O Partido da Causa Operária é um fenômeno assaz curioso.
Os mais antigos lembram da relação tumultuada da Causa Operária com o Partido dos Trabalhadores, quando a Causa tentava atuar como uma tendência do PT.
Quem quiser saber mais a respeito desta época, pode ler aqui:
https://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/40121/20910/
Depois de não ser reconhecida como tendência interna do PT, a Causa Operária lutou por transformar-se em Partido, conseguindo registro no TSE em 1997.
Deste então, muita água passou por debaixo da ponte.
Quem faz parte da tradição trotskista ou acompanha suas polêmicas, sabe que o PCO sempre foi objeto de muita controvérsia.
Sugiro a quem quiser saber mais a respeito do PCO e da tradição "nacional trostkista" ler Osvaldo Coggiola e Valério Arcary.
Parte da controvérsia envolvendo o PCO lembra o MR8 quercista e as estridentes posições adotadas pelo jornal Hora do Povo.
Um exemplo das posições estridentes (e profundamente equivocadas) do PCO pode ser visto aqui:
https://www.causaoperaria.org.br/o-partido-da-imprensa-golpista-contra-neymar-e-a-selecao/
Outro exemplo é a defesa que Rui Costa Pimenta, presidente nacional do PCO, fez do papel histórico dos bandeirantes.
Esta defesa aconteceu no dia 27 de julho, em uma live do Brasil 247, plataforma a partir da qual Rui Costa Pimenta divulga cotidianamente sua “análise política”.
Quem quiser assistir a íntegra, pode ver aqui:
https://www.brasil247.com/brasil/bandeirantes-foram-instrumento-do-progresso-nacional-diz-rui-costa-pimenta
Segundo Pimenta, defumar Borba Gato foi algo “sem pé, nem cabeça. Tem que lutar contra a opressão que existe no mundo hoje. Porque você vai atacar um cidadão que morreu em 1718?”
Pimenta é um cara curioso. Ele acha normal elogiar Júlio César, que morreu em 15 de março de 44 “antes de Cristo”, mas acha “sem pé, nem cabeça” atacar um bandeirante "que morreu em 1718".
O caso é que “a opressão que existe no mundo hoje” inclui variáveis econômicas, políticas, militares e... culturais.
Convencer as pessoas que o Brasil foi “descoberto”, exaltar o papel “progressista” dos bandeirantes e estimular o patriotismo paulista contribui na opressão.
O problema é que Pimenta tem uma tese.
A tese dele no dia 27 de julho era a seguinte: “os grupos identitários que promoveram isso aí, com toda a segurança do mundo, não foi nenhum grupo periférico, não foram jovens da periferia irados, é uma política que vem da universidade, uma política de intelectuais pequeno burgueses... Revolução periférica foi para dar um ar popular para a coisa... Golpe de marketing”.
“Com toda a segurança do mundo” hoje podemos dizer que as afirmações feitas por Pimenta no dia 27 de julho estavam erradas.
O “identitarismo” existe e, na minha opinião, pode e deve ser criticado.
Mas a crítica de Pimenta é equivocada, pois conduz a tratar e atacar como sendo “identitária” toda e qualquer luta contra a opressão sobre negros e negras, sobre indígenas, sobre as mulheres, sobre os LGBT+.
Evidentemente, defumar Borba Gato foi uma operação que pode e deve ser analisada e criticada politicamente.
Podemos concordar ou não com o que foi feito, podemos achar que foi feita no dia certo ou não, da forma certa ou não.
Mas Pimenta, igual a Aldo Rebelo, Renato Rovai e Gilberto Maringoni, vai além da análise política e embarca numa digressão histórica.
Segundo Pimenta: “Criaram um mito, um judas de malhação, os bandeirantes. Não sei por que direito eles selecionaram os bandeirantes, que teriam sido os vilões da história do Brasil, os menos vilões são esses aí”.
Pimenta pode achar a resposta em... Pimenta.
Afinal, o “porquê” aparece quando o próprio Pimenta deixa escapar a seguinte frase: “Eu sou paulista e paulistano, aqui em SP o bandeirantismo é o símbolo do estado de São Paulo”.
Este é o porquê: a classe dominante criou um mito e as classes dominadas precisam enfrentar este mito.
Pimenta não entende o porquê disto, pelo simples fato de que “ele é paulista e paulistano e aqui em SP o bandeirantismo é o símbolo do estado”.
O entusiasmo de Pimenta fica claro na sequência de sua argumentação: “Napoleão é uma pessoa crucial na história da humanidade ... foi um fator de progresso”. E o que foram os bandeirantes, também segundo Pimenta? Um fator de progresso!
O chouvinismo é mesmo uma praga, embora as vezes soe meio ridículo, como me parece ser o caso de quem discute Borba Gato à luz de Bonaparte.
Mas como a história real é muito cruel, Pimenta tem que se refugiar no seguinte raciocínio: “Os bandeirantes são figuras contraditórias.... Não se sabe muito bem o que os bandeirantes fizeram ou foram.... Precisaria de uma pesquisa maior”.
Claro que tudo merece uma pesquisa maior.
Mas qualquer um que conheça a história - por exemplo do Quilombo dos Palmares - sabe o que foram e o que fizeram os bandeirantes.
Como diz Pimenta, “a construção da nação também é luta de classes, tudo é luta de classes”.
E ao contar a história, também assumimos um lado.
De que lado Pimenta está? De Palmares ou dos bandeirantes?
Pimenta afirma que “a construção da nação brasileira, um país deste tamanho, é em certo sentido produto da luta de classes, é um progresso que foi alcançado apesar de toda pressão contrária... Para o colonialismo, para o imperialismo, o ideal é que as nações oprimidas sejam pequenas e fracas... O Brasil é um país grande e isso é um progresso muito grande... A obra dos bandeirantes e eles não tinham consciência disso, a expansão foi um progresso muito grande, eles foram instrumentos do progresso econômico nacional, abriram caminho para a construção do Brasil, sem o Brasil a América Latina seria muito mais oprimida do que é hoje, o Brasil é um estorvo para a dominação política, como a China, como a Índia”.
Como se vê, na hora de criticar os bandeirantes, Pimenta diz que falta pesquisa histórica.
Mas na hora de defender os bandeirantes, lança mão dos lugares comuns ensinados pela elite de São Paulo: “os bandeirantes foram instrumentos do progresso” e o progresso consiste em ser "grande".
Big is beautiful!
Minúsculos out!!
Esta maneira de compreender o passado e a geopolítica mistura várias coisas.
Vou falar de uma.
O fato de que o “progresso” -até o momento – ser em grande parte resultado de sangue, de lama, de suor e de sofrimento, inclusive de exploração e de opressão não pode nos conduzir a aplaudir e apoiar e ficar do lado dos que oprimiram e exploraram as classes e povos dominados do passado.
Os bandeirantes foram instrumentos de um determinado tipo de “progresso”, não do único progresso possível, nem do melhor progresso do mundo; e a exaltação contemporânea dos bandeirantes também está a serviço de um determinado tipo de “progresso”.
Quem não consegue enxergar isso é porque se deixou engolir pelo objetivismo (ou, mais simplesmente, pela cultura non ducor duco da burguesia paulista).
Pimenta diz que a “maior parte da população é indiferente a estas coisas... A cultura oficial indispõe o povo... Você vê a louvação dos governos, a escola indispõe as pessoas com a cultura nacional, porque tudo é apresentado de uma maneira muito ruim, muito separada da cultura da população... E nós temos uma cultura de uma parte da esquerda que é de procurar mostrar que tudo que aconteceu no Brasil é a pior coisa do mundo... seria melhor não existir o país”.
O “bandeirantismo” – o progresso como resultado da violência e da predação por parte das elites, assim como a cultura de que São Paulo seria superior ao restante do país – são muito influentes na cultura popular paulistana.
Não é por acaso que desde 1982 a esquerda nunca conseguiu ter maioria na eleição para o governo do estado.
Uma parte do povo percebe que esta cultura bandeirante está a serviço das elites.
E isso acontece apesar de uma “parte da esquerda” e a classe dominante serem cúmplices na exaltação dos valores dominantes, como ficou explícito neste episódio da defumação de Borba Gato.
Curiosamente, Pimenta atribui a “uma parte da esquerda” uma atitude enraizada na classe dominante: afinal, vamos combinar, quem não gosta do nosso povo é quem gosta de viver em Miami, quem acha que precisamos de tutela militar.
E quem pensa assim aplaude os bandeirantes do passado e a polícia militarizada do presente, afinal “contra a negrada, contra os bugres, contra os selvagens”, só com cuspe, porrada e bala.
Mostrando como as pessoas são complexas, Pimenta faz um ataque ao pacifismo e ao mesmo tempo aplaude o bandeirantismo.
De certa forma, comete o mesmo equívoco de Rovai, ao equiparar a defumação de Borba Gato com os ataques a Paulo Freire.
O equívoco de Pimenta é: em nome de defender o direito à violência por parte dos oprimidos, “passa o pano” na violência cometida no passado pelos opressores.
E tudo isto em nome de combater... o imperialismo!
Segundo Pimenta, “grupos identitários são uma organização política concreta que atua no país, são instrumentos do imperialismo, é uma política fomentada e financiada pelo imperialismo”.
E como - também segundo Pimenta - o imperialismo não gosta de nações grandes, como o Brasil é uma nação grande, como os bandeirantes contribuíram para construir uma nação grande, logo... criticar os bandeirantes seria estar a serviço do imperialismo.
Há passagens interessantes na live de Pimenta, destacadamente sua crítica à Polícia Militar.
Mas não faz o menor sentido criticar a PM e defender o papel progressista dos que deram nome à famigerada Operação Bandeirantes.
A turma da Oban entendia de história prática.
E sabia muito bem de que lado Borba Gato está na "verdadeira luta de classes" de que fala Pimenta.
Texto definitivo, escrito com maestria. Pura realidade.
ResponderExcluirTexto pedagógico em tempos de variantes dos discursos
ResponderExcluirAplausos
A valiosa contribuição do PCO está na capacidade de impulsionar movimento de luta.
ResponderExcluirA maior parte da população é indiferente a essas coisas, porque a maior parte da população não têm acesso à Educação. Exatamente, essa maior parte é a que eles querem que continue com as rédeas, da obediência. A ignorância contribuem para isso.
ResponderExcluirA esquerda não sabe como lidar com o Galo, e até com o Constantine....a linguagem deles escapa dos formais
ResponderExcluirO Borba Gato e outros foram os agentes históricos de descoberta das Minas Gerais. Ali, foi fundada uma cidade, Vila Rica, onde floresceu a arte barroca brasileira e onde as idéias políticas libertárias, como abolição e independência política, tiveram máxima expressão no século XVIII. Segundo Valter Pomar, isso não foi um progresso, porque os bandeirantes cometeram crimes horrendos. Porém, como gosta de falar o próprio Valter, "aquilo" deu "nisso".
ResponderExcluirNão dá para ser moralista em história, porque, para quem é marxista (precisa ver se o Valter é teológico ou idealista ao invés de materialista), as pessoas não fazem o que querem, elas estão agindo sempre sob a necessidade histórica. Elas não escolhem ser escravas ou senhores de escravos, ninguém escolhe ser proletário ou burguês, ninguém escolhe ser índio ou bandeirante. E se não há escolha, não há como haver moralidade envolvida. Confunde-se o indivíduo (que, do ponto de vista religioso, pode ser um santo ou um demônio) com o PAPEL DO INDIVÍDUO NA HISTÓRIA, isso sim, muito significativo historicamente, e nada moral. Aqui se coloca a questão: devemos entender a diferença entre quem ativamente agiu para CONSTRUIR o Brasil e quem agiu para DESTRUIR o Brasil, ou essa diferenciação pouco importa frente a uma contabilidade dos horrores e pecados individuais?
Não sei, Valter preferia que todos tivessem feito uma ciranda, redigido um código de ética e um tratado de direitos, e depois feito uma assembleia para decidir como construir o Brasil? Isso é ao menos realista? O bandeirante não tem um papel na formação nacional brasileira? Idependentemente da baboseira que a elite paulista venha a dizer?
A desonestidade intelectual MASTER BLASTER (1): Rui Pimenta contribui para a dominação da elite paulista ao dizer essas coisas. Não dá sequer para aceitar que alguém que orienta uma política de luta REAL contra a elite paulista dia após dia seja acusado aqui, por um PT totalmente invertebrado, de contribuir com a dominação paulista. Rui diz que Boulos vai fazer aliança com o PDT para o governo do estado e vai dividir o voto do Haddad, e assim eleger alguém de direita em São paulo em 2022. Mas o PT, ao invés de olhar pra isso aí, diz que o Rui contribui com o domínio do PSDB. Tudo muito desonesto e desorientado mesmo. PCO é o partido que mais combate o PSDB paulista (inclusive, nas vias de fato).
A desonestidade intelectual MASTER BLASTER (2): O PCO pede o FIM DA POLÍCIA MILITAR há décadas, e o Valter Pomar, que não defende nada disso, vem dizer que o PCO defende o domínio militar sobre a população ao dizer que os bandeirantes tiveram um papel importante na formação nacional.
A história é o que é. Podemos dizer: os bandeirantes escravizaram índio, massacraram Palmares, decapitavam e cortavam orelhas, faziam horrores, MAS foram os personagens que fizeram o que os outros não fizeram: fundaram o Brasil como país na prática, por conta própria, à revelia da vontade da Coroa portuguesa. Estou mais com Darcy Ribeiro (que ninguém pode chamar de direitista ou anti-indígena), que escreveu um livro maravilhoso expondo o horror e a maravilha da formação do Brasil, sem cair em moralismos baratos, do que com Valter Pomar, moralista e desonesto politicamente.
PCO é um partido de luta! PT deveria se ligar no que importa ao invés de cair nesse pântano político, que levou o partido a ficar totalmente apático frente à derrubada da Dilma, prisão do Lula, e da fraude eleitoral de 2018, enquanto o PCO se mexeu, fez e aconteceu.
Parabéns companheiro! Vida longa ao PCO!
ExcluirPerfeita a argumentação ao texto no minimo maldoso do autor.
Excluir“Sugiro a quem quiser saber mais a respeito do PCO e da tradição "nacional trostkista" ler Osvaldo Coggiola e Valério Arcary.”
ResponderExcluir1-Esquisito. Não sei quanto ao Coggiola… mas pra entender o PCO ler Valério Arcary não faz sentido. O Rui inclusive considera o Arcary uma aberração. É do PSTU. É uma política frontalmente oposta ao PCO Realmente, não entendi essa colocação.
Correção: Arcary é do PSOL. Foi do PSTU e é um dos quadros de quando o partido se espatifou e seus estilhaços caíram no PSOL.
Excluir“Parte da controvérsia envolvendo o PCO lembra o MR8 quercista e as estridentes posições adotadas pelo jornal Hora do Povo. “
ResponderExcluir2-Eu não sei exatamente sobre essas posições… mas eu sei que o PCO não compactua c/ elas. Rui inclusive já falou que o MR-8 era um grupelho de gente envolvida com a polícia militar, de direitistas, gente que foi desembocar no PMDB. Uns dias atrás inclusive li também o Válter falando mal do MR8 (mas o tema não era o MR8.) Mas enfim… queria saber de que forma parece o MR8.
“Um exemplo das posições estridentes (e profundamente equivocadas) do PCO pode ser visto aqui.” (colocam a questão Neymar)
ResponderExcluir3- Essa questão de perseguição à seleção nesse ano ficou bem clara, né? Agora que a Globo havia perdido os direitos p/ SBT, ficou claríssimo a posição de ataque que assumiu contra a seleção. E isso aí é uma coisa que as pessoas fora dos partidos perceberam… por exemplo, das pessoas apaixonadas por futebol e esquerdistas, há quem veio comentar comigo que a única posição de um partido de esquerda que gostou sobre a seleção foi a do PCO. Se a gente não pudesse torcer pra seleção porque o pessoal votou no Bolsonaro, nossa, a gente não podia nem falar que é pentacampeão, ganhamos o tri todo durante a ditadura militar, com jogador conivente com general… etc. Mas sobre a questão do Neymar, especificamente. Maradona pego no doping? Marcado p/ resto da carreira. Suárez morde alguém? Toma um gancho gigantesco das seleções, fica mal afamado, etc, etc, etc. Agora, jogador na Europa é racista, faz gesto nazista, faz gesto supremacista? Multa, 2 semanas de descanso, ninguém fala mais nisso. É bastante claro como o futebol sul-americano é tratado e como os europeus são tratados… por eles mesmos.
"Pimenta é um cara curioso. Ele acha normal elogiar Júlio César, que morreu em 15 de março de 44 “antes de Cristo”, mas acha “sem pé, nem cabeça” atacar um bandeirante "que morreu em 1718"."
ResponderExcluir4-Aqui é uma má vontade do Valter, hein? Elogiar e falar mal de alguém que morreu há qualquer tempo que for, é natural. Mas essa comparação foi esdrúxula, né? Porque não foi um elogio e uma crítica. Foi um elogio e uma crítica à determinada campanha política. A questão do Borba Gato não foi que alguém criticou e ficou por isso. Foi lançada uma campanha, né? Cartazes de “você sabe quem foi borba gato?”, atearam fogo na estátua, o Paulo Galo deu entrevista falando “queria levantar um debate. Agora as pessoas decidem se querem a estátua de um estuprador ou não”. Faz bastante diferença, né? Teria sido mais inteligente ao Válter criticar no sentido de Rui diz que não tem porquê levantar a questão Borba Gato, mas achar válido discutir Stálin. Algo nesse sentido, tentar explorar algo assim. Essa comparação não fez sentido nenhum.
"O entusiasmo de Pimenta fica claro na sequência de sua argumentação: “Napoleão é uma pessoa crucial na história da humanidade… foi um fator de progresso”. E o que foram os bandeirantes, também segundo Pimenta? Um fator de progresso!"
ResponderExcluir5-Eu discordo um pouco do Rui aqui… no sentido que identificar algo como fator de progresso não implica defender tal coisa. P.ex., pro marxismo a escravidão foi um fator de progresso. Mas isso não significa em nenhuma medida que devemos defender a escravidão, né?
"O fato de que o “progresso” -até o momento – ser em grande parte resultado de sangue, de lama, de suor e de sofrimento, inclusive de exploração e de opressão não pode nos conduzir a aplaudir e apoiar e ficar do lado dos que oprimiram e exploraram as classes e povos dominados do passado. Os bandeirantes foram instrumentos de um determinado tipo de “progresso”, não do único progresso possível, nem do melhor progresso do mundo; e a exaltação contemporânea dos bandeirantes também está a serviço de um determinado tipo de “progresso”."
ResponderExcluir6-Eu realmente discordo dessa questão do “determinado tipo de progresso, não do único progresso possível”. Gente, a Grécia, por exemplo, que todos sabemos que é o berço do ocidente, que promoveu o maior progresso cultural, etc. Influenciou os maiores impérios posteriores e continua a nos influenciar… gente, a Grécia era um regime escravagista. Duríssimo. Monstruoso. Mas foi um fator de progresso p/ humanidade. Reconhecer a Grécia como um motor de progresso não seria tomar o lado dos opressores. Isso é um fato histórico, determinado. Marx inclusive nunca perfumou essa questão. Reconhecer a dureza, o sofrimento, etc, nunca implicou deslegitimar o progresso. Ex., o capitalismo. Foi uma força progressista. A crítica de Marx/Engels ao capitalismo não se trata somente das condições de vida das pessoas, mas porque enxergaram que o capitalismo não era mais uma força progressista, seria um entrave, já no século XIX, pro desenvolvimento da humanidade. Marx no manifesto comunista inclusive critica os românticos alemães, porque fala que apesar de fazerem críticas à sociedade burguesa, as críticas não passam do sentimentalismo… não tinham ciência. Enfim, achei ruim essa posição. Não marxista.
E como - também segundo Pimenta - o imperialismo não gosta de nações grandes, como o Brasil é uma nação grande, como os bandeirantes contribuíram para construir uma nação grande, logo... criticar os bandeirantes seria estar à serviço do imperialismo.
ResponderExcluir7- De fato, o imperialismo não gosta de nações grandes. Mas não é um meramente não gosta. O imperialismo sempre age no sentido de limitar o desenvolvimento das nações grandes. Age no sentido de manter as nações grandes de baixo do seu guarda-chuva. Mas criticar os bandeirantes não é estar a serviço do imperialismo porque eles expandiram o país, uai… Não se trata disso. Se trata de estar a serviço do imperialismo porque é assumir uma política identitária que tá sendo empregada lá fora p/ desmobilizar as pessoas. Mas nesse sentido, até dou razão ao Valter em querer criticar, porque o Rui precisa ser muito claro sobre isso que ele tá falando.
Comentário final: em geral, eu achei que o Válter tem suas razões em *querer* criticar a posição do Rui, porque p.ex, eu particularmente não acho que o Rui devia ter feito essa defesa histórica aos bandeirantes p/ poder ir contra a queima da estátua. Acho que uma coisa está desvinculada da outra. Mas citei alguns pontos que mostram que a crítica do Valter não para de pé... Inclusive, explorou muito a crítica de Renato Rovai, que foi uma crítica à direita.
ResponderExcluirà direita no sentido de se guiar pela direita na crítica
ResponderExcluirAcompanho com certa tristeza a decadência política do Valter Pomar.... Há algum tempo atrás, fazia críticas políticas tão boas, hoje é essa coisa incongruente e inconsistente.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirNão consigo entender esse negócio de progresso do país, com escravidão, com massacre de índios etc. Esse progresso só serviu para os ricos.
ResponderExcluirVocê acha então que os progressos dos últimos 10.000 anos só beneficiaram as classes dominantes? A agricultura não te beneficiou? O avanço na medicina não te beneficiou? A eletricidade e a eletrônica não te beneficiaram? Porque tudo isso foi progresso adquirido em cima de MUITA exploração econômica.
ExcluirÉ evidente que o progresso serviu de forma desbalanceada. Mas o progresso produtivo e o progresso tecnológico (a forma pela qual o ser humano domina a natureza) foi inegável. Essa questão da escravidão enquanto um progresso numa determinada época ou o capitalismo enquanto progresso até o século XVIII não se envolve com a questão moral. É uma análise objetiva. Isso, por outro lado, não interfere na percepção da brutalidade, do sofrimento, da dor, dos genocídios, etc, dos modos de produção.
ExcluirGente, vejam a expectativa de vida hoje e vejam a expectativa de vida, mesmo entre os ricos, lá atrás... tudo isso tem a ver com o desenvolvimento das formas de domínio sobre a natureza que a humanidade construiu ao longo da sua existência. Seja na questão alimentícia, seja medicinal, seja isso ou aquilo. O desenvolvimento é, porém, contraditório. Não preciso aqui discorrer sobre as contradições da escravidão, do feudalismo ou do capitalismo... Porém, reconhecer que o progresso é cheio de contradições não implica que não houve progresso. O progresso sem contradições só se dará através do socialismo e do comunismo.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBelo texto! Vou compartilhar!
ResponderExcluirEmbora não concorde com tudo que o RCP fale, eu compreendo que a retórica por ele adotada têm muito a ver com a "guerra silenciosa" que está ocorrendo nos bastidores da "esquerda" nacional. Uma parte, da qual ele faz parte, luta por um enfrentamento REAL contra a burguesia, e por consequência contra o GOLPE DO CAPITAL CONTRA O TRABALHO QUE ENFRENTAMOS. A outra parte... Bem sobre a outra parte meu espirito atual não permite raciocinar sobre isso sem alterar meu humor e começar a verbalizar palavrões. O essencial do que o RCP falou é que a escravidão foi basicamente um movimento econômico, se quiséssemos lutar contra isso deveríamos queimar a embaixada inglesa e seus bancos e lutar contra o sistema financeiro , ou seja, contra o próprio capitalismo. Se eles estivessem queimando a bandeira estadunidense ou inglesa eu apoiaria e compreenderia inteiramente que eles estariam de fato protestando contra o sistema que nos escravizou e escraviza até hoje, como o fato prático do governo Biden estar negociando com o governo Bolsonaro deixa claro para quem não quer ser cego ou desvirtuar o que é essencial e concreto. E não me venham dizer que seria demais esperar este tipo de consciência das pessoas envolvidas com a defumação. Pelo menos aquele que se apresentou é figura pública conhecida. A classe média pequeno burguesa tem de parar de tirar a população como otária. O fato é que o povo está farto da retórica de parte da esquerda e de seus acordos. PCdoB, Psol, PDT, Farsa Sindical e até alguns petistas juntos apoiando o PSDB na Avenida Paulista, é sério isso? São essas as entidades que querem ser respeitadas pelo povo? Justamente essas que sabotaram os atos de rua até agora e continuam fazendo, haja vista a marcação de atos para apenas setembro, isso é ridículo. Quando Mano Brown falou em ato petista que o PT se distanciou das bases quase todo mundo aplaudiu, no que eu até discordava na época pois achava que não era o momento oportuno e servia mais para ser usado pelos inimigos, mas é justamente isso que esses grupos estão gritando em alto e bom som neste momento, é um grito silencioso. O RCP têm uma tese e uma linha política clara, goste ou não, concorde ou não, é muito claro e transparente. Já não posso dizer o mesmo das outras agremiações políticas, aliás, eu afirmo peremptoriamente que algumas delas são na realidade uma farsa montada por iludidos ou carreiristas (e nisso, eu que discordo de 99% do que diz o Aldo, concordo com o que foi dito por ele). E eu sinto muito que um valoroso companheiro como aquele que se entregou se perdeu nas retóricas falaciosas destes grupos, ao mesmo tempo que percebo que a "oposição de fato" não se apresentou como uma alternativa a ele. Alguém que verbaliza muito bem essa situação é o youtuber Chavoso (também não concordo com todas as suas retóricas), a população está cansada com a guerra de mentirinha. Mas apoiar a defumação seria como apoiar alguém que atacasse uma padaria dizendo que está atacando o sistema burguês. O companheiro Antônio Carlos do PCO esclareceu muito bem essa situação, ele disse: "nós queremos derrubar o governo Bolsonaro, se a estátua estiver no meio do caminho nós a derrubaremos também...". Mas como sabemos nem todos querem derrubar o Bolsonaro.
ResponderExcluirMuito interessante, companheiro!
ExcluirSe Valter Pomar prova algo com esse artigo, é que ele não é um historiador marxista. Dá cursos sobre o Capital e tudo, mas não passou na prova dos nove. Em vez de ter uma concepção materialista da história, partiu pro moralismo. Além disso, está equivocado. Brasil, China, Rússia, Índia, e os países minúsculos da América Central, é tudo a mesma coisa, não é? Nenhuma diferença do ponto de vista da luta contra o imperialismo, né?
ResponderExcluirAgradeço ao debate e aprendo muito tanto com o Valter como com o Rui. Mas vocês complicam muito, e desnecessariamente. É simples: a história é contraditória. Exagerar no moralismo turva o entendimento. Os bandeirantes foram cruéis? É impossível responder a isso sem cair em: (1) uma trilha infinita e inútil de julgamentos similares, remontando aos faraós, aos sumérios e sei lá mais quem; e (2), sem cometer anacronismos e incorreções. Afinal, foram cruéis para quem, sob que valor, sob que olhar? Mas vamos assumir que foram, pois capturaram índios. Isso é excludente com o fato de terem sido um fator de progresso? É claro que não. Em outras palavras: foram uns grandes filhos da puta, mas inconscientemente, contribuíram para fatores de progresso.
ResponderExcluirSó concordo com o Valter que a crítica a isso deve ser feita, e realmente, fica muito confusa a maneira que o Rui coloca, que pode ser tecnicamente materialista, mas pra cabeça comum fica parecendo que está defendendo maldades e atrocidades. Porém eu sempre entendi essa maneira do Rui colocar como a de um polemista, que quer fomentar o debate. Mas talvez fosse melhor deixar mais claro, que sim, somos humanistas com sensibilidade ao sofrimento humano (por mais demagógico ou moralista que isso possa soar, mas é necessário deixar claro).
As nações imperialistas são muito mais espertas neste ponto. Recentemente foi o aniversário de morte do Napoleão, e como símbolo nacional, eles acabam protegendo muito isso. As polêmicas acabam ficando bem diluídas. Eles assumem um papel crítico, mas mantém o símbolo e o entendimento histórico. Separam as coisas, como deve ser o olhar histórico maduro e consciente.
Em resumo, tudo seria mais simples se somente se dissesse: a história é uma história de crueldades, lutas e derramamento de sangue. Mas é, também, mesmo que não intencionalmente, uma história de progresso. É uma ideia simples e que todos concordariam. O resto é gastar tinta.
Sobre o identitarismo, acho que o Valter está comendo bola. Essa é a política clara do imperialismo no momento. É a mão de tinta ideal para as maldades neoliberais, da próxima retomada deles (que vai ser a mais cruel). Enquanto matam o povo de fome, vão se fingir de progressistas com assuntos secundários e de pouquíssimo impacto na vida material e real da população. A queima de estátuas se insere neste registro e, muito provavelmente, vem apoiada por ONGs e grupos universitários internacionais.
Valter, não seja ingênuo meu camarada, olhe pra realidade e raciocine se um grupo da periferia, do nada, iria queimar a estátua do Borba Gato, em pleno crescimento dos movimentos contra o Bolsonaro. Inclusive a queima foi no mesmo dia da manifestação, justamente pra desviar a atenção. É diversionismo, além de uma política de confusão história, para que os mais incautos percam a análise objetiva da história (do progresso contraditório, porém real) e caia em moralismos baratos. Assim, a parte do progresso só fica com eles. Nós somos uns demônios dominados por bandeirantes e outras entidades do mal. Eles? Uns santos, donos da chama do progresso.
É muito claro isso.
Expandam o debate e simplifiquem, a discussão de vocês é muito "de músico pra músico". Impenetrável aos não iniciados. Saudações.