quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Roteiro da Aula 1 do curso de leitura dirigida de O Capital

 Boa noite a todos.

Boa noite a todas.

Boa noite a quem aqui na sala zoom.

Boa noite a quem está nos acompanhando on-line através do youtube.

Cumprimento, também, a quem venha nos assistir noutro momento.

Meu nome é Valter Pomar.

Sou professor de relações internacionais na Universidade Federal do ABC.

E faço parte da equipe de professores voluntários da Escola Latinoamericana de História e Política, a ELAHP.

Hoje vamos dar início ao curso de “Leitura dirigida de O Capital”.

Este curso está planejado para durar 16 aulas, toda sexta-feira, das 19h as 21h.

As duas primeiras aulas, hoje 14 de agosto e semana que vem 21 de agosto, são aulas introdutórias.

Hoje faremos uma introdução, intitulada “capitalismo, história e teorias: por que estudar O Capital? A história da elaboração de O Capital”.

Na semana que vem, 21 de agosto sexta, falaremos da obra Contribuição à Crítica da Economia Política.

E partir de 28 de agosto e até o dia 27 de novembro, discutiremos volume I de O Capital, capítulo por capítulo.

O método será sempre o mesmo: eu farei uma descrição do conteúdo do capítulo. Havendo tempo, responderei perguntas aqui mesmo. Não havendo tempo, responderei perguntas feitas poremail.

O que vocês devem fazer? Ler os capítulos antes, acompanhar as aulas e, se possível, ler os capítulos depois. Evidentemente, quem perder a aula ao vivo, poderá assistir posteriormente.

Não vou tomar nosso tempo lendo a programação dia a dia, pois isto vocês têm disponível no site da Elahp.

De toda forma, nosso objetivo, portanto, é chegar no dia 27 de novembro tendo lido todo o volume I de O Capital.

Ano que vem, repetiremos o curso, mas agora fazendo a leitura do volume II e do volume III. E, futuramente, abordaremos outras obras vinculadas a O Capital, como as chamadas Teorias e os Grundrisse.

Isto posto, vamos então dar início a aula “capitalismo, história e teorias: por que estudar O Capital? A história da elaboração de O Capital”.

Esta aula introdutória é necessária, porque nós vamos estudar uma obra (O Capital) que veio a luz em 1867 e que o autor retocou algumas vezes, nos anos seguintes. Evidentemente, desde então muita água passou por debaixo da ponte. Por um lado, o próprio capitalismo se transformou. Por outro lado, o estudo e a análise crítica do capitalismo também evoluíram.

Por isso é importante, em primeiro lugar, situarmos em que momento --da história do capitalismo-- O Capital veio a luz e em que momento da história estamos nós, agora, ao estudar O Capital.

Em segundo lugar, é importante situarmos quais as interpretações havia, acerca do capitalismo, no momento em que O Capital é gestado.

Finalmente, em terceiro lugar, vamos falar da história da própria obra O capital, até o momento em que ela veio à luz. A história posterior, ficará para os módulos seguintes deste curso.

A história do capitalismo

Para citar um autor: “Se pensarmos na vida há 10 mil anos, veremos que os seres humanos viviam em comunidades mais ou menos autóctones, do chamado paleolítico superior. Eles utilizavam instrumentos de pedra (núcleo e lascas) para trabalhar a madeira e os ossos, e criar instrumentos úteis para a caça, a pesca e a coleta de frutos. Essas comunidades tinham poucos contatos entre si e, quando tinham era pela disputa dos campos de caça e das áreas de pesca. Várias dessas comunidades humanas praticavam o canibalismo como forma de alimentação. Portanto, as técnicas eram extremamente atrasadas, embora tivessem produzido o que os historiadores chamam de “culturas”, a exemplo da Abbevilense, Chelense etc. Restos dessas culturas foram encontradas na África, Índia, China e Europa. As descrições sobre o Brasil na época do descobrimento marítimo indicam que algumas comunidades indígenas aqui presentes ainda se encontravam nesse período histórico, comprovando um desenvolvimento humano extremamente desigual”.

Essa realidade se alterou profundamente ao longo da história, especialmente nos últimos 200 anos, principalmente depois das guerras mundiais do século XX.

Desde então, a produtividade deu imensos saltos e cresceu de forma cada vez mais veloz, ao tempo que se concentrou brutalmente: algumas nações e alguns setores sociais dominam tecnologia de ponta, outras estão (comparativamente) décadas atrás.

Esse período de crescimento intenso e veloz da produtividade não por acaso coincide com uma mudança nas relações sociais: é a época em que se expande pelo mundo e se torna dominante o capitalismo.

Como é evidente, não existe um significado consensual para a palavra capitalismo. Diferentes autores, diferentes correntes teóricas e diferentes setores sociais atribuem a esta palavra um sentido diferente.

Há três sentidos especialmente comuns: o que vincula o capitalismo à busca do lucro; o que vincula o capitalismo ao comércio; e o que vincula o capitalismo à determinada maneira de produzir riquezas.

Para os defensores daqueles dois primeiros sentidos, o capitalismo é um fenômeno muito antigo, em alguns casos, presente desde o início da organização dos seres humanos em sociedade.

Já para os defensores do terceiro sentido, o capitalismo é um fenômeno relativamente recente.

Como nenhum de nós viverá mais de 100 anos, o que eu vou falar pode parecer estranho. Mas pensando em escala história, o capitalismo, mesmo se contarmos a partir da chamada acumulação primitiva, é um modo de produção jovem. O escravismo e o feudalismo duraram muito mais.

A boa notícia é que isso não quer dizer que o capitalismo vá durar ainda mais, pois embora mais jovem, o capitalismo também se transforma, amadurece e envelhece mais rapidamente. Isto se deve a algo que já explicamos antes: a velocidade com que se altera o conhecimento, a ciência, a técnica, a tecnologia, as forças produtivas enfim, que por sua vez repercutem nas relações sociais, criando as condições para que ocorram revoluções que superem o capitalismo.

Não há consenso, entre os estudiosos, acerca do passado distante das relações capitalistas de produção. Mas há uma grande coincidência de opiniões acerca de alguns marcos de sua história: o século 14 (citando: “que assistiu à expulsão massiva de camponeses ingleses e sua transformação em massas sem instrumentos de trabalho e sem trabalho, para dar lugar à criação de ovelhas e à produção de lã para as manufaturas holandesas de tecidos, e uma forte expansão dos centros comerciais urbanos e das rotas comerciais terrestres e marítimas”);  os séculos 15 e 16 (a expansão colonial, que paradoxalmente aprofundou as contradições do feudalismo e contribuiu para a chamada acumulação  primitiva das condições necessárias ao capitalismo); o século 17 (a revolução inglesa); o século 18 (a revolução industrial, a guerra de independência dos EUA e a revolução francesa); o século 19 (a consolidação na Europa e a expansão para o mundo), o século 20 (a primeira grande crise sistêmica e as primeiras tentativas de superação da ordem capitalista).

Como já temos aí pelo uns 700 anos de história, é importante fazer uma periodização, que nos permita ter uma visão de conjunto e, também, situar em que momento Karl Marx redige o livro que será nosso objeto de estudo.

De saída, podemos estabelecer dois grandes momentos, um de acumulação primitiva e outro de acumulação capitalista. Entre estes dois momentos, aconteceram as chamadas revoluções burguesas clássicas.

Qual a diferença entre estas duas formas de acumulação? Na primeira delas, se acumulam as pré-condições para que o capitalismo possa vir a existir. Na segunda delas, a acumulação se processa de maneira capitalista.

Nos dias de hoje, o capitalista acumula explorando a força de trabalho assalariada. Mas nos séculos 14, 15, 16 e 17, o assalariamento era residual; e as riquezas eram acumuladas principalmente através da exploração de sociedades pré-capitalistas.

Portanto, naquela época, a acumulação era “primitiva” em duplo sentido: 1/porque acumulada de forma pré-capitalista e 2/porque dependia no fundamental de mecanismos extra-econômicos violentos (como as conquistas, os saques, a escravização e a expulsão dos camponeses).

Este é um aspecto fundamental: a violência foi um fator decisivo na criação de uma força de trabalho livre, livre de qualquer propriedade, livre para ser vendida ao capitalista. Assim como foi decisiva para capturar, transportar e obrigar a trabalhar milhões de escravos, especialmente africanos, forçados a contribuir para a acumulação primitiva de capital.

No caso dos trabalhadores “livres”, a violência se fazia presente tanto na expulsão dos trabalhadores das terras onde viviam e produziam quanto no obrigar os trabalhadores a vender sua força de trabalho. Como trabalhar longuíssimas jornadas em troca de uma paga de fome não era nem usual, nem propriamente um bom negócio para os produtores, era comum o uso da violência – inclusive de fábricas-prisões – para obrigar os trabalhadores a produzir nas condições, jornadas e salários oferecidos.

Na “acumulação primitiva”, portanto, se constituem as duas condições fundamentais para que o capitalismo possa existir: certa quantidade de riqueza em busca de aplicação rentável e certa quantidade de força de trabalho livre para ser contratada.

A etapa de acumulação primitiva começou exatamente quando? Este é um debate que consome os especialistas, embora ninguém duvide que nós da América Latina, especialmente do Brasil, demos forte colaboração para o sucesso da empreitada.

A etapa de acumulação primitiva terminou quando?

Num certo sentido, a acumulação primitiva não acabou. Até hoje o capitalismo segue acumulando riqueza através de mecanismos extra-econômicos violentos (como a corrupção e o saque de países dominados através de guerras).

Mas a acumulação através de mecanismos extra-econômicos, embora siga existindo e vá continuar existindo enquanto houver capitalismo, faz bastante tempo que não é a principal fonte de acumulação de riqueza por parte dos capitalistas.

A forma normal, econômica, de acumulação de capital, surge quando o capitalismo cria um mecanismo próprio para extrair a mais valia dos trabalhadores.

Se olharmos não apenas para a Inglaterra, mas sim para o conjunto dos países e regiões em que vinha ocorrendo a acumulação primitiva, podemos dizer que ela se encerra quando atingem certa maturação dois fenômenos (não necessariamente ao mesmo tempo nem na ordem indicada a seguir):

a) quando a classe dos nascentes capitalistas se converte em classe dirigente na sociedade, afastando de forma revolucionária e/ou fazendo uma composição vantajosa com a antiga classe dominante de senhores feudais;

b) quando os capitalistas se convertem em dirigentes na economia, derrotando o controle que os artesãos ainda tinham sobre a produção, o que foi feito através da criação e generalização de um processo baseado no uso de máquinas e de força-motriz de natureza mecânica, convertendo os trabalhadores em operadores de instrumentos de propriedade dos capitalistas, bem como submetidos a métodos e ritmos definidos pelos capitalistas.

O Estado absolutista foi essencial para a acumulação primitiva: sem ele não teriam havido as navegações, as colônias não teriam se estabelecido e o escravismo não teria sido imposto como foi.

De forma similar, as diferentes formas assumidas pelo Estado burguês foram (e seguem sendo, mesmo em tempos de neoliberalismo) essenciais para garantir as condições necessárias para a acumulação capitalista propriamente dita.

Sem o Estado, os luddistas e as revoltas pelo “comércio justo” teriam impedido ou obstaculizado fortemente os métodos pelos quais ocorre a acumulação de capitais, depois que se superou a acumulação primitiva e antes que aquela acumulação capitalista chegasse à maturidade.

E quais são estes métodos?

Basicamente a prolongação da jornada de trabalho, a redução dos salários e, especialmente, a ampliação da produtividade através da introdução de máquinas, leia-se, através da substituição de trabalho vivo (aquele oferecido diretamente por nós, trabalhadores) por trabalho morto (cristalizado em máquinas).

Claro que para muitos estudiosos, a produção não é o epicentro do processo de acumulação de capitais. E, para muitos outros, a exploração da força de trabalho pode até existir, mas ela não constituiria a base dos lucros capitalistas.

É fácil entender o pano de fundo da polêmica: se admitirmos que a acumulação de capital em geral e os lucros capitalistas em particular têm sua origem na exploração da força de trabalho, a conclusão é que o capitalismo se baseia no trabalho não pago, na expropriação dos verdadeiros produtores de riqueza, na apropriação da chamada mais-valia.

Ou seja: no limite, os capitalistas são parasitas sociais (ou, melhor dizendo, vão se convertendo, ao longo da história, enquanto classe, em parasitas sociais). Hoje, por exemplo, grande parte da classe capitalista não contribui mais para a produção nem para o progresso social. Seu desaparecimento enquanto classe não causaria nenhum tipo de transtorno ou carência social.

Constatar e reconhecer isto tem um efeito desmoralizante sobre boa parte da “narrativa” que apresenta os capitalistas como “inovadores”, “classes produtoras” e “agentes do progresso”.

Pode haver muita polêmica a respeito da existência da mais-valia.

Mas, para boa parte da classe trabalhadora, a experiência confirma intuitivamente que a jornada de trabalho pode ser dividida em duas fases. Na primeira fase, o trabalhador produz uma riqueza equivalente ao seu salário. Na segunda fase, o trabalhador produz uma riqueza que será apropriada pelo capitalista, sem nenhum tipo de remuneração.

A revolução industrial – seja a primeira (século 18), seja as que vieram depois – consiste exatamente em um conjunto de transformações através das quais o capitalismo reorganiza a produção de mercadorias. E o aspecto central dessa reorganização está, exatamente, nas medidas que ampliam a produtividade do trabalho.

Ao ampliar a produtividade do trabalho, o que o capitalista está buscando é ampliar a extensão daquela parte não remunerada da jornada de trabalho.

Ampliar a produtividade faz com que, num mesmo espaço de tempo, um trabalhador produza uma quantidade de riqueza maior. Mantida a mesma jornada de trabalho e mantido o mesmo salário, fica maior a riqueza que o trabalhador produz sem receber nada em troca.

Desse processo advêm diversas implicações.

No longo prazo, crescem a produtividade e a desigualdade.

No curto e médio prazo, acirra o conflito entre os capitalistas (concorrência no mercado) e acirra conflito dos capitalistas contra os trabalhadores.

Estes lutam por recompor sua participação na riqueza, seja através de maiores salários, seja via redução da jornada, e lutam também por reconquistar algum nível de controle sobre o processo de produção.

No caso dos capitalistas, aqueles que não conseguem ampliar sua produtividade perdem a competição.

Com isto, o capital fica mais concentrado (quantidades cada vez maiores de capital) e também mais centralizado (controlado por menor número de capitalistas). Esta é a dinâmica que vai desembocar nos monopólios e no capital financeiro.

Quanto maior é o capital acumulado, mais difícil torna-se manter a mesma taxa de lucro obtida antes. A tendência à queda na taxa de lucro gera vários desdobramentos, entre os quais um processo de exportação de capitais: estes saem mundo afora, a busca de salários e condições mais lucrativas. E não saem sozinhos: os capitais levam e são levados por seus respectivos Estados para “passear”, dividindo então o mundo em “áreas de influência” das grandes potências capitalistas.

O fortalecimento do capital traz consigo o fortalecimento do Estado.

Aliás, não devemos confundir o discurso do Estado mínimo (feito pelos capitalistas o tempo todo, sob diferentes formas) com o que de fato ocorreu ao longo da história.

O tamanho, o poder e o peso econômico do Estado, hoje, é muito maior do que era há 200 anos.

Quando os neoliberais falam em Estado mínimo, eles estão na verdade propondo “menos políticas sociais, menos salários indiretos, menos proteção para os trabalhadores”. Não estão falando de menos Estado para eles, para os capitalistas, para as necessidades da reprodução do capital.

Por outro lado, a presença do “capitalismo de Estado” é um sinal da maturidade do capitalismo, do nível de complexidade e de desenvolvimento que o capitalismo já atingiu. E uma empresa capitalista que funciona sem um dono (ou vários donos), é como se fora propriedade coletiva do capital. E a propriedade coletiva do capital pode facilmente transformar-se em propriedade coletiva do conjunto da sociedade.

Quando aquele russo chamado Ulianov dizia que o imperialismo era a “etapa superior do capitalismo”, ele estava exatamente apontando que a exportação de capitais, o capital financeiro, os monopólios (e também o capitalismo de Estado) eram indícios claros da maturação do capitalismo.

Maturação e senilidade, pois fica cada vez mais claro que, sem uma crescente intervenção do Estado (leia-se, sem o crescente recurso a mecanismos extraeconômicos), o capitalismo não consegue sobreviver.

A expansão imperialista resultou na Primeira e na Segunda Guerra, teve prosseguimento durante a Guerra Fria e chegou ao seu ápice após a dissolução da União Soviética.

Independentemente de como avaliemos o tipo de sociedade que existe na China, no Vietnã e em Cuba, está claro que atualmente estas três sociedades estão profundamente integradas na economia capitalista. Desde 1991, as relações capitalistas de produção são mais dominantes do que nunca foram na história.

Aqui chegados, vejamos agora em que momento desta história o cidadão Karl Marx começou a elaborar o livro O Capital? E que capitalismo ele tinha diante (e atrás) dele?

Quando, na Europa Ocidental (região do mundo onde o capitalismo nasceu), a acumulação propriamente capitalista tornara-se predominante (1750/1850, sempre lembrando que estas datas são apenas pontos de referência, e não o ponto preciso em que os processos começam ou terminam).

E a partir de então (1850) o capitalismo vive um momento de expansão que vai prosseguir até por volta dos anos 1890, quando o capitalismo de tipo “concorrencial” enfrenta uma grande crise, que vai ser o ponto de partida de uma nova fase do capitalismo, aquilo que chamamos de imperialismo.

A essa altura, Marx (em 1883) e Engels (em 1895) já estavam se despedindo de nós.

Vale lembrar que o capitalismo não surgiu ao mesmo tempo, em todos os pontos do mundo. O capitalismo é um “produto de exportação” da Europa Ocidental para o restante do planeta.

Nos locais e nos tempos em que surgiu, a empresa capitalista típica era (para padrões modernos) de pequeno porte. E a competição capitalista típica era a “livre concorrência”.

Pouco a pouco, algumas empresas foram se tornando mais poderosas, até que surgiram as grandes empresas, e estas se fundiram com os bancos, dando origem ao capital monopolista e financeiro. E mais adiante, estatal. A livre competição foi substituída pelos mercados controlados por poucas empresas vendedoras e compradoras (oligopólios e oligopsônios).

No resto do mundo, não foi essa a trajetória seguida pelo capitalismo: ali, já na fase concorrencial, mas principalmente na fase monopolista, o capitalismo chegou como produto de exportação, trazido a partir de fora.

Primeiro, sob a forma de mercadorias vendidas mais baratas do que a produção nacional. Depois, sob a forma de capitais à busca de investimentos mais lucrativos do que os existentes em seus países de origem. E a condição básica para exportar capitais é poder repatriar os lucros. O que impõe controlar os mercados e afastar os concorrentes. O que conduz à retomada e aprofundamento dos impérios pré-existentes e a constituição de novos, ou seja, a dominação colonial e as guerras entre Estados por domínios, caminhos e áreas de influência.

Ou seja: a existência de colônias foi importante na fase da acumulação primitiva de capitais e voltou a ser importante na fase monopolista. Tão importante que, quando o capitalismo entrou nessa fase de exportação de capitais, vários estudiosos aceitaram denominá-la de “imperialismo”.

O nome pode gerar certa confusão, pois passa a impressão de que a essência do fenômeno está na existência de um império colonial, quando na verdade a essência está na exportação de capitais.

Ou seja: quando o capitalismo se torna maduro, muito forte, muito poderoso, ele produz mais riquezas do que é capaz de reinvestir lucrativamente. Chegado a esse momento, ele é forçado a exportar capitais. O imperialismo é uma decorrência disto, não a causa.

Mas o nome também expressa uma característica essencial do fenômeno, que é o controle sobre outras regiões do mundo.

Um exemplo disso: os Estados Unidos, que liderou a primeira revolução anticolonial vitoriosa (1776), atingiu suas dimensões atuais através da mistura entre comércio e conquista de territórios indígenas, mexicanos, franceses e russos. E também territórios ocupados por habitantes dos próprios Estados Unidos: este foi um dos sentidos da chamada Guerra de Secessão (1861-1865), violenta guerra civil que foi essencial para firmar os EUA como nação capitalista. Mais tarde, tivemos a interferência nas guerras de independência das colônias espanholas do Caribe (1898) para garantir o predomínio econômico e político dos EUA sobre elas.

Desde então e até hoje, os Estados Unidos, que teve ou têm poucas colônias formais (Filipinas, Guam, Hawai e Porto Rico) e que tantas vezes defendeu o “livre comércio” para assim disputar melhor os mercados das colônias e das metrópoles, estes Estados Unidos que são hoje a principal nação capitalista do mundo, também atua há algum tempo como se fosse um império mundial.

Isto posto e voltando à periodização, a história do capitalismo pode ser esquematizada assim: 1/acumulação primitiva-acumulação capitalista-revoluções burguesas (1400-1849), 2/capitalismo predominantemente concorrencial (segunda metade do século 19), 3/capitalismo monopolista-financeiro-imperialista-estatal (1900-2020).

Falemos um pouco sobre esta última etapa, que Marx não chegou a conhecer.

De 1884 (conferência de Berlim) até 1945, os principais Estados capitalistas lutaram para dividir e redividir o domínio sobre o mundo. Lutam entre si e lutam contra Estados menores. Uma lista dos conflitos inclui: a Guerra Hispano-Americana, considerada a primeira guerra imperialista, a partilha do Egito e da China, a invasão japonesa da Manchúria, as crises do Marrocos e dos Balcãs, a formação da Entente entre a Inglaterra e a França para enfrentar a expansão alemã, a Guerra Russo-Japonesa; a Primeira Guerra Mundial, a intervenção militar conjunta das potências contra a Revolução Russa, a desagregação do Império Austro-Húngaro, a guerra franco-inglesa contra o Império Otomano, a Revolução Turca; os ataques da Itália contra a Líbia e Etiópia, da Itália e da Alemanha contra a Espanha Republicana, da Alemanha contra a Áustria e a Tchecoslováquia, do Japão contra a China e o Sudeste Asiático, até desembocar na Segunda Guerra Mundial.

Um dos resultados desse longo período de conflitos foi a divisão do mundo em dois polos: um capitaneado pelos Estados Unidos, outro pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, fundada oficialmente em dezembro de 1922 por iniciativa do regime nascido da Revolução Russa de 1917.

A existência da URSS (e o que ela indicava acerca da radicalidade e da maturidade da luta contra o capitalismo) alterou em alguma medida tanto a dinâmica da luta entre os Estados quando alterou a dinâmica da luta entre capital e trabalho.

A Revolução Russa de 1917, a crise de 1929, o protecionismo, a economia de comando surgida para enfrentar as guerras mundiais, assim como a pressão exercida tanto pela URSS quanto pelas classes trabalhadoras após o término da Segunda Guerra, alteraram ritmos e formas da acumulação capitalista.

Pouco a pouco, o Estado ganhou cada vez maior protagonismo, seja como fator contracíclico, seja como agente econômico direto. Não se tratava apenas de organizar o conflito intercapitalista, mas também de “organizar” o conflito entre capital e trabalho.

Este segundo aspecto ficou particularmente claro tanto no New Deal quanto na política econômica do nazismo. Aparecerá, também, nos processos conduzidos pelo mexicano Lazaro Cardenas e pelo brasileiro Getúlio Vargas. E, claro, em outras circunstâncias históricas, na União Soviética.

A partir de 1945, ao conflito intercapitalista se agrega o conflito entre dois campos (EUA e URSS). O papel protagonista do Estado, as conquistas sociais da classe trabalhadora (ampliando possibilidades de consumo), as independências nacionais e as políticas desenvolvimentistas da chamada periferia do mundo (ampliando as possibilidades de investimento), bem como as necessidades e possibilidades da reconstrução pós-Guerra, fizeram o capitalismo se desenvolver intensamente entre 1945 e 1970.

Naquele período, o capitalismo chegou a parecer compatível com a ampliação da democracia, do bem-estar social, da soberania nacional e também com taxas de crescimento ascendentes.

É também por isto que se consolidam fenômenos como a conversão da socialdemocracia ao “estado de bem-estar social” nos marcos do capitalismo; bem como o surgimento, no interior do movimento comunista, de propostas de transformação gradual do capitalismo em socialismo.

Mas, no início de 1970, ocorre o previsível: o sucesso do capitalismo gerou superlucros, os superlucros reinvestidos geram queda na rentabilidade, os capitais então desinvestem, o crescimento para e retrocede, o capitalismo entra em crise.

Estes fenômenos coincidiram com acontecimentos internacionais (as revoltas estudantis de 1968, a luta pelas liberdades civis nos EUA, a guerra de libertação do povo vietnamita, as guerrilhas latino-americanas, a Grande Revolução Cultural Proletária na China) que pareciam indicar que o movimento socialista estava na ofensiva.

Claro que havia sinais indicando o contrário (como a repressão soviética contra a Primavera de Praga, o massacre na Indonésia, os golpes de Estado, por exemplo, no Chile).

Mas estes sinais foram em geral subestimados: o reconhecimento de que o mundo estava em disputa era acompanhado, na maioria dos casos, pela certeza de que estávamos vencendo esta disputa.

Entretanto, a crise do capitalismo nos anos 1970 não poderia ser resolvida da mesma forma como foi em 1930. Uma nova guerra intercapitalista provavelmente favoreceria o mundo socialista. Uma guerra contra o mundo socialista desembocaria, na melhor das hipóteses (para os capitalistas), numa destruição mútua. Na pior das hipóteses (para os capitalistas), poderia desembocar numa perigosa aliança entre o socialismo, o pacifismo, o feminismo, o antirracismo e o ambientalismo.

Por estes e outros motivos, o mundo capitalista foi fazendo um complexo “ajuste”, que incluiu:

1) uma nova “revolução industrial”, com destaque para inovações na comunicação, eletrônica, informática e cibernética, que ampliaram a exploração e o controle sobre a força de trabalho mundial, que alguns anos depois seria ampliada pela inclusão dos chineses e dos que viviam na URSS e no Leste Europeu;

2) uma nova rodada de exportações de capitais e de financeirização, favorecida pelo fim do padrão dólar-ouro adotado em 1944 nos acordos de Bretton Woods (uma moeda internacional que tem a si mesma como lastro é funcional para a especulação);

3) um aprofundamento da corrida armamentista, o que, além de dar vazão à parte dos capitais acumulados, contribuiu para o colapso da URSS;

4) a difusão da ideologia que hoje chamamos de neoliberalismo, criando um ambiente crescentemente favorável às privatizações e às alterações nas políticas sociais (o que também reduz os salários indiretos da classe trabalhadora).

Como todos estes ajustes coincidiram e, em alguma medida, incluíram a retirada do Vietnã, ficou para alguns a impressão de que estava ocorrendo uma derrota geral do imperialismo e do capitalismo, quando na verdade estava em curso uma espécie de “longa marcha” do lado de lá (Longa Marcha é o nome dado àquela famosa retirada estratégica, onde os comunistas chineses mudaram de política e, com isso, criaram as condições para a tomada do poder).

O fato é que entre 1975 e 1991 – como movimento político-social, tipo de sociedade e ideologia – o socialismo não conseguiu mais avançar, nem conseguiu manter uma situação de equilíbrio frente a este novo mundo capitalista.

Basta dizer que a revolução iraniana de 1979, diferente de todas as demais revoluções ocorridas desde 1917, não chegou nem mesmo a flertar com o socialismo.

Podemos dizer que as diferentes tradições socialistas tiveram relativo êxito em reformar e/ou derrotar o capitalismo existente até 1970; mas, frente ao capitalismo surgido a partir de então, sofreram uma grande derrota, sendo obrigadas a fazer reformas profundas na sua prática e no seu pensamento.

A tradição social-democrata europeia, com o passar das décadas, se tornara totalmente dependente do funcionamento do próprio capitalismo. Eram os impostos cobrados que financiavam as políticas públicas de bem-estar; quando o crescimento desabou, as políticas públicas foram crescentemente estranguladas.

A reação imediata dos social-democratas europeus foi defender e adotar políticas de tipo keynesiano. Mas esses remédios já não provocavam os efeitos desejados. A crise continuou. A direita dizia que a culpa pela crise era das políticas social-democratas de bem-estar social.

Depois da ascensão dos neoliberais Reagan e Thatcher, os social-democratas europeus ainda ganharam importantes eleições na Europa. Mas seus novos governos mudaram de política: o giro social-liberal de Felipe Gonzalez, François Mitterrand e Papandreau iniciou a conversão de grandes parcelas da social-democracia a um ideário aparentado com o neoliberalismo. Tony Blair (primeiro ministro inglês até 2007) e François Hollande (eleito presidente francês em 2012) são espécimes mais atuais desta socialdemocracia social-liberal.  

Já a tradição comunista, mais exatamente sua versão soviética, tinha conseguido o prodígio de industrializar um país atrasado, ao mesmo tempo em que ampliou sensivelmente o nível de vida de sua população (em termos de habitação, educação, saúde, cultura, transportes e alimentação).

Para atingir estes objetivos, o socialismo soviético adotara um planejamento estatal extremamente centralizado, combinado com políticas de pleno emprego e restrições ao funcionamento do mercado. Além de recorrer a níveis de centralização política que provocaram, desde então e até hoje, imensas discussões, críticas, repúdio e horror, causando em alguns setores grandes danos à credibilidade do próprio socialismo, especialmente quanto à pretensão de constituir um tipo de democracia superior à existente no capitalismo.

Quando o campo capitalista ampliou a corrida armamentista, especialmente com o governo Reagan, a sociedade soviética foi colocada diante de uma enorme pressão. E quando o capitalismo deu um salto tecnológico, a URSS não quis ou foi incapaz de fazer as reformas que a República Popular da China decidiu perseguir desde 1978.

O resultado foi que a URSS entrou num processo de estagnação crescente. Mikail Gorbachev, o último secretário-geral do PCUS, tentou fazer as reformas (glasnost e perestroika) a partir de 1986. Mas o ambiente interno e externo já havia deteriorado tanto que as reformas aceleraram o colapso e, em 1991, advém a dissolução da União Soviética.

Pouco antes e logo depois, todos os países socialistas do Leste Europeu mudaram seus governos e sua orientação econômico-social: é o caso da Alemanha Oriental (anexada em outubro de 1990 pela Alemanha Ocidental), da Hungria, Romênia, Bulgária, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Polônia e Albânia. Processo similar ocorreria com Angola, Moçambique e outros países africanos anteriormente alinhados à URSS. Do antigo mundo socialista, apenas China, Vietnã, Coreia do Norte e Cuba continuam até hoje governadas por partidos comunistas.

A debacle do socialismo soviético e a conversão da socialdemocracia ao liberalismo, mais a crise do desenvolvimentismo latino-americano e do nacionalismo africano, compõem um quadro inegável de vitória do chamado capitalismo neoliberal.

Nos anos 1990, os intelectuais vinculados ao capitalismo viviam em estado de júbilo: era segundo alguns deles o “fim da história”, leia-se, a vitória definitiva do modelo de política e de economia que eles defendiam. Os Estados Unidos agiam como poder unilateral, sem pedir licença nem prestar contas a ninguém.

Foi talvez um dos momentos mais difíceis para os socialistas em todo o mundo, pois não se tratava apenas de uma vitória militar e política do capitalismo. Havia também uma vitória ideológica, no sentido de que dezenas de milhões de pessoas que antes eram socialistas tinham passado a duvidar ou até a abjurar suas convicções, suas escolhas, sua prática e sua história.

Desde a crise de 2008, contudo, o capitalismo vem mostrando todas as suas contradições. E o marxismo voltou à moda. É nesse momento da história que estamos nós, agora, ao estudar O Capital, obra escrita e sob a influência de outro momento histórico: a fase final das revoluções burguesas e o esplendor do capitalismo concorrencial.

A história da obra

E o que fez um jovem intelectual converter-se, não em um advogado de sucesso, mas sim em perigoso crítico do capitalismo?

Evidente que há explicações estritamente individuais, mas é preciso lembrar um fator coletivo, sem o qual O Capital não existiria.

Refiro-me ao fato de que, dos momentos finais (1849) das revoluções burguesas até o final do século XIX, o movimento da classe trabalhadora ganhou progressivamente uma feição própria.

Uma das causas disso foi a consolidação da grande indústria, que deu origem a uma classe trabalhadora livre dos laços paternalistas característicos do artesanato. Com maior ou menor intensidade, esse fenômeno atingiu especialmente a Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos, Japão e Rússia.

Esse período (1848-1900) foi também de intensa luta política e ideológica, entre as diferentes correntes políticas e ideológicas que disputavam corações e mentes da classe trabalhadora, desde as viúvas do feudalismo, passando pelas burguesas, até as autoproclamadas anticapitalistas.

Marx nasceu numa cidade (Trier, ou Treveris) que foi um centro importante na época do Império Romano, uma espécie de última fronteira entre a civilização greco-latina e a floresta da barbárie teutônica. Depois a cidade perdeu importância relativa, mas na época das guerras napoleônicas foi ocupada e converteu-se numa espécie de fronteira entre a nascente civilização capitalista e o velho feudalismo.

Marx nasceu nesse ambiente e filiou-se ao que havia de mais moderno, com destaque para os intérpretes mais radicais do pensamento filosófico de Hegel. Posteriormente, já trabalhando como jornalista da imprensa burguesa, Marx se veria obrigado a tratar de problemas que o levarão a tomar contato com os economistas políticos ingleses (como Ricardo e Adam Smith) e, também, com pensadores ainda mais radicais, vinculados ao proletariado.

Dentre estes, havia uma profusão de tendências, atendendo às vezes pelo apelido de seus líderes (blanquistas, lassaleanos, proudhonianos), às vezes por um adjetivo que virou nome próprio: trabalhistas, cooperativistas, anarquistas, populistas, social-democratas, utópicos socialistas e comunistas

A maioria destes diferentes grupos e tradições esteve unida apenas duas vezes: na Associação Internacional dos Trabalhadores (1864-1874) e nos anos iniciais da chamada Segunda Internacional (criada em 1889). No restante do tempo, as diferentes famílias socialistas ora enfrentavam-se, ora uniam-se, de maneira semelhante a como ocorre, hoje, com os diferentes partidos e tendências da esquerda brasileira e mundial.

Observando de agora, com a vantagem de olhar a “obra” já feita e desfeita várias vezes, podemos apontar quais foram as correntes mais representativas do período que vai de 1848 até 1917: o 1/sindicalismo, o 2/cooperativismo, o 3/populismo, o 4/anarquismo, o 5/socialdemocracia e o 6/sindicalismo.

O 1/sindicalismo e o 2/cooperativismo têm uma longa história. Ambos correspondem às preocupações e necessidades de amplas camadas da classe trabalhadora, que almejam viver melhor, o que na maior parte do tempo não implica na vontade subjetiva ou na busca prática por superar o capitalismo.

A intervenção política e as definições ideológicas do sindicalismo e do cooperativismo tendem, por isto, a ser mais limitadas, exceto nos momentos em que amplos segmentos da classe trabalhadora radicalizam suas posições.

Quando isto ocorre, há mutações como o “sindicalismo revolucionário” francês e o cooperativismo russo, que em determinado momento converteu-se num instrumento fundamental para organizar a produção e a distribuição no caos posterior à tomada do poder pelos Sovietes em 1917.

Falemos agora do 3/populismo russo: ele teve origem oficial por volta dos anos 1870 e assumiu variadas formas, entre as quais as principais foram a “ida ao povo” (daí o termo populismo), movimento que levou milhares de jovens a irem viver nas aldeias para tentar politizar o campesinato; o terrorismo, ou seja, a tentativa sistemática de destruir a monarquia russa através do assassinato do Czar e dos nobres; e o Socialismo Revolucionário, expressão político-partidária dos interesses de parcela do campesinato russo.

Um escritor russo chamado Nikolai Tchernichevski escreveu um romance que retrata a juventude populista russa: Que fazer?

Um desses jovens populistas, Alexandre Ulyanov, acusado de tentar assassinar o Czar russo, foi enforcado. Seu irmão, Vladimir Ulyanov, mais conhecido como Lenin, não era populista. Mas uma de suas obras mais conhecidas chamou-se, exatamente, Que fazer?

Os populistas russos acreditavam que seria possível construir o socialismo sem passar pelo capitalismo, tomando como ponto de apoio as tradições coletivistas do campesinato russo.

O debate inaugurado pelos populistas é muito importante, já que todas as revoluções socialistas do século XX ocorreram em países em que o capitalismo estava pouco desenvolvido. Portanto, países em que era fundamental 1/esclarecer a diferença entre comunismo e socialismo, 2/estabelecer quanto de capitalismo poderia/deveria existir na transição socialista, 3/afugentar a tentação de construir o socialismo sem passar pelo capitalismo, assim como 4/afastar a ilusão de que o desenvolvimento do capitalismo em si contribuiria com a luta futura pelo socialismo.

Sobre alguns destes assuntos, há uma interessante troca de cartas entre Carlos Marx e uma revolucionária russa chamada Vera Zasulich (1849-1919).

Os populistas tiveram muitos pontos de contato com o 4/anarquismo, caracterizado por opor-se à participação dos trabalhadores nas instituições da democracia burguesa. Daí a defesa da ação direta, da organização pela base e a visão negativa acerca do Estado, inclusive de um Estado revolucionário.

A grande figura do anarquismo foi Bakunin, e o anarquismo foi influente na Rússia até pelo menos 1921. Depois seguiu sendo uma corrente influente em países de capitalismo pouco desenvolvido, como a Espanha. O anarquismo não necessariamente é de orientação socialista, seguindo presente em todo o mundo e apresentando-se de variadas e divergentes maneiras.

Os anarquistas fizeram parte da Associação Internacional dos Trabalhadores, onde travaram uma dura disputa contra a orientação imprimida por Carlos Marx. Anos depois, os anarquistas integrariam a Segunda Internacional, de onde foram expulsos pela maioria 5/social-democrata.

O primeiro partido nomeado social-democrata de que se tem notícia atuou na revolução francesa de 1848, tendo sido muito criticado por Carlos Marx. Por este motivo, tanto ele quanto Engels acharam péssima ideia dar o nome de “social-democrata” ao partido criado em 1875, como resultado da fusão de duas correntes do movimento operário alemão, uma vinculada ao próprio Marx e outra vinculada a Lassale, importante liderança da época.

Apesar do desgosto de Marx e Engels, o nome foi mantido e o Partido Social-Democrata Alemão (PSDA) tornou-se o mais forte partido socialista da Europa. Até 1914, ser marxista e ser socialista era praticamente sinônimo de socialdemocrata.

Embora houvesse polêmicas duríssimas nos partidos socialdemocratas, foi preciso uma guerra mundial para que as diferentes tendências existentes no interior da socialdemocracia se cindissem de maneira definitiva.

A partir de 1918, parte minoritária da socialdemocracia rompeu, geralmente para formar partidos comunistas. Entre eles, o mais famoso foi o Partido Comunista Russo, nome adotado pelo antigo Partido Operário Social-Democrata Russo (fração bolchevique), liderado por Vladimir Ilich Ulianov Lenin.

A maior parte da socialdemocracia, entretanto, recusou o comunismo. Mas só nos anos 1950, o Partido Social-Democrata Alemão abandonará formalmente o marxismo e o socialismo, convertendo-se oficialmente em defensor de um capitalismo com estado de bem-estar social. Nos anos 1990, parte do SPD adere a concepções social-liberais. Então um setor minoritário rompe e ajuda a criar o Linke (palavra que designa esquerda em alemão).

O 6/trabalhismo (Labour), surgido do sindicalismo inglês, de certa forma antecipou em várias décadas os dilemas e as opções feitas pela socialdemocracia: por um lado, buscava defender os interesses da classe trabalhadora, por outro lado, assumia compromissos profundos com o capitalismo.

No caso da Inglaterra, como não existe nenhum outro partido de esquerda com influência de massas, até hoje convivem no Labour correntes pró capitalistas (como a liderada por Tony Blair) e correntes pró socialistas (como a liderada por Jeremy Corbin). O mesmo ocorre em outros importantes partidos socialdemocratas e socialistas na Europa.

No Brasil, existe um Partido Trabalhista e um Partido Social-Democrata, mas apesar dos nomes, as origens e a história são essencialmente diferentes. Os tucanos nunca tiveram base na classe trabalhadora e nunca foram de esquerda. Já os trabalhistas surgiram por iniciativa do governo Vargas em 1945 e, depois da ditadura militar, foram colonizados pela direita.

O sindicalismo, o cooperativismo, o populismo russo, o anarquismo, o trabalhismo e a socialdemocracia foram as principais correntes do movimento socialista até a Revolução Russa de 1917.

Em 1918, foi formado o Partido Comunista Russo, em 1919 foi criada a Internacional Comunista e a partir de então surgem partidos comunistas mundo afora, como na China em 1921 e no Brasil em 1922.

O comunismo desta época tem três diferenças importantes frente às demais tradições: uma vinculação com a Revolução Russa e com o Estado Soviético (e, posteriormente, com outros “Estados socialistas”); uma presença mais expressiva na periferia do mundo, onde o capitalismo se apresentava principalmente enquanto imperialismo; e uma preocupação (nem sempre traduzida em prática) muito forte com a teoria, mais exatamente com a difusão das ideias de Marx e de Lenin (e, posteriormente, dos que eram considerados ou se pretendiam sucessores, como é o caso de Josef Stalin e Leon Trotsky).

Os comunistas participaram de todas as tentativas de transição socialista ocorridas durante o século XX. Como nenhuma delas chegou ao fim, é preciso constatar que – mesmo onde os comunistas estavam no governo e no poder – nunca existiu nenhuma sociedade comunista pós-capitalista.

Por outro lado, a partir da Revolução Russa de 1917, o socialismo deixou de ser apenas um movimento político-social com variadas facetas e um conjunto diversificado de tradições ideológicas. Passaram a existir sociedades que afirmavam estar construindo o socialismo.

Desde o início, este foi um tema polêmico. Como explicamos, a tradição populista russa acreditava ser possível construir o socialismo mesmo onde o capitalismo ainda não estava desenvolvido, tomando como ponto de apoio as tradições coletivistas do campesinato.

A tradição social-democrata russa discordava dos populistas e considerava que na Rússia deveria ocorrer uma revolução burguesa. Na tradição social-democrata, entretanto, conviviam duas posições: uma que acreditava que era preciso esperar a revolução burguesa consolidar-se, para posteriormente lutar pelo socialismo; e outra que acreditava que era possível “apressar” o processo, radicalizando a revolução burguesa para que ela rapidamente se concluísse, dando passo à etapa seguinte.

Esta segunda posição era a defendida oficialmente pelo POSDR (bolchevique), que, em aliança com parte dos socialistas revolucionários e parte dos anarquistas, tomou o poder em outubro de 1917.

Entretanto, contudo, todavia... os bolcheviques tinham consciência de que a Rússia era um país muito atrasado, tanto do ponto de vista político quanto econômico. Para enfrentar esse problema, eles contavam com que a Revolução Russa fosse a primeira de várias revoluções, que países como a Alemanha se converteriam em prazo mais ou menos curto em socialistas, e que estes países economicamente mais avançados viriam em socorro da Rússia revolucionária.

Mas não foi isso o que ocorreu. A URSS permaneceu isolada durante mais de 25 anos. A segunda grande revolução ocorreria apenas em 1949, na China. Sem dúvida este isolamento foi um dos motivos pelos quais o socialismo na Rússia foi realizado em condições muito difíceis e apresentou várias características que muita gente considera pouco agradáveis: o isolamento internacional, combinado ao atraso econômico e político, num país devastado pela Guerra Mundial e por uma guerra civil que durou de 1918 até 1921.

Agregam-se outros dois problemas: a classe trabalhadora russa tivera pouca experiência  com as liberdades democráticas e os comunistas russos tinham ideias muito genéricas sobre o que poderia ser, efetivamente, o socialismo.

Eles tinham claro tratar-se de uma etapa de transição entre o capitalismo e o comunismo, em que parcelas importantes dos meios de produção deveriam ser colocadas sob controle social, em que o Estado teria de ser de novo tipo (não mais representando a minoria contra a maioria, mas sim convertendo-se em instrumento da maioria contra a minoria), em que a classe trabalhadora deveria se converter em dominante.

Certas ou erradas, essas concepções e outras do gênero foram se demonstrando absolutamente insuficientes para enfrentar os problemas políticos e econômicos concretos da transição socialista, fato que Lenin percebeu muito rapidamente, para seu mais absoluto desespero. Desespero agravado pela carência de quadros políticos e técnicos capacitados para conduzir o Estado. Na ausência deles, o governo revolucionário foi sendo obrigado a aceitar a crescente contribuição de quadros do antigo regime; e foi sendo obrigado a promover recém-chegados, que muito rapidamente reproduziam e mimetizavam alguns dos piores defeitos da burocracia e da classe dominante que antes governavam a Rússia.

Após a guerra civil, o governo soviético se viu na contingência de adotar uma política econômica – a NEP, Nova Política Econômica – que combinava a ação produtiva de capitalistas e do mercado com a ação econômica estatal. A NEP sobreviveu até 1928.

Os últimos meses de vida de Lenin foram gastos tentando achar uma maneira de contornar o triplo problema do atraso político, do atraso econômico e do isolamento internacional. Este último foi mais fácil de contornar, ao menos em parte, uma vez que a Revolução Russa magnetizou amplos setores dos povos do “Oriente”, que viam no bolchevismo uma espécie de desenvolvimentismo anti-imperialista.

Por outro lado, desde o início o governo soviético dirigido pelos bolcheviques foi criticado por outros setores do movimento socialista, dentro e fora da Rússia. Na Alemanha, por exemplo, as críticas vieram tanto de Rosa Luxemburgo quanto de Carlos Kautsky e Friedrich Ebert, que encabeçavam – respectivamente – a “esquerda”, o “centro” e a “direita” do Partido Social-Democrata.

As maiores críticas provieram das esquerdas dos países capitalistas mais desenvolvidos, exatamente aquelas que por diversos motivos não conseguiram ou não tentaram ou não tiveram a oportunidade de tomar o poder em seus próprios países. Já nos países da periferia do mundo, o socialismo soviético, com todas as suas limitações e problemas, era visto por amplos setores essencialmente como um aliado e como uma alternativa.

Como se vê, o socialismo soviético, sob qualquer uma de suas formas e em todas as suas etapas, nunca foi unanimidade entre as diferentes correntes socialistas. O mesmo ocorreu com as tentativas de construção do socialismo resultantes de revoluções (ou tomadas de poder não revolucionárias) posteriores. E o mesmo ocorre hoje com as experiências que seguem reivindicando serem socialistas: a China, o Vietnã, Cuba e Coreia do Norte.

Guardadas as devidas proporções, tampouco há unanimidade quanto às experiências de “Bem-Estar Social” impulsionadas sob pressão, influência e/ou direção de partidos social-democratas. Nem, é bom antecipar, há consenso no que diz respeito às experiências de socialismo latino-americano deste início do século XXI.

O que pode ser dito a respeito destas experiências, de conjunto?

Que a sua existência, com todos os seus defeitos e limitações, impôs derrotas e/ou obrigou o capitalismo a fazer concessões no terreno das liberdades democráticas, nos direitos das mulheres, na opressão colonial, nos direitos civis (por exemplo, dos negros nos Estados Unidos), nos temas da guerra e da paz e principalmente nos direitos econômico-sociais da classe trabalhadora.

Seja onde assumiu formas revolucionárias, seja onde assumiu formas reformistas; seja onde foi claramente anticapitalista, seja onde enfatizou o anti-imperialismo, o movimento socialista foi durante todo o século XX um fator fundamental para impor limites civilizatórios ao capitalismo.

Mesmo hoje, a existência da República Popular China (criticada e apresentada por muitos setores da esquerda como sendo, supostamente, um capitalismo brutal sob uma ditadura de partido único) constitui um contrapeso à influência do unilateralismo imperial dos Estados Unidos.

Talvez o maior símbolo do caráter civilizatório do socialismo no século XX tenha sido o papel da União Soviética na derrota da barbárie nazifascista. E a contraprova mais conclusiva disto é o crescimento da barbárie (e o revival neofacista) depois que o socialismo soviético e a socialdemocracia foram atropelados por suas contradições internas e pela ofensiva neoliberal dos anos 1990.

As vitórias e as derrotas do socialismo do século XX tanto desmentiram quanto confirmaram as análises feitas por Carlos & Frederico, desde 1848 até sua morte (Marx em 1883, e Engels em 1895).

Uma pequena história pode explicar isso melhor. Em 1917, um socialista italiano chamado Antonio Gramsci não teve dúvida em afirmar que a Revolução Russa era uma revolução contra O Capital. Com isso ele queria dizer que a revolução, por um lado, derrotava os capitalistas, por outro lado, desmentia a previsão de Marx de que as revoluções socialistas vitoriosas ocorreriam naqueles países onde o capitalismo estivesse mais desenvolvido.

A rigor, Marx fez várias e contraditórias afirmações a respeito. Mas uma coisa é certa: no “Prefácio” da Contribuição à crítica da economia política ele disse e nunca desdisse que “uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições materiais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade. É por isso que a humanidade só levanta os problemas que é capaz de resolver e assim, numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as condições materiais para o resolver já existiam ou estavam, pelo menos, em vias de aparecer”.

Se prestarmos atenção a este raciocínio, veremos que o colapso do socialismo soviético foi uma dupla vingança: do Capital enquanto modo de produção e de O Capital, principal obra de Marx. Por um lado, uma vitória dos capitalistas. Por outro lado, o reconhecimento de que Marx estava certo ao apontar que a predominância de “relações de produção novas e superiores” dependeria de “condições materiais de existência”.

E aqui podemos começar a concluir, falando da história da própria obra O capital, até o momento em que ela vez a luz. A história posterior, ficará para os módulos seguintes deste curso.

Como já disse antes, Marx começou como um filósofo-jornalista, que foi empurrado a estudar os economistas políticos burgueses e os pensadores radicais ligados ao proletariado. Deste período inicial, há quatro textos muito importantes. Três destes textos foram publicados pelo próprio Marx: Miséria da Filosofia, contra Proudhon; o Manifesto do Partido Comunista, escrito por ele e Engels; Trabalho assalariado e capital, a rigor uma palestra feita por Marx. O quarto texto que citei anteriormente, como muito importante, não foi publicado em vida de Marx, nem foi feito para publicar: são os chamados Manuscritos econômico-filosoficos de 1844.

Buenas, aí vem as revoluções de 1848-49 e digamos que Marx tem mais o que fazer. Depois, ele é obrigado a se refugiar na Inglaterra e chega a conclusão de que é preciso estudar a dinâmica econômica, seja para explicar a eclosão e derrota das revoluções de 1848, seja para entender as condições do reaparecimento e possível vitória futura de uma nova revolução.

É preciso ter muito claro este propósito fundamental, político revolucionário, que levou Marx a estudar. Não era acrescentar itens no currículo Lattes, nem progredir na carreira, nem ganhar o sucedâneo acadêmico dos títulos nobiliárquicos.

Deste período, entre 1850 e 1867, é que surge O Capital.

Marx leu e glosou centenas e centenas de livros, contando para isso com os préstimos do Museu Britânico e de sua genial biblioteca. E tomou notas, milhares de páginas de anotações, numa letra considerada ilegível.

Deste laboratório brotaram vários manuscritos, que só vieram a se tornar conhecidos depois da morte de Marx e, inclusive, depois da morte de Engels. Alguns desses manuscritos simplesmente sumiram, outros talvez não tenham existido (Marx era useiro e vezeiro de dizer que havia concluído um texto, quando na verdade tratava-se de um roteiro ou inclusive de um esquema mental). O mais importante desses manuscritos é chamado de Grundrisse.

Os Grundrisse são hoje considerados, para O Capital, como os andaimes de um prédio em construção. Estavam entre os papéis de Marx quando ele morreu, depois ficaram sob a guarda do SPD alemão, depois foram fotografados e começaram a ser editados pelo Instituto Marx Engels da URSS. Em 1936 os soviéticos pagaram 20 mil dólares para comprar os, creio, 63 cadernos manuscritos. Entre novembro de 1939 (o texto) e junho de 1941 (os anexos), os Grundisse foram publicados pela primeira vez, em edições com pouco mais de 3 mil exemplares cada uma.

Pois bem: cada vez que um acadêmico idiota se autoproclama marxista e faz críticas ao papel do movimento comunista na preservação do legado de Marx, eu penso em um cidadão chamado Pavel Lazerevic Veller, principal responsável por decifrar a letra de Marx e por editar os Grundrisse. No mesmo mês de junho de 1941, quando foi publicado o anexo dos Grundrisse, os nazistas invadiram a URSS. Nesse momento, Pavel, o principal responsável pela edição dos Grundrisse, se alistou voluntariamente para combater os invasores e morreu combatendo, em novembro de 1941.

Fico pensando quantos marxólogos acadêmicos seriam capazes disso. Mas sigamos.

Os cadernos manuscritos que hoje conhecemos por Grundrisse foram redigidos entre 1857 e 1858. Em 1859 Marx publica Contribuição à crítica da Economia Politica, que comentaremos na próxima aula. Depois produz um novo manuscrito, que hoje está também à disposição, desta vez com o título de Manuscritos de 1861-1863. E, finalmente, vai lapidando o volume I de O Capital, que virá à luz em 1867; e os outros dois volumes, que Marx não concluirá e que serão editados e publicados sob a responsabilidade de Engels, em 1885 e 1894, respectivamente.

O plano original, de 1857, era publicar 6 volumes: um dedicado ao Capital, outro dedicado a Terra, outro dedicado ao Trabalhado Assalariado, outro dedicado ao Estado, um quinto volume dedicado ao Comércio Exterior e, finalmente, um sexto volume dedicado ao Mercado Mundial e as Crises.

Em 1865, o plano já se alterou para o que conhecemos: Produção, Circulação, Processo Global e História da Teoria. Destes, repito, o primeiro volume (Produção) foi publicado em vida de Marx; os outros dois volumes, por Engels; e as Teorias, numa primeira versão, foi publicada por Kautsky.

Um último comentário para encerrar nossa aula introdutória: O Capital não é compreensível sem a Ciência da Lógica de Hegel.

Este detalhe, a dialética, o método dialético, é essencial para a compreensão do livro ao qual dedicaremos as próximas aulas.

Termino por aqui, obrigado pela atenção.

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PROGRAMAÇÃO DIA A DIA
28 de agosto sexta

Aula 3 Volume I – Cap. I – A mercadoria
4 de setembro sexta
Aula 4 – Volume I – Cap. II – Processo de Troca; Cap. III – O Dinheiro ou a Circulação das Mercadorias
11 de setembro sexta
Aula 5 – Volume I – Cap. IV – Transformação do Dinheiro em Capital; Cap. V – Processo de Trabalho e Processo de Valorização
18 de setembro sexta
Aula 6 – Volume I – Cap. VI – Capital Constante e Capital Variável; Cap. VII – A Taxa de Mais Valia
25 de setembro sexta
Aula 7 – Volume I – Volume I – Cap. VIII – A Jornada de Trabalho
2 de outubro sexta 
Aula 8 – Volume I – Cap. IX – Taxa e Massa da Mais Valia; Cap. X – Conceito da Mais Valia Relativa; Cap. XI – Cooperação; Cap. XII – Divisão do Trabalho e Manufatura
9 de outubro sexta
Aula 9 – Volume I/2 – Seção IV – A Produção da Mais Valia Relativa; Cap. XIII – Maquinaria e Grande Indústria: item 1 – Desenvolvimento da maquinaria; itens 2, 3, 4, 5 e 6. Repulsão e atração de trabalhadores.
16 de outubro sexta
Aula 10 – Volume I/2 – Cap. XIII, item 8 – O Revolucionamento da manufatura + item 9 – Legislação fabril + item 10 – Grande indústria e agricultura
23 de outubro sexta
Aula 11 – Volume I/2 – Seção V – A Produção da Mais Valia Absoluta e Relativa Cap. XIV – Mais Valia Absoluta e Relativa
30 de outubro sexta
Aula 12 – Volume I/2 – Cap. XV – Variação da Grandeza do Preço…- Cap. XVI – Diferentes Fórmulas para a Taxa da Mais Valia – Seção VI: O Salário – Cap. XVII: Transformação do Valor
6 de novembro sexta
Aula 13 – Volume I/2 – Cap. XVIII – Salário por Tempo; Cap. XIX – Salário por peça; Cap. XX – Diversidade Nacional dos Salários
13 de novembro sexta
Aula 14 – Volume I/2 – Seção VII – O Processo de Acumulação do Capital; Cap. XXI – Reprodução Simples Cap. XXII – Transformação da Mais Valia em Capital
20 de novembro sexta
Aula 15 – Volume I/2 – Cap. XXIII – Lei Geral da Acumulação
27 de novembro sexta
Aula 16 – Volume I/2 – Cap. XXIV – A Teoria Moderna da Colonização

 

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