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O mês de novembro promete.
Na Europa, reúne-se o G20, com as potências hegemônicas insistindo em medidas de ajuste fiscal para combater a crise. No curto prazo, fazem o povo sofrer. No médio prazo, colocam obstáculos para a continuidade do próprio capitalismo neoliberal, como Keynes percebia e como a presidenta Dilma
Roussef fez questão de lembrar, por diversas vezes, nas últimas semanas.
A Grécia é um dos nervos expostos da crise. Ali surgiu a democracia, mesmo que de/para homens senhores de escravos. Talvez por isso torne-se ainda mais aberrante o desconforto da direita européia, com o fato do governo grego ter ameaçado a convocação de um referendo para decidir sobre o ajuste. O desconforto tem sua explicação: sempre seria possível acontecer o que ocorreu na Islândia.
O primeiro-ministro grego é socialista. Daquele tipo de “socialista” que abandonou o “capitalismo com bem estar social” em favor de políticas neoliberais, exatamente num momento histórico em que se faz necessário
aproveitar a crise para construir caminhos para transitar em direção a uma sociedade sem explorados, nem exploradores.
A direita está radicalizando. O ataque contra a Líbia, que foi apoiado por setores da esquerda européia em nome de “razões humanitárias”, é parte de uma escalada mais geral que inclui Síria e Irã. As eleições presidenciais estadounidenses, que vão ocorrer em 2012, prometem ser um grande halloween
, com democratas e republicanos desfilando suas virtudes cowboy.
A direita radicaliza também no Brasil, se movimentando em pelo menos três direções.
Primeiro, mantém viva a pauta da corrupção. Como uma doença auto-imune, esta pauta só ameaçará a governabilidade num contexto de crise econômica. A questão é que o agravamento da crise internacional pode resultar nisto. Motivo pelo qual espera-se do governo que seja muito mais rápido e radical naquilo que está a seu alcance, como o controle de câmbio e a taxa de juros, que precisa cair muito mais e muito mais rápido.
Aliás, registre-se: concordamos totalmente com o ex-tucano Bresser Pereira, para quem o Banco Central é um banco público e, portanto, deve agir como tal. E não como síndico dos interesses da banca privada, como fez ao longo da gestão Meirelles.
Em segundo lugar, a direita prepara 2014. Desmentindo os que fizeram discursos triunfalistas em 2010, avança a passos largos a articulação em favor de uma forte candidatura tucana em 2014. Com um discurso e um programa neoliberal, aproveitando e estimulando as divergências no bloco governista.
E, em terceiro lugar, alimentando o ódio de classe. Falemos claro: setores da direita comemoraram o fato de Lula estar com câncer. Comentando isto, o jornalista Luís Nassif argumentou que esta gente opera contra seus próprios interesses, pois afinal o comportamento político de Lula teria sido decisivo para garantir soluções conciliatórias para os grandes conflitos nacionais.
Nassif está certo e errado ao mesmo tempo. De fato, a política adotada pela esquerda para enfrentar a crise do neoliberalismo tem mesmo sido extremamente conciliatória. Mas há um setor da direita que não
dá a menor pelota para isto. Para este setor, qualquer concessão, qualquer melhoria, qualquer
reforma em prol dos de baixo, vai contra a ordem natural das coisas. Para esta gente, a
diferença entre Lênin e Lula é que o segundo seria pior, pois tenta enganá-los.
Este é o ambiente do mês de novembro. Crise internacional, luta social e conflitos militares lá fora. Disputas importantes na América Latina, algumas vencidas por nós (Argentina e Nicarágua), outras pela direita (Colômbia e Guatemala). E temperatura crescente no Brasil.
Neste contexto, Página 13 se soma aos que almejam um rápido reestabelecimento do companheiro Lula. E, também, aos que alertam para a necessidade de nos prepararmos para embates cada vez mais duros. Para
os quais não ajuda em nada atitudes como a adotada pelo governo, na chamada Comissão da Verdade. Nos tempos que já chegaram, precisaremos mais e mais de forças armadas sintonizadas com o povo, com espírito democrático e submetidos ao governo civil. E isto não se faz passando a mão na cabeça de quem
fez o que fez, durante a ditadura militar.
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