domingo, 18 de agosto de 2019

Juliana Cardoso na CNB: um “detalhe” da polêmica



Recebi muitas versões acerca do fato, inclusive dois textos, um de Julian Rodrigues e outro Chico Macena. 

O episodio é rumoroso, e espero seja esclarecido nos mínimos detalhes. Mas o que pretendo comentar é um detalhe lateral, que aparece em um texto que Chico Macena enviou à Juliana Cardoso.

Lá está dito o seguinte: “Assim como nos da CNB e tantos outros militantes, sempre defendeu o PT e o legado do nosso governo Lula/Dilma: a criação do ministério das mulheres e todas as políticas de gênero e saúde da mulher (Saúde tua bandeira histórica), as cotas nos serviços públicos e nas universidades, a reparação com os países africanos,  a regulamentação dos Quilombolas e das terras Indígenas (minha pequena Índia), o aumento real do salário mínimo, as políticas de desenvolvimento regionais, a defesa da soberania, um padrão altivo nas políticas externas, enfim, tudo que nossos governos fizeram, ainda que para alguns tenha sido apenas “uma conciliação de classes”, não uma posição de classe, de quem sempre teve lado, como você que sempre teve lado: o da classe trabalhadora. Você continua defendendo esse legado, que não é por acaso que todos os dias querem destruir, retroceder.”

Notaram a mágica?

Macena cita uma lista de realizações positivas, engatando em seguida a frase: “enfim, tudo que nossos governos fizeram, ainda que para alguns tenha sido apenas ‘uma conciliação de classes’, não uma posição de classe, de quem sempre teve lado”.

Opa! Opa!

Se nossos governos tivessem feito “apenas” o “tudo” que Macena citou, de fato não faria muito sentido falar de “conciliação de classe”.

Acontece que aquilo que Macena cita NÃO é “tudo” que nossos governos fizeram.

Há inúmeras outras ações, que Macena não cita.

Por exemplo: fomos campeões em fechar rádios comunitárias. E nunca antes na história um governo errou tanto nas nomeações ao STF.

E tem uma outra lista, daquilo que não fizemos, nem tentamos fazer.

Por exemplo: punir os criminosos da ditadura, mudar o currículo das escolas militares, quebrar o oligopólio da comunicação, libertar o BC do controle do sistema financeiro privado etc.

Acho que todos, inclusive Macena, conhecem as três listas de cor e salteado.

A do que fizemos em benefício do povão, a do que foi feito em benefício dos ricos e a do que não fizemos ou nem tentamos fazer.

Quando uma parte do PT crítica a estratégia de conciliação de classes, estamos nos referindo a política que orientou o conjunto da obra.

Não apenas as três listas citadas, mas também e principalmente a crença de que se fossemos republicanos, eles seriam democratas.

Deu no que deu.

Fico feliz que Macena não goste de ser acusado de adepto da conciliação de classe.

E ficaria ainda mais feliz, se não tivéssemos praticado a tal conciliação.

Lula estaria livre. E Bolsonaro na cadeia.

4 comentários:

  1. A honestidade inclui a totalidade!!
    É comum à direita, infelizmente à setores dos Petistas uma prática asquerosa de editar a realidade.

    Talvez pela submersão a essa prática comum da mídia corporativa que vive para fazer versões dos fatos reais e assim cria uma realidade paralela.

    Esse texto de Macena se assemelha muito às crias parciais apresentadas no tão conhecido JN que diariamente invade as famílias com meias verdades ou com versões de verdades que condicionem a uma só conclusão.

    Não há pensamento inteligente na ausência do contraditório. Se fosse a intenção ser lúcido e honesto não faria essa tentativa primária de dourar uma pílula indigesta.

    Se fração do PT insiste em fazer birra, como fazem as criancinhas mimadas, bater o pé e não admitir falhas cruciais nos governos isso é muito perigoso.

    Primeiro porque, como o JN, subestima a inteligência das pessoas ao continuar na realidade paralela criada quando a realidade escancara os fatos de maneira diferente do relatado.

    Depois porque se dirigirem o partido continuarão nessa toada de negação da realidade, revisão de caminhos e compreensão de uma realidade política existente: há sim guerra de classes e há posturas de cada campo o de enfrentamento para que se mudem as regras ou o de fechamento dos olhos para a estrutura cruel e opressora e o contentamento em diminuir estragos.

    Não assumir a própria postura é covardia e não faz juz a respeito. Assumir que foi feita conciliação em nome de soluções emergenciais é diferente de sequer compreender que foi feito isso e, seguramente um político de tantos anos de ativismo conhece os termos.

    Logo,a segunda possibilidade em querer negar a escolha revela uma falta completa de honestidade!

    Perigo à frente!!! Continuaríamos no mundinho da mentira e da alienação da classe trabalhadora brasileira que continuaria na posição de expectadora e não de companheira de luta.

    A escolha será em setembro do que cada militante irá querer para o rumo do PT.

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  2. Cada um tem sua ilusão de estimação. A crítica feita pela corrente revolucionária que defende a ruptura do sistema de forma completa, dada a incapacidade de governança dentro da lógica capitalista, não deixa também de se agarrar as suas ilusões. Se a revolução é dado porque nossas indóceis classes trabalhadoras teimam em não participar ou não encontrar nosso Moisés que levará a travessia domar vermelho. Se realmente a classe trabalhadora, a despeito das desregulamentações do trabalho a partir da desconfiguração da CLT(esse monstrengo conservador, verdadeiro AI-5 dos trabalhadores, feito por um ditador fascista com a finalidade de tutelar os trabalhadores e lhes retirar a capacidade de luta e de conscientização, segundo grande parte da nossa combativa esquerda intelectual) ainda é coesa e tem consciência de classe, por que uma greve de massas luxemburguista clássica não acontece?

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  3. Creio que se confunde conciliação de classes com compromisso com as instituições e com o processo democrático. Vejam bem, nem mesno o Golpe levou o PT quebrar tal compromisso. O projeto que fracassou foi o pragmatismo eleitoral e a política de alianças. E ela falhou em seu próprio campo: foi incapaz não só de garantir a governabilidade e mais ainda de evitar o golpismo e a guerra de classes (no caso das classes dominantes contra a própria democracia). É disso que se trata. Outra falha, foi não conseguir articular um apoio popular que pudesse neutralizar o neoudenismo histérico neoliberal nas chamadas "classes médias" nas grandes cidades. E esse fracasso tem muito a ver com a falta de comunicação do Partido com seus simpatizantes e eleitores, a ausência de qualquer iniciativa no campo das novas tecnologias de comunicação que podia ter aberto um importante canal de comunicação entre as lideranças e militância com os milhões de simpatizantes e eleitores do Partido. Faltou um processo de incentivo de formação de "novas lideranças e novas gerações" (como ocorre nos grandes partidos políticos). Faltou a adoção de prévias para indicação das candidaturas de prefeitos, governadores e presidentes. Uma outra iniciativa seria a paridade entre homens e mulheres nas candidaturas proporcionais (vereadores, deputados e senadores).

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