sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A entrevista de Edinho, o “cotado”, ao UOL

Edinho, prefeito de Araraquara, concedeu no dia 8 de novembro de 2024 uma entrevista ao UOL.

A entrevista está aqui:

PT erra ao alimentar polarização, diz cotado à presidência do partido

O que Edinho fala na entrevista está desenvolvido, também, em um texto que ele elaborou para debate no Diretório Municipal do PT de Araraquara.

Reproduzo ao final este texto, que comentarei noutra oportunidade.

Na entrevista ao UOL, Edinho apresenta uma "narrativa" dos acontecimentos mundiais cujo ponto de partida é a crise de 2008.

Desta crise, decorreriam - segundo ele - o empobrecimento, o nacionalismo de direita e o sentimento antisistema.

Verdade? Em parte, sim. Mas Edinho parece ter uma visão unilateral acerca dos três fenômenos.

Não se pode falar de empobrecimento, sem falar adequadamente do enriquecimento, do grande capital, do setor financeiro e do agronegócio..

Não se pode falar do nacionalismo de direita, sem falar do nacionalismo de esquerda.

Não se pode falar da direita antissistêmica, sem falar da esquerda antissistêmica.

A partir de uma perspectiva unilateral, Edinho explica, ou tenta explicar, o resultado das eleições municipais de 2024 e, também, o resultado das eleições nos Estados Unidos.

Se entendi direito, ele afirma existir um movimento "da sociedade para a direita e para a centro-direita", movimento que teria saído dos setores médios e entrado nos setores pobres.

Este tipo de explicação é muito útil para quem não deseja questionar a linha política adotada, seja pelo Partido, seja pelo governo. 

Afinal, é difícil responsabilizar a linha política, quando supostamente se está enfrentando um movimento "da sociedade", como seria o caso da satisfação do povo com os governantes (Mercadante), da tendência à reeleição dos governantes (Padilha) e desta tendência à direita “da sociedade” (Edinho). 

Diante destas tendências irresistíveis, caberia à esquerda "ter humildade".

A ausência de uma análise completa do processo, com todas as suas contradições, contribui para sustentar uma conclusão equivocada: a de que os setores progressistas devem elaborar uma agenda mundial (!) para enfrentar… as tendências antissistema.

Conclusão equivocada, em termos.

Afinal, os setores "progressistas" - ou seja, os setores que defendem como programa máximo um capitalismo com liberdade e bem estar - precisam mesmo defender o sistema.

Quem não pode defender o “sistema” é a esquerda.

A esquerda deve lutar contra o sistema, contra o capitalismo, contra a ordem político-institucional que protege o capitalismo. Deve lutar, inclusive, contra a direita gourmet que se apresenta como “democrática”, quando na verdade é oligárquica. E contra a extrema-direita que se apresenta como antissistêmica, quando na verdade é reacionária.

Defender o sistema está de bom tamanho para os progressistas. Mas não está de bom tamanho para um partido de trabalhadores, para um partido socialista, para um partido de esquerda.

Registre-se, contudo, que a defesa que ele faz do sistema vai até a página cinco, não incluindo por exemplo a imprescindibilidade dos direitos previstos na golpeada CLT, nem tampouco o sistema institucional venezuelano, país que ele não considera como sendo uma democracia.

A principal mensagem da entrevista de Edinho diz respeito à polarização.

Segundo ele, "a polarização só alimenta o discurso antissistema, e na polarização a gente não consegue dialogar com a sociedade" (...) "na polarização você não consegue conversar, você não consegue ponderar, você não consegue refletir. Então a polarização só alimenta esse sentimento antissistema, da agressividade do discurso agressivo, do discurso do ódio (…) Nós temos, para que a gente avance nessa disputa de rumos, que começar a romper com esse ambiente de polarização". 

A lógica por detrás deste discurso é a de que política é diálogo. Uma ilusão típica da esquerda iluminista e domesticada no parlamento e demais instituições. Mas política é muito mais do que diálogo. Política é principalmente luta pelo poder. Confronto de forças. Mobilização. E se nesse confronto uma das partes polariza e a outra não, o resultado está praticamente definido desde o ponto de partida.

O exemplo que Edinho dá a respeito é ilustrativo. Ele pergunta "porque em 2020 a polarização não se cristalizou da forma como ela vinha se cristalizando desde 2013, em 16, em 18? Porque em 2020 nós encontramos um inimigo comum que nos unificou, a pandemia (...) A sociedade majoritariamente, porque tem a parte do negacionismo, mas a sociedade se unificou para enfrentar o vírus, para enfrentar uma pandemia que era um inimigo comum. Isso fez com que a polarização diminuísse a sua intensidade e nós conseguimos conversar, nós conseguimos debater, conseguimos falar de medidas que eram necessárias para que a gente enfrentasse a pandemia. Então isso é um exemplo de que é possível nós acharmos valores que unifiquem a sociedade brasileira e que a gente comece a furar a bolha da polarização."

A descrição reproduzida acima não corresponde aos fatos. Houve uma imensa polarização durante a pandemia. A força do negacionismo era tal, que morreram centenas de milhares de pessoas, devido a decisões do governo federal e de seus aliados. Não é verdade que houvesse um "inimigo comum". O negacionismo não era uma força marginal, tinha amplo apoio. Aliás, até hoje tem apoio, mesmo entre os médicos! Mas enquanto o genocida operava pesadamente, parte da oposição de esquerda defendia "deixar o governo governar", não politizando o tema, não fazendo mobilização pelo Fora Bolsonaro. O que contribuiu para que o cavernícola chegasse em 2022 em condições de quase ganhar as eleições presidenciais. 

Nisso dá a atitude de não polarizar. Ela não acaba com a polarização, apenas contribui para o desempenho de quem polariza. 

Em tempos de guerra e trumpismo, precisamos de uma esquerda que vá além da humildade e gentileza, características que Edinho exibiu fartamente na entrevista ao UOL.

Precisamos de uma esquerda que também seja capaz de rir e sorrir. 

Rir e sorrir muito. Exibindo com gosto os dentes que a natureza nos deu para usar sempre que preciso for.


Segue o citado texto de Edinho, que será comentado noutra ocasião.

Esse é um texto que desenvolvi para o debate em Araraquara, mas penso que ele pode contribuir para a análise nacional. 

Eleições de 24: proposta de debate para a reunião do Diretório Municipal ampliada

As eleições municipais de 24 imporá, necessariamente, uma profunda reflexão sobre os seus desdobramentos na conjuntura política para o próximo período. Ou seja, estão nas disputas locais os indícios do que ocorrerá nas disputas políticas para o próximo período no Brasil, inclusive 26. Seria um erro concebermos o resultado de 24 como um caso isolado na política brasileira. Por mais que a dinâmica eleitoral, de disputa de projetos, se dê em outro contexto nas disputas nacionais, mesmo sendo o protagonista da disputa o Presidente Lula, temos que ter a humildade para ouvir o que o povo brasileiro está gritando por meio das urnas. 

Sempre concebemos que as disputas nas cidades se norteavam pelas questões locais, pelo pragmatismo do eleitor em optar pelas propostas mais convincentes nas áreas vitais para a vida cotidiana. O eleitor buscava quem tinha melhor proposta para a educação, saúde, transporte, segurança (tema cada vez mais municipalizado), cultura, esporte, desenvolvimento econômico local, meio ambiente e etc. As questões nacionais, os debates ideológicos, de projeto de sociedade, formavam “um pano de fundo”, em um cenário em que as disputas se definiam, essencialmente, pelas propostas de políticas públicas para a vida local, nas comunidades. 

O Brasil vem de uma longa polarização política, fenômeno também internacional, que está avançando pós efeitos da crise econômica de 2008. Ou seja, um mundo mais empobrecido, com maior concentração da renda por conta do avanço da financeirização da economia, da derrota da globalização econômica, da retomada da concepção de estados nacionais, um nacionalismo de direita, xenofóbico, racista, que traz junto todo um arcabouço de valores historicamente conservadores de inspiração fascista, neofascista, nazista, neonazista. Esse processo internacional que se instala no Brasil desde junho de 2013, cada vez mais faz com que a polarização política, esquerda e direita, tome conta do cotidiano popular. Mesmo os setores da sociedade não identificados com os extremos dos polos da disputa política acabam se influenciando por ela para construir suas posições. 

Mesmo com a vitória de 22, com a retomada do nosso projeto com o governo Lula 3, não conseguimos sair da dinâmica da polarização. Ao contrário, muitas vezes a alimentamos, sendo arrastados para debates que só interessam para a direta fascista organizada no país. 

É nítido o progressivo movimento da sociedade para a direita e para a centro-direita. As urnas demonstraram isso em 24. O eleitor brasileiro, majoritariamente, votou para derrotar a esquerda ou a centro-esquerda. Mesmo onde vencemos, a vitória veio de forma muito polarizada, excetuando-se os casos beneficiados pela “institucionalização da reeleição”.

A polarização se arrefeceu quando estava colocada a reeleição, ou seja, o eleitor de forma conservadora evitava impor troca. Essa foi a dinâmica, um posicionamento conservador, de não mudança quando se caracterizava “trocar o certo pelo duvidoso”, com raras exceções explicadas por questões muito localizadas na conjuntura local. Ou seja, de forma conservadora, o eleitor votou para manter no cargo quem já estava. Entre um governo já conhecido, mesmo que razoável, e uma incerteza, a opção foi pela reeleição. Esse posicionamento do eleitorado já havia se caracterizado em 20, “na eleição da pandemia”. A reeleição está se institucionalizando no país. 

Outra questão importante que se explicitou na eleição de 24, foi a consolidação do movimento antissistema na sociedade brasileira, fenômeno também internacional. Essa caracterização, em uma primeira análise, se dá em dois setores sociais importantes: classe média e juventude periférica. 

A perda de poder aquisitivo, por conta do não crescimento sustentável, duradouro, da economia mundial, também, no caso da presente análise, da economia brasileira, por conta da não distribuição da renda - ao contrário, ela cada vez se concentra mais - faz com que a “classe média” esteja mais empobrecida, sem perspectiva de retomada do seu status anterior. Em boa parte, essa parcela do eleitorado está “votando contra o sistema”, ou seja, adere a tudo que significa protesto. Esse voto, dos setores médios da sociedade que está descrente, é de direita. Os descontentes votam contra o Estado, contra a democracia, contra a democracia representativa, contra o parlamento, contra o judiciário. Ou seja, votam contra uma estrutura existente, contra o Estado que não “resolve os seus problemas”. A esquerda defende o Estado, a democracia, o Judiciário, as instituições que fazem a medição dos interesses e das contradições sociais. Não há como construir a igualdade sem o Estado e seus aparatos, sem políticas públicas de governo e de Estado. Portanto, aí está uma contradição imposta para a esquerda: reformar o Estado sem “fazer coro” com a direita antissistema, que nega os instrumentos de combate à desigualdade. 

O antissistema também está no percentual importante da abstenção. Quem não vota, majoritariamente, não participa do processo por descrença, por desilusão. Mas, quando sai da inércia eleitoral, também engrossa os votos da direita. Votam para derrotar a esquerda e as suas bandeiras. Votam contra as instituições. Somos os defensores da institucionalidade, da democracia, dos instrumentos de construção da igualdade, nos tornamos o símbolo do que combatem. 

Importante relembrarmos que Bolsonaro é fruto do antissistema. Ele foi gerado por esse sentimento crescente que se materializou em 18. Um candidato com 16 segundos de tempo de rádio e TV, sem alianças e “sem partido”, o “não candidato”, materializou o descontentamento e a descrença popular, gerados pelo massacre midiático pós-14, com ataques à esquerda, ao PT, aos partidos, ao sistema eleitoral, à democracia representativa. As manifestações antissistema dão sustentação política e popular para o golpe contra a presidenta Dilma. Em 18 se torna presidente do Brasil o candidato antissistema: Bolsonaro. O antissistema gera o Bolsonaro e o bolsonarismo, que se torna um movimento social maior que o criador. Também foi o antissistema que pariu Marçal, Nikolas, Lucas Pavanato, André Fernandes, entre outras figuras da direita brasileira. 

Importante registar, para análise, que em 22 o Brasil também estava polarizado pelo antissistema, mas a “classe média baixa”, dos bairros, dos setores médios da periferia, não estava nessa polarização, “não estava cooptada”. Nas eleições de 24 está claro que “o voto de protesto”, de direita, entrou na base social tradicional da esquerda. A classe média dos bairros, da periferia, em boa medida, votou na direita, na centro-direita. Esse movimento eleitoral nos impôs derrotas ou dificultou vitórias. Está mais que caracterizado que, majoritariamente, obtivemos vitórias onde a “classe média” não é muito representativa, não tem grande extensão social. 

É importante considerarmos que as expectativas geradas com a vitória do Presidente Lula em 22 ainda não foram totalmente supridas na sociedade devido ao desmantelamento das políticas públicas por Bolsonaro, ao rombo nas contas públicas herdadas de R$ 800 bi no acumulado durante o seu governo, o que dificultou, e tem dificultado, a velocidade e amplitude das iniciativas do nosso governo. Os benefícios das iniciativas do Lula 3 ainda não alcançaram a opinião pública. Os benefícios das políticas públicas ainda não são totalmente perceptíveis na vida da sociedade, principalmente dos setores médios, inclusive dos bairros populares. Todos os avanços do Governo Lula 3, a reorganização das políticas públicas, a retomada dos investimentos, os efeitos do crescimento econômico, a queda do desemprego, o crescimento da renda, ainda não estão perceptíveis, não avançaram na opinião pública da nossa base social. A classe média da periferia, dos bairros populares, que votou em Lula em 22 não vive o ambiente de novas perspectivas, de melhora da vida. Uma parcela importante desse segmento social votou na direita ou na centro-direita em 24. 

Com a permanência do ambiente de polarização política não há como dialogar. A sociedade não quer dialogar sobre governos, sobre políticas públicas, sobre dados que demonstram o caminho que está sendo trilhado. Ela vota por protesto, para derrotar o sistema, para derrotar a falta de perspectiva que permeia o seu cotidiano. 

A esquerda hoje defende e representa o sistema, como já afirmei. Defendemos o Estado, a democracia, a democracia representativa, o judiciário, a legislação vigente. Defendemos a medição do Estado. Como já afirmado acima, ter uma pauta de reformas que aproxime o Estado da sociedade civil, recuperando a sua legitimidade é desafio para o próximo período. A democracia vive um momento desafiador, já que o pêndulo que foi para a direita impulsionado pelo antissistema, no próximo período histórico, voltará para a esquerda se as repostas estruturais não forem dadas. Respostas econômicas e de modelo de Estado. Mas a cada movimento pendular, a democracia mais fragilizada ficará e maior será a caracterização de uma crise cíclica e estrutural. 

Outro desafio imposto nessas eleições é a juventude da periferia. Aí também impera o sentimento de falta de perspectiva. Muitas foram as manifestações de descrença desse segmento social. Uma parte importante dessa juventude também foi cooptada pelo antissistema. Esse voto também estamos perdendo. Não representamos os seus sentimentos e interesses. 

Propostas para atuação no período (com o objetivo de fomentar o debate):

Na conjuntura nacional 

1. Importante o PT avaliar, estado por estado o resultado eleitoral, conseguindo compreender as especificidades da movimentação eleitoral em cada região. Por mais que existam características gerais, as especificidades regionais são importantes. É fundamental construirmos objetivos organizativos e eleitorais para 26. É urgente iniciarmos a construção da nossa tática para as próximas eleições, para os estados, e para a reeleição do Presidente Lula. Importante termos claro que existe uma construção silenciosa, mas avançada, de tornar o parlamento o centro do processo decisório e de execução orçamentária. O presidencialismo clássico se desfez no Brasil. “Está instalado um parlamentarismo híbrido”. Tão importante quanto a reeleição do Presidente Lula - sem isso o centro da disputa de projeto não existe -, é a eleição de deputados (estaduais, sem esses não teremos capilaridade nas nossas campanhas, e federais), bem como construirmos políticas de alianças nos estados para a eleição de senadores do campo democrático. Sem uma base forte na Câmara e no Senado, não teremos perspectiva de estabilidade institucional e de vitórias políticas para o próximo período. Importante termos clareza que uma agenda muito conservadora se imporá no Congresso Nacional no próximo período histórico. Sem uma forte capacidade de articulação de uma base parlamentar progressista, de vocação democrática, muitas derrotas e retrocessos se imporão para o povo brasileiro; 

2. O PT precisa ser o protagonista de propostas que reformem o nosso modelo político, modelo de gestão, de democratização do Estado, que inovem na participação da sociedade. Penso ser urgente retomarmos a nossa proposta histórica de voto em lista partidária. Só isso impedirá o surgimento de lideranças antissistema, lideranças acima dos partidos, das instituições. Essa medida fortaleceria o debate programático, o sistema partidário, a democracia, a democracia representativa, e impediria a instabilidade institucional provocada por essas lideranças; 

3. Em 20 a polarização não eclipsou o debate eleitoral pelo fato de termos um fator de unidade nacional: a pandemia, ou seja, a necessidade de derrotamos o vírus, o coronavírus. Temos que buscar urgente os fatores de unidade nacional (é necessária e urgente essa compreensão) que “fure a bolha” da polarização, para que possamos debater as nossas políticas públicas, os avanços propiciados pelo Governo Lula, para que possamos debater o nosso projeto de país.  No atual ambiente político esse debate de “rumos da sociedade” se torna impossível;

4. Temos que intensificar a disputa na sociedade, de forma prioritária, junto a nossa base social, aos setores que sempre votaram em nós e têm mudado de posição política. Temos que fazer chegar os avanços já propiciados pelo Governo Lula 3: a retomada das políticas públicas pela construção da igualdade e da inclusão, dos programas estruturantes já lançados como o PAC e o MCMV, os nossos avanços na economia. É importante e também urgente fazermos essa disputa na opinião da sociedade. Temos que disputar a chamada classe média, os setores médios da sociedade, não apenas com as nossas políticas públicas, iniciativas que construam espaços para dialogarmos com esse segmento social, mas também a disputa política de concepção de mundo, de modelo de organização da modelo produtivo diante da emergência climática, da necessidade de transição energética; 

5. Sempre defendemos o Estado laico e assim tem que continuar sendo, mas se não nos organizarmos para compreender a dinâmica da religiosidade na nossa base social, não conseguiremos atuar para fazer a disputa política nos bairros e nas periferias mais distantes, segmento social que sempre nos teve como referência de projeto para a sociedade. O PT tem de gerar espaços para a organização de lideranças religiosas, temos que formular sobre esse imenso desafio que se coloca para a esquerda nesse início de século XXI. Ninguém muda nada pelo lado de fora, precisamos ter lideranças do PT, da esquerda, do campo democrático, que atuem cotidianamente nos espaços religiosos para que possamos fazer a disputa nessa que já foi a nossa mais importante base social; 

6. A juventude das periferias, cooptada pela descrença, pela falta de perspectiva, pelo antissistema, tem engrossado a abstenção ou votado contra a esquerda. Esse setor social não acredita na política, não acredita no Estado, não acredita nas instituições da democracia. A descrença, muitas vezes, é compensada pelo protagonismo oferecido pela religião, pelas igrejas, pela “teologia de prosperidade”. Em conversa com o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, duas constatações são importantes como elementos de análise da atual conjuntura:

em cada 3 jovens que ingressam nas universidades federais, 1 abandona o curso; ou seja, uma parcela da nossa juventude não acredita que obter um diploma, ter uma profissão, signifique perspectiva de futuro promissor. Com o advento das novas tecnologias, da internet, das redes sociais, da robótica, inteligência artificial, muitas profissões perderam a relevância e outras tantas surgiram, muitas informalmente, e significam para a juventude possibilidades - muitas não reais -, de ascensão social, de novas perspectivas para o rompimento com a vida precária;

b) aqui vale ressaltar outra importante constatação no diálogo com Pochmann. Diante das grandes transformações da base produtiva, nesses cenários a elite política e o Estado sempre apontaram o caminho a ser seguido pela sociedade. No Brasil, na transição do Brasil rural para o Brasil urbano, na virada da primeira metade do século XX, na revolução social provocada pela acelerada industrialização, os partidos políticos, a elite política, o Estado brasileiro, demonstraram o caminho para as grandes massas que se deslocavam do campo em busca das novas profissões, das novas possibilidades, geradas pela industrialização, pelo Brasil urbano. Hoje, estamos diante de uma profunda transformação gerada pelas novas tecnologias, pela internet e pelo advento das redes sociais como instrumento de produção de conteúdo. Diante dessas mudanças as novas profissões tomam conta do cotidiano da sociedade, novos serviços emergem e não há uma orientação do Estado de qual o caminho a ser seguido pela sociedade diante dessas profundas transformações. A ausência de propostas por parte da elite política, dos partidos políticos, é uma constatação. Esse vazio de propostas afasta setores importantes da sociedade da política, da participação democrática e cresce o sentimento antissistema. Esse fenômeno é mais intenso na juventude, que por falta de perspectiva diante das profundas transformações vivenciadas na sociedade, no mundo do trabalho, é constatada a ausência de propostas do Estado brasileiro e da elite política. É urgente entendermos a realidade da juventude periférica, seus mecanismos de sobrevivência, suas ocupações, suas necessidades. Essa juventude, muitas vezes, não acredita nos partidos políticos, nas lideranças políticas, no sistema. Suas referências estão nas igrejas, muitas vezes, no crime organizado, nos influencers que ascendem socialmente operando as redes sociais. Só vamos superar o antissistema se formos capazes de dialogar com a realidade dessa juventude e se formos capazes elaborarmos propostas que estejam em sintonia com essa realidade.   

Para a conjuntura municipal

1. Por mais que tenhamos sofrido uma derrota eleitoral, pelos fatores conjunturais, e pela nossa não compreensão da mobilização eleitoral que estava em curso (ofensiva da família Bolsonaro e suas principais lideranças), na última semana na cidade de Araraquara, é inegável que alcançamos um resultado expressivo. A Eliana Honain, além de cumprir um belíssimo papel na disputa, saiu com a maior votação nominal que uma liderança política já obteve para um carro executivo na história do PT de Araraquara, 50.000 votos. Temos uma nova liderança na cidade, legítima para “metade da cidade”. Perdemos a eleição por apenas 4.000 votos. Elegemos a Federação, 6 vereadoras e vereadores em uma Câmara Municipal de 18 cadeiras, proporcionalmente, 1/3 do legislativo municipal, o melhor desempenho da nossa Federação no estado de São Paulo. Esse resultado não pode minimizar a nossa derrota. Ela é simbólica, é importante, mas não podemos deixar de valorizar a nossa força política no município e nossa capacidade de influenciar a região. O PT de Araraquara tem responsabilidade na organização da nossa base social na cidade e tem que cumprir papel protagonista na organização da região para as futuras disputas, principalmente 26. Bem como temos responsabilidade na reorganização do PT no estado de São Paulo. Sem a retomada do partido no território paulista, aqui estará um grande entrave para a retomada do nosso projeto nacional; 

2. Em 25 temos que ter organização para mantermos a nossa base social mobilizada na defesa do nosso legado. São grandes os avanços conquistados em quatro mandados na cidade, na participação popular, no cooperativismo, na economia social, solidária, criativa, na inclusão social, na cultura, no esporte, na saúde, educação, na defesa da diversidade, na construção da igualdade racial, de gênero, e tantas outras áreas. Temos que manter as instâncias partidárias funcionando, unificando a nossa bancada na Câmara Municipal. Também fazer um esforço para manter o campo democrático unificado na cidade, mesmo que seja nas questões políticas centrais, nas conquistas democráticas e na garantia dos direitos conquistados pela sociedade local; 

3. Temos que, no próximo ano, organizar uma Conferência Eleitoral com o objetivo de unificação da nossa tática de 26. Temos dois mandatos parlamentares, Márcia Lia e Thainara Faria, fundamentais para a luta política do próximo período. Essa Conferência será também muito importante para a organização do partido para o enfrentamento, regional, estadual e para a reeleição do Presidente Lula; 

4. Temos que manter uma agenda política ativa para a Eliana Honain, a nossa liderança de 50 mil votos “não pode ir para a casa”. Ela é a nossa grande referência na cidade para impedirmos retrocessos políticos e sociais. 

Para contribuir com o debate: Edinho.






Um comentário:

  1. Existe uma GIGANTESCA diferença entre ter humildade para "OUVIR O QUE O POVO DISSE NAS URNAS" e ficar por isso mesmo, com uma consulta aleatória e "CONSIDERAR E INCLUIR O POVO NAS DECISÕES DE GOVERNO", de forma deliberativa. Essa distância verticalizada entre os eleitos e o eleitor é tácita nessa conjuntura de exaltação ao personalismo em todas as áreas, inclusive a política.
    Qualquer eleito não é SENHOR DA RAZÃO, mesmo nessa democracia capitalista ele é um REPRESENTANTE DO ELEITOR, logo sob esta perspectiva não é humildade considerar o eleitor, MAS DEVER DE OFÍCIO!

    Ou há um processo mágico que permita ser possível representar aqueles com quem não interagimos?

    Essa transformação prática do PT em agência eleitoral, desconectou o Partido de sua fundamentação estatutária que prescinde de participação da base de filiados nas decisões do partido que seria a voz da classe trabalhadora nas instituições governamentais.

    Ocorre que com o tempo, os eleitos passaram a se sentir "estrelas eles mesmos" a iluminarem o país e a DIZER PRA BASE PARTIDÁRIA O QUE DEVE SER FEITO (consultando e obedecendo somente os ricaços do país que seguem defendendo seus próprios privilégios).

    Em suma, o Partido que era pra ser a voz e voto da classe trabalhadora nas Instituições Burocráticas se transformou em mais um instrumento de manipulação e disseminação do ideário burguês de forma adocicada à classe trabalhadora explorada e espoliada, que para os capas do PT é tratada como "pobres que mais precisam", traduzindo como algo imutável o resultado perverso da existência da miséria social que é a consequência da estrutura capitalista que os eleitos do PT não têm mais como missão superar!

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