quarta-feira, 5 de junho de 2013

Palestra em Santiago de Compostela


Los sujetos políticos y La construción de alternativas de izquierda
31 de maio de 2013

Este seminário faz parte de um programa de cooperação entre o Foro de São Paulo e o Partido da Esquerda Européia.
Nosso ponto de partida deve ser sempre a “análise concreta da situação concreta”.
Conjuntura histórica marcada pela 1) crise global, pelo 2) declínio da hegemonia dos Estados Unidos, pela 3) emergência de novos pólos de poder mundial, pela 4) instabilidade e por conflitos políticos, sociais e militares cada vez mais intensos e perigosos.
Quais os desfechos? Depende da luta entre forças políticas e sociais, dentro de cada país; e da luta entre Estados e blocos regionais, em âmbito mundial.
Estes são os “sujeitos políticos”.
América Latina e Caribe sofrem os efeitos desta situação mundial, mas ao mesmo tempo constitui uma região marcada pela presença de movimentos sociais, partidos políticos e governos que não apenas têm conseguido reduzir os impactos da crise, como também têm conseguido implementar políticas públicas e colher resultados práticos que constituem inspiração e esperança para amplos setores da humanidade.
E temos conseguido construir caminhos diferenciados de integração, por exemplo com a Unasul e a Celac.
E isto porque recusamos as políticas “austeritárias”.
Isto ocorre apesar da geralmente brutal resistência das elites locais e de seus aliados, notadamente as classes dominantes de Estados Unidos e Europa.
Esta resistência assume a forma de uma contra-ofensiva ideológica, política, econômica e militar, de que são mostra os golpes em Honduras e no Paraguai, as bases militares instaladas na região e o relançamento da IV Frota dos EUA, o cerco contra a Venezuela e a continuidade do bloqueio contra Cuba, a criação do chamado Arco do Pacifico e os tratados transoceânicos, assim como a pressão judicial e midiática sobre todos os governos progressistas e de esquerda da região, a começar pelo Brasil e Argentina
A história nos ensina a não confiar, nem subestimar, o imperialismo e o capitalismo. Embora a crise seja profunda, o capitalismo já demonstrou ter um fôlego surpreendente, equivalente a sua capacidade de destruir a natureza e a humanidade.
Percebe-se este fôlego na América Latina, onde apesar das vitórias parciais obtidas pela esquerda, as forças conservadoras, neoliberais e capitalistas mantêm sua hegemonia no terreno econômico-social, o controle das instituições internacionais e do poderio militar, além de conservar o governo nacional em importantes países da região.
Embora costumem lançar mão, cedo ou tarde, da violência militar, as classes dominantes de cada um de nossos países e o imperialismo investem cotidianamente na luta política e ideológica, para o que contam com um imenso aparato educacional, uma indústria cultural potente e o oligopólio da comunicação de massas.
A partir destas plataformas, buscam entre outros objetivos manipular a seu favor as diferenças estratégicas e programáticas existentes entre os governos, partidos e movimentos empenhados no “giro à esquerda” que nosso subcontinente vive desde 1998.
Alguns destes governos, partidos e movimentos declaram abertamente seu objetivo de construir o socialismo.
Outros trabalham, assumidamente ou não, pela constituição de sociedades com alta dose de bem-estar social, democracia política e soberania nacional, mas nos marcos do capitalismo.
Importantes setores, embora integrantes de partidos de esquerda, adotam premissas neoliberais e dedicam-se a combater, como inimigo principal, o que chamam de “populismo”.
Há também profundas diferenças estratégicas acerca das formas de luta e vias de tomada do poder, bem como sobre qual deve ser a relação dos governos eleitos com as classes dominantes de cada país, da Europa e dos Estados Unidos. Igualmente são distintas a visão e a postura frente aos chamados BRICS.
Tais diferenças programáticas e estratégicas tornam particularmente complexo o debate sobre a natureza e o papel dos governos encabeçados por presidentes integrantes dos partidos de esquerda e progressistas de nossa região.
Neste debate, há desde aqueles que manifestam o temor de que nossos governos tentem colaborar na construção de um novo ciclo histórico, sem que existam as condições econômicas, políticas e ideológicas necessárias para enfrentar com sucesso as classes dominantes; até aqueles que alertam sobre o risco de nossa presença nos governos não contribuir para alterar as estruturas mais profundas de nossas sociedades e do conjunto da América Latina, o que resultaria numa desmoralização que abriria caminho para a direita recuperar a cabeça dos respectivos governos nacionais.
Para construir respostas adequadas para este tipo de debate, a esquerda latino-americana precisará construir soluções novas, para situações igualmente novas.
Recusar o 1) pensamento neoliberal, o 2) conservadorismo em geral, o 3) social-liberalismo e o 4) melhorismo.
Recusar também a impotência esquerdista (poucos mas bons), o movimentismo (neoliberalismo de esquerda), o pachamismo (todo desenvolvimento é ruim), o milenarismo (tudo ou nada) e a vocação ao martírio.
Novamente insistir na ideia da análise concreta, como orientação para a ação política.
Isto começa enfrentando nosso triplo “déficit teórico”: a análise do capitalismo do século XXI; o balanço das experiências socialistas, social-democratas, desenvolvimentistas e nacionalistas do século XX; e a discussão sobre como articular, numa estratégia continental unitária, as diferentes estratégias nacionais e variantes da transição socialista.
Apesar do déficit teórico, não é certo que tudo seja incerto. A classe trabalhadora continua sendo o “sujeito” fundamental. Claro que plural, com gênero, com diferenças geracionais, étnicas... mas classe trabalhadora.
Até porque as imensas contradições que existem no mundo, hoje, não podem ser solucionadas pelos interesses privados representados por um pequeno número de poderosos Estados e governos.
A solução de fundo exige o controle social das riquezas geradas socialmente.
Soluções públicas e sociais para problemas que são públicos e sociais, embora causados por interesses privados.
É verdade que as forças socialistas ainda estão na defensiva, o que tem múltiplas explicações, sociológicas, políticas, teóricas.
Mas se não rompermos com esta situação, podemos ter ou mais do mesmo ou até mesmo uma grande catástrofe.
Isto exige política, organização, luta pelo poder, teoria como guia para ação. Se teremos êxito ou não, não sabemos. Mas o pior que pode acontecer conosco é não tentar, com todas as nossas forças, aproveitar a atual situação para colocar o mundo de ponta cabeça.
Por isto o esforço de organizar os migrantes, especialmente os latinoamericanos e caribenhos, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
Por isto o Foro de São Paulo, a cujo próximo encontro estão convidados. E convidadas!



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