domingo, 29 de junho de 2025

Jaques Wagner, o sionismo e a arte do cortesão

Um tema foi abordado em todos os debates de presidentes e de chapas que disputam a direção nacional do PT: a Palestina.

Na esmagadora maioria das vezes e das vozes, houve manifestações de solidariedade.

Em dois casos houve polêmica. 

A primeira foi sobre a ruptura de relações entre o Brasil e o Estado Terrorista de Israel. Esta polêmica foi (aparentemente) encerrada quando, em Porto Alegre, os quatro candidatos assinaram um documento apoiando a ruptura.

A segunda foi sobre o Dia da Amizade Brasil Israel, mais exatamente sobre a posição da bancada de senadores petistas, mais especificamente sobre o papel de Jaques Wagner. 

Foi uma polêmica intensa, mas que provavelmente teria ficado restrita aos participantes e assistentes ao debate realizado em Belo Horizonte dia 28 de junho, não fosse pelo fato do companheiro Murilo Brito ter resolvido divulgar amplamente o fato (ver imagem abaixo).


É direito dele fazer isso. Mas como nesse vídeo Murilo incluiu apenas um trecho da minha fala, decidi transcrever a íntegra da polêmica.

Alerto que outros debatedores falaram acerca da Palestina, com destaque para o companheiro Sokol. 

Quem quiser conferir o conjunto do debate, pode assistir aqui: 28/06 | 🔴Debate entre as chapas para o PED 2025, direto de Belo Horizonte

Na transcrição abaixo vou me limitar a polêmica que me envolve diretamente.

O primeiro a falar da Palestina foi o próprio companheiro Murilo, representante da chapa Campo Popular, que disse o seguinte: (...) Então, até recentemente a gente tinha organismos internacionais que tinham como meta regular as disputas entre nações internacionais. E isso agora cada vez mais vai sendo deixado de lado. Cada vez mais esses organismos multilaterais vão perdendo força, e ganha espaço uma política expansionista nitidamente expansionista. O capítulo mais recente que a gente acompanhou, agora com Israel e os Estados Unidos bombardeando o Irã, como um produto, entre outras coisas, daquela disputa que está acontecendo ali de limpeza étnica na Faixa de Gaza. Inclusive aqui, abre um parêntese para dizer que o governo brasileiro precisa se posicionar de uma forma muito dura em relação a isso, rompendo relações com Israel. Não dá pra gente assistir um genocídio daquela magnitude que está acontecendo naquela região do mundo passivamente. É preciso, além do discurso, ter ações práticas. Mas ali, por exemplo, é um nítido movimento de expansionismo do território de Israel, inclusive incluindo genocídio, limpeza étnica, sem que as instituições internacionais multilaterais possam responder à altura aquilo ali (...)

Eu falei depois e disse o seguinte: "(...) quero terminar minha fala fazendo referência a um aspecto da situação internacional que condensa todos os temas que a gente vem discutindo, que é a situação na Palestina. Houve esse ataque de Israel contra o Irã. Depois, houve um ataque dos Estados Unidos contra o Irã. E, de certa forma, saiu de cena o genocídio que segue em marcha. Depois de terem assassinado mais de 60 mil pessoas à base da bomba e da bala, se entrou numa etapa de negar comida, de negar água, de negar remédios e de atirar nas pessoas que estão indo buscar suprimentos junto de uma organização sediada nos Estados Unidos, que é controlada, na verdade, pelo Estado de Israel. É uma barbárie. Uma coisa terrível, absolutamente terrível. E isso vai sendo naturalizado, porque a gente começa a ver isso na televisão todo dia e começa a fazer parte da paisagem. E no nosso governo há uma resistência a tomar medidas mais duras. Os quatro candidatos à presidência nacional do PT assinaram um documento pedindo a ruptura do Brasil das relações diplomáticas com o Estado terrorista de Israel. E, ao invés de encaminhar isso, nós tivemos um episódio constrangedor no Senado em que a nossa bancada votou a favor do "Dia da Amizade Brasil e Israel". E o líder explicando que os povos e a amizade dos povos estão acima da conjuntura. Alguém aqui acharia normal se, em 1941, 42, quando foi encaminhada a "solução final", se propusesse esse tipo de amizade entre os povos do Brasil e da Alemanha? Pessoal, é um escárnio. E é um escárnio porque dentro do nosso partido e dentro da nossa bancada tem gente que segue a linha do sionismo. Vamos falar as coisas como são, claras. E, como eu tô um pouco cansado dos debates que mandam recado, tô me referindo ao senador Jacques Wagner, um defensor das causas de Israel dentro do PT. Ele e outros. E isso tem que ser enfrentado. Porque é inaceitável que o nosso partido e o nosso governo, nessa conjuntura internacional, não deem uma resposta dura a esse crime contra a humanidade que tá sendo cometido. Palestina livre, do rio ao mar (....).

Vou repetir aqui o trecho que parece ter detonado a polêmica: "E é um escárnio porque dentro do nosso partido e dentro da nossa bancada tem gente que segue a linha do sionismo. Vamos falar as coisas como são, claras. E, como eu tô um pouco cansado dos debates que mandam recado, tô me referindo ao senador Jacques Wagner, um defensor das causas de Israel dentro do PT. Ele e outros."

Depois falou o companheiro Virgílio Guimarães, que ensaiou uma defesa radical de Jaques Wagner, mas frente a meu alerta suavizou.

Depois falou o companheiro Sokol, que fez uma bela fala que pode ser conferida aqui: 28/06 | 🔴Debate entre as chapas para o PED 2025, direto de Belo Horizonte

Na rodada seguinte, em resposta ao Virgílio, eu disse o seguinte: "(...) Eu queria usar o restante do meu tempo, já que eu respondi a pergunta, para também comentar uma outra coisa que o Virgílio disse na sua fala inicial. Ele insinuou uma crítica que ele depois não completou acerca da minha crítica ao Jacques Wagner. Eu quero aqui ler para vocês, pessoal, um trechinho. No dia 25 de junho, no mesmo dia que os caras nos deram aquele golpe lá do IOF, o Alcolumbre promulgou o tal dia da amizade Brasil e Israel. E óbvio, a direita criticou o presidente Lula porque o presidente Lula, ao invés de assinar, encaminhou pro Senado. O Senado é que promulgou. O presidente Lula, na minha opinião, devia ter feito o que fez a Dilma em 2015: ter vetado, ter vetado. Mas ele escolheu essa solução salomônica. Não adiantou nada. Foi espancado pela direita, acusado de antissemita, antiestado de Israel etc. E neste contexto, o companheiro Jacques Wagner fez um discurso. Eu vou ler só um trecho: abre aspas — "Eu, que sou judeu, também concordo que Israel exagerou nas respostas nesta guerra, atingindo inocentes e crianças." — Fecha aspas. Pessoal, isso foi dito dia 25 de junho, agora, semana passada. "Exagerou"? “Atingindo”? O Estado terrorista de Israel cometeu um genocídio. Está cometendo. Matou pelo menos 60.000 pessoas. Não é que atingiu inocentes e crianças. Assassinou civis. Civis, não combatentes. Os caras são capazes de mandar um drone que entra noutro país e mata com foguete um general iraniano dentro do apartamento dele. Eles têm capacidade tecnológica. Eles escolheram assassinar deliberadamente a população palestina. E o nosso companheiro Jacques Wagner diz que isso é um "exagero que atinge". É disso que eu tô falando. Repito: tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel. Só que o mítico Estado de Israel, desde o dia que começou a funcionar — desde o dia que começou a funcionar — agiu para inviabilizar o Estado Palestino e agiu para assassinar, ou expulsar, ou, na prática, escravizar a população palestina. Então não dá para passar o pano. E não dá para ficar fazendo diferença onde as diferenças não existem. Então eu repito aqui, e lembro — concluo com isso — aquilo que o companheiro Sokol falou: quem fica dizendo que qualquer crítica ao Estado de Israel é antissemitismo são os sionistas. Porque grande parte dos judeus mundo afora condenam o que tá acontecendo".

Destaco o seguinte trecho: "tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel. Só que o mítico Estado de Israel, desde o dia que começou a funcionar — desde o dia que começou a funcionar — agiu para inviabilizar o Estado Palestino e agiu para assassinar, ou expulsar, ou, na prática, escravizar a população palestina. Então não dá para passar o pano. E não dá para ficar fazendo diferença onde as diferenças não existem"

Na sequência, o companheiro Murilo afirmou o que segue: "(....) Como Valter começou lendo, eu também quero começar lendo. 'Bom, o povo judeu não pode comungar com assassinato de civis sob qualquer desculpa que seja, até por termos sofrido — não só nós, porque foram testemunhas de Jeová, foram ciganos, foram homossexuais, foram deficientes que morreram na máquina da morte'. Essa fala é do companheiro Jacques Wagner na tribuna do Senado. A fala do companheiro Valter Pomar com as críticas ao companheiro Jacques Wagner são graves, infelizes e injustas. Jacques Wagner não é da minha tendência, Jacques Wagner não é da minha chapa, mas a gente precisa colocar as coisas como elas são. O companheiro Jacques Wagner sempre defendeu a solução de dois estados. O companheiro Jacques Wagner sempre se alinhou com judeus que estão apanhando no estado de Israel porque são contra o governo de Netanyahu, e colocar o companheiro Jacques Wagner como alguém que passa pano para o governo de Netanyahu é um desserviço ao Partido dos Trabalhadores. E tô dizendo isso porque ele tem uma contribuição inestimável para esse partido. A gente precisa lembrar que foi sobre a arquitetura dele que o Partido dos Trabalhadores derrotou o dinheiro na mão e o chicote na outra lá na Bahia, quando derrotou o Antônio Carlos Magalhães e derrotou o príncipe agora. Derrotou o príncipe com professor filho de vaqueiro, que lá no estado, em terras devolutas, já titulou mais de 30 comunidades quilombolas, todas com organização de movimento popular na base, que tirou 1200 hectares da mão da Veracel para dar a agricultores familiares e fazer o primeiro assentamento estadual da história da Bahia. Não ajuda o Partido dos Trabalhadores a gente trazer o debate a essa mesa nessa perspectiva. Posso discordar do momento em que foi proposto, que foi proposto no Senado. Posso achar que ele foi pouco incisivo, posso achar que ele não tem uma posição como a minha, mas daí a dizer que ele é alinhado com sionismo é um equívoco político brutal para o Partido dos Trabalhadores que eu não posso deixar passar aqui. É preciso dizer essas coisas, porque muito do que é feito na Bahia nos cinco mandatos do Partido dos Trabalhadores é o que nós gostaríamos de ver reproduzido no Brasil — e feito não só por Jacques Wagner, pelo conjunto do Partido dos Trabalhadores no Estado da Bahia, incluindo a minha tendência. Isso não significa que a minha tendência ou eu nunca tive divergência com o companheiro Jacques Wagner — muito pelo contrário. Muitas levadas até o fim. E ele, melhor do que qualquer pessoa nessa mesa, sabe disso, porque em algumas ele esteve presente. Mas a gente não pode conduzir o debate nesses termos, porque não nos ajuda. Não nos ajuda porque lá na Bahia, por exemplo, em todas as eleições de governador, desde que o companheiro Jacques Wagner foi candidato, a gente faz o programa de governo participativo envolvendo trabalhadores da saúde, professores, trabalhadores da educação, movimentos do meio rural, movimentos urbanos, para fazer o programa de governo do Partido dos Trabalhadores. Isso ajuda a gente a ter a votação que nós tivemos pro companheiro Lula lá na última eleição — em todas antes dessa — porque lá existe um nível de compreensão da população baiana do que significa o projeto dos trabalhadores. Porque lá chegou água no sertão para quem tinha sede e nunca tinha tido água em casa para beber. O programa Água para Todos, que foi uma iniciativa, em primeiro lugar, do governo do Estado da Bahia sob o governo do companheiro Jacques Wagner. Então, eu queria pedir desculpa por não estar falando sobre o tema que foi a pergunta, mas eu não podia deixar passar isso porque eu acho um equívoco muito grande conduzir as críticas nos termos em que foram conduzidas. (...)"

Como se pode constatar lendo o trecho acima transcrito, o companheiro Murilo fala muito de Jaques governador, como se os êxitos do governo servissem como cheque em branco para todo o resto.

Quanto a polêmica propriamente dita, repito a seguir o que Murilo disse: "(....) Como Valter começou lendo, eu também quero começar lendo. 'Bom, o povo judeu não pode comungar com assassinato de civis sob qualquer desculpa que seja, até por termos sofrido — não só nós, porque foram testemunhas de Jeová, foram ciganos, foram homossexuais, foram deficientes que morreram na máquina da morte'. Essa fala é do companheiro Jacques Wagner na tribuna do Senado. A fala do companheiro Valter Pomar com as críticas ao companheiro Jacques Wagner são graves, infelizes e injustas. Jacques Wagner não é da minha tendência, Jacques Wagner não é da minha chapa, mas a gente precisa colocar as coisas como elas são. O companheiro Jacques Wagner sempre defendeu a solução de dois estados. O companheiro Jacques Wagner sempre se alinhou com judeus que estão apanhando no estado de Israel porque são contra o governo de Netanyahu, e colocar o companheiro Jacques Wagner como alguém que passa pano para o governo de Netanyahu é um desserviço ao Partido dos Trabalhadores"

Acontece que Murilo me acusa de algo que eu não disse. Eu não disse que Wagner passa pano para Bibi. O que eu disse, como pode ser constatado na transcrição ou diretamente no vídeo, foi que Wagner passa pano para o Estado de Israel

A minha frase foi esta aqui: "tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel". 

Pode ser que Murilo tenha ouvido mal? Pode. Mas acho mais provável que ele não conheça algo chamado "sionismo de esquerda".

Indício deste desconhecimento é o seguinte trecho da fala de Murilo: "Posso discordar do momento em que foi proposto, que foi proposto no Senado. Posso achar que ele foi pouco incisivo, posso achar que ele não tem uma posição como a minha, mas daí a dizer que ele é alinhado com sionismo é um equívoco político brutal para o Partido dos Trabalhadores que eu não posso deixar passar aqui"

Ser "pouco incisivo" frente a um genocídio já é algo em si mesmo notável. Mas esta é, exatamente, uma das condutas do sionismo de esquerda. 

Foi o que comentei na minha fala final no debate. Eu disse o seguinte: "Queria começar comentando a defesa veemente que o companheiro Murilo fez do Jacques Wagner. Ele disse, abre aspas: “Muito do que é feito na Bahia é o que gostaríamos de ver no Brasil", fecha aspas. Nós estamos no quinto mandato do PT no governo estadual da Bahia, e, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, a Bahia é o segundo estado no ranking de letalidade policial militar. Amapá é o primeiro, Bahia é o segundo. Um em cada quatro casos de violência policial militar no Brasil acontecem na Bahia. Então, pessoal, menos. A gente fez muita coisa boa, mas nem tudo é legal. Quando eu critico o Edinho, eu não tô dizendo que o governo dele em Araraquara foi ruim. Quando eu critico o Quaquá, eu não tô dizendo que o governo dele em Maricá foi uma porcaria. Quando eu critico Jacques, eu não tô me referindo a tudo que foi feito no governo. A crítica que eu fiz foi bem concreta: frente à tramitação do tal Dia da Amizade Brasil e Israel, neste contexto, ele deu uma declaração horrorosa que eu li aqui. E veja, disse também a respeito do Jacques que ele tenta exatamente diferenciar o governo Bibi, que ele critica, do Estado de Israel, que ele defende. Foi isso que eu falei. E para ficar claro, ele disse também o seguinte num outro momento: 'A crítica legítima ao atual governo de Israel e a sua política externa não pode arrefecer nossa luta contra o ódio aos judeus.' Óbvio que nós temos que lutar contra o ódio aos judeus. Óbvio que nós temos que combater o antissemitismo. O golpe tá no seguinte: qualquer crítica ao Estado de Israel é tratada como se fosse antissemitismo e se esconde o fato de que o nazismo e o sionismo têm ambos um fundo racista. Esse é o ponto, essa é a crítica. E o próprio Jacques, quando o Lula disse que o que estava acontecendo era genocídio e comparou ao Holocausto e comparou o Bibi a Hitler, o próprio Jacques disse: "A comparação não é pertinente." Então, assim, reitero tudo o que eu falei — não aquilo que tenha sido entendido (...).

Na sua fala final, posterior a minha, Murilo disse o seguinte acerca da polêmica: (...) Antes de entrar nas minhas considerações finais, eu queria dialogar com o companheiro Valter. Fico feliz que você não tenha dito na sua última fala que o companheiro Jacques Wagner é sionista. Ao contrário, você disse que ele tenta afastar o governo de Netanyahu do que são judeus. É isso mesmo. Por quê? E o Estado de Israel. Porque o PT e ele defendem a solução de dois estados. Isso é nítido. E aqui eu não tô dizendo que não cabe crítica à postura dele. Não, eu não tô dizendo isso. Eu tô dizendo que a crítica não é real. Jacques Wagner é um democrata reconhecido no PT. Dizer que ele apoia o governo de Bibi Netanyahu é um equívoco. Ponto. Ponto. E gostaria que respeitasse minha fala como respeitei a de todos. E ainda mais, pega 30 segundos de uma fala sobre segurança pública na Bahia como se isso resolvesse o debate. Talvez a gente precisasse fazer, companheiro, outro debate com a mesma duração que esse pra gente debater o problema da segurança pública no Brasil e na Bahia. Quais foram os erros do governo do PT, quais foram os acertos, aonde faltou iniciativa, aonde foi equivocado. Mas não são 30 segundos que resolve. E você falou dos 30 segundos sem reconhecer nenhum avanço que lá teve, talvez porque não conheça, inclusive".

Começo pelo final: realmente eu não conheço a Bahia como Murilo conhece. Mas isso não me impede de criticar a conduta da Polícia Militar da Bahia. Aliás, fiz isso diretamente ao Rui Costa, numa reunião do Diretório Nacional do PT. De toda forma, minha referência ao tema PM da Bahia foi apenas para demonstrar o óbvio: nem tudo são flores. Frente a este fato, Murilo resolveu dar carteirada. Mas, infelizmente, isto não muda os fatos: depois de quase duas décadas de governo, a PM da Bahia nos envergonha.

Seja como for, os espinhos e as flores dos governos petistas na Bahia não podem nos impedir de debater a postura do senador Wagner diante de Israel.

Como já disse, um problema é que Murilo parece achar que todo sionista é apoiador de Bibi. Mas não é assim. Existem sionistas que se opõem ao governo de Bibi. Existem sionistas que criticam os "excessos" (sic, argh) do atual governo, inclusive porque estes excessos estão causando danos ao principal, a saber, a legitimidade do projeto sionista do Estado de Israel. 

Nem todo sionista é de direita. Existem sionistas que são, pelos padrões brasileiros, "democratas", "de esquerda", radicalmente contra Bolsonaro, assim como são contra Bibi. Assim como existem sionistas que defendem sinceramente a solução dos "dois Estados", mas que na prática defendem o Estado de Israel de tal maneira, que contribuem para que o Estado da Palestina nunca saia do papel. 

Jaques Wagner é um destes que defende os interesses do Estado de Israel. Murilo, se entendi direito, acha que defender o Estado de Israel seria uma decorrência da posição defendida pelo PT, a saber, a defesa dos dois Estados. 

É um ponto interessante, que realmente merece debate. Mas do ponto de vista político, alguém tem dúvida de que, na situação atual, a postura de Wagner tem sido a de moderar a reação do governo Lula frente ao genocídio? E alguém tem dúvida a quem isto serve??

Neste sentido, é paradoxal: Murilo, que começou sua fala defendendo "medidas duras", terminou reforçando a posição dos que defendem medidas bem moles. 

Ligando o modo empatia, entendo os motivos pelos quais Murilo fez uma defesa tão enfática de Wagner, mesmo que isso na prática anule sua demanda por medidas duras do governo brasileiro. 

Mas os motivos de Murilo, todo o PT da Bahia sabe. Recomendaria, entretanto, não exagerar na dose. Na prática, ao divulgar sua performance defendendo Wagner, Murilo só deu mais publicidade ao assunto. Como ensinou faz tempo o Castiglione, um bom cortesão deve saber dissimular seu entusiasmo. Senão, produz o efeito oposto ao pretendido.



Sobre o direito de Dandara ser candidata à presidência do PT de Minas Gerais

No sábado 28 de junho participei do último debate entre as chapas que disputam a composição do Diretório Nacional do PT.

De todos os debates de que eu participei (presidenciais e chapas), o em Minas Gerais foi o que teve menor participação presencial. O salão alugado dentro de um hotel em Belo Horizonte ficou bem vazio.

O debate em si transcorreu conforme as regras, com bons momentos e outros nem tanto. 

Um dos momentos que considero nem tanto foi quando a companheira Dandara, que participou da última rodada do debate enquanto representante da chapa da tendência Resistência Socialista, criticou as "práticas fascistas" que, segundo ela, estariam sendo cometidos no PED de Minas.

Eu respondi no próprio debate que não considero adequado usar este termo. Não devemos banalizar o termo "fascismo". 

Ademais, se fosse verdade que há "fascismo", então as vítimas já deveriam ter adotado as devidas medidas. E desconheço que tenha sido solicitada alguma comissão de ética, exceto a que eu mesmo solicitei - no grupo de zap do DN - que fosse encaminhada "de ofício" pelo presidente Humberto Costa.

Palavras a parte, concordo que a disputa pela presidência do PT em Minas Gerais assumiu formas destrutivas, das quais são exemplos os vídeos que estão circulando nas redes, cuja autoria aliás ninguém assume.

Um dos temas em questão é o direito de Dandara disputar a presidência do PT de Minas Gerais. O assunto será objeto de votação na reunião que o Diretório Nacional do PT fará, na próxima terça-feira, dia 2 de julho.

Sobre esta questão, expliquei no próprio debate e reitero aqui o seguinte voto:

1/parlamentares, governantes, cargos em comissão e dirigentes devem pagar mensalmente suas contribuições partidárias;

2/há muitos anos cobro, sem sucesso, que a tesouraria nacional divulgue a lista de quem deve ao Partido;

3/como a tesouraria resiste a divulgar a lista, só no momento do PED é que descobrimos quem cumpre e quem não cumpre com suas obrigações estatutárias para com o PT;

4/no caso da companheira Dandara, constatamos que ela devia cerca de 130 mil reais para o PT. Depreendo daí que desde janeiro de 2023 até maio de 2025, a companheira Dandara quase nunca pagou sua contribuição para com o Partido;  

5/o regulamento prevê que pessoas em atraso devem quitar a íntegra do que devem. No prazo definido pelo regulamento, Dandara não pagou. A quitação foi feita, mas apenas dias depois do prazo fatal;

6/segundo fui informado, a companheira Dandara informa que teria ocorrido um problema bancário, segundo entendi devido ao valor devido por ela ser muito alto. Este argumento não me convence, pelo seguintes motivos: a/o tamanho da dívida é de exclusiva responsabilidade de quem está devendo ao Partido; b/a decisão de deixar para pagar no último momento é de exclusiva responsabilidade de quem está devendo ao Partido; c/qualquer que tenha sido o problema, o fato é que o pagamento não foi feito na data estabelecida no regulamento;

7/se a companheira tivesse pago sua contribuição partidária em dia, desde janeiro de 2023 até abril de 2025, e o problema bancário tivesse afetado a mensalidade normal (cerca de 6 mil reais), eu estaria aberto a considerar qualquer explicação, pois seria evidente que estaríamos diante de uma excepcionalidade. Mas não é este o caso. A companheira Dandara devia uma grande quantia exatamente porque desde 2023 não cumpriu suas obrigações básicas para com o Partido;

8/evidentemente a companheira Dandara não é a única nesta situação. Provavelmente entre os que a criticam, há pessoas que tampouco pagam o que devem. Inclusive por isso reitero que a tesouraria nacional deve dar publicidade a lista dos devedores, para que seus nomes sejam conhecidos por todo o Partido. Não é aceitável que pessoas que, graças ao Partido, assumiram cargos geralmente muito bem pagos, se recusem a cumprir a obrigação básica de pagar sua contribuição em dia;

9/mas o fato é que não se pode disputar a direção do Partido, inclusive a presidência, sem estar em dia no prazo definido pelo regulamento. Por isso, votarei contra o recurso apresentado pela companheira Dandara;

10/agrego o seguinte: aceitar a candidatura da companheira seria alterar o regulamento. Fazer isso na semana do PED seria algo absurdo, entre outros motivos porque inúmeras pessoas que foram retiradas de chapas e candidaturas pelo mesmo motivo teriam o direito de reivindicar o mesmo tratamento. O que, como é óbvio, exigiria adiar a votação marcada para o dia 6 de julho.



sábado, 28 de junho de 2025

Vai ter segundo turno?


Sexta 27 de junho aconteceu o último debate entre os 4 candidatos que disputam a presidência nacional do PT.

Último… do primeiro turno.

A questão é: haverá segundo turno? 

Como não há pesquisas, o que podemos é especular sobre o óbvio.

A saber: o segundo turno depende da votação obtida pelas três candidaturas que propõem uma mudança na política seguida atualmente pelo Partido vis a vis a votação obtida pelo candidato supostamente favorito. 

Vale dizer que o suposto favoritismo tem algumas razões de ser.

Primeiro, as filiações realizadas recentemente. Embora critique as “filiações sem critério”, Edinho será o maior beneficiado por elas.

Segundo, o peso das “máquinas” do governo federal, de três governos estaduais, de vários governos municipais, de metade da bancada federal etc.

Terceiro, o abuso de poder econômico, tolerado por quem deveria fiscalizar e impedir esta distorção.

Quarto e paradoxalmente, a existência de disputas ferozes entre apoiadores de Edinho, notadamente na capital de São Paulo e nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro. Quanto mais feroz a disputa, mais gente é mobilizada por turmas que se enfrentam localmente mas que apoiam o mesmo candidato nacionalmente.

Quinto, as fraudes anunciadas.

Estes e outros fatores ampliam a vantagem que Edinho dispõe desde a largada, devido ao apoio de grupos que, no atual Diretório Nacional do PT, possuem somados mais de 50% dos votos.

Apesar disso tudo, pode haver segundo turno? Pode, por exemplo:

1/ se a situação política empurrar parte da base do Partido à votar em quem defende mudar a linha política;

2/se a participação da verdadeira militância superar o peso dos que Edinho demagogicamente denomina de filiados sem critério;

3/se as máquinas não operarem a todo vapor;

4/se houver uma fiscalização eficaz no dia 6 de julho.

Além disso, pode contribuir muito na realização do segundo turno a percepção de que Edinho simplesmente não sabe o que fazer na atual conjuntura política.

Até mesmo na tendência de Edinho existe muita gente incomodada com a atitude dele nos debates. 

Não se trata apenas do ar de enfado, do visível incômodo ao ser questionado e dos lugares comuns apresentados com ares de grande sabedoria. 

O que mais incomoda - até mesmo quem o apoia - é a ausência de qualquer opinião, de qualquer diretriz, de qualquer sugestão acerca de como enfrentar a direita neoliberal tradicional, que está em pé-de-guerra contra o governo.

Se este incômodo virar voto ou pelo menos abstenção de votar nele no primeiro turno, aumentam muito as chances de segundo turno.

Por isso, quem deseja mudança de rumos nos próximos dias deve combinar a intensa defesa de nossas chapas e candidaturas, com o apelo explícito em favor do segundo turno, quando será possível explicitar melhor as propostas (e a falta de propostas) de cada qual.

Assim o Partido evitará comprar gato por lebre.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Presidente do DM de Araraquara nega, mas confirma




Primeiro eu questionei o Edinho. Várias vezes.

Aí Edinho alegou que já havia prestado os devidos esclarecimentos à direção do Partido.

Então questionei o presidente Humberto. Que após alguns dias me enviou uma carta assinada pelo presidente do DM de Araraquara.

A carta não tem data. Mas o presidente Humberto disse ter recebido numa data que é posterior ao afirmado por Edinho.

No print publicado no início deste texto está a referida carta, assinada pelo presidente do DM.

Segundo ele, não seria “verídica a informação que a pré-campanha ou campanha a presidente nacional do PT do companheiro Edinho tenha se beneficiado de valor mencionado por outras candidaturas que disputam o PED 2025, baseando-se em matérias divulgadas pela imprensa”.

Não sei o que foi mencionado pelas demais candidaturas, nem sei o que foi mencionado pela imprensa. 

O que sei é o que está disponível nos registros da própria META: cerca de 150 mil reais foram pagos pelo DM de Araraquara para impulsionar propaganda da então pré-candidatura Edinho.

Segundo o presidente do DM de Araraquara, Edinho não se beneficiou do “valor mencionado”. 

Logo, Edinho se beneficiou de algum “valor”. Qual? A carta não diz.

Mas a carta diz que os “investimentos realizados pelo Partido dos Trabalhadores de Araraquara em anúncios no Meta foram, em sua grande maioria, direcionados a campanhas de disputa local”. 

Portanto, sempre segundo a carta, houve uma “minoria” de  “investimentos” direcionados a outras finalidades. Quais finalidades? Quantos “investimentos”? 

A carta confirma que o DM pagou “vários conteúdos divulgados, tratando do debate local, tendo como protagonista o companheiro Edinho”.

Mas também houve, conforme comprovado por documentos da própria META, impulsionamento de propaganda da campanha de Edinho presidente.

Aliás, muitos militantes do PT receberam tais propagandas.

A própria carta confirma o impulsionamento, ao dizer o seguinte: “quando foi formalizada a candidatura de Edinho à presidência do PT, bem como quando as regras para a disputa foram estabelecidas, o próprio Edinho procurou a direção do PT municipal pedindo para que nenhum conteúdo por ele produzido - que tivesse relação com a sua candidatura à presidência do PT - fosse patrocinado, solicitação que foi prontamente atendida”.

Portanto, ainda que de maneira oblíqua, a carta admite que foi impulsionada propaganda cujo conteúdo tinha “relação com a candidatura de Edinho à presidência do PT”.

Para dar a isto uma aparência de legalidade interna, o presidente do DM diz que “o PT local aprovou, conforme registro em ata, apoio à candidatura do companheiro Edinho, filiado ao nosso diretório, à presidência do PT nacional”.

A pergunta é: este apoio político pode se traduzir em apoio financeiro? Um apoio que, segundo os registros da META, pode ter chegado a 150 mil reais??

A carta termina atacado “a prática policialesca” de buscar “a criminalização da política”. Lembra ainda que esta não é uma “cultura oriunda da cultura de esquerda”. 

Concordo! E acrescento: mentir e abusar de poder econômico também não são atitudes oriundas de uma “cultura de esquerda”.

A carta deixou sem resposta uma pergunta que fiz: de onde veio o dinheiro? Foi da militância? 

Mas, pelo menos, respondeu quanto valem as promessas que Edinho faz, de transparência na condução das finanças partidárias.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

O Congresso atacou o povo. Qual deve ser nossa resposta?


Os fatos são conhecidos: a Câmara dos Deputados aprovou, no dia 25 de junho de 2025, por 383 votos a 98 votos, um Projeto de Decreto Legislativo que revoga todo o decreto do governo que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras. 

Quem pautou a votação foi Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados. A atitude de Motta surpreendeu muitas pessoas no governo e na bancada do PT, que até então acreditavam nas promessas e juras de amor feitas pelo cidadão.

O PDL foi para o Senado, onde também foi aprovado.

O que devemos fazer diante disso? 

Mobilizar a população contra um Congresso que tenta impedir Lula de governar? Demitir os ministros dos partidos que traíram o governo? Recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra um PDL inconstitucional? Negociar com a direita, para reduzir danos? Aceitar a decisão e cortar na carne, prejudicando o povo e reduzindo as chances de reeleição de Lula? Deixar de lado o arcabouço fiscal? Tudo junto e misturado?

No mundo ideal, o presidente nacional do PT, companheiro Humberto Costa, já teria convocado uma reunião de emergência da Comissão Executiva Nacional e/ou do Diretório Nacional do PT, para discutir o que fazer. 

Mas no mundo real as instâncias ainda não foram convocadas. Entretanto, a discussão sobre o que fazer está rolando solta, dentro e fora do Partido. Um dos que opinou a respeito foi Washington Quaquá.

A opinião de Quaquá pode ser vista, ouvida e lida aqui: https://www.instagram.com/reel/DLX_efuJ1ff/?igsh=MXdpdDdicHJ1ZjMzaQ==

Chamo a atenção, no vídeo acima, para dois detalhes, digamos, estéticos: a camisa branca com a palavra Clássico e uma foto do Che Guevara ao fundo. Sem dúvida, o estilo é quase tudo.

Isto posto, vamos agora ao texto predicado por Quaquá: "Olha eu queria avisar meus queridos colegas de bancada e a nossa direção nacional do PT, a situação com a rejeição no Congresso Nacional das matérias do governo nesta semana, ontem, foi gravíssima e nós não podemos permitir que a gente entre numa escalada contra o Congresso Nacional, o Congresso Nacional a gente queira ou não queira, é uma instituição eleita pelo povo brasileiro, a política é o espaço do diálogo, é o espaço do consenso, o que eu acho é que nós do PT precisamos baixar a fervura, precisamos conversar com os líderes do Congresso, precisamos incorporar as demandas dos deputados e do Congresso, porque judicializar, colocar o Supremo no lugar da política, é um erro que, vamos lá, nós estamos caminhando pelos mesmos erros cometidos pela presidenta Dilma e deu no que deu, eu quero dar um conselho a meus companheiros e minhas companheiras, eu dou a vida pelo Lula, mato e morro pelo Lula se for necessário, agora é hora de baixar a fervura, é hora de negociar, é hora de chamar, presidente Lula, as forças vivas da sociedade brasileira, o grande empresariado, chamar ministro Haddad o empresariado brasileiro, os trabalhadores, os camponeses, o Congresso Nacional, povo brasileiro, para uma política de desenvolvimento, o que vai fazer o Brasil crescer não é nem corte de gastos nem aumento de gastos, é aumento do desenvolvimento, a Margem Equatorial tem que ser explorada, nós precisamos trazer ambientes de investimento que tenham rapidez e não sejam travados pelas travas do custo Brasil, que na verdade não é o custo de infraestrutura, o custo Brasil é o custo dessa burocracia de classe média que impede os investimentos a partir de entraves, sejam ambientais, sejam legais, nós temos que chamar Supremo, Congresso, empresários, sociedade, por um pacto de desenvolvimento, o que vai tirar o Brasil da lona é um pacto de desenvolvimento, só uma pessoa pode liderar isso, o presidente Lula, ele é o líder do Brasil."

Claro que no discurso de Quaquá, que espero ter transcrito corretamente, tem vários lugares comuns absolutamente demagógicos (tipo "matar ou morrer", "forças vivas" etc.). 

Mas, tirante esses arroubos, é preciso levar muito a sério as opiniões de Quaquá. 

Primeiro, porque ele é muito bem relacionado com forças para lá de vivíssimas. Segundo, porque ele verbaliza aquilo que outros (ainda) não têm coragem de dizer. 

As vezes verbaliza até pelo silêncio. Por exemplo: no discurso acima transcrito, Quaquá não fala uma única palavra sobre os juros, sobre a dívida pública, sobre os baixos impostos pagos pelos ricos. sobre os subsídios e as isenções. Nada disto foi citado por Quaquá como "travas" que atrapalham o Brasil.

No lugar disso ele fala dos "entraves ambientais", "legais" e do "custo desse burocracia de classe média", frases que soam celestiais aos ouvidos de certa elite brasileira.

A meus ouvidos, a essência do discurso de Quaquá está no seguinte trecho: "não podemos permitir que a gente entre numa escalada contra o Congresso Nacional". Ou seja: só a direita pode "escalar" contra nós. A gente não pode nem mesmo se defender. 

Vale lembrar que o governo passou os últimos dias exercitando o "diálogo", buscando o "consenso". E o que fez Hugo Motta? Traiu os líderes do PT no Congresso, líderes a quem restou confessar pública e candidamente que não estavam entendendo o que aconteceu.

No lugar de "escalar", Quaquá propõe ceder: "incorporar as demandas dos deputados", o que eu entendo como "liberar mais emendas". 

O diagnóstico implícito nessa proposta é que bastaria pagar os chantagistas que a coisa se acalma. 

Que existe chantagem, não tenho dúvida. Mas não acho que seja só ou principalmente isso: está em curso uma operação de cerco e sufocamento, cujo objetivo é forçar o governo a fazer em 2025 um ajuste fiscal brutal, que torne inviável a reeleição de Lula.

Esta é, aliás, uma semelhança entre o momento atual e um certo momento do governo Dilma. A parte pensante da direita quer nos obrigar a fazer, em 2025, o que lamentavelmente fizemos em 2015.

Quaquá é contra "judicializar, colocar o Supremo no lugar da política". 

Ou seja: frente a uma ilegalidade (o Brasil não é parlamentarista e o PDL não se aplica ao caso), não deveríamos recorrer. 

Sobre isto, acho que Quaquá tem razão em parte: transformar o Supremo em árbitro não é uma opção estrategicamente adequada. 

Mas existem outras possibilidades, que Quaquá simplesmente desconsidera: i/ mobilizar a população, contra aqueles que querem impedir o presidente de governar; ii/contingenciar tudo aquilo que interessa à elite (emendas, subsídios etc.); iii/deixar de perseguir o absurdo déficit zero; iv/tirar imediatamente do governo quem vota contra o governo: melhor um governo de minoria do que um governo com falsa maioria.

Quaquá também tem certa razão, quando diz que precisamos colocar o "desenvolvimento" no centro da pauta. 

O problema é que Quaquá parece acreditar em contos da carochinha. Afinal, o tipo de "desenvolvimento" apoiado pelo grande empresariado não tem nada que ver com o que necessitamos para "tirar o Brasil da lona". 

Desenvolvimento, aqui no Brasil, implica em derrotar o capital financeiro e os setores dedicados à primário-exportação. Aliás, é bom lembrar que estes setores da classe dominante incluem no "custo Brasil" as políticas sociais, o salário mínimo, as aposentadorias etc.

Por fim: mesmo supondo que Quaquá tivesse 100% de razão no que propõe, há um detalhe tático que precisa ser colocado em debate. A saber: para que Lula lidere o proposto pelo prefeito de Maricá, ou para que ele lidere um cavalo-de-pau como o que eu defendo, ou para que ele lidere outra alternativa, é preciso primeiro retomar o controle da situação. E para fazer isso devemos abandonar o cretinismo parlamentar, que só tem olhos para a correlação de forças nas instituições; é preciso levar a disputa para a sociedade, ou seja, convocando às ruas as verdadeiras "forças vivas" da Nação: as classes trabalhadoras.

O povo votou em Lula. O Congresso quer governar no lugar de Lula. Lula quer melhorar a vida dos pobres. O Congresso quer proteger os ricos. Vamos reagir imediatamente, por exemplo convocando um grande comício com 300 mil pessoas, contra os 300 picaretas que estão querendo inviabilizar o Brasil.

Se a direita está em campanha, respondamos na mesma moeda. Ou é isso ou seremos emparedados vivos, com Congresso, com Supremo, com tudo. 

Contra a ditadura da Faria Lima, vamos de Favela do Moinho!



sábado, 21 de junho de 2025

PED e abuso de poder econômico

. Prezado companheiro Humberto Costa

Acabo de receber a fotografia abaixo



Quem enviou a foto informou que o outdoor que aparece na foto está na ponte de Guarapari, Muquiçaba, no Espírito Santo.

 O regulamento do PED não proíbe este tipo de propaganda..

Mas o uso de outdoor, o recurso a um “jatinho”, os 150 mil que parecem ter sido gastos pelo DM de Araraquara em impulsionamento de propaganda, mais os custos da equipe de comunicação que inclusive viaja com o candidato Edinho Silva são, tomados de conjunto, indícios de abuso de poder econômico.

O pagamento do descrito acima está sendo feito com arrecadação militante? 

Reitero pela quarta vez meu pedido, feito a você presidente nacional, para que o assunto seja tratado pela direção do Partido.

No aguardo, saudações petistas

Valter Pomar











quinta-feira, 19 de junho de 2025

“Vou votar no candidato do Lula”



Em 11 de dezembro de 2023 estive por acaso com o companheiro Lula, quando aproveitei para deixar com ele o primeiro volume da coleção História do Petismo

Na conversa que tivemos, presenciada pelo companheiro Marco Aurélio, Lula disse que estava pensando em apoiar uma determinada pessoa à presidência do Partido. 

Eu dei ao Lula minha opinião sobre o dito cujo. 

Disse, também, que achava melhor Lula não externar publicamente sua preferência. Pois se Lula fizesse isso, o referido cidadão ficaria na zona de conforto: não precisaria provar para a base que está preparado para dirigir o Partido. O grande argumento que a pessoa usaria não seria o que ele próprio fez, defende ou poderá fazer, mas sim que ele seria “o candidato de Lula”. 

Acrescentei o seguinte: se o cara viesse a vencer e fizesse um mandato ruim (como está acontecendo hoje no caso do Banco Central), ainda ia ter gente que colocaria a “culpa” no Lula.

Como sabemos, pelo menos até agora Lula não veio pessoalmente a público dizer “este é o meu candidato”. 

Mas inúmeras pessoas fizeram isso. E como não foram desmentidas, aconteceu o óbvio: o grande argumento a favor de Edinho Silva é que ele seria “o candidato de Lula”. 

Para uma parte de seus apoiadores, esse "pistolão" funciona como antídoto contra suas inúmeras fragilidades políticas

Aliás, ele chega a me lembrar o famoso “cavalo do comissário”; fica incomodado quando é questionado e se comporta, às vezes, como se estivesse fazendo o favor de comparecer aos debates.

Curiosamente, à boca pequena importantes apoiadores de Edinho fazem pesadas críticas ao seu próprio candidato, em alguns casos críticas extensivas ao Lula. 

Um importantíssimo quadro da CNB chegou a dizer que Lula “vai pagar caro” por essa escolha. Outro disse que Edinho seria “muito despreparado”. 

Haveria muita coisa a ser dita a respeito, mas prefiro deixar para o romance ficcional que vou escrever depois de ser cremado

Apenas registro que as duas pessoas citadas acima e outras tantas simplesmente omitem que foram eles, não Lula, quem inscreveu Edinho como candidato.

Aliás, este é um dos perigos a que estão sujeitas as grandes personalidades como Lula: quando tudo dá errado, os áulicos (coletivo chique para corte de puxa-sacos) raramente colocam a culpa em si mesmos; geralmente atribuem toda a responsabilidade do fracasso aos líderes. 

(Digressão de historiador: este comportamento talvez ajude a explicar por qual motivo foram exatamente os mais puxa-saco de Stalin aqueles que o execraram depois da morte; ao mesmo tempo que ajuda a explicar o fato da memória de Mao Zedong ter sido protegida pelos que eram seus adversários dentro do Partido Comunista da China.)

Voltando ao nosso Partido: dirigentes não podem terceirizar responsabilidades. Cada um de nós deve exercer seu livre arbítrio e assumir as responsabilidades por isso.

Eu, por exemplo, sempre fiz e seguirei fazendo a defesa pública de Lula. Fiz campanha para ele em 1982 e votei nele em todas as eleições em que concorreu entre 1986 e 2022. 

Mas, ao mesmo tempo, divergi e divirjo de Lula inúmeras vezes, em questões pequenas mas também em questões ideológicas, programáticas e estratégicas fundamentais.

Por exemplo em 1993, quando Lula apoiou o parlamentarismo e eu apoiei o presidencialismo. Outro exemplo: a confiança que Lula tinha em Palocci, pessoa que sempre considerei um perigo, inclusive por Antonio gostar muito de dinheiro e também por gostar demasiado de quem tem muito dinheiro. Mais um exemplo: a subestimação dos golpistas da Lava Jato, que levou Lula por exemplo a acreditar no conselho de advogado segundo o qual sairia logo de Curitiba graças a um habeas corpus.

Nesses três casos e em inúmeros outros, Lula estava errado. E em algumas situações foi muito importante que houvesse no Partido uma maioria de militantes disposta inclusive a derrotar o Lula-pessoa-física, em benefício do Lula-pessoa-jurídica. Como Lula mesmo disse, se o Brasil fosse parlamentarista, ele nunca seria presidente.

Há no PT, é claro, outras pessoas que preferem agir diferente. Como já foi dito, há candidatos à presidência do PT que fazem questão de exibir sua intimidade com Lula, que ademais é personagem frequente nos debates do PED nacional. 

Um dos que mais contribui nisso é exatamente o companheiro Edinho Silva, que tem destacado a necessidade de preparar o Partido para o pós-Lula.

(Quem quiser saber exatamente o que Edinho tem dito a respeito, deve conferir os vídeos disponíveis nas redes do PT.)

Na minha opinião, a abordagem de Edinho - além de outros problemas- é excessivamente eleitoral, versando sobre o prejuízo que nos trará a futura ausência de Lula como candidato à presidência, a partir de 2030. 

Da minha parte, acho muito mais importante discutir dois outros aspectos. Primeiro, o fato de Lula ser hoje um dos principais catalizadores de nossa relação com os setores mais pobres da classe trabalhadora. Segundo, o fato de que Lula é hoje uma espécie de árbitro em última instância das imensas divergências que existem em nosso Partido.

Para que o Partido possa ser efetivamente o sucessor coletivo de Lula, será preciso que o Partido exista, esteja enraizado nos territórios, tenha vida militante, seja realmente democrático nas suas relações internas.

Será preciso, também, que o Partido seja autônomo em relação aos mandatos executivos e legislativos que conquista, mas também autônomo em relação ao próprio Lula

Para contribuir nessa necessária autonomia, um bom ponto de partida é termos um presidente nacional que saiba muito bem a diferença entre ser ministro de Lula e ser o principal dirigente do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras.

Afinal, mais importante do que "votar no candidato do Lula", é votar num candidato que seja capaz de defender o PT, o governo e o Lula. Defender, inclusive, contra os erros que o próprio Lula comete.

 


Como diria Jucá: "com Motta, Galípolo, Tarcísio, com tudo"...

O Banco Central aumentou a taxa de juros para 15%. Detalhe: o Banco Central está sob comando de Galípolo, que foi indicado e recentemente nomeado por nosso governo.

O Congresso derrubou os vetos do presidente Lula. Detalhe: grande parte dos votos veio da base do governo. E na cabeça da derrubada esteve Hugo Motta, que foi eleito com o apoio do PT e de Lula.

Vários partidos que integram a base do governo mandaram avisar que em 2026 não vão apoiar Lula. Apesar disso, continuam ocupando seus ministérios e se beneficiando do bônus de ser governo. Já os inevitáveis ônus que todo governo tem, estes ficam 100% nas nas costas do PT e de Lula.

Enquanto isso um dos filhotes do cavernícola já avisou que apoiará o candidato que defender o indulto do cavernícola mor. As coisas caminham em direção de Tarcísio, um fascista com pinta de tecnocrata. 

E as pesquisas vão registrando nosso desgaste. Nada irreversível. Mas se mantivermos a política atual, seremos derrotados ou na melhor das hipóteses teremos uma vitória de Pirro em 2026. 

É preciso denunciar publicamente e mobilizar a população contra esta maioria de direita do Congresso Nacional, cujas decisões estão prejudicando diretamente a vida do povo, vide tarifas de energia. 

Basta de contemporização com Hugo Motta. Ele está articulado com Arthur Lyra e Eduardo Cunha. Eles querem sabotar, sufocar e matar nosso governo. Só a pressão popular pode nos salvar.

É preciso, também, denunciar publicamente e mobilizar a população contra o Banco Central. Nos dissociar de Galípolo, que não é amigo, é inimigo. 

Aliás, o que Galípolo, o bisneto está fazendo é mais uma prova de que o setor financeiro não tem limites. Eles não querem acordo, eles querem acabar com a nossa raça. E já que é assim, não faz sentido nosso Ministério da Fazenda continuar insistindo na política do “déficit zero”.

É preciso ampliar imediatamente as políticas sociais em favor do povo pobre. São os trabalhadores pobres, as mulheres, os negros e as negras, os moradores das periferias, o pessoal de coração nordestino que nos deu vitória em 2022 e que pode nos dar a vitória em 2026. Portanto, nada de cortes, nada de contingenciamentos, tudo em favor dos pobres!

Devemos manter nossa guarda alta. Os Estados Unidos de Trump já estão operando e farão de tudo para conquistar o governo brasileiro nas eleições de2026. Para eles não é aceitável que exista no Brasil um governo solidário com os palestinos, com os cubanos, iranianos e haitianos. Não é aceitável para os gringos que no Brasil exista um governo que diz, em alto e bom som, que não somos quintal de ninguém. 

Para enfrentar a ameaça do imperialismo, é preciso construir no mais curto espaço de tempo nossa soberania alimentar (reforma agrária), nossa soberania energética (Petrobrás e Eletrobrás sob controle estatal), nossa soberania produtiva (reindustrialização já), nossa soberania comunicacional (derrotar a ditadura das big techs e da Globo) e nossa soberania militar (demitir José Múcio e garantir Forças Armadas capazes de defender o Brasil).

Como já dissemos inúmeras vezes: vivemos tempos de catástrofe climática, extrema-direita, crise e guerras. São tempos difíceis. Mas no passado também houve tempos difíceis, por exemplo o nazismo e o fascismo, a ditadura militar. Naqueles tempos, foi possível vencer entre outros motivos porque dispusemos da linha política correta, apostamos na luta e na militância, não tivemos medo de polarizar e de vencer.

Por isso, um bom ponto de partida é, no próximo dia 6 de julho, eleger direções partidárias dispostas a mudar a linha do Partido e a linha do governo. 


quarta-feira, 18 de junho de 2025

Tempos de guerra… nuclear? (primeira parte)

Há um ditado segundo o qual em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade. Por este e por outros motivos, há muita controvérsia sobre o que está efetivamente acontecendo na guerra entre o Estado Terrorista de Israel e a República Islâmica do Irã.

Mas não precisa existir dúvida sobre o panorama completo: está em curso uma escalada que pode a qualquer momento desembocar num conflito nuclear.

Nosso país está preparado para estes tempos de guerra? A resposta é: não. Precisamos nos preparar? Sim, com a mais absoluta urgência. Isto significa concentrar energias para construir, no mais curto espaço de tempo, nossa soberania alimentar, nossa soberania energética, nossa soberania produtiva, nossa soberania comunicacional e nossa soberania militar.

Acima de tudo, precisamos que a população brasileira, especialmente as classes trabalhadoras, estejam informadas acerca do que realmente está ocorrendo. E o ponto de partida para compreender os acontecimentos começa nos Estados Unidos da América e passa por Israel.

Os Estados Unidos (EUA) sabem que estão perdendo a batalha produtiva, científica e tecnológica. Os EUA sabem, também, que ao menos dentro do jogo e das regras que em grande medida foram criadas por eles mesmos - é praticamente impossível reverter esta situação de declínio da hegemonia estadunidense.

Essa constatação leva os EUA a romper as regras do jogo, como está fazendo o governo Trump no terreno do comércio e nos acordos ambientais.

Mas apenas isso não é suficiente. O tempo corre contra os Estados Unidos. É por isso que ameaça de guerra, a preparação para a guerra e a guerra propriamente dita tornam-se um componente de importância cada vez maior na política dos Estados Unidos. 

Alguém pode dizer que não existe novidade nisso. Afinal, desde o nascimento até os dias atuais os Estados Unidos o um país banhado em sangue. Isto é verdade. Mas também é verdade que houve uma mudança nos termos da economia política desta equação.

No passado, o desempenho militar dos EUA era em grande medida determinado pela sua força econômica. Hoje, a sobrevivência econômica dos EUA depende em grande medida do seu desempenho militar.

Isto é assim, independente de quem esteja presidindo os Estados Unidospara muita gente simpático Obama ganhou o Prêmio Nobel da Paz, provavelmente devido ao número de pessoas que Barack mandou assassinar utilizando drones. E coitado de quem acreditou nos discursos em que Trump prometia acabar rapidamente com as guerras.

Em escala menor, mas vivendo dilemas semelhantes, estão Israel, França, a Alemanha, a Inglaterra o Japão. O Japão está se rearmando. As antigas potências coloniais europeias estão fazendo o mesmo. Aliás, no capitalismo em crise, a guerra continua sendo um ótimo negócioconstruir armas, destruir e reconstruir países é uma aparentemente inesgotável fonte de lucros

Aparentemente, porque existe uma fronteira que não deve ser cruzada. E acontece que Israel está  empurrando os integrantes do G7, a começar pelos Estados Unidos, para que cruzem esta fronteira. A saber: uma guerra generalizada & nuclear.

Há vários motivos para que Israel esteja agindo desta maneira. Um deles é o famoso senso de oportunidade, ou seja: se não for agora, pode não ser nunca mais.

Pode não ser nunca mais, porque a classe dominante de Israel sabe mais do que ninguém que sua sobrevivência depende do apoio financeiro, diplomático e militar dos Estados UnidosAcontece que os EUA, apesar de seguirem poderosos, estão declinando. Portanto, o Estado de Israel também corre contra o tempo. Com a diferença de que os EUA têm a vantagem de que podem sobreviver ao seu próprio declínio.

Esta constatação racional, combinada com a glorificação da violência e coo desprezo racista pelo restante da humanidade que caracterizam sionismo, fazem com que o Estado Terrorista de Israel esteja disposto a tudo, inclusive a um conflito nuclear, para derrotar o Irã, único Estado na região que faz oposição a Israel e que até agora não teve o mesmo destino do Iraque, Síria e Líbia.

Sobre as mentiras mais recentes de Israel contra o Irã, recomendamos a leitura do artigo de Jeffrey Sachs e Sybill Fares, publicado no dia 16 de junho e disponível no seguinte endereço: Opinion | Stop Netanyahu Before He Gets Us All Killed | Common Dreams

Para além das mentiras desmascaradas por Sachs e Fares, há também toda uma discussão sobre qual o papel dos EUA noperação de Israel.

Trump seria o adulto na sala, que mantém o cão raivoso preso numa corrente? Seria o irmão mais velho do bandido mais novo, que vai ter que intervir para ajudar Israel a completar o serviço sujoSerá que foi tudo combinado previamente? Será que Israel agiu sem combinar previamente com Trump? Ou seria tudo isto e mais um pouco, junto e misturado?

Não se trata de uma discussão fácil, até porque - a preços de ontem - o trumpismo anda dividido acerca do que fazer. Seja como for, qualquer que seja a resposta que se dê para as perguntas acima e para muitas outras, o fato é que os demais Estados e povos do mundo estão sendo colocados diante de dilemas existenciais. 

Vamos aceitar viver sob a chantagem de Estados terroristas? Ou vamos enfrentar a chantagem, apesar dos riscos?

Quando se olha para o curto prazo, há motivos legítimos para a dúvida sobre o que fazer. Basta ver o que está ocorrendo nos dias de hoje com os cubanos, haitianos, palestinos e iranianos, para ter certeza de que enfrentar não se trata de uma escolha fácil.

Mas quando se olha para o horizonte, nãdeveria existir dúvida algumaAfinal, a continuidade da hegemonia dos Estados Unidos e do capitalismo por ele impulsionado não resultará, em nenhuma hipótese, num mundo melhor

Muito antes pelo contrário: o que nos aguarda, caso não lutemos aqui e agora, é uma imensa distopia, onde vão se misturar catástrofe climática, guerras disseminadas, extrema direita, submissão das pessoas às máquinas etc. Ou lutamos, ou poderá não existir futuro para a humanidade.

Sobre o que fazer aqui e agora há várias respostas possíveis. Da nossa parte defendemos a ruptura das relações diplomáticas do Brasil com o Estado Terrorista de Israel. E também o apoio ao Irã em sua luta contra o imperialismo. Mas para sustentar estas e outras respostas, é preciso um estado de ânimo diferente do que tem prevalecido em alguns setores da esquerda brasileira. É preciso pressa, é preciso disposição de superar os problemas estruturais, é preciso disposição efetiva de derrotar os inimigos. Noutras palavras, é preciso de um partido para tempos de guerra, orientado pela vontade de construir um mundo diferente.