoluta. A especulação contra o real continua e o governo não vê outra saída senão se curvar mais e mais.

Depois de dois anos reclamando, com razão, da gestão de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central, o governo Lula se vê constrangido a sinalizar que seu indicado, Galípolo, continuará na mesma toada.

E quando Flávio Dino põe novamente um freio a farra das emendas parlamentares, o governo se sente ameaçado porque sabe que a reação dos donos do Congresso será tremenda.

O Supremo, por sua vez, tem agido em favor dos instrumentos formais da democracia (depois de ter legitimado o golpe de 2016, convém não esquecer). Mas já mostrou que não se dispõe a salvar nenhuma das medidas de proteção à classe trabalhadora que perdemos nos últimos anos. Quando briga com o Congresso, é uma disputa por espaço. E a prioridade é manter os muitos privilégios do Judiciário, os salários inchados por mil penduricalhos, a impunidade quase absoluta a seus integrantes.

Os ministros do STF passeiam pelo mundo com mordomias bancadas por grandes empresas. Capitalista corruptor, político corrupto, bicheiro assassino, parece que todo mundo tem um ministro do STF para chamar de seu.

Falei de bicheiros, mas não é só. Todos os setores do crime organizado – PCC, milicianos etc. – estão infiltrados no Legislativo, no Judiciário, no Executivo. Têm seus vereadores e deputados, seus juízes e desembargadores, seus delegados de polícia e coronéis. 

Podemos ver algum alento no fato de que os militares aparentemente aceitaram a prisão de um dos seus, o general Braga Netto, e sabem que outros, como Augusto Heleno, já são favas contadas. Mas, fora isso, não aceitam que se dê nenhum passo na ampliação do controle do poder civil sobre eles. O episódio recente, em que a Marinha divulgou, nas redes sociais, um vídeo de ostensiva insubordinação contra o governo legítimo, é revelador. Lula ficou bravo, pensou em demitir o comandante da força, mas foi dissuadido e deixou passar.

Podia falar da reunião do Conanda, em que, com medo do barulho dos fundamentalistas religiosos, o governo votou contra a resolução de garantiria o acesso das meninas estupradas a seu direito ao aborto legal.

Podia falar das pontes que caem sem manutenção, embora os laudos se acumulem ano após ano.

Podia falar da cobertura vacinal que continua falha, dois anos depois do novo governo assumir.

Dá um desânimo desse país. O pior é saber como nosso horizonte está restrito. Podemos sonhar com uma nova vitória em 2026, para evitar que a extrema direita volte ao Planalto, mas não podemos sonhar com um governo que governe. Qualquer governo estará emparedado.

A única esperança para o Brasil, como sabia Leonel Brizola, era o presidencialismo. A possibilidade de eleger um presidente mais à esquerda, que encaminhasse algumas medidas em favor das maiorias.

Pois o que foi feito, do golpe de 2016 para cá, foi esvaziar a presidência de grande parte de seus poderes. Com um projeto claro; nas palavras de Wanderley Guilherme dos Santos, escritas logo após a derrubada de Dilma, impor uma “ordem de dominação (...) nua de propósitos conciliatórios com os segmentos dominados”.

Este projeto continua em vigor – e agora buscam implantá-lo mesmo sem precisar reverter o resultado das eleições presidenciais, como fizeram oito anos e meio atrás.

É difícil imaginar uma mudança que passe por esse Congresso, por esse Judiciário, por essa elite política. Sem o aumento da capacidade de pressão – isto é, da mobilização e da organização – da classe trabalhadora e dos dominados em geral, há muito pouco espaço para avançar.

A revolução de que estou falando não precisa passar por alguma tomada do Palácio de Inverno.

Mas o experimento democrático que foi fraturado com a deposição de Dilma Rousseff se baseava num equilíbrio instável entre regras democráticas e desigualdades sociais profundas, idêntico ao que vigorou no período democrático anterior (1945-1964), que dificilmente tem como ser reativado.

Um novo equilíbrio precisará ser alcançado. É preciso radicalizar a democracia, com um compromisso mais ambicioso com a justiça social. Este caminho, infelizmente pouco provável no curto prazo, exige uma transformação revolucionária do padrão histórico de relacionamento do Estado brasileiro com as elites e com as classes populares.

Sem essa revolução, não temos sequer como manter uma democracia liberal minimamente “civilizada”.


Segue abaixo o texto de Milton Temer

MINHA RESPOSTA à oportuna postagem de Luis Felipe Miguel. 

Meu caro Luis Felipe, você tem prestado um imenso serviço ao processo democratizante brasileiro, com suas análises concretas da realidade concreta. Com as quais me identifico, com uma única ressalva. A generosidade na avaliação do lulopragmatismo na responsabilidade pelo Estado a que chegamos. 

O governo não está acuado por obra dos céus. Está por opção política de não confrontar os poderosos. De impor uma lógica desmobilizadora da luta social, com o que se torna dependente dos meliantes do covil parlamentar de Brasilia.

Não haverá transformação de cenário enquanto dependermos apenas dos métodos do lulopragmatismo como alternativa ao enfrentamento da ameaça fascista. Ameaça, aliás, que nunca deixou de existir em nosso cenário dito republicano. Sempre tivemos uma ampla base social conservadora, anticomunista, controlada pela religosidade. Antes dos neopentecostais, a Igreja Católica desempenhava o papel com intensidade semelhante. Teoglogia da Libertação foi um raio em céu azul. Antes, desagregada e só revelada nos votos de uma misteriosa “maioria silenciosa”. Foi o defensivismo do lulopragmatismo que permitiu sua aglutinação agressiva.

Em 2003 tivemos uma oportunidade especial para impor as mudanças. O neoliberalismo estava no fundo do poço. As FFAAs estavam desmoralizadas pelos anos de penúria propiciados pelos cortes orçamentários que mandavam a soldadesca pra casa antes do almoço para não ter que pagar rancho.

Mas Lula chega ao Planalto, e o que faz não é o que determinava a última resolução congressual do PT no Encontro de Recife em fins de 2021. A Resolução vencedora, do campo moderado – a então Articulaçã0 – , determinava, em sua abertura, a dissolução do modelo neoliberal que nos assolara nos anos 90. Lula se elege contra um Serra que, ciente do cenário, se anunciava candidato da “continuidade sem continuísmo”.

Mas Lula já havia optado pela pusilânime Carta aos Brasileiros e a rendição aos maganos do agronegócio, dos bancos, e das empreiteiras. Ampliou as restrições neoliberais com a ampliação superávit fiscal, de herdados 3,7% para 4,5, sob a égide da dupla sinistra Palocci/Meirelles. E recolocou as FFAAs no campo da direita reacionária ao optar, não por reformá-las diante da nova Ordem, mas a lança-las no pântano da intervenção no Haiti, onde os augustohelenos e grande parte dos atuais generais golpistas se especializaram na repressão a pretos e pobres.

Era o Pacto Conservador de Alta Intensidade, compensado por um Reformismo Fraco.

Sim, Luis Felipe. Está faltando uma Revolução. Mas o que você nos descreve na postagem de hoje, a partir da questão inicial, penso eu, não terá solução sem que uma pressão partidária pela esquerda se organize na luta institucional, de molde a gerar mobilização social. Mobilização social pela desalienação religiosa e política das camadas médias que arrastam os segmentos mais vulneráveis ao rupturismo do “contra tudo isso que tá aí” sequestrado pela extrema direita à outrora militância da luta anticapitalista.

Meu partido, o Psol, se conseguir se livrar de sua atual maioria moderada na direção, é a esperança de que tal caminho se reabra. Reforçando os setores dentro do próprio neoPT que ainda mantêm vínculo com a perspectiva combativa, anticapitalista, do saudoso PT dos tempos de Oposição. Com a militância e a formulação dos partidos da esquerda radical, UP, PCBR, PCB, uma Juventude Brizolista do PDT, podemos reestruturar uma verdadeira Frente de mudanças. É no que aposto nisso que ainda me resta de vida ativa.

Grande abraço e Luta que segue!!


Otimismo em 28 pontos

Não sei quem redigiu.

Mas está circulando amplamente uma lista de 28 "conquistas do governo Lula em 2024".

No dia 30/12/24, o Diário do Centro do Mundo publicou a lista.

Vide aqui:  Governo Lula fecha 2° ano com resultado histórico na economia; veja em 28 pontos

Suponhamos, para facilitar, que todos os pontos sejam efetivamente positivos. 

Isto posto, cabe perguntar: qual seria reflexo político destes 28 pontos, em particular nas eleições presidenciais de 2026?

Motivo da pergunta: as eleições presidenciais dos Estados Unidos, as eleições municipais brasileiras de 2024 e todas as pesquisas de opinião publicadas desde o início de 2023 demonstraram (once again) que a relação entre economia e política é para lá de complexa. 

Por isso, mesmo que todos os 28 pontos fossem efetivamente positivos & mesmo que tudo continuasse positivo no biênio 2025-2026, ainda assim nosso problema estaria muito longe de ser resolvido.

O que fazer? Algumas pistas estão aqui, no texto do Bira: https://pagina13.org.br/2025-promete/





domingo, 29 de dezembro de 2024

Resposta a um amigo de outro país

Um amigo de outro país perguntou o seguinte: “a eleição da presidência do Partido será muito disputada ou apenas um procedimento para legalizar a indicação do candidato favorito do presidente Lula?”

Respondi a ele que ainda não é possível ter certeza. 

Entre os muitos motivos disponíveis, lembrei que o “candidato preferido” ainda não tem o apoio da chamada tendência majoritária. Esta, por sua vez, carece de maioria absoluta. Logo, a preços de hoje, não se pode descartar nenhum cenário. 

Entretanto, mantidas as condições atuais de temperatura e pressão, é possível ter certeza do seguinte: não importa quem venha a ocupar a presidência do Partido entre 2025 e 2029, esta pessoa fará de tudo para que Lula seja candidato e vença as eleições presidenciais de 2026. 

Esse é, aliás, o grande argumento de quem defende a candidatura do “favorito”, a começar por ele próprio, que está ensaiando se apresentar como sendo mais lulista do que petista.

Entretanto, há pelo menos dois motivos para concluir, da mesma premissa, a conclusão oposta. 

A premissa é a seguinte: aconteça o que acontecer em 2025 e 2026, salvo o indizível, Lula seguirá sendo a melhor alternativa para que a presidência do Brasil continue ocupada por alguém de esquerda. 

Importante dizer que Lula não é a única alternativa: a depender do desempenho do governo e, também, a depender das alternativas presidenciais que venham a ser apresentadas pelas duas direitas, a esquerda dispõe de outras candidaturas capazes de vencer a eleição de 2026. 

Mas, salvo ele mesmo não queira ou não possa, nenhuma das outras possíveis candidaturas de esquerda reúne melhores condições do que Lula.

Isto posto, por quais motivos é melhor ter, na presidência do PT, alguém que não seja o (atualmente) “favorito”?

O primeiro motivo é o seguinte: Lula sofre pressões imensas, vindas de dentro e de fora do governo. A maior parte destas pressões vêm dos capitalistas e de seus representantes. Um dos muitos papéis do PT é contrapor-se a estas pressões. Mas para contribuir positivamente nesta contraposição, a pessoa que vier a ocupar a presidência do PT não pode se comportar como ministro de Lula. Ou seja: precisa entender que o papel do Partido não se resume a defender o governo. Inclusive para melhor defender o governo, cabe ao Partido, também, criticar o governo e, principalmente, orientar politicamente o governo. Atitudes que não convivem bem com as razões que levam alguém a ser “favorito”.

O segundo motivo pelo qual é melhor ter, na presidência do PT, alguém que não seja o (atualmente) “favorito” é o seguinte: a vida não termina em 2026. Aconteça o que acontecer na próxima eleição presidencial, caberá ao PT continuar trabalhando pela transformação do Brasil. Esta missão se tornará ainda mais complicada do que é hoje, entre outros motivos porque em 2030 Lula não será candidato à presidência da República. Mesmo que nada mais aconteça, este simples fato será o pano de fundo de uma imensa luta acerca dos destinos do Partido. Para contribuir positivamente nessa luta, a pessoa que vier a ocupar a presidência do PT tem que ser mais petista que lulista. Ou seja: precisa entender que o Partido, para seguir forte e influente, não pode depender de um indivíduo, por mais importante que seja seu papel na história. Precisamos de dezenas de milhões de pessoas ideologicamente motivadas, organizadas de forma democrática e conduzidas por uma direção coletiva. Uma concepção de partido que não convive bem com a lógica do “favoritismo”.

Com base no que foi dito anteriormente, a pergunta do amigo de outro país poderia ser refeita assim: “a eleição vai dotar o Partido de uma direção à altura do momento histórico ou continuaremos aquém das necessidades?”

Neste caso a pergunta seria diferente, mas a resposta continuaria sendo a mesma. Até porque muito dependerá da nossa “militância vietnamita” concluir que vivemos um momento de transição histórica, no qual nosso “favoritismo” será maior se tivermos uma direção partidária que saiba, ao mesmo tempo, assoviar e chupar cana.

(sem revisão)


 


segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Detalhando o pacote

Segue a polêmica sobre o pacote de cortes de gastos apresentado pelo governo e votado pelo congresso.

Parte da polêmica envolve o fato de alguns parlamentares petistas terem votado contra a proposta do governo.

Na PEC, Natália Bonavides, Rui Falcão e Dionilso Marcon votaram não.

No PLP 210/2024, Rui Falcão votou não.

No PL 4614/2024, Érika Kokay, Luizianne Lins, Dionilso Marcon, Natália Bonavides, Rui Falcão e Tadeu Veneri votaram não.

Existe quem acredite que petistas devem votar a favor de qualquer coisa que venha do governo.

Mas como essa previsão não consta do estatuto partidário e como não houve fechamento de questão, é necessário analisar o mérito, ou seja, o que foi efetivamente votado e aprovado.

Para isso, solicitamos à assessoria da deputada federal Natália Bonavides, mais especificamente ao companheiro Magnus Marques, que fizesse um relato didático do que foi a voto e do que foi aprovado.

O texto que segue abaixo é uma edição do relato de Magnus. Agradecemos críticas e correções.

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O pacote proposto pelo governo foi levado a voto no Congresso através de três instrumentos: um projeto de emenda constitucional (PEC), um projeto de lei (PL) e um projeto de lei complementar (PLP).

Para ser aprovada, uma PEC precisa de 3/5 dos votos. 

Para ser aprovado, um PL precisa de maioria dos presentes (sendo necessário que esteja presente a maioria absoluta).

Para ser aprovado, um PLP precisa de maioria absoluta dos votos.

Há uma série de detalhes adicionais, que embora politicamente relevante, não detalharemos, do tipo votação de urgência, não ter sido submetido a debate em comissões, a assinatura formal do projeto, o “apensamento” de uma PEC a outra PEC já existente etc. 

O foco a seguir será no mérito.

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EMENDA CONSTITUCIONAL

A PEC 45, contendo parte do pacote de contenção de gastos do governo, foi apensada a PEC 31/2007.

Foi aprovada na Câmara, foi aprovada no Senado e foi promulgada pelo Congresso na sexta-feira dia 20 de dezembro de 2024.

A PEC tratava de dois grandes temas: corte no abono salarial e supersalários.

A decisão de juntar estes dois temas deriva da decisão de apresentar o pacote de cortes como salomônico.

Supersalários

O projeto enviado pelo governo previa corte nos chamados supersalários. A proposta original estabelecia que haveria uma Lei Complementar (que exige maioria absoluta), que definiria em caráter nacional quais são as chamadas verbas indenizatórias. As verbas indenizatórias foram um “jeitinho” que o sistema de justiça deu para que seus membros ganhem salários milionários. Essa permissão não existe na Constituição. Hoje, quem ganha supersalários está na ilegalidade (embora seja uma ilegalidade sustentada em interpretações judiciais). Interpretações judiciais feitas pelos mesmos que estabelecem as verbas indenizatórias. Com a previsão de que as indenizações deveriam ser reguladas por Lei Complementar, só as verbas previstas nessa Lei poderiam superar o teto constitucional. Isso impediria que o sistema de justiça continuasse criando penduricalhos para que seus membros ganhem mais que o teto. 

Contudo, o Congresso fez duas alterações importantes no projeto originalmente enviado pelo governo. 

Ao invés de Lei Complementar, o Congresso previu que a regulamentação deveria ser dar através de Lei ordinária. Como Lei ordinária não exige quórum qualificado para aprovação, será mais fácil que um futuro lobby inclua novos penduricalhos numa Lei que ainda não foi aprovada. Com o agravante de que essas alterações poderão ser feitas através de votação simbólica, o que facilita ainda mais o lobby. 

A segunda alteração tornou inócua a previsão de corte nos supersalários. Isso porque criaram uma regra de transição que não existia na proposta enviada pelo governo. A regra de transição é a seguinte: enquanto não for aprovada a Lei ordinária regulamentando a questão, as verbas indenizatórias já vigentes (previstas por leis estaduais etc.) poderão continuar superando o teto constitucional. 

Na prática, constitucionalizaram os supersalários, em troca da promessa de que, vão cortar. 

Sem essa regra de transição, em tese os supersalários seriam legalmente extintos em decorrência da promulgação da PEC (em tese, porque alguma entidade representativa de magistrados poderia judicializar e conseguir assim manter os penduricalhos tal como estão).

Abono salarial

A PEC reduziu o universo de beneficiários do abono salarial. 

Antes da PEC, ganhavam o abono quem recebia até dois salários mínimos. 

A partir da PEC, esse universo vai ser reduzido gradativamente. 

Em 2025, vai continuar recebendo quem ganha até o valor equivalente a duas vezes o valor do salário mínimo vigente. Nos anos seguintes, o valor limite de remuneração para quem ganha o abono vai ser atualizado apenas com base na inflação, até que esse valor se iguale a quem ganha 1,5 salário mínimo. E a partir daí, só vai ganhar abono quem recebe até 1,5 SM.

Enquanto no tema dos supersalários, o Congresso piorou a proposta vinda do governo, no tema do abono o Congresso manteve a proposta do governo.

Outros temas

Alem dos supersalários e do abono, a PEC tratou de outros assuntos.

A PEC prevê que vai ser possível a edição de Lei complementar estabelecendo condições e limites para a concessão de benefícios tributários. A medida é positiva, porque prevê um mínimo de regulamentação acerca desses benefícios. Mas qual será esta regulação, só saberemos no futuro. 

A PEC permite que a lei orçamentária limite gastos com subsídios fiscais. Idem comentários anteriores. 

A PEC aprovada na Câmara permitia o uso do Fundeb para financiamento da alimentação escolar. Isso foi retirado no Senado. Críticos da PEC entendiam que, mantida a permissão, ela produziria uma redução no valor disponível para outros fins e permitiria à União reduzir o financiamento da alimentação escolar por programa próprio. 

A PEC estabelece que parte dos recursos do FUNDEB deve ser usado para ampliação das vagas da educação em tempo integral. Originalmente, o governo tinha proposto que fossem 20% do FUNDEB para educação em tempo integral. Entretanto, isto não foi aprovado, mas sim o que segue: em 2025, deve ser 10% dos repasses da União, e de 2026 em diante, deve ser 4%. Críticos da PEC afirmaram que essa previsão dificulta o pagamento do piso dos professores, já que é o Fundeb que contribui para que governos estaduais e prefeituras paguem os salários dos trabalhadores da educação. Os críticos sustentam que o certo seria destinar mais recursos para a educação para financiar a educação em tempo integral, e não desviar parte dos recursos do Fundeb para esse fim.

No projeto aprovado, a vinculação do uso de um percentual do FUNDEB para educação em tempo integral vai durar até que sejam cumpridas as metas do PNE sobre educação em tempo integral

A PEC prorroga para a DRU até 2032. Na prática, isso leva ao subfinanciamento da seguridade social, uma vez que parte do recurso da seguridade pode ser usado para outros fins.

A PEC limita a criação e a prorrogação de vinculações constitucionais e legais, tendo como parâmetro os limites do arcabouço fiscal. 

Como se viu na descrição acima, os cortes aprovados na PEC não afetaram o andar de cima, mas afetaram o andar de baixo.

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PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR

O PLP 210/2024 define limites aos benefícios fiscais, às emendas e aos gastos com pessoal.

Foi aprovado na Câmara e no Senado.

A mistura, num mesmo projeto, de gastos decididos pelo Congresso com emendas parlamentares, de gastos decididos pelo governo para beneficiar empresários e de verbas para pagar salários de funcionários públicos, deriva da decisão tomada pelo governo, de parecer salomônico. 

Emendas parlamentares

O PLP permite o contingenciamento de até 15%, na proporção do aplicado às demais despesas, dos valores destinados para emendas parlamentares não impositivas (que são basicamente as emendas de comissões). 

O projeto original garantia contingenciamento dos valores destinados a todas as emendas (um avanço tímido com relação ao sequestro do orçamento do governo por parte do congresso).

Mas o texto aprovado permite esse contingenciamento apenas sobre 15% das emendas não impositivas. Na prática, portanto, se está transformando as demais 85% em impositivas. 

Detalhe adicional: esse bloqueio só vai ser permitido para que o governo cumpra o limite do arcabouço. Portanto, se for verificado que o valor das despesas obrigatórias cresceu menos do que o previsto, o bloqueio vai ser desfeito. Esse acréscimo não havia no projeto original e seu efeito prático é estimular o Congresso a reduzir o valor das despesas obrigatórias.

Benefícios tributários

O PLP estabelece que, em situação de déficit fiscal e se houver redução dos valores disponíveis para os gastos discricionários, está proibida a ampliação, criação ou prorrogação de benefícios tributários. Esse impedimento dura até que volte a haver superávit. Em situação de calamidade, essa vedação é excluída.

Gastos com pessoal

O PLP estabelece, como regra provisória até 2030, que em situação de déficit fiscal e se houver redução dos valores disponíveis para os gastos discricionários, até que volte a haver superávit, limita o crescimento real de gastos com pessoal a 0,6%. Desse limite, ficam fora os gastos determinados por decisão judicial. 

Essa regra não impede a correção do salário dos servidores, com base na inflação. E não impede que haja aumento real e novas contratações, dentro do limite de 0,6% acima da inflação. Em situação de calamidade, essa vedação é excluída.

Outros itens

O PLP submete ao limite do arcabouço (limite que pode variar de 0,6% a 2,5%) o crescimento de gastos com benefícios da seguridade social em caso de prorrogação ou criação de benefícios

O PLP permite que o superávit de alguns fundos possa ser utilizado para amortizar a dívida pública, a saber:

-Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD);

-Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (FUNSET);

-Fundo do Exército;

-Fundo Aeronáutico;

-Fundo Naval.

Nesse ponto, houve alteração com relação ao projeto original: saíram da lista os Fundos da marinha mercante e da segurança pública.

O PLP revoga a recriação do DPVAT. Essa foi uma condição que a extrema direita impôs ao governo para não atrasar a aprovação desse item do pacote. O seguro DPVAT é uma garantia para as vítimas de acidente. O fundo que o financia zerou. Vale dizer que apesar do DPVAT ter sido recriado, os governadores de direita estavam se recusando a cobrar. Agora o assunto foi resolvido, em favor da direita.

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PROJETO DE LEI

O PL 4614/2024 tratava dos cortes no salário mínimo e no Benefício de Prestação Continuada (BPC).

O PL foi aprovado nas duas casas e está aguardando sanção. Existe uma promessa do governo federal, de vetar trechos do que foi aprovado acerca do BPC.

Benefício de Prestação Continuada

O PL exige cadastro biométrico para recepção de qualquer benefício da seguridade social. Esse cadastro deve ser refeito a cada 24 meses para os benefícios do CadÚnico. Quem não se recadastrar, vai ter o benefício suspenso. Mas, antes da suspensão, o poder público deve notificar a família 90 dias antes do fim do prazo. Quem vive em lugar de difícil acesso (ou tiver em qualquer situação excepcional, como mobilidade reduzida), vai poder ter esse prazo ampliado em 6 meses, prorrogável por mais 6 meses.

O PL estabelece que, a partir de 2025, o poder público vai estabelecer um cronograma de recadastro para quem está com cadastro desatualizado a 18 meses.

O PL estabelece que, para receber os benefícios do CadÚnico, as famílias formadas por apenas uma pessoa terão que ter o cadastro atualizado com atendimento na própria residência.

Vale dizer que o texto aprovado moderou as mudanças que foram propostas pelo governo. Por exemplo: na proposta original, seriam prejudicadas mães solos que recebem pensão e idosos que recebem auxílio dos filhos, uma vez que passaria a ser  contabilizada a renda de quem ajuda, mas não mora com a pessoa.

A proposta original incluía no cálculo da renda irmãos casados e filhos casados que morassem com a pessoa beneficiária, assim como passava a contar como renda o BPC recebido por outros membros da mesma família. Essas propostas não constam da proposta aprovada.

Por outro lado, o texto aprovado prevê que para a concessão do benefício será considerada uma avaliação sobre o grau da deficiência. Diante dos protestos universais, o governo assumiu o compromisso de vetar esse item (cabendo perguntar por qual motivo ele foi incluído).

Salário mínimo

O PL estabelece um teto (de 2,5% acima da inflação) e um piso (de 0,6% acima da inflação) para o crescimento do salário mínimo. 

Hoje, a regra é: inflação + variação do PIB do penúltimo ano. 

Segundo o PL, se houver crescimento do PIB acima de 2,5%, este crescimento não será mais transferido ao salário mínimo.

Por outro lado, caso o crescimento do PIB seja inferior a 0,6%, o salário mínimo cresceria 0,6%.

O governo afirma que esta regra garante aumento real mesmo em cenário de estagnação econômica. Mas como vimos nos governos Temer, Bolsonaro e inclusive agora, quando se trata de piorar, não é difícil alterar a lei do salário mínimo.

Por outro lado, o teto de 2,5% já vai ter efeito em 2025, que seria o primeiro ano em que o salário mínimo seria beneficiado pelo “efeito Lula de crescimento do PIB”. Em 2023, crescemos mais de 3%. Com o limite de 2,5%, o salário mínimo não vai incorporar este crescimento. A diferença é algo em torno de 10 reais ao mês ou 120 reais ao ano. 

No ano de 2026, vai acontecer o mesmo. Devemos crescer mais de 3% em 2024, e o limite de 2,5% vai prevalecer em 2026.

Outros temas

O PL proíbe que o judiciário crie hipóteses de dedução de gastos quando da avaliação da renda. O texto prevê que só pode deduzir o que for previsto em lei.

O PL permite que ato unilateral do poder executivo mude o limite de renda para alguém ser beneficiário do Bolsa Família e o tempo máximo de recebimento do benefício.

O PL estabelece que o poder executivo vai estabelecer um limite máximo de famílias unipessoais beneficiários por município

Como se viu na descrição acima, os cortes aprovados no PL exclusivamente o andar de baixo.

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O que foi lido até agora é uma edição do texto elaborado, originalmente, por Magnus Marques.

Adiante, alguns comentários adicionais, de minha responsabilidade.

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COMENTÁRIOS ADICIONAIS

O pacote apresentado pelo governo não foi submetido a debate prévio, nem com o Partido dos Trabalhadores, nem com os sindicatos, nem com os movimentos sociais, nem mesmo com o próprio governo. Tampouco foram submetidos ao trâmite normal de debates, no Congresso Nacional.

O pacote foi elaborado e tramitou sob forte pressão, em especial a desvalorização do real frente ao dólar, a alta da taxa de juros e o crescimento da inflação. 

O pacote previa, desde o início, uma distribuição desigual do ajuste. Segundo tabela divulgada pelo próprio ministério da Fazenda, no biênio 2025 e 2026 o corte seria de R$ 71,9 bilhões, distribuído mais ou menos assim:

-os militares contribuiriam com 2 bilhões;

-provimento e criação de cargos também com 2 bilhões;

-o Distrito Federal com 2,3 bilhões

-a cultura com 3 bilhões;

-subsídios e subvenções contribuiriam com 3,7 bilhões;

-a DRU com 7,4 bilhões;

-o Fundeb com 10,3 bilhões;

-as emendas parlamentares com 14,4 bilhões;

-e 26,6 bilhões de reais da economia viriam de “gastos” feitos com o andar de baixo, assim distribuídos: 0,7 do abono salarial; 11,9 do salário mínimo; 5 do bolsa família; 4 do BPC; 5 da “biometria”, que nas explicações da Fazenda se aplica no caso do BPC e do Bolsa Família.

Não conhecemos os novos cálculos do MF, com base no que foi efetivamente aprovado, mas a descrição feita anteriormente indica que seguramente cresceu o peso proporcional dos cortes feitos contra o andar de baixo.

Desconhecemos o que foi/será feito quanto aos militares e o que foi/será feito quanto às mudanças no Imposto de Renda. Lembrando que estas e outras promessas (emendas, supersalários) foram usadas como argumento para convencer algumas pessoas a “também” fazer cortes contra o andar de baixo.

Setores do governo argumentam que teria havido um crescimento explosivo de alguns “gastos”. Diz-se, por exemplo, que o BPC poderia superar o BF em cinco ou sete anos; que o BF é hoje três vezes maior, como proporção do PIB, do que era nos anteriores mandatos presidenciais petistas; que o Fundeb seria mais de duas vezes maior; que haveria o piso da enfermagem etc.

Estes mesmos setores do governo, entretanto, não disseram – ao menos até agora – como pretendem enfrentar os gastos tributários e os gastos com juros. 

O desequilíbrio nas propostas contribui para a tese, disseminada pela direita, de que o "problema" estaria no "populismo".

No que toca aos juros, a aparição conjunta do presidente Lula com o presidente do Banco Central passou a ideia, para muita gente, de que o problema não estaria na “independência” do BC, mas sim na pessoa de seu presidente. Ou seja: se a taxa de juros seguir alta, não caberia reclamar.

Talvez por isso, em recente entrevista, o Ministro da Fazenda indicou que vem mais ajuste fiscal por aí. 


domingo, 22 de dezembro de 2024

A Folha, a gratidão e Natália Bonavides

jornal Folha de S. Paulo acaba de publicar mais um editorial contra o governo Lula e contra o PT.

A resposta da presidenta de Gleisi Hoffmann ao referido editorial está aqui:


No final de sua resposta, Gleisi diz que “o editorial mostra de que lado a Folha está.”

O mesmo pode ser dito do texto publicado no Painel da Folha de hoje, 22 de dezembro de 2024 (ver imagens ao final desta postagem).

Três deputados, dois homens e uma mulher, votaram contra o pacote de cortes. Entretanto, a nota publicada no Painel de hoje só fala de Natália Bonavides.

Houve petistas que criticaram o voto dos três? Houve, claro. E quem critica está no seu pleno direito. 

Mas é bizarro que a Folha esconda o nome dos autores das críticas.

Mais bizarras ainda são as críticas escolhidas e difundidas pela Folha.

Zero de referência ao mérito do pacote. 

Uma referência ao risco do pacote ser derrotado, “risco” que, como ficou comprovado, era propagandeado pela direita para aumentar seu preço e, também, garantir a desidratação das medidas positivas.

A Folha faz referência, ainda, à suposta “ingratidão” de Natália, já que “o PT apoiou a candidatura dela a prefeitura de Natal, inclusive com a ida de Lula para um ato da campanha dela”.

De quem é essa afirmação? Da Folha? De algum tuitador quase anônimo? De um figurão covarde, desses que falam em off?

Não sei. Mas, seja de quem for, é uma frase reveladora.

O fato de Natália ter sido a candidata do PT à prefeita de Natal não a obriga a apoiar toda e qualquer medida do governo. 

Aliás, não consta do estatuto do Partido que “toda medida do governo deve ser aplaudida, defendida e votada”.

Ademais, “gratidão” é um termo inapropriado. 

Por exemplo: Lula não esteve presente na maioria das campanhas municipais. Isto por acaso desobrigaria as candidaturas desatendidas da tarefa de defender Lula contra nossos inimigos?

Como fica evidente pelo exemplo acima, ou bem alguém acredita que “gratidão” seria uma avenida de mão única, ou bem melhor não usar o termo na presente polêmica.

Até porque alguém poderia falar da “ingratidão” cometida por quem descarrega o peso principal do ajuste exatamente nas costas de quem garantiu a vitória de Lula e a sobrevivência do PT.

Seja como for, a Folha confirmou de que lado está, ao atacar simultaneamente o governo, o PT e também a quem votou contra o pacote. Não causa surpresa, nem merece gratidão.







A frase lapidar de Haddad

A imprensa divulgou (mais) uma frase lapidar do ministro da Fazenda, nosso companheiro Fernando Haddad.

Segundo Haddad, “a direita não quer pagar os impostos que deve e a esquerda não quer conter gastos. Como é que fecha as contas?”

A frase está aqui: Haddad: Direita não quer pagar imposto e esquerda não quer cortar despesa – Economia – CartaCapital

A frase é lapidar, mas só a primeira parte dela é verdadeira.

De fato, a direita não quer pagar os impostos que deve, nem os que deveria pagar.

Mas não é verdade que a esquerda não queira "conter gastos".

Por exemplo: a esquerda defende conter os gastos derivados da taxa de juros, dos subsídios concedidos ao grande empresariado, dos altos salários e dos benefícios concedidos aos militares.

A respeito desses gastos, as propostas apresentadas por Haddad oscilam de muito tímidas a praticamente inexistentes. 

Por isso, para "fechar as contas", o peso principal das medidas propostas por Haddad recaiu sobre os "gastos" presentes e futuros com o chamado andar de baixo.

Mas como os "gastos" principais são com o andar de cima, os cortes feitos agora não serão suficientes para “fechar as contas". Portanto, novos cortes virão, com os efeitos sociais, políticos e sobre nosso desenvolvimento futuro que só não vê quem não quer. 

Além de ser parcialmente falsa, a frase lapidar de Haddad contém uma aparente incógnita. A saber: se “a esquerda não quer conter gastos”, como Haddad define a si mesmo?

A resposta, óbvio, é que a definição adotada por Haddad é uma simplificação. Não existe uma única direita, assim como não existe uma única esquerda. Existem várias. 

Existe, por exemplo, uma esquerda que acredita que a saída estaria no centro. E que, por este motivo, não tem pruridos em apelar para simplificações que estigmatizam toda a esquerda.

Sem dúvida, lapidar. Autolapidar.

  



sábado, 21 de dezembro de 2024

A "repulsa" de Guimarães

Memória é uma coisa traiçoeira. Mas tenho a impressão de ter conhecido o José Guimarães em Belém do Pará, numa reunião ocorrida entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1980.

O principal tema da reunião era a Guerrilha do Araguaia. 

De um lado estávamos os que criticavam a estratégia política que levara o PCdoB a organizar a guerrilha, bem como criticavam o balanço que um setor da direção do PCdoB fazia acerca do desfecho.

De outro lado estavam os que, além de defender a justeza da linha e fazer um balanço positivo, algumas vezes manifestavam sua repulsa contra os que divergiam.

Um dos principais alvos daquela repulsa era José Genoíno, guerrilheiro do Araguaia e irmão de Guimarães.

A lembrança deste episódio, ocorrido há décadas, deve-se à seguinte declaração de Guimarães: “Têm a minha repulsa os que votaram contra as medidas do governo Lula".

A declaração de Guimarães foi publicada aqui:

“Repulsa”: líder de Lula dá bronca em petistas por voto contra governo | Metrópoles

Guimarães não nomina. Mas entre os alvos imagino que estejam os deputados Falcão e Marcon e a deputada Natália Bonavides.

As razões de Rui Falcão estão aqui: Rui Falcão critica pacote do governo e vota contra medidas que reduzem direitos | Brasil 247

As razões de Natália estão aqui: Natália Bonavides no X: "Votamos contra a PEC do corte de gastos e não apoiaremos propostas que diminuam o poder do governo de mudar a vida de nosso povo. O "mercado" busca chantagear o governo com seu tom de sempre: retirar direitos dos mais pobres e manter privilégios dos de cima. (1/9)" / X

As razões de Marcon estão aqui: Sobre meu voto contrário ao Pacote de Corte de Gastos do Governo Federal | Página 13

Vale dizer que José Genoíno, irmão de Guimarães, declarou à imprensa que "se ainda fosse deputado, votaria com o Rui Falcão". A declaração de Genoíno está aqui.

"Se eu ainda fosse deputado, votaria com o Rui Falcão e contra o ajuste fiscal", diz José Genoino | Brasil 247

Como se pode ler nas declarações acima citadas, os motivos dos petistas que votaram contra o pacote são políticos.

Assim como são políticos os motivos de quem concebeu o pacote, de quem autorizou o pacote e de quem votou no pacote.

É neste terreno que o debate deve ser mantido. 

Neste debate, é geralmente um erro usar termos como "repulsa" e quetais.

Em primeiro lugar, porque se há algo que deve gerar repulsa entre nós, é a chantagem do capital financeiro. 

Sem falar na repulsa que deve ser dedicada aos "argumentos" utilizados pela direita, seja para votar contra, seja para votar a favor do pacote.

A esse respeito, vale a pena ler isto aqui: Governo foi cúmplice do golpe de Lira, diz líder do governo - revista piauí

Em segundo lugar, porque divergir não é crime, nem tampouco traição, especialmente quando não houve fechamento de questão. 

Em terceiro lugar, embora o líder do governo tenha óbvia dificuldade de compreender isto, Lula, Haddad e o governo também erram.  

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Edinho ataca novamente

Pergunta: na guerra contra o crime, Edinho proporia uma "trégua"?

Imagino que não.

Mas na guerra contra a especulação criminosa, Edinho propõe uma "trégua".

É o que está dito na entrevista (reproduzida ao final) que o companheiro concedeu ao Globo.

A palavra "trégua" dissimula o que efetivamente está ocorrendo. Afinal de contas, na guerra em curso, só um dos lados está atacando, chantageando, desestabilizando. 

Edinho não percebe esta assimetria, talvez devido a uma concepção equivocada que ele sabiamente atribui a alguém mais importante: "a dinâmica do capitalismo no século XXI é dada pelo capital financeiro — é também com ele que temos de construir um projeto de Brasil forte".

A primeira frase é parcialmente verdadeira: a dinâmica do capitalismo no século XXI é parcialmente dada pelo capital financeiro. 

Já a segunda frase é enganosa: afinal, se quisermos construir "um projeto de Brasil forte", teremos que subordinar o capital financeiro. 

A palavra subordinação talvez soe forte demais para alguém que diz não gostar de polarização. 

E, claro, legal seria se o capital financeiro se dispusesse a construir "um projeto de Brasil forte".

Mas a vida é como ela é, cheia de antagonismos e polarizações. 

No caso em tela, a entrevista de Edinho polariza contra a recente resolução do Diretório Nacional do PT e, também, contra seguidas declarações públicas da presidenta Gleisi Hoffmann acerca da taxa de juros e do Banco Central.

Depois da visita à Embaixada dos EUA e dessa entrevista ao Globo, temo pelo que ainda está por vir. 

Desse ponto de vista, Edinho bem que podia dar uma trégua. Ao PT.


SEGUE A ENTREVISTA

O mercado financeiro está indicando claramente nas últimas semanas que perdeu
a confiança sobre o governo fazer um ajuste fiscal que consiga conter o rombo
crescente das contas públicas nos próximos anos e que, portanto, consiga
minimamente cumprir as metas fiscais. Como reverter essa situação?

Edinho Silva — Acho que é hora de pensarmos no Brasil. Essa guerra estabelecida na
economia vai derrotar o país. É hora de uma trégua e de fortalecermos o caminho
proposto pelo ministro Haddad. Ele propõe um caminho, isso tem de ficar claro. É um
caminho. E isso tem de unir quem aposta no Brasil. A hora é de união e total respaldo ao
ministro Fernando Haddad. Nenhum analista bem informado, e bem-intencionado,
colocaria como uma tarefa simples reduzir o rombo das contas públicas no curto prazo.
Só o governo Bolsonaro deixou mais de R$ 700 bilhões de estouro. É importante não
perdermos esse referencial, caso contrário o peso sobre o governo Lula seria muito
injusto. Não é nem um pouco razoável considerar que o governo Lula apresentaria um
pacote para produzir um superávit primário capaz de estabilizar a relação dívida/PIB no
curto prazo.

E o que seria razoável, então?
Edinho Silva — O que está sendo proposto é um caminho. Temos de construir unidade
na construção desse caminho. O Brasil é um país como muitas injustiças e
desigualdades, impor o impossível significa caminharmos para uma escalada de
aprofundamento da miséria, da violência. Por isso que o caminho sinaliza os objetivos, e
eles precisam ser alcançados, mas com racionalidade, tranquilidade e estabilidade. É
urgente e necessária uma trégua nessa polarização. Na construção desse caminho
temos de garantir que quem aposta no Brasil tenha seus ganhos garantidos. Quem
apostar contra o país, tem de ser perdedor.

Mas dada a deterioração das expectativas, o governo não teria de dar mais
garantias em relação ao equilíbrio fiscal?
Edinho Silva — Sem a busca do equilíbrio fiscal não tem perspectiva de futuro. Não há
segurança de inflação baixa e nem de redução da taxa de juros. O presidente Lula é um
defensor do poder de compra dos salários, portanto, inimigo da inflação, e é um
desenvolvimentista, o que é antagônico com juros altos. Só temos de construir o
caminho da busca do equilíbrio, sem atalhos, buscar a construção de um equilíbrio que
seja perene. Ninguém nega que temos problemas nas contas públicas que vêm de longa
data, como eu já disse. Eu sempre digo que a economia é como na saúde: se errar no
diagnóstico, vai errar no medicamento, no tratamento. O receituário está pronto, o que
está sendo construído é a dosagem. Todos temos de ajudar nessa construção. Tem de
ser uma construção coletiva, governo, Congresso e “os atores do bem”, aqueles que
apostam no Brasil. As medidas que estão sendo votadas no Congresso são o início da
construção de um caminho, não o fim. São passos importantes na busca do equilíbrio, da
justiça fiscal, e da estabilidade. Em um governo que preza pela democracia, o debate
para o ritmo da busca dos objetivos está sendo feito pelo Congresso, com ampla
participação dos atores. O importante é sabermos que a construção do caminho que
levará ao equilíbrio fiscal perene e estável não pode ser ter atalhos. O mais importante
agora é a aprovação das medidas para que possamos caminhar na busca dos objetivos.
A construção do equilíbrio das contas públicas tem de ser permanente. Agora o foco é
aprovar as medidas enviadas pelo presidente Lula. Aprovadas, segue o esforço na
direção do equilíbrio das contas públicas. Não há bala de prata, essa é uma concepção que não deveria existir, temos de acreditar nos processos. O governo tem o diagnóstico
e se move na direção correta, na velocidade que a democracia e a realidade brasileira
permitem. É hora de unirmos o Brasil. Chega de apostar contra o país. Está na hora de
sairmos dessa polarização do “perde perde”. Temos de dar garantias para quem aposta
no Brasil. No mercado tem quem ganha e tem quem perde. Os ganhadores têm de ser
sempre quem aposta no país. O presidente Lula é um homem pragmático. Ele sabe que
a dinâmica do capitalismo no século XXI é dada pelo capital financeiro — é também com
ele que temos de construir um projeto de Brasil forte. Só não podemos aceitar que sejam
exigidas medidas irreais.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

CQD, Edinho…

Ontem um amigo me enviou a imagem que reproduzo ao final desta mensagem.

Reenviei para minhas listas, acompanhada da expressão CQD.

Algumas pessoas me escreveram perguntando o que a “sigla” queria dizer.

Uma resposta está aqui:

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Quod_erat_demonstrandum

CQD, no caso, faz menção ao que disse no texto cujo endereço segue abaixo, mais precisamente ao que está no trecho reproduzido logo a seguir:

http://valterpomar.blogspot.com/2024/12/edinho-candidato-presidencia-nacional.html?m=1

“O que se pode dizer, a julgar pelas entrevistas concedidas por Edinho, é que se ele virasse presidente do PT, seu mandato seria um retrocesso político em relação ao de Gleisi Hoffmann.”

Acrescento o seguinte: é óbvio que os gringos tem interesse no que pensamos e queiram contatos no PT.

Assim como é óbvio que a recíproca pode ser verdadeira.

Mas é patético comemorar publicamente o fato de ter sido recebido e tratado como fonte pelo sub do sub da quase ex.

Como diria um amigo, a má política geralmente vem acompanhada da falta de compostura.



terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Edinho candidato à presidência nacional do PT

Candidato oficializado à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores, por enquanto só o Romenio Pereira, da tendência Movimento PT.

Candidatura prometida, por enquanto só a da tendência petista Articulação de Esquerda, que informou publicamente que informará seu nome até março de 2025.

Candidatura mais comentada, entretanto, é a de Edinho Silva.

Edinho, para quem não sabe, é da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB) que possui metade menos uns do atual Diretório Nacional do Partido, eleito em 2019.

CNB era, originalmente, o nome de uma chapa lançada para disputar o processo de eleição direta da direção partidária (PED) realizada em 2005. Esta chapa teve como candidato a presidente nacional o companheiro Ricardo Berzoini.

Detalhe curioso: em 2001, quando aconteceu o primeiro PED, Berzoini também foi candidato a presidente nacional. Substituiu um candidato que havia saído do Partido, o José Fortunati. Berzoini teve uma pequena votação. Em primeiro lugar no PED, com pouco mais de 50% dos votos, ficou José Dirceu, candidato do autodenominado "campo majoritário".

O segundo PED deveria ocorrer em 2003. Mas o então Diretório Nacional do PT decidiu adiar o processo, por motivos que lembram os argumentos utilizados para adiar o PED de 2023. Eleito em 2001, em 2002 José Dirceu se licenciou da presidência para virar ministro de Lula. E, cumprindo o estatuto, o Diretório Nacional do PT reuniu-se para eleger um substituto temporário. Para a função, foi escolhido José Genoíno.

Em 2005, em meio a chamada "crise do mensalão", Genoíno renunciou à presidência do PT. Para ocupar o seu lugar, o "campo majoritário" indicou Tarso Genro. Tarso era cotado para ser candidato a presidente nacional do Partido, mas desistiu da tarefa, no que teve a ajuda inestimável de uma entrevista desastrosa que ele concedeu à Folha de S. Paulo, na qual ele não soube dizer por quais motivos defender o PT.

Para substituir Tarso, o "campo majoritário" acabou escolhendo Ricardo Berzoini. Berzoini foi eleito no PED de 2005 e reeleito em 2007, sem nunca ter sido um nome in pectore nem do "campo majoritário", nem da recém-criada CNB, que de nome de chapa virou nome de tendência.

No PED de 2009, a CNB lançou José Eduardo Dutra, que fora da velha Articulação, depois do "campo majoritário" e em seguida da CNB. Dutra ganhou o PED com uma votação superior a que Dirceu havia obtido em 2001. Tragicamente, teve que renunciar por razões de saúde. Coube ao Diretório Nacional do PT eleger um substituto e o nome escolhido foi Rui Falcão.

No PED de 2013, Rui foi candidato a presidência do Partido e se elegeu. Como Berzoini, Rui não tinha sido do "campo majoritário", nem era da CNB.

Nas duas eleições seguintes, a presidência do Partido foi eleita num sistema misturado, com PED na base mas eleição da direção no congresso nacional. 

No processo de 2017, a CNB tinha a expectativa de eleger um de seus nomes à presidência nacional do Partido. No páreo estavam, entre outros, Padilha e Márcio Macedo. Mas, diante do risco do Partido eleger o então senador Lindbergh, Lula aceitou uma sugestão dada por Rui Falcão e deu seu apoio à candidatura da então também senadora Gleisi Hoffman.

Gleisi venceu Lindbergh e foi eleita presidenta nacional do PT no congresso do Partido realizado em 2017. Gleisi era da CNB, fora do "campo majoritário", mas dizem os especialistas que ela dificilmente teria sido escolhida candidata da CNB se não fosse o apoio de Lula.

Gleisi foi reeleita no congresso do PT realizado em 2019. Em 2023 teria que ter ocorrido novo PED, mas este foi adiado e só ocorrerá em 6 de julho de 2025.

No PED de 2025, quem será o nome apoiado pela CNB para disputar a presidência nacional do PT?

Até agora, não saiu a fumaça branca. Há setores da CNB que não estão de acordo com o nome preferido pelo presidente Lula, a saber, o Edinho Silva. Há quem ache que esta resistência está fadada ao fracasso. Mas há, também, quem ache que podem acontecer surpresas. E a imprensa, que adora especulações e fofocas, volta e meia lembra dos nomes de José Guimarães, José Dirceu e até Paulo Okamoto.

Em qualquer caso, como ficou demonstrado na reunião do Diretório Nacional do PT dia 7 de dezembro de 2024, a CNB não tem garantida a maioria absoluta de votos. E, portanto, o resultado do PED não está pré-definido. Motivo pelo qual muita coisa dependerá do que eles decidam, do quando decidam e do como decidam.

O que se pode dizer, a julgar pelas entrevistas concedidas por Edinho, é que se ele virasse presidente do PT, seu mandato seria um retrocesso político em relação ao de Gleisi Hoffmann. Para resumir o problema, suas declarações demonstram que em nenhum caso Edinho será presidente do PT. No máximo, ele seria um ministro sem pasta.

Que Lula ache isto positivo, eu consigo compreender, mesmo sem concordar. Mas tendo em vista a situação política da classe trabalhadora, do governo, do país e do mundo, o PT merece e necessita muito mais.


 







 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

"Irresponsável, insana e desastrosa"

Foi com estas palavras que a presidenta nacional do PT, companheira Gleisi Hoffmann, definiu a decisão do Banco Central, de elevar a táxa básica de juros para 12,5%.

Detalhe: estão previstos mais dois aumentos. Se vierem, a taxa de juros poderia chegar a 14,25%.

Uma pergunta que não quer calar: por qual motivo a decisão foi unânime?

Aliás, de que adianta nomearmos diretores e indicarmos um novo presidente para o Banco Central, se na hora do vamos ver não existe nem mesmo um teatro que diferencie os "good cop" e os "bad cop"?

Repete-se, no Banco Central, algo parecido com o que já vimos, no passado recente, com as nomeações feitas para o Supremo Tribunal Federal. 

Finalmente: fica mais uma vez comprovado que foi errada a tática de contemporizar com Bob Fields Neto.

Também estamos pagando muito caro pela definição, apoiada por Haddad e Tebet, da meta de inflação.

Sem falar no principal: está desmoralizada a crença de que uma política fiscal austera produziria uma política monetária decente.

Quanto mais a Fazenda dá, mais a banca exige, sem limites.

Tudo isto junto e misturado deveria levar o governo a mudar sua política econômica.

Ou, pelo menos, deveria levar todo o Partido dos Trabalhadores a comprar a briga. Por exemplo, não aceitando que se corte, inutilmente, na nossa própria carne, com medidas que afetam negativamente o salário mínimo, o BPC e outras políticas sociais.  




segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Romênio Pereira é candidato a presidente nacional do PT

Um dos discursos marcantes da reunião do Diretório Nacional do PT, realizada no sábado dia 7 de dezembro de 2024, foi de Romênio Pereira, atual secretário de relações internacionais do Partido.

Segundo Romênio, “ou o governo muda, ou o povo vai mudar o governo”.

Na véspera da reunião do DN, Romênio Pereira foi oficializado como candidato à presidência nacional do Partido. 

A oficialização - “por unanimidade” - da candidatura foi feita em uma reunião da tendência Movimento PT, da qual Romênio faz parte.

Portanto, haverá pelo menos três candidaturas à presidência nacional do Partido: a lançada pelo Movimento PT e as que serão lançadas pela CNB e pela Articulação de Esquerda.

A votação será no dia 6 de julho de 2025 ou no dia 3 de agosto de 2025, a depender do método que ainda será definido na próxima reunião do Diretório Nacional do PT.

sábado, 7 de dezembro de 2024

Transcrição da intervenção no Diretório Nacional do PT

Segue a transcrição feita por um conhecido, da apresentação do projeto de resolução apresentado pela tendência petista Articulação de Esquerda, na reunião do Diretório Nacional do PT realizada dia 7 de dezembro de 2024. O texto abaixo recebeu uma revisão parcial.


Bom, pessoal, queria começar pela situação mundial.

Tem uma boa notícia na situação mundial, que é a crise do capitalismo e a decadência dos Estados Unidos.

A má notícia é que a reação deles é brutal contra nós, criando uma situação perigosíssima.

É isso que vários aqui destacaram.

Tem um avanço da violência imperialista, e por conta disso não dá para ter um documento nosso que não fale de Palestina e não fale de Cuba, e tem um avanço da extrema-direita.

E esse avanço da extrema-direita não vai ser detido pela "união de todos os democratas".

Por exemplo, não vai ser detido com uma aliança com Biden.

Ele só vai ser detido se a esquerda conseguir fazer uma defesa ativa da soberania, dos direitos, do bem-estar, do desenvolvimento; e recolocar em pauta no debate da sociedade a defesa do socialismo.

Não basta, na nossa opinião, olhando para o Brasil, que a gente lembre do nosso passado glorioso, até porque a gente não quer ser um partido que tem um grande passado pela frente.

E não basta também o conjunto de ações parlamentares e governamentais.

Tem que ter uma ação ativa do PT, no âmbito da educação, da organização e da mobilização do povo brasileiro.

E, neste sentido, o dia 10 de dezembro é um grande teste.

E a CUT tem razão quando debateu a necessidade de vincular a luta contra o golpe com a defesa da tributação dos ricos, com a recusa à PEC do estupro e com a luta contra a escala do 6x1.

Então, todo o conjunto das pautas do povo brasileiro tem que estar presente, senão a luta pela democracia não ganha materialidade, não ganha carne.

E, nesse sentido, eu queria dialogar, a partir do nosso texto, com o que outros aqui falaram.

Em relação ao golpe, claro que, finalmente, o partido tem que apoiar enfaticamente a medida proposta pelo Zaratini sobre o artigo 142 da Constituição, mas nós temos que incluir outras questões.

Primeiro, nenhuma ilusão com os "legalistas" que, sabendo do golpe, disseram que não iam participar dele.

Não dá para aceitar que continue a formação dos oficiais, desde 1964, com base na ideia de que a intervenção militar é a defesa da democracia.

Aliás, recomendo as pessoas ouvirem o discurso feito pelo presidente da Coreia do Sul, abre aspas, segundo o qual para defender a democracia liberal se decreta o estado marcial.

E é preciso lembrar do ministro da defesa, pessoal. O Múcio é cúmplice do golpismo. Ele queria GLO no dia 8 de janeiro. Ele quer salvar os seus amigos, familiares e parentes.

E o Lula tem que falar, como já foi dito aqui.

Sobre o tema da inflação, que está pouco presente nos documentos, no texto da CNB chega-se a dizer que a causa é climática.

A causa da inflação é, em primeiro lugar, o predomínio do agronegócio, a ausência de reforma agrária no país, o controle da distribuição de alimentos para um oligopólio.

E se não tiver medidas concretas nesse sentido, rápido, o tema da inflação vai ser corrosivo.

E, por fim, mas mais importante, o tema do pacote.

Veja, nós fazemos uma crítica duríssima ao pacote.

Primeiro, porque é um sacrifício inútil.

O capital financeiro não vai parar de nos pressionar.

Em segundo lugar, porque é um sacrifício auto-imposto.

Nós estamos fazendo esse pacote para cumprir o novo marco fiscal que nós mesmos inventamos, que prevê o déficit zero, apesar dos alertas feitos por muita gente dessa direção, de que isso provocaria cortes.

Em terceiro lugar, é um sacrifício inócuo, porque não toca nos juros.

Alguém pode dizer que os juros são um problema do Banco Central.

Sim, mas a taxa de inflação é definida por um conselho onde o governo tem incidência. E o Ministério da Fazenda e do Planejamento aceitaram uma meta que causa isso.

E, no Banco Central, até quando nós vamos colocar a culpa no Bob Fields Neto?

Até que assuma o Galípolo, que tem dito que vai manter a taxa de juros e que não vai intervir no mercado de câmbio?

Nós temos um problema nessa área muito grande.

Em quarto lugar, o pacote é completamente desequilibrado.

O pacote apresenta bondades, algumas das quais são tímidas, como no caso dos militares; não fala nada dos subsídios, 600 bilhões de reais.

Ademais, essas medidas dependem da aprovação, da concordância do lado de lá.

Não foram nem ao menos apresentadas até agora.

As medidas que foram apresentadas para debate no Parlamento são as contra nós.

E as medidas em si contêm crueldades tecnocráticas.

Eu vou citar aqui duas.

A gente incluiu nos textos a comemoração do crescimento do PIB.

Só que a partir de agora, se for aprovado o pacote, isso não vai ser incorporado no salário mínimo.

Como é que você ganha o povo para a ideia de que o desenvolvimento é bom para o país e diz para o povo que não vale o que nós aprovamos em 2023, que era a incorporação do PIB; e que agora vai só incorporar uma parte?

Como é que você conquista as pessoas para a ideia de que o nosso crescimento é diferente do crescimento que a direita e a classe dominante sempre defendeu?

E o BPC, pessoal, sinceramente, eu fico enojado com os tecnocratas de merda que inventaram as medidas que são propostas.

Essas pessoas não têm ideia do que elas estão causando na vida de muita gente.

Não têm ideia.

E, ademais, e principalmente, porque nós somos um partido político, não uma confederação de economistas, os efeitos políticos do pacote são gravíssimos. 

Vão nos levar a perder apoio no núcleo duro nosso, que são os que ganham até dois salários mínimos; o pacote nos faz correr risco na eleição de 2026.

Olha o que aconteceu com o Biden e com a Kamala Harris dos Estados Unidos.

E, mesmo que a gente ganhe num cenário desses, ganharemos em piores condições, sob um cerco ainda maior.

Por isso, a nossa opinião é que o pacote tem que ser profundamente revisto.

E que a direção do partido deve dizer isso para o governo.

Agora, desculpa, Fontana, embargo auricular não é o melhor remédio nesse momento.

O melhor remédio é o posicionamento político.

Porque é de política que se trata.

E, por fim, eu queria comentar sobre o espírito geral da coisa, que é o da celebração.

O texto da CNB começa com essa palavra - "celebramos" - e mantém esse espírito do começo até o fim.

Eu queria lembrar, e eu lembrei ontem disso, tive um déjà vu, ou déjà vi, sei lá como fala em francês, da celebração feita em 2013, sobre os 10 anos da nossa chegada ao governo.

E, logo depois, o mundo caiu sobre nossas cabeças.

Eu lembrei da celebração de 2014, a nossa grande vitória sobre a direita.

E, depois, veio Levy, o ajuste ortodoxo, e o mundo caiu sobre nossas cabeças.

Nós acabamos de ter 2024 e, eu não sei como, tem um espírito de celebração.

Pessoal, nós fomos derrotados. Nós fomos derrotados.

Eu sou daqueles que acham que o problema envolve um pouco de tudo. 

Envolve a federação, que, na nossa opinião, deve acabar.

Envolve o PT, evidentemente, erros que nós cometemos.

Mas o principal é que eles cresceram.

Eles cresceram. E não foram quaisquer eles, como já foi lembrado aqui, foram partidos da extrema-direita, como o PL.

Baita crescimento.

Mesmo onde nós os derrotamos, como em Fortaleza, nós tivemos uma vitória eleitoral, mas eles saíram muito fortalecidos.

Então, eu acho que a gente deve dosar a celebração que algumas pessoas acham necessária pelo espírito natalino, ou pela ideia de que nós só podemos dar boa notícia para o povo, ou pela ideia... a gente tem que dosar isso com um pouco de preocupação sensata.

Aqui nesse Diretório Nacional, na boa, em todas as tendências, eu não conheço uma pessoa que não esteja profundamente preocupada com a situação.

Profundamente preocupada.

Isso não transparece nas resoluções?

A quem que nós estamos querendo enganar?

A nós mesmos?

A direita?

A quem?

Nós temos que dosar celebração, que alguns acham indispensável, com preocupação e com medidas práticas.

E com isso eu queria terminar.

Aqui, por exemplo, o companheiro Jilmar incluiu na sua fala a defesa do acordo Mercosul-União Europeia. 

Eu peço sinceramente às pessoas, vamos debater isso aqui nesse diretório.

Lembrem do Celso Amorim dizendo: "é um acordo neocolonial".

O que mudou?

Alguém aqui leu o acordo?

Alguém que leu os termos?

Estão celebrando o que exatamente?

Eu não sei.

Porque, na verdade, só o agronegócio tem a celebrar nesse acordo.

Então, enfim, eu espero que desse debate resulte uma resolução mais equilibrada, que corresponda ao ambiente real do país e ao pensamento médio desse diretório.

Obrigado.

Muito obrigado.

Breve informe sobre a reunião do Diretório Nacional do PT

(sem revisão)

No dia 7 de dezembro de 2024, aconteceu uma reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.

A reunião foi precedida por um seminário organizado pela Fundação Perseu Abramo.

Informações e opiniões sobre este seminário serão dadas noutra oportunidade.

A reunião do Diretório iniciou as 10h e terminou as 17h, aproximadamente.

A reunião começou com a aprovação da pauta.

Neste momento foram feitas inclusões de pontos de pauta, entre os quais um recurso ao DN, referente a duas comissões de ética contra Washington Quaquá.


A primeira dessas comissões foi solicitada em 2021. A segunda foi solicitada em 2023. O estatuto prevê que cabe à Comissão Executiva Nacional que aprove a admissibilidade de ambas. A inclusão deste ponto na pauta da CEN depende do secretário-geral. O secretário-geral anterior, companheiro Paulo Teixeira, e o atual, companheiro Henrique Fontana, não pautaram a questão na CEN. Foi solicitado ao DN que determinasse que ambas comissões fossem pautadas na próxima reunião da CEN, o que foi aprovado.

Em seguida foi feito o debate sobre conjuntura nacional. Foram apresentados 10 projetos de resolução. Mais detalhes aqui: Valter Pomar: Crítica ao texto da CNB]

Após a apresentação dos projetos de resolução, mais 12 pessoas falaram. 

A maioria dos oradores fez críticas ao "pacote" apresentado pela Fazenda, especialmente quanto as propostas relativas ao salário mínimo e ao BPC.

Na hora da votação do texto-base, as tendências da chamada esquerda petista se unificaram em favor de um único projeto de resolução.

Este projeto de resolução teve 38 votos.

Uma das tendências da chamada esquerda petista, tendência intitulada "Resistência Socialista", decidiu não retirar o seu texto.

O texto da Resistência Socialista teve 7 votos.

A tendência Resistência Socialista é integrada, entre outros, por Lindbergh, Paulo Teixeira e Henrique Fontana. No congresso do PT realizado em 2019, esta tendência apoiou Gleisi Hoffman à presidência nacional do PT, graças ao que pode indicar o titular da secretaria-geral nacional.

Devido a posição da Resistência, prevaleceu o texto da CNB, com 42 votos.

Se a “Resistência” tivesse feito a coisa certa, o resultado seria 45 a 42, com a derrota do texto da CNB.

Depois dessa votação, a reunião interrompeu para o almoço.

Na volta, foram a voto emendas ao texto-base, ou seja, ao texto apresentado pela CNB.

Foram várias emendas, entre as quais destacamos duas: 

-as que incluíram referências a defesa de Cuba e a defesa da Palestina, ambas aprovadas por unanimidade;

-a que tratou da necessidade de alterar a proposta do governo acerca do BPC, aprovada por maioria de votos.

Na votação da emenda sobre o BPC, ficou evidente que a maior parte da direção não está de acordo com as propostas do governo sobre o BPC.

Mas ficou evidente, também, que há posições diferentes quanto ao salário mínimo.


Em seguida, entrou em debate o tema do PED.

A relatora do tema argumentou que, devido ao grande número de emendas apresentadas ao regulamento/regimento do PED, o assunto deveria ser remetido para a próxima reunião do Diretório Nacional do PT, prevista para janeiro.

Efetivamete, ficou para a próxima reunião do DN decidir se a eleição da direção será feita diretamente em urna ou será feita em votação congressual.

Por enquanto foi decidido o seguinte:

-a votação (das direções + delegações OU apenas das delegações) acontecerá dia 6 de julho de 2025, através de urnas eletrônicas;

-a eleição acontecerá naquelas cidades onde os Diretórios Municipais tenham sido registrados na Justiça Eleitoral até 30 de abril de 2024;

-nestas cidades, poderão votar e ser votados os/as filiados/as que tenham seu pedido de filiação registrado no Sisfil até o dia 28 de fevereiro de 2025, desde que não tenham sido 
impugnados de acordo com as normas estatutárias;

-na reunião de janeiro de 2025, será decidido se no dia 6 de julho serão eleitas as delegações  OU se serão eleitas as direções + delegações;

-seja qual for a decisão, haverá Encontros Estaduais entre os dias 19 e 27 de julho de 2025 e haverá Encontro Nacional nos dias 1º, 2 e 3 de agosto de 2025;

-a depender da decisão tomada em janeiro, estes encontros debaterão a política OU debaterão a política e elegerão as direções.

O Diretório Nacional também decidiu que em fevereiro de 2025 acontecerá um festival para comemorar os 45 anos do Partido dos Trabalhadores.

Noutro momento, apresentaremos um balanço político dos fatos resumidos anteriormente.





Sobre pedidos de comissão de ética

Foram retirados, do texto abaixo, os prints citados.


Prezado Henrique Fontana
Secretário-geral nacional do PT
Na reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, ocorrida no dia 18 de julho, solicitei a inclusão na pauta de um ponto relativo à vice-presidência nacional do PT.
A mesma solicitação fora feita, antes, nos dias 2 e 17 de julho, através do grupo de zap do Diretório Nacional do Partido.
No dia 17, minha solicitação foi objeto de uma postagem do vice-presidente do Partido, postagem feita no grupo de zap do DN. Insiro a referida postagem abaixo.
 
No mesmo dia 17, igualmente no grupo de zap, eu respondi o seguinte: 
“Este tipo de mensagem é muito didática. Me lembra alguns colegas que tinha no primeiro grau. E uma certa fixação fálica que deixo ao pessoal da psi comentar. Mas que este tipo de mensagem seja enviada no grupo de zap do DN, confirma que algumas pessoas não tem noção do que seja a urbanidade no debate político. Mas o principal é que isto desvia o foco do central: Quaquá tem defendido bandidos. Não sei se estes bandidos são ou não culpados do assassinato de Marielle. Mas são bandidos. E Quaquá foi arrolado como testemunha de defesa destes bandidos. Não concordo que o Partido deva ser exposto a mais esse constrangimento: um vice-presidente nacional defendendo publicamente bandidos. Este é o ponto”.
A postagem feita pelo vice-presidente no dia 17 de julho não é um fato isolado. Vejam abaixo outros exemplos de postagens feitas por ele no grupo de zap do DN.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como já disse, todas as mensagens acima foram enviadas no grupo de zap do Diretório Nacional do PT. Há outras, que não printei.
Compreendo que o vice-presidente não goste da minha pessoa, tampouco do que eu escrevo a respeito dele. Mas há maneiras e maneiras de travar o debate político. Há, inclusive, formas de ofender politicamente alguém, sem ultrapassar os limites da urbanidade. Que ele lance mão de certo tipo de ofensa só confirma que – como diria o João Bosco – cada um faz o que gosta. Fossem outras as condições, isso seria um problema pessoal, a ser resolvido entre adultos. Mas, à medida que o vice-presidente vem lançando, recorrentemente, este tipo de mensagem ofensiva no grupo de zap do Diretório Nacional, isto se torna um problema coletivo, uma vez que contribui para naturalizar entre nós um “estilo” de debate que considero incompatível com a nossa tradição como Partido. 
Não preciso lembrar você, secretário geral, como a história tratou pessoas e partidos que deixaram este tipo de “estilo” dominar o ambiente. 
Não vou pedir que a conduta do vice-presidente seja analisada pela comissão de ética, não porque não mereça, mas sim porque estão pendentes, na “fila”, dois pedidos anteriores de comissão de ética, pedidos que versam sobre casos bem mais graves, pedidos que até agora não foram devidamente encaminhados. 
Caso você não lembre, estou me referindo aos que cito a seguir.
Caso 1
No dia 11 de novembro de 2021, o Núcleo Construção, núcleo de base no âmbito da 1ª Zonal do DM na cidade do Rio de Janeiro, promoveu um debate entre o vice-presidente nacional do PT e o secretário estadual de Formação Política do PT-RJ, Olavo Carneiro. O debate foi realizado e gravado pela plataforma zoom reunindo cem pessoas. Neste debate, o vice-presidente descambou da postura enérgica na defesa de opiniões, para a ofensa e o xingamento ao debatedor divergente. Os impropérios dirigidos ao Olavo Carneiro foram os seguintes:
“Seu pivete, safado, vagabundo”.
“Bolsonarista de merda”.
“Vai tomar no cu”.
“Vai se foder”.
Olavo Carneiro solicitou imediata análise do ocorrido, pela comissão de ética. Não temos notícia do que ocorreu com esta solicitação.
Caso 2
No dia 16 de fevereiro de 2023, um conjunto de tendências petistas (Articulação de Esquerda, Avante PT, Democracia Socialista, Diálogo e Ação Petista, Esquerda Popular Socialista, Militância Socialista, Resistência Socialista e Socialismo em Construção) assinou uma representação para que o vice-presidente respondesse, na comissão de ética do Diretório nacional, por extrapolar “todos os limites ao expressar publicamente posições antagônicas às deliberadas democraticamente pelas instâncias do partido”.
Na oportunidade, o vice-presidente havia postado em suas redes sociais uma foto sorridente e abraçado ao bolsonarista, e ex-ministro da Saúde do governo da extrema-direita, Eduardo Pazzuelo, acompanhado de uma mensagem cheia de elogios. Depois, postou outra mensagem em que chamava toda a militância petista que o criticou pela postagem de “jumentos”.
A representação das tendências destacava que o deputado petista insultava “a todo brasileiro e brasileira que votou no presidente Lula contra a extrema direita fascista”. A representação foi apoiada por um abaixo-assinado que, segundo me informaram hoje, chegou a 2 mil signatários.
Segundo o artigo 233 do estatuto do nosso Partido, a “comissão executiva do nível correspondente decidirá sobre a admissibilidade ou remessa da representação à Comissão de Ética e Disciplina para instauração do respectivo processo, no prazo máximo de 30 (trinta dias)”. 
Apesar do que diz o nosso estatuto, a representação está pendente até hoje, prazo muito superior ao estipulado pelo estatuto e mais do que suficiente para que o assunto tivesse sido pautado. 
Tendo em vista este histórico, prefiro instar o secretário-geral a cumprir o estatuto e submeter os dois pedidos à apreciação das instâncias. 
Sou militante do PT há tempo o suficiente para saber que é muito comum que relevem determinadas atitudes, em nome de acordos políticos e coisas do gênero. Sei, igualmente, que o ambiente político externo afeta e degrada nosso ambiente interno, contribuindo para certas pessoas acharem tudo isto motivo de gracejo. 
Mas, como disse nossa presidenta nacional no já citado caso da fotografia com Pazuello, tudo tem limite. Naturalizar a violência, mesmo que verbal, produz mais violência. O vice-presidente vem escalando nas ofensas. Até onde ele vai chegar? Até quando aqueles que podem e devem fazer algo, vão agir como se o que está acontecendo fosse algo normal e aceitável? 
Sei que todos nós temos coisas mais urgentes para fazer. Foi algo parecido que pensei quando, noutras gestões deste Diretório Nacional, me pediram para lidar com dois casos espinhosos, um no Rio de Janeiro e outro no Mato Grosso do Sul. Eu cumpri minha tarefa. Espero que você, prezado secretário-geral Henrique Fontana, também cumpra a sua, mesmo que todos sempre tenhamos coisas mais importantes que fazer.
Atenciosamente
Valter Pomar 
20/7/2024