O Instituto Lula realizou, no dia 5 de outubro de 2015, o debate “Bolívia: Dez anos de transformações políticas, étnicas e sociais”, do qual participou Álvaro García Linera, vice-presidente da Bolívia. O encerramento do debate foi feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Recomendo a todos/as que acessem a página eletrônica do Instituto Lula e escutem a íntegra do que foi dito por ambos, bem como pelo professor Marco Aurélio Garcia e pelos que fizeram perguntas.
O endereço é http://www.institutolula.org/vice-presidente-da-bolivia-apresenta-meritos-da-ousadia-em-sao-paulo
Como de costume, a grande imprensa não deu o destaque devido à fala de Alvaro Garcia Linera, que para além do que nos informa sobre a Bolívia, contém elementos muito interessantes para uma análise da ação do PT no governo federal desde 2003 até hoje.
O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, preferiu destacar frases de Lula sobre o trabalho internacional do PT e sobre o Foro de São Paulo.
O texto do Estadão está aqui: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,lula-critica-foro-de-sao-paulo-e-propoe-nova-organizacao-de-esquerda,1774965
Segundo o jornal, Lula disse que "Faço o mea culpa. O PT não soube transformar em grandeza de política internacional aquilo que fizemos aqui no Brasil. O PT poderia ter feito muito mais. Nós ficamos só no Foro de São Paulo e cada vez com gente menos importante comparecendo. Temos que criar um instrumento na América Latina para unificar as forças de esquerda".
Sugiro que as pessoas ouçam, no http://www.institutolula.org/vice-presidente-da-bolivia-apresenta-meritos-da-ousadia-em-sao-paulo, o conjunto do raciocínio desenvolvido por Lula, que tem nuances importantes que a transcrição/edição feita pelo Estadão não captou.
Com ou sem nuances, não foi a primeira vez em que ouvi esta linha de raciocínio. Pelo menos em uma oportunidade -- em reunião realizada no próprio Instituto, creio que em 2011-- tive a oportunidade de explicar para o próprio Lula minha divergência a respeito.
Resumidamente, penso o seguinte: podemos discutir os motivos, mas é evidente que o PT poderia e deveria ter feito muito mais no terreno internacional, assim como poderia e deveria ter feito muito mais no sentido de criar uma consciência e uma prática internacionalista em camadas mais amplas do povo brasileiro e da própria militância petista.
Entretanto, a não ser que voltemos aos tempos do "partido guia", há limites e procedimentos que precisam ser respeitados, o que torna inatingíveis e inclusive contraproducentes determinadas expectativas implícitas tanto no raciocínio de Lula, quanto em queixas similares que ouvi de Hugo Chávez, entre outros.
Ademais, é importante lembrar que há muitos aspectos -- tanto positivos quanto negativos-- da experiência petista e da experiência de governos encabeçados pelo PT que simplesmente não são "exportáveis". O mesmo vale para outros partidos e outras experiências latino-americanas e caribenhas.
Assim, transformar "em grandeza de política internacional aquilo que fizemos aqui no Brasil" supõe mediações que precisariam ficar muito claras, evitando o que considero ser um tratamento ligeiro e propagandístico do assunto, com desdobramentos práticos negativos.
Outro assunto que não merece tratamento ligeiro e superficial é o Foro de São Paulo. Similar ao caso do Partido dos Trabalhadores, o melhor sinal da importância passada, presente e futura do Foro de São Paulo é o ódio devoto da direita.
Claro que o Foro precisa adaptar-se aos tempos. Claro, também, que o Foro não é e nunca pretendeu ser o único espaço de organização das esquerdas e forças progressistas da América Latina e Caribe. Claro, finalmente, que os partidos de governo necessitam de mecanismos específicos de articulação.
Mas se tem algo que aprendi, nos cerca de nove anos em que -- por decisão do meu partido, o Partido dos Trabalhadores -- acompanhei o Foro de São Paulo, é que ele é (Churchill que me perdoe) a pior forma de organização imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas.
Infelizmente, como se viu no evento do Instituto Lula, não tive êxito em convencer o ex-presidente. Mas vou continuar insistindo.
Recomendo a todos/as que acessem a página eletrônica do Instituto Lula e escutem a íntegra do que foi dito por ambos, bem como pelo professor Marco Aurélio Garcia e pelos que fizeram perguntas.
O endereço é http://www.institutolula.org/vice-presidente-da-bolivia-apresenta-meritos-da-ousadia-em-sao-paulo
Como de costume, a grande imprensa não deu o destaque devido à fala de Alvaro Garcia Linera, que para além do que nos informa sobre a Bolívia, contém elementos muito interessantes para uma análise da ação do PT no governo federal desde 2003 até hoje.
O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, preferiu destacar frases de Lula sobre o trabalho internacional do PT e sobre o Foro de São Paulo.
O texto do Estadão está aqui: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,lula-critica-foro-de-sao-paulo-e-propoe-nova-organizacao-de-esquerda,1774965
Segundo o jornal, Lula disse que "Faço o mea culpa. O PT não soube transformar em grandeza de política internacional aquilo que fizemos aqui no Brasil. O PT poderia ter feito muito mais. Nós ficamos só no Foro de São Paulo e cada vez com gente menos importante comparecendo. Temos que criar um instrumento na América Latina para unificar as forças de esquerda".
Sugiro que as pessoas ouçam, no http://www.institutolula.org/vice-presidente-da-bolivia-apresenta-meritos-da-ousadia-em-sao-paulo, o conjunto do raciocínio desenvolvido por Lula, que tem nuances importantes que a transcrição/edição feita pelo Estadão não captou.
Com ou sem nuances, não foi a primeira vez em que ouvi esta linha de raciocínio. Pelo menos em uma oportunidade -- em reunião realizada no próprio Instituto, creio que em 2011-- tive a oportunidade de explicar para o próprio Lula minha divergência a respeito.
Resumidamente, penso o seguinte: podemos discutir os motivos, mas é evidente que o PT poderia e deveria ter feito muito mais no terreno internacional, assim como poderia e deveria ter feito muito mais no sentido de criar uma consciência e uma prática internacionalista em camadas mais amplas do povo brasileiro e da própria militância petista.
Entretanto, a não ser que voltemos aos tempos do "partido guia", há limites e procedimentos que precisam ser respeitados, o que torna inatingíveis e inclusive contraproducentes determinadas expectativas implícitas tanto no raciocínio de Lula, quanto em queixas similares que ouvi de Hugo Chávez, entre outros.
Ademais, é importante lembrar que há muitos aspectos -- tanto positivos quanto negativos-- da experiência petista e da experiência de governos encabeçados pelo PT que simplesmente não são "exportáveis". O mesmo vale para outros partidos e outras experiências latino-americanas e caribenhas.
Assim, transformar "em grandeza de política internacional aquilo que fizemos aqui no Brasil" supõe mediações que precisariam ficar muito claras, evitando o que considero ser um tratamento ligeiro e propagandístico do assunto, com desdobramentos práticos negativos.
Outro assunto que não merece tratamento ligeiro e superficial é o Foro de São Paulo. Similar ao caso do Partido dos Trabalhadores, o melhor sinal da importância passada, presente e futura do Foro de São Paulo é o ódio devoto da direita.
Claro que o Foro precisa adaptar-se aos tempos. Claro, também, que o Foro não é e nunca pretendeu ser o único espaço de organização das esquerdas e forças progressistas da América Latina e Caribe. Claro, finalmente, que os partidos de governo necessitam de mecanismos específicos de articulação.
Mas se tem algo que aprendi, nos cerca de nove anos em que -- por decisão do meu partido, o Partido dos Trabalhadores -- acompanhei o Foro de São Paulo, é que ele é (Churchill que me perdoe) a pior forma de organização imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas.
Infelizmente, como se viu no evento do Instituto Lula, não tive êxito em convencer o ex-presidente. Mas vou continuar insistindo.
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