quarta-feira, 17 de setembro de 2025

O "aceno" de Jilmar Tatto

 


Jilmar Tatto é um dos doze parlamentares petistas que votou a favor da PEC das prerrogativas.

Diante da péssima repercussão, divulgou uma explicação.

A explicação de Tatto começa por algo óbvio: a correlação de forças no Congresso é muito ruim para nós, cabendo ao PT o "dever" de "garantir a governabilidade e buscar o diálogo permanente".

Acontece que o "dever" é do Partido, não de fulano ou beltrano.

Portanto, se fosse o caso de votar a favor da tal PEC, a decisão caberia à direção do Partido, da qual Tatto faz parte e cuja executiva reuniu-se na manhã do mesmo dia em que ocorreu a polêmica votação.

Mas nem a direção do Partido, nem a bancada do Partido recomendaram voto na tal PEC.

Portanto, o tal "dever" não serve de justificativa para o voto que os 12 deram a favor da PEC das prerrogativas.

Mas para Tatto, ao menos nesse caso, a chave do dever parece estar noutro lugar: “a liberação do Governo para que a base votasse livremente, parte da bancada do PT optou por votar com a maioria nesta PEC por entender que seria o gesto necessário aos partidos do dito Centrão, para evitar o mal maior que é a aprovação da PEC da Anistia”.

Se entendi direito, é assim: se o governo tivesse indicado votar contra, Jilmar teria obedecido. Mas como o governo liberou, Jilmar votou de acordo com o que acha que é seu “dever”.

Entretanto, como no fundo Jilmar sabe que seu voto pode não “evitar o mal maior”, ele amplia a aposta e diz que seu gesto abriria “caminho para a votação da MP da conta de luz, a isenção do Imposto de Renda para ganha R$5 mil, redução do IR para quem ganha até R$7,5 mil, a taxação dos super-ricos, o fim da escala 6x1 e a Tarifa Zero no transporte público”.

Ou seja: o voto de Jilmar supostamente nos ajudaria em toda a pauta do povo. Um evidente exagero, por diversos motivos.


Jilmar termina sua explicação dizendo não esperar “concordância” nem “complacência”, só um debate “respeitoso” e “sem ataques pessoais”.


Assim sendo: quanto ao mérito, especialmente no atual contexto, a PEC das prerrogativas não merece o voto de nenhum parlamentar de esquerda, por ser como Tatto mesmo reconhece um “retrocesso”.


Para além do mérito, há o contexto. A péssima repercussão indica que os 12 cometeram, na melhor das hipóteses, um erro de avaliação.

Esse erro tem uma causa, denominada há tempos de "cretinismo parlamentar", ou seja: achar que o Parlamento é o centro do mundo, importando pouco o que acontece fora dele.

Nas últimas semanas, saímos da defensiva e crescemos nas pesquisas porque fomos para o enfrentamento, não capitulando de antemão à correlação de forças existente no Congresso. O comportamento dos 12 nesse episódio foi na contramão disso.

O mais grave, contudo, é quando (para citar um amigo) o cretinismo parlamentar é mais cretino que parlamentar. Nestes casos, o pragmatismo não dá resultados e o "gesto" em questão assume um formato que não vou descrever aqui para não ofender sensibilidades.


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