Convivem e conflitam na direita duas táticas.
Uma parte da direita quer uma “anistia ampla, geral e irrestrita”
Outra parte da direita quer uma anistia light, apelidada de “dosimetria”.
Se prevalecer a anistia ampla, o cavernícola participará hiperativamente das eleições presidenciais de 2026 e uma parte da direita poderá se ver obrigada a (novamente) apoiar Lula.
Se prevalecer a anistia light, no pleito de 2026 o cavernícola, assim como grande parte da direita, tenderá a se unir em torno de Tarcísio, que já prometeu - se vitorioso -indultar Bolsonaro.
Os dois cenários são perigosos e, por caminhos e em prazos diferentes, podem dar nos mesmos resultados.
Frente a esta situação, convivem e conflitam na esquerda duas táticas.
Uma parte da esquerda se opõe a fazer acordos que signifiquem alívio para os golpistas.
Outra parte da esquerda admite acordos, com o objetivo de evitar o que considera o “mal maior”.
Qual destas táticas é a mais adequada?
Essa pergunta só poderá ser respondida com absoluta certeza depois que a batalha tiver terminado.
Mas com base no que vivemos nos últimos anos e com base no que sabemos hoje, consideramos que a tática do acordo é desastrosa para quem pretende vencer as eleições presidenciais de 2026 e, além disso, deseja ampliar a presença da esquerda no próximo congresso nacional.
Em primeiro lugar, a votação da urgência para a anistia aos golpistas demonstrou que a direita tem maioria para aprovar o que quiser. Mas a direita só tem maioria caso esteja unificada. Caso a direita esteja dividida, pode não aprovar nada. Sendo assim, não há motivo para que a esquerda seja fiel da balança.
Em segundo lugar, tudo indica que prevalece na direita a tese da “anistia light” como parte da operação Tarcísio. Portanto, quem defende a tática do acordo está se propondo a ser a “quinta roda do carro”.
Em terceiro lugar, a tática do acordo desperdiça uma grande oportunidade. Nos últimos meses, a posição da maioria de direita do Congresso nacional ajudou a explicitar por quais motivos é necessário eleger mais parlamentares de esquerda. Mas se nossos parlamentares votarem na mesma posição da direita, teremos dificuldade para denunciar o resultado e ainda confundiremos nossa base (vide o ocorrido no caso da PEC das prerrogativas).
Por último, mas mais importante, em questões de princípio não é recomendável adotar a tática do acordo. Já sabemos no que deu anistiar os crimes da ditadura. Anistiar os crimes dos golpistas, mesmo que sob o disfarce da “dosimetria”, vai estimular novos golpes. Que a direita faça isso, é compreensível. Que nós façamos isso, seria uma demonstração de que não aprendemos nada.
Como parece óbvio, a tática do acordo não é muito compatível com a mobilização. Já a outra tática pressupõe e depende da mobilização, seja para tentar derrotar a direita no Congresso, seja para acumular forças na sociedade para derrotar a direita fora do Congresso e nas próximas eleições.
Não há novidade no fato de existirem divergências dentro do PT, mesmo que tenha acabado de ocorrer a eleição da nova direção partidária. O curioso é que a atual divergência seja particularmente aguda dentro do grupo que venceu as eleições internas. O que demonstra mais um defeito da “tática do acordo”. Mas isso já é outro assunto.
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