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Achei que
era piada, mas não: o governo federal distribuiu peças publicitárias tendo como
lema “ajustar para avançar”. Não é culpa do marqueteiro, o problema é a
mensagem horripilante. O equivalente é frase famosa: primeiro fazer o bolo crescer para depois repartir. Com um
agravante: aquele bolo efetivamente cresceu. Já agora, caso o ajuste prossiga,
não haverá avanço e sim retrocesso.
Para ser
mais preciso: caso o ajuste prossiga, os ricos deste país ficarão ainda mais
ricos. Aliás, se há uma constante neste país é esta. Como já foi dito por
alguém, mesmo quando os pobres melhoraram de vida, os ricos conseguiram ganhar
dinheiro como nunca. Mas se o ajuste continuar, só os ricos vão ganhar dinheiro
e melhorar de vida.
A conta é
simples: salário e emprego dependem de crescimento, crescimento depende de
investimento, investimento depende do Estado. Nem todo investimento público
gera melhoria na vida da classe trabalhadora. Mas reduzir o investimento
público piora a vida da classe trabalhadora.
Claro,
sempre haverá um Cândido a acreditar piamente que o investimento benfazejo virá
depois do ajuste. E que só o ajuste permitirá o posterior investimento.
Infelizmente,
Cândido desconsidera a maciça transferência de recursos públicos para os senhores
da dívida, que por sua vez não pagam impostos e ainda buscam manter uma
rentabilidade compatível com uma taxa de juros que só o Brasil é capaz de
oferecer. O que não rima com investimento que gera avanço social.
Portanto, o
lema “ajustar para avançar” só faz sentido se entendido da seguinte maneira: ajustar para avançar contra o padrão de
vida da classe trabalhadora. Ou então: ajustar
para baixo salário e emprego da
maioria, avançar para maiores lucros da minoria.
O incrível é
que os governos Lula e Dilma demonstraram ser possível crescer distribuindo.
Noutras palavras, demonstraram que é
avançando que se ajusta.
Aliás, se quiseres
verdadeiro equilíbrio fiscal, promovas crescimento com distribuição de renda. O
resto é papo: não há nada mais desequilibrado do que certos governos
neoliberais.
O que dirá a
respeito disto o 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores?
Se depender
da militância que comparece a debates que estão sendo realizados em todo o
país, prevalecerá uma ideia simples: que
Dilma tome posse. Pois foi Dilma que venceu o segundo turno das eleições
presidenciais, não foi Cunha nem muito menos Levy.
Acontece que
os delegados e as delegadas com direito a voz e voto neste Congresso foram
eleitos no politicamente longínquo ano de 2013.
Naquela época,
já havia sinais abundantes de que a situação estava exigindo do Partido uma
nova orientação política. Mas prevaleceu na eleição partidária uma posição
conservadora: mesmo sabendo dos problemas, não antecipar nem o debate nem as
medidas alternativas.
Fosse agora
a eleição, é muito provável que prevalecesse em delegados e delegadas outro
ponto de vista: o de que o Partido precisa mudar e mudar rápido, sob pena de
perder grande parte da força política e social acumulada ao longo de 35 anos.
Delegados e
delegadas de 2013 vão atualizar seu ponto de vista com a radicalidade
necessária? Ou predominará aquele tipo de mediação que não agrada a nenhuma das
posições em debate?
A maioria
das teses inscritas para debate promete mudanças no comportamento do Partido,
especialmente no sentido de reatar laços com um grande setor da classe
trabalhadora que confiava em nós, mas agora se distanciou.
A maioria
das teses defende que o PMDB não é aliado das mudanças, sendo necessário construir
uma aliança com os partidos, movimentos, setores e personalidades de esquerda,
democráticos e populares que garantiram a eleição de Dilma no segundo turno de
2014.
A maioria
das teses aponta para mudanças na estratégia do Partido, no sentido de que para
transformar o Brasil é preciso combinar luta social e institucional, luta
cultural e organização, tendo como objetivo não conciliar, mas derrotar o
grande capital, a oposição de direita e oligopólio da mídia.
A maioria
das teses sugere mudanças na política do governo Dilma, no sentido do programa
vitorioso no segundo turno das eleições presidenciais, não aquele vitorioso nas
eleições da Câmara dos Deputados no primeiro turno e muito menos o de Armínio
Fraga, ou melhor, Joaquim Levy.
Entretanto,
enquanto a maioria das teses alimenta a esperança, ainda que modesta e contida,
a maioria da bancada do PT na Câmara dos Deputados escolheu votar a favor das
Medidas Provisórias 664 e 665, nos dias 6 e 13 de maio de 2015, piorando a vida
de quem vive de salário, recebe pensão ou seguro-defeso.
O governo
argumenta que há fraudes, desvios e distorções, que as MPs visariam corrigir.
Sem dúvida existem alguns dos problemas citados, que poderiam e deveriam ter
sido corrigidos há mais tempo, sem a necessidade de medidas provisórias.
Entretanto,
o governo admite que as MPs 664 e 665 integram um “ajuste fiscal”. E até o
momento o governo não adotou nenhuma medida que faça os ricos pagar ao menos
uma parte do ajuste.
Ao mesmo
tempo em que enviou estas Medidas Provisórias, o governo -- através do Banco
Central -- aumenta a taxa básica de juros e contingencia o orçamento, afetando
quem precisa de crédito barato e políticas públicas.
Diante de
tantos fatos e evidências de que as MPs são parte integrante de uma política
econômica e de uma estratégia política que Dilma derrotou no segundo turno,
esperamos que a bancada do PT no Senado vote contra as Medidas Provisórias.
Uma posição
forte e consequente do PT, mais uma intensa paralisação da classe trabalhadora
no dia 29 de maio vão contribuir para que Dilma, aquela Dilma que ganhou as
eleições desmascarando as toscas políticas neoliberais, assuma a presidência da
República.
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