Segue abaixo contribuição ao seminário realizado no dia 12 de novembro, logo após o lançamento do livro Superar a pobreza, de Xi Jinping.
Bom dia a todas.
Bom dia a todos.
Quero antes de mais nada transmitir, a quem está participando desta atividade, a saudação da diretoria da Fundação Perseu Abramo e, também, a saudação do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.
Me pediram que falasse, nesse seminário, sobre o tema “combate à pobreza”.
E me deram 8 minutos para fazer isso, assim vou ser telegráfico.
A situação mundial é extremamente grave.
A guerra na Ucrânia, o genocídio na Palestina, a situação ambiental, a eleição de Donald Trump são expressões de um único processo: a crise sistêmica do capitalismo.
Esta não é a primeira crise sistêmica do capitalismo, talvez não seja a última, mas se não for combatida continuará levando a humanidade em direção a uma situação irreversível.
A República Popular da China tem feito esforços imensos neste sentido, no sentido de combater a crise e no sentido de proteger a humanidade dos seus efeitos. Mais do que isso, a China tem feito esforços no sentido de construir aquilo que chamam de “futuro compartilhado”.
Dentre os esforços feitos pela China, destaco a luta em favor da superação da pobreza.
Sobre isso, destaco que uma das coisas mais admiráveis na China é o reconhecimento de seus problemas e contradições.
Por exemplo: ao dizerem que agora conseguiram eliminar a pobreza absoluta, os chineses também estão nos dizendo que, por mais de 60 anos, o socialismo realmente existente na China conviveu com a pobreza absoluta.
Não é trivial que este tipo de verdade seja reconhecida abertamente, publicamente.
Assim como não é trivial que uma potência mundial transforme o combate à pobreza em um objetivo estratégico.
Tampouco é trivial que uma sociedade como as complexidades que possui a sociedade chinesa, venha obtendo êxito na materialização do objetivo de combater a pobreza.
Há várias explicações para este êxito.
Entre estas explicações, destaco a revolução de 1949, o Estado e a sociedade resultantes daquela revolução, a política de reforma e abertura iniciada em 1978, assim como o papel exercido pelo Partido Comunista.
A verdade, muitas vezes esquecida por quem estuda a China, é que não é possível entender a China atual, se não levamos em conta o papel do Partido Comunista.
O Brasil, especialmente a esquerda brasileira, precisa estudar a experiência chinesa.
Estudar, não copiar.
Somos países diferentes, culturas diferentes, tradições políticas diferentes. Qualquer tentativa de copiar seria desastrosa.
Mas temos muito o que estudar.
Nesse espírito, cito brevemente um episódio ocorrido em abril de 2024, quando uma delegação do Partido dos Trabalhadores, encabeçada pela presidenta Gleisi Hoffmann, esteve na China.
Refiro-me especificamente aos fatos ocorridos no dia 13 de abril de 2024, quando a delegação do PT visitou uma província chamada Fujian, mais especificamente uma vila de pescadores.
Até a década de 1980, estes pescadores viviam em condições muito difíceis, o que incluía morar em seus barcos.
A partir de então, teve início uma série de transformações.
Hoje, os moradores da Vila residem em casas confortáveis e com o devido acesso às políticas públicas básicas.
A capacidade de transformar profundamente a vida das pessoas tem relação direta com várias das conquistas da revolução de 1949.
Entre elas, o fato de a terra ser propriedade pública. E, também, o fato de existir uma direção política comprometida em servir ao povo.
A delegação do PT teve a oportunidade de conversar com a prefeita da cidade onde fica a citada Vila. E aí ocorreu um fato, pequeno em si mesmo, mas muito significativo.
A delegação fez uma pergunta.
O chinês encarregado de traduzir a conversa demorou a entender a pergunta feita pela delegação.
A pergunta era simples: quantos por cento da população daquela Vila tinham acesso ao saneamento.
Quando o tradutor finalmente entendeu a questão, ele mesmo respondeu, em bom português: “100% óbvio”.
O que mais nos impressionou não foi a resposta em si, mas a demora do tradutor em entender a dúvida. Foi como se ele nos dissesse: como seria possível ser diferente? Como seria possível viver em uma sociedade em que parte das pessoas não tem acesso a algo tão básico?
Nós aqui no Brasil vivemos em outra situação. Parte expressiva da população segue sem nenhum acesso a serviços públicos básicos.
Destaco, ainda, que a delegação do PT ficou muito impressionada, tanto na visita a Fujian quanto a outras regiões da China, com a infraestrutura urbana: o trem bala, os viadutos, as estradas, as grandes avenidas, os conjuntos habitacionais, as imensas cidades que nos eram apresentadas como sendo apenas “vilas rurais”.
Sem falar na beleza dos viadutos e ruas ajardinadas, no ambiente geral de limpeza, a visível afluência.
Vale dizer que Fujian era um dos pontos da antiga rota da seda e, hoje, é um dos nós da Iniciativa Cinturão e Rota, Iniciativa lançada, em 2013, por Xi Jinping.
Certamente há regiões da China diferentes, não tão comodamente acomodadas. Mas de toda forma, a impressão geral com que voltamos, desta e de outras viagens a China, é de um progresso constante.
Para entender as causas disso, vale a pena ler o livro lançado hoje – SUPERAR A POBREZA – livro que reúne 29 artigos, escritos por Xi Jinping, entre setembro de 1988 e maio de 1990, relatando sua experiência como principal dirigente do Partido Comunista na região de Ningde, onde fica a vila de pescadores que citei anteriormente.
Do nosso ponto de vista, do ponto de vista daqueles que trabalham para transformar o Brasil num sentido favorável à maioria da população, a China ajuda a perceber o papel que podem jogar, neste processo de transformação profunda de um país, a vontade política, a ação coletiva, a perspectiva de longo prazo.
A "correlação de forças" não era favorável, quando o Partido Comunista da China foi criado, em 1921, por um punhado de delegados, representando 58 pessoas, num país com 300 milhões de habitantes.
A "correlação de forças" também não era favorável, em inúmeros outros momentos da história da China.
Mas, adotando a postura de transformar a correlação de forças, ao invés de se prostrar diante dela, o Partido Comunista e seus aliados conseguiram - com avanços e recuos, vitórias e derrotas, erros e acertos - fazer da China o que ela é hoje.
Para nós, do Brasil, dos movimentos e partidos da chamada esquerda brasileira, é fundamental aprender com essa disposição de não se prostrar diante das dificuldades, de não considerar a correlação de forças momentânea como sendo um obstáculo definitivo e, principalmente, de não adotar a mediocridade como meta e parâmetro.
Nosso país, o Brasil, tem enormes possibilidades.
Entretanto, enquanto o setor financeiro e o setor primário-exportador forem dominantes, essas possibilidades seguirão sendo apenas isso: possibilidades.
Também por este motivo, o Partido dos Trabalhadores e o conjunto da esquerda brasileira não podem aceitar o papel de gestores do status quo.
É preciso disposição de transformar profundamente o país, investir pesadamente no bem-estar social e no desenvolvimento.
Atingir estes e outros objetivos será mais fácil, se o Brasil e a China aprofundarem seus laços de cooperação.
Desde 1974, esta cooperação passou por diversos momentos. Esperamos que no dia 20 de novembro deste ano, durante a visita de Estado de Xi Jinping, a cooperação China-Brasil atinja um outro patamar.
Isto porque, embora não seja a única variável envolvida, é seguro que sem desenvolvimento econômico em grande escala, não conseguiremos superar definitivamente a pobreza.
Mas para ter um desenvolvimento econômico compatível com a superação da pobreza, é preciso que o Estado e a sociedade brasileira experimentem transformações profundas.
Se conseguirmos ter êxito nesta tarefa, ajudaremos não apenas a mudar o Brasil, mas também ajudaremos a mudar o mundo.
Um passo fundamental nesse sentido é fazer algo que Xi Jinping destaca, no posfácio do livro SUPERAR A POBREZA.
Neste posfácio, Xi Jinping diz que o significado do título do livro – SUPERAR A PROBREZA - reside, em primeiro lugar, em erradicar a pobreza que existe em nossas mentes.
Sem erradicar nossa pobreza mental, não conseguiremos erradicar a pobreza material.
Pensar grande, pensar longe, pensar profundo, pensar de forma radical: este é um passo fundamental para superar a pobreza.
Esta é a contribuição que gostaria de dar para a nossa discussão.
Muito obrigado.
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