terça-feira, 23 de maio de 2023

Glosando Pochmann, o otimista

Recomendo a leitura da entrevista concedida pelo Márcio Pochmann à Forum, acerca do arcabouço fiscal e assuntos conexos.

A entrevista, publicada dia 22 de maio, pode ser lida no link a seguir:

https://revistaforum.com.br/economia/2023/5/22/pochmann-arcabouo-fiscal-essencial-para-lula-enfrentar-herana-golpista-136329.html

Recomendo a leitura, entre outros motivos porque, talvez sem o desejar, Pochmann faz uma crítica contida ao arcabouço fiscal.

Vamos por partes.

A primeira pergunta da Fórum é sobre a votação do novo arcabouço fiscal. 

Isto permite a Pochmann começar sua resposta com uma notícia otimista: será aprovado.

O engraçado é que ele fala isso, depois de revelar sua preocupação com as dificuldades enfrentadas pelo governo no Parlamento. 

No fundo, é como se ele afirmasse que a votação do NAF seria um ponto fora da curva. 

Aqui está a frase reveladora: "Mas, em relação às novas regras do arcabouço fiscal, parece que está relativamente acordado".

"Mas"...

Claro, como não podia deixar de ser, Pochmann atribui este "acordado" à "atuação do presidente Lula e sua equipe junto ao parlamento". 

Mas, como também é óbvio, caso se confirme a prevista boa vontade do parlamento neste caso, dever-se-á a algo mais, a saber: ao conteúdo do NAF, especialmente na versão editada pelo senhor Cajado.

Saindo da votação para o mérito, Pochmann diz estar preocupado não apenas com a economia, mas com a "economia política".

O que Pochmann quer dizer com isso?

A reposta está aqui: "esse tem sido o tom do presidente Lula, colocando a economia subordinada à política, desde a campanha passada. O tema da economia, que era preponderante antes, perdeu o sentido em relação aos aspectos de condução e articulação política".

Traduzindo em linguagem direta, Pochmann diz ser "muito importante a aprovação dessas regras fiscais por um aspecto decisivo no enfrentamento da herança golpista que o presidente Lula assumiu". 

A saber: o NAF reduziria os pretextos para um impeachment.

Para chegar nessa conclusão, Pochmann passeia pelas medidas adotadas pelo governo Lula quanto a Petrobrás ("há muito a fazer no campo do petróleo e gás, mas ... podemos perceber uma mudança") e depois fala da lei do teto.

E o que ele nos fala a respeito do "teto"?

Que ela, a lei, não foi cumprida, nem por Temer, nem por Bolsonaro.

E agrega: "o ponto fundamental é que essa lei, na minha opinião, funcionava como um parlamentarismo sem partidos. Ou seja, saímos do presidencialismo de coalizão que marcou a Nova República para um período em que o poder parlamentar se tornou maior do que o poder executivo. Isso representou uma transformação profunda no papel do legislativo, com deputados e senadores se tornando cada vez mais gestores públicos, responsáveis pelo orçamento. Não apenas por meio de emendas, mas também pelo controle dos gastos, estabelecido pelo teto de gastos". 

Neste contexto, segundo Pochmann, Lula estaria fazendo "um movimento importante para se desvencilhar desse parlamentarismo sem partidos".

O NAF seria, pois, um "desvencilhar".

É uma interpretação interessante, sobre a qual só me ocorre perguntar: combinaram com os russos?

(Aliás, pergunta parecida poderia ser feita sobre outra interpretação, simétrica a esta, segundo a qual o NAF seria um movimento importante para o governo contornar a pressão de Bob Fields Neto a frente do Banco Central.)

Seja como for, quando fala da "economia política" da coisa, Pochmann está se referindo a política. 

Mais adiante voltaremos ao tema da economia política propriamente dita, a saber, o impacto deste NAF sobre o padrão de desenvolvimento do Brasil.

No que toca a política estrito senso, segundo Pochmann, se o NAF for aprovado, "acredito que o governo fica mais distante de sofrer pedidos de impeachment relacionados a problemas fiscais, que foram a base do impeachment da presidente Dilma". 

Claro que isto é importante.

Mas é bom lembrar que os tais pretextos só tiveram aceitação porque havia um clima político e, na base desse clima político, estava a situação econômica e social, que por sua vez tinha relação - entre muitas outras coisas - com uma política econômica que não entregou aquilo que fora prometido nas eleições.

Moral da história: que é bom não dar sorte para o azar, concordo; mas fazer isto as custas de uma política fiscal que dificulta a execução de nosso programa, não me parece muito astuto, digamos assim.

Neste ponto da entrevista, Pochmann ressalta que "não sabemos como será aprovado, já que o relator apresentou um substitutivo". 

E agrega: "na minha opinião, o que o governo enviou ao parlamento é melhor do que o teto de gastos, mesmo que continuemos tendo um limite para os gastos. Isso não resolverá o problema da falta de crescimento do país nos últimos dez anos".

Que o NAF é melhor do que o teto de gastos, estamos todos de acordo.

Que com o NAF continuaremos a ter um limite para os gastos, também estamos todos de acordo, mesmo que não concordemos com os limites propostos.

Mas a frase mais importante é: "Isso não resolverá o problema da falta de crescimento do país nos últimos dez anos".

E aí vem a "economia política" propriamente dita.

Segundo Pochmann, a agenda "de crescimento, reindustrialização e economia para os próximos quatro anos" estaria sendo desenvolvida em outra esfera.

Qual?

A "atração de recursos externos", "o uso de recursos públicos, considerando a grande reserva internacional que o Brasil possui" e "recursos internos que poderiam ser direcionados se tivéssemos taxas de juros mais baixas".

Ou seja: no fundo, Pochmann parece elogiar o NAF, mas só parece. A opinião dele, se entendi direito, é mais ou menos a seguinte: isto não é nem tão bom, nem tão ruim quanto dizem; mas seguramente não é tão importante quanto parece.

Palavras de Pochmann: "acredito que a questão econômica, que tem chamado a atenção de muitos colegas, devido às restrições impostas pelo arcabouço fiscal, não será a principal alavanca para o crescimento econômico. Acredito que a retomada dos investimentos nesse novo tripé de investimento brasileiro, com investimentos externos articulados com investimentos público e privado nacionais, será a saída para a economia".

Mas a pergunta que fica é: com as "restrições impostas pelo arcabouço fiscal" (leia-se, com as concessões feitas ao capital financeiro), teremos investimentos públicos em escala suficiente para atrair & combinar com os (supostos e desejados) investimentos externos e privados nacionais?

Penso que não. 

E acho que no fundo Pochmann também pensa que não, pois para a "conta" fechar ele mobiliza mentalmente a "grande reserva internacional que o Brasil possui". 

O problema deste raciocínio não está no polêmico recurso às reservas internacionais, mas no fato de que Pochmann, como muita gente do PT, parece observar 2023 com os olhos de 2003. 

Vejamos, por exemplo, o seguinte raciocínio: "durante o governo do presidente Lula, tanto no primeiro como no segundo mandato, enfrentamos uma forte austeridade fiscal, com superávits fiscais expressivos, e mesmo assim a economia continuou crescendo. Isso se deu, em parte, pelo ciclo de commodities e pelas exportações. Portanto, acredito que a solução para a economia virá por meio do investimento externo articulado com o investimento público e privado nacional, e não apenas pelas regras fiscais, que considero mais um componente de proteção contra riscos políticos, como um impeachment em um contexto parlamentar complexo".

O "em parte" é, digamos, muito contido.

O ambiente internacional contribuiu e muito para o desempenho da economia brasileira, entre 2003 e 2016. Contribuiu tanto negativamente, quanto positivamente.

A pergunta que podemos fazer é: estamos hoje diante de um cenário similar? Ou, pelo menos, mesmo não sendo similar, estamos diante de um cenário que, feitas as contas, contribuirá virtuosamente para o crescimento econômico nacional?

Se a resposta for sim, Pochmann tem razão. 

Mas se a resposta for não, a conclusão deve ser a de que precisaremos de muito mais investimento público do que naquela época. 

E um dos problemas do NAF (na versão proposta pelo governo) é que ele contém (no sentido de segurar) os investimentos. 

Nem falo do NAF-na-versão-do-relator, pois este é um teto de gastos disfarçado.

Aliás, Pochmann reconhece que "as pessoas e os estudiosos que chamam atenção para os problemas econômicos relacionados aos gastos têm suas razões". 

A pergunta é: haveria uma alternativa? Poderíamos ter um NAF menos austero?

A resposta de Pochmann pode ser depreendida do seguinte raciocínio: "do ponto de vista político, o presidente Lula adotou uma postura de não confronto com o legislativo. Ele poderia ter seguido a trajetória da presidente Dilma em seu segundo mandato, quando fez oposição ao que estava em curso no parlamento. O presidente Lula poderia ter seguido a trajetória do governo João Goulart, que propôs reformas interessantes e avançadas, mas não tinha base política e social". 

Ou seja, se entendi direito, Pochmann acha que a alternativa era ou ceder (NAF) ou ser golpeado, como Dilma e Goulart foram.

Para Pochmann, ceder e conviver com uma maioria parlamentar de direita não é um problema intransponível, não é "um impedimento para o avanço do país"; ao final o futuro radioso virá, "mas leva um pouco mais de tempo". 

Realmente, por esse caminho vai levar tempo. E uma pergunta é: temos este tempo?

Pochmann parece acreditar que sim e cita, em apoio a esta crença, uma série de ações e medidas positivas que o governo Lula adotou nestes primeiros meses: o "conselhão", a "ampliação dos ministérios", a "participação na elaboração do Plano Plurianual", o "novo financiamento das entidades sindicais".

Segundo Pochmann, isto faria parte de um movimento do governo, que estaria "buscando uma nova maioria e isso se assemelha ao que o governo de Juscelino Kubitschek fez na segunda metade dos anos 1950, quando não tinha maioria na câmara. Ele promoveu um projeto, o Plano de Metas, em articulação com a sociedade civil e a comunidade internacional".

A comparação com JK é muito reveladora, por diversos motivos. 50 anos em 5. Capital estrangeiro. E, ao menos na memória idealizada de muita gente, uma época de grande otimismo. 

Aliás, é nessa altura da entrevista que o próprio Pochmann alerta que sua "fala pode parecer otimista, mas baseio-me em fundamentos econômicos e políticos. Em termos econômicos, vejo que o esforço pelo arcabouço fiscal e pelo PPP (Plano Plurianual) pode levar o Brasil a retomar um crescimento em torno de 3% a 4% ao ano. No entanto, não acredito que isso ocorrerá já este ano, em 2023. A economia deve crescer menos que no ano passado".

Ao chegar neste ponto, Pochmann diz que isso pode ser "comparável ao que aconteceu há cerca de vinte anos, em 2003, no início do governo do presidente Lula". 

E assim, de súbito, dos anos JK pulamos para o período em que Palocci dava as cartas. 

Pochmann diz assim: "Naquele momento, enfrentamos a opção de elevar a taxa de juros e lidar com questões inflacionárias, além de implementar medidas de ajuste fiscal. Em 2002, a economia cresceu cerca de 3,9%, segundo o IBGE, e no primeiro ano do governo do presidente Lula, em 2003, cresceu 1,1%. Começamos o governo com um ritmo menor. No entanto, em 2004, quando ocorreram as eleições municipais, a economia cresceu mais de 5%, e o Partido dos Trabalhadores teve seu melhor desempenho eleitoral nas eleições municipais, apesar de ter perdido a prefeitura de São Paulo".

Ops!

Essa história de que o PT teve seu melhor desempenho nas eleições municipais em 2004 é, digamos, algo controverso. 

Para conhecer outro ponto de vista, sugiro ler o seguinte texto: 

http://valterpomar.blogspot.com/2023/05/balanco-das-eleicoes-de-2004.html

Mas, textos a parte, sugiro principalmente lembrar do que ocorreu depois das eleições de 2004: perdemos a presidência do Congresso e começou a crise do mensalão.

Portanto, se é para comparar 2023 com 2003, façamos isso por completo e lembremos do conjunto da obra.

Alguém pode dizer: tranquilo, teve tudo isto de ruim, mas depois viramos a mesa em 2006. 

Sim, é verdade. 

Mas lembro a quem fizer este raciocínio que naquela época (2003-2005) enfrentávamos a oposição neoliberal tucana; hoje enfrentamos, além dos neoliberais gourmet, uma extrema direita muito forte nos setores populares.

Por isso, me preocupa muito a afirmação de Pochmann, segundo a qual "o crescimento econômico será menor em 2023". 

E me preocupa também a esperança de que o necessário "salto na infraestrutura" será dado em boa medida com investimentos externos.

Entre outras coisas, porque se fazer nosso futuro depender de investimentos externos é ruim em qualquer situação, na atual situação mundial é ruim demais.

Como alerta o próprio Pochmann, "é importante mencionar que estamos falando sobre hipóteses, pois não sabemos como a economia internacional irá se comportar, por exemplo". 

Cá entre nós, não é certo que tudo seja incerto: é possível prever sim como vai se comportar a "economia política" internacional no próximo período. A saber: alta turbulência.

No final de sua entrevista, perguntado, Pochmann lembrar que "a manutenção da taxa de juros em um patamar elevado implica, na verdade, em transferência de recursos para os credores em detrimento da atividade econômica em si". 

E neste momento apresenta, como também sua, a expectativa, já comentada e criticada antes, de que "as medidas adotadas pelo governo atual em relação ao Banco Central, como a aprovação de novas regras que sinalizam responsabilidade fiscal, podem influenciar uma possível alteração na trajetória dos juros". 

Podem. Como podemos também viver uma combinação de política monetária e política fiscais "austeras". 

O que não podemos, em nenhum caso, é deixar de enfrentar politicamente o tema dos juros e do BC, optando por uma política de apaziguamento (como é mesmo? algo assim: para evitares a guerra, escolhestes a desonra, mas terás a guerra e a desonra).

Da minha parte, me incluo entre os totalmente pedestres que entendem que teria sido "melhor o governo Lula ter oferecido uma proposta com um nível mais alto para então poder ser negociado e rebaixado".

Mas não foi isso que fizemos.

Resultado: "quando se leva algo muito justo, as alterações podem ser perturbadoras", "o substitutivo apresentado possui mudanças que podem complicar de certa maneira", "é necessário aguardar o resultado final para uma avaliação mais definitiva".

E assim termina a entrevista: vamos aguardar o resultado final.

E enquanto isso, como diria um amigo de Venâncio Aires, sigamos dando nó em pingo de água.

Balanço das eleições de 2004

 BALANÇO GERAL


O Partido dos Trabalhadores deve fazer um balanço profundo das eleições municipais de 2004. Cada direção municipal, cada diretório estadual, deve analisar os resultados obtidos, confrontando-os com a história e com os objetivos que o PT havia se proposto a alcançar, nessas eleições.

Neste balanço, devemos precisar qual a influência dos fatores estritamente municipais, locais, regionais; e qual a influência dos fatores nacionais, gerais.

O Partido dos Trabalhadores disputa eleições municipais desde 1982. Naquele ano, elegemos 2 prefeitos. Em 1985, elegemos a prefeita de Fortaleza. Em 1987, o prefeito de Vila Velha. Em 1988, vencemos em 36 importantes cidades, entre elas São Paulo, Vitória e Porto Alegre. Em 1996, elegemos 54 prefeitos/as. Em 1996, mais que dobramos, elegendo 115 prefeitos/as. Em 2000, elegemos 187 prefeitos/as. Em 2004, finalmente, elegemos 411 prefeitos e prefeitas.

O crescimento numérico foi acompanhado por uma expansão geográfica. Mesmo assim, está claro que – de 1988 até 2000 – a maior parte das prefeituras governadas pelo PT se concentrava na região sudeste e sul do país. Em 2000, por exemplo, esta região concentrava 131 prefeituras governadas pelo PT; enquanto o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste reuniam 56 prefeituras.

Quanto ao número de habitantes, a trajetória do PT mostra um crescimento constante nas cidades com até 50 mil habitantes (21 em 1988, 35 em 1992, 87 em 1996, 127 cidades em 2000). Mostra um crescimento mais modesto nas cidades acima de 50 mil e abaixo de 200 mil habitantes (6, 9, 19, 31 cidades, respectivamente).

O dado politicamente mais revelador, entretanto, é o relativo as cidades com mais de 200 mil habitantes. Em 1988 o PT elegeu 9 destas cidades; em 1992, elegeu 10; e, em 1996, elegeu novamente 9 com mais de 200 mil habitantes. Já em 2000, houve um salto: elegemos 29 cidades com mais de 200 mil habitantes, sinalizando a ascensão que levaria o PT a conquistar, em 2002, a presidência da República.

O quadro fica ainda mais claro se considerarmos a população total residente nas cidades governadas pelo PT:

1988: 14,9 milhões
1992: 8,3 milhões
1996: 7,9 milhões
2000: 28,8 milhões

A curva é clara: ascendente em 1988, inicia um descenso em 1992 e 1996 (anos de hegemonia neoliberal) e torna-se fortemente ascendente em 2000.

Portanto, a trajetória do PT em eleições municipais combina dois movimentos distintos, um constante, outro variável:

a)um deles, constante, é o do crescimento em número de prefeituras, vereadores, vices e eleitorado, mostrando que o Partido vai se capilarizando e se nacionalizando;

b)outro deles, variável, oscilando ao sabor da conjuntura nacional, é expresso no porte das cidades que governamos, no número de habitantes ou de eleitores que ali residem.

As eleições de 2004 apresentam, de maneira combinada, os dois movimentos: a continuidade do crescimento; e, ao mesmo tempo, uma oscilação negativa nas grandes cidades.

O crescimento fica claro quando olhamos os resultados quantitativos em geral, sem distinguir o porte das cidades: os números absolutos de 2004 mostram que o Partido ampliou o seu número de eleitores, o número de prefeitos/as e vereadores.

O PT foi o partido mais votado, tanto no primeiro (16,3 milhões de votos) quanto no segundo turno (6,9 milhões de votos).

Em 2000, o PT ficou em quarto lugar, entre os votos válidos, atrás do PSDB, PMDB e PFL. Já em 2004, o PT ficou em primeiro lugar entre os votos válidos (17,2%), superando o PSDB (16,5%), o PMDB (15%) e o PFL (11,8%).

Elegemos 411 prefeitos/as, contra 187 eleitos em 2000 (um crescimento relativo de 120%, superado apenas pelo PCdoB e pelo PV, que entretanto elegeram 10 e 56 prefeituras, respectivamente).

Crescemos, também, em número de vereadores: 118 em 1982; 900 em 1988; 1.100 em 1992; 1.895 em 1996; 2.485 em 2000; 3.679 vereadores eleitos em 2004, num total de 10.431.085 votos ou 10,7% do total de votos válidos para vereador em todo o país, o que nos permitiu eleger 7,1% do total de vereadores existentes no Brasil.

Somos, portanto, o terceiro partido mais votado para vereador (atrás do PMDB e do PSDB), quando em 2000 éramos o quinto partido mais votado.

Os 3.679 vereadores eleitos pelo PT estão presentes em 2345 municípios (42% do território brasileiro), um número bastante superior ao de 2000 (quando elegemos vereadores em 1482 municípios).

Para produzir este resultado eleitoral, o PT lançou candidatos em cerca de 5 mil municípios, elegendo 411 prefeitos, 312 vice-prefeitos e apoiando 937 chapas majoritárias vencedoras. Ao todo, o PT participará de 1.660 governos municipais ou 30% dos municípios brasileiros.

Em resumo: quando olhamos os resultados quantitativos em geral, sem distinguir o porte das cidades, constatamos que o PT obteve em 2004 mais uma vitória eleitoral: ampliamos o número de eleitores, o número de prefeitos/as, o número de vices-prefeitos/as e de vereadores.

Mas quando olhamos o resultado do ponto de vista qualitativo, ou seja, quando observamos não apenas os números gerais da eleição, mas também o resultado alcançado nas cidades mais importantes, constatamos que o PT sofreu um revés nas eleições de 2004.

Se considerarmos, por exemplo, o número de eleitores residentes nas cidades governadas pelo PT, em 2000 e 2004, vemos o seguinte:

2000: 21,5 milhões
2004: 17 milhões

Se analisarmos estes números, mais aqueles citados anteriormente, temos uma curva bastante clara: ascendente até 1988, inicia um descenso em 1992 e 1996 (anos de hegemonia neoliberal), torna-se fortemente ascendente em 2000 e inflete para baixo em 2004.

Alguns setores do Partido buscam relativizar esta inflexão. Lembram que o PT elegeu 23 das 96 maiores cidades brasileiras (12 no primeiro turno, 11 no segundo turno), governando 9 capitais.

Outro argumento utilizado para dizer que não sofremos uma inflexão em 2004 é o número de capitais em que fomos vitoriosos: 6 em 2000 e 9 em 2004.

Acontece que o peso político das capitais em que o PT foi vitorioso em 2000 era maior do que o peso político das capitais em que vencemos no ano de 2004. As derrotas em Porto Alegre, São Paulo, Belém e Goiânia não são compensadas pelas novas vitórias em Fortaleza, Vitória, Porto Velho, Palmas etc.

É claro, entretanto, que temos o que comemorar nas eleições de 2004. Além do que foi dito anteriormente, citamos ainda: a reeleição de 44% de nossas prefeituras, inclusive nas capitais de Recife, Aracaju e Belo Horizonte; o crescimento de nossa votação popular, em cidades como São Paulo; a ampliação da presença partidária, no norte, nordeste e centro-oeste; os resultados em Fortaleza e em Vitória (bem como em Cariacica).

Mas não há como desconhecer o seguinte: o PT não atingiu seu objetivo central nas eleições de 2004 – objetivo estabelecido em seguidas reuniões do Diretório e da Executiva Nacional –, que era o de deslocar para a esquerda a correlação de forças do país.

Noutras palavras, tratava-se de dar continuidade ao que se viu nas eleições de 2000 e 2002, preparando o terreno para uma nova vitória em 2006.

Esse objetivo não foi atingido. Pelo contrário, foi a direita que teve sucesso, bloqueando e revertendo aquela tendência que vinha de 2000/2002, enfraquecendo nossas chances de vitória em 2006.

Esta derrota é mais evidente em dois estados.

É evidente no estado de São Paulo, onde perdemos cidades estratégicas, como São Paulo, Ribeirão Preto, Piracicaba, Campinas e Santos; onde tivemos desempenhos ruins em cidades como São Bernardo do Campo; e onde ganhamos por pouco, como em Diadema.

E é evidente, também, no estado do Rio Grande do Sul, onde perdemos cidades igualmente estratégicas, como Porto Alegre, Pelotas e Caxias do Sul.

As eleições de 2004, portanto, acenderam um sinal amarelo para a esquerda e um sinal verde para a direita, que já fala abertamente em abandonar a estratégia de “contenção” (conviver e cooptar o governo Lula) e passar para a estratégia de “aniquilação” (derrotar o PT e o governo Lula).

É por isso que achamos necessário reconhecer que o PT sofreu uma derrota política em 2004. Derrota que nós, da Articulação de Esquerda, já havíamos percebido estar em curso (ver a esse respeito a avaliação feita pela direção nacional da tendência, no dia 15 de outubro).

Fomos derrotados, o PT foi derrotado nas eleições de 2004, porque as eleições mostraram existir uma reversão na tendência popular que nos levou à vitórias importantes em 2000 e à presidência da República, em 2002.

Se esta reversão não for detida, podemos colher uma derrota política e eleitoral em 2006.

Portanto, determinar as causas da derrota política que sofremos em 2004 é algo essencial.

Alguns setores do Partido acham que não houve uma derrota política. Pelo contrário, falam em vitória eleitoral. Outros reconhecem que tenha havido derrota, mas argumentam que não há uma única explicação, mas sim um conjunto de explicações, particulares e não generalizáveis.

Evidente que – numa eleição municipal – há causas locais e regionais que devem ser consideradas. Por outro lado, as causas nacionais influenciam diferentemente cada situação específica. É isto que explica o fato de termos obtido, ao mesmo tempo, numa mesma conjuntura nacional, vitórias e derrotas importantes.

É compreensível que vários setores do Partido resistam a debater em profundidade as causas de nossa derrota. Por isso mesmo, talvez seja útil inverter a questão e responder ao seguinte: porque a direita conseguiu uma vitória política nas eleições de 2004, criando um cenário mais favorável para ela disputar as eleições gerais de 2006?

Em nosso entender, há três razões fundamentais que explicam a vitória obtida pela direita.

A primeira dessas razões foi a unidade da burguesia, já no primeiro turno, mas principalmente no segundo turno.

É evidente que há setores do empresariado e das instituições que expressam seus interesses (os meios de comunicação, a justiça eleitoral, os governos estaduais etc) que apoiaram candidaturas de esquerda ou que se dispersaram em várias candidaturas de centro-direita no primeiro turno.

Esta dispersão e o apoio à candidaturas de esquerda, entretanto, não constituem novidade. Em 2002, por exemplo, parcelas expressivas do empresariado apoiaram ou ficaram neutras frente a candidatura Lula.

A novidade, em 2004, é uma reaglutinação do conservadorismo e do empresariado, em torno de uma tática anti-petista, que teve no PSDB o seu “comitê central”, principal beneficiário, político e eleitoral.

Importante lembrar que, ao mesmo tempo em que o PSDB era o núcleo da campanha anti-petista, setores importantes do PT defendiam uma aproximação estratégica com os tucanos. O presidente da República chegou a falar de fusão entre os dois partidos; já o prefeito reeleito de Belo Horizonte e o ministro Tarso Genro, de ângulos diferentes, enalteceram – mesmo depois do segundo turno – uma suposta “modernidade” tucana.

A participação do empresariado nas campanhas petistas, embora relevante, se deu em escala menor do que o divulgado, compatível com o peso do Partido, sem o caráter orgânico que teve no caso da direita e com uma relativamente pequena participação do capital financeiro (pequena, se considerarmos que é o setor econômico mais beneficiado pela política do governo federal).

Abre parênteses: É importante dizer que o Partido precisa rever radicalmente suas políticas de financiamento. Não é possível esconder as repercussões ideológicas e políticas negativas do financiamento privado de campanhas. Casos como o de Waldomiro Diniz e Rogério Buratti precisam ser debatidos de maneira franca dentro do PT, que precisa tomar medidas duras contra as tentativas de transformar o partido e governos que ocupamos em “escada” para práticas corruptas. Fecha parênteses.

Retornando ao comportamento da burguesia no processo eleitoral: as figuras mais notórias da direita brasileira (ACM, Sarney), mesmo quando aparentemente "apoiadas" pelo Planalto, se enfrentaram com candidaturas petistas (como ocorreu em Salvador e Imperatriz).

É importante ressaltar estes fatos, pois eles demonstram que – ao contrário do que sugere a ultra-esquerda e apesar da política implementada pelo governo federal (ou, quem sabe, para garantir a sua continuidade) – o grande capital opera consciente e deliberadamente para derrotar o PT.

Paradoxalmente, portanto, apesar da política econômica adotada pelo governo federal, a burguesia não teve dúvidas em concentrar suas energias contra o PT, seja para evitar que um fortalecimento do Partido gerasse ânimo para uma “esquerdização” do governo; seja porque a burguesia não pretende terceirizar a aplicação de suas políticas.

Como reconheceu, recentemente, um dirigente da ala moderada do PT: “a elite que elogia a política econômica é a mesma que operou para derrotar o Partido nas eleições”.

A segunda razão que explica a vitória política da direita nas eleições de 2004 é a redução no ânimo da classe trabalhadora, mais exatamente dos seus setores organizados.

Esta redução no ânimo, no entusiasmo, reduziu o caráter militante das campanhas eleitorais, especialmente no primeiro turno. Nosso desempenho nas regiões de concentração operária, especialmente no ABC, deve ser visto como um sinal de alerta nesse sentido.

No caso de algumas categorias – como bancários, servidores públicos, professores universitários – houve mais do que uma redução no ânimo: houve hostilidade aberta, que pode ter se transformado inclusive em abstenção, voto nulo, branco ou até mesmo voto em candidaturas de centro-direita.

É provável que a atitude do governo federal frente a greve dos bancários, por exemplo, tenha tido fortes repercussões eleitorais ali onde a disputa foi apertada.

Apesar disso, de maneira geral não houve deslocamentos em direção ao PCdoB ou ao PSTU, nem tampouco em direção às candidaturas apoiadas pelo PSOL. Fracassou a tentativa de construir uma alternativa eleitoral à esquerda do PT. O que confirma uma opinião que temos defendido, desde o final de 2002: nas atuais condições históricas, não existe alternativa (eleitoral ou não) à esquerda ao governo Lula e ao PT. Ou o próprio governo Lula e o PT giram para a esquerda, ou será a direita quem colherá os frutos da decepção popular.

A falta de ânimo dos setores organizados ajudou a gerar aquilo que os analistas têm denominado de “deslocamento da classe média para a direita”.

O que são as “classes médias”? De maneira geral, o que chamamos de classes ou setores médios compõem um setor social integrado pelo estrato inferior da burguesia e pelo estrato superior da classe trabalhadora.

Noutras palavras: pequenos proprietários urbanos, trabalhadores com salários superiores à média e/ou ocupando funções de gerência etc.

Esses setores constituem uma importante força política e eleitoral, cujo comportamento sempre foi historicamente flutuante.

Estes setores médios apoiaram FHC e o Real em 1994, começaram a se decepcionar em 1998, se deslocaram para o PT e Lula em 2000 e 2002 e, agora, começam a voltar em direção ao PSDB e à oposição anti-petista.

Há vários motivos que explicam esse deslocamento para a direita, por exemplo, a unidade da burguesia e o desânimo dos setores organizados da classe trabalhadora.

Mas o principal motivo – que explica inclusive os dois outros, já citados – é a decepção com as políticas implementadas pelo governo federal.

Num resumo grosseiro, os setores médios percebem a política do governo federal da seguinte forma: tirar dos remediados, para distribuir aos pobres, sem tocar nos ricos.

Esta percepção gera uma forte crítica ao governo federal, em alguns casos “de esquerda”, mas geralmente de direita.

(Importante dizer que, caso nosso governo federal estivesse com uma política claramente voltada a derrotar o setor financeiro, isso não garantiria o apoio dos setores médios. O exemplo do Chile, no governo da Unidade Popular; e o exemplo da Venezuela, no governo Chavez, mostram que a direita e o grande capital têm forte influência sobre os setores médios. Mas, nesse caso, como também mostra a Venezuela, seria possível ter um apoio mais sólido junto aos setores populares e a militância de esquerda.)

Evidente que nossa presença no governo federal também repercutiu positivamente na campanha eleitoral, ajudando a explicar nosso crescimento em algumas regiões e camadas sociais. Mas o efeito sobre os trabalhadores organizados e os chamados “setores médios” foi principalmente negativo.

Esta é a terceira razão, portanto, da vitória política da direita nas eleições de 2004: o deslocamento, para a direita, dos chamados setores médios.

É importante dizer que a direita organizou, preparou, planejou esta vitória.

Contrariando os setores moderados do PT, que pensavam que uma política econômica moderada neutralizaria a direita; e ao contrário do que pensa a ultra-esquerda, para quem o governo Lula é “o governo do capital”, a direita brasileira organizou, desde o início de 2003, a vitória que obteve agora.

Vale a pena analisar os principais aspectos deste processo.

No início de 2003 e até agora, o governo Lula deu continuidade a aspectos essenciais da política econômica do governo tucano.

Alguns setores do PT pensaram que isto teria “tirado o discurso” da direita. Na verdade, isto parece ter “tirado o discurso” da esquerda, ao menos no que toca ao debate programático.

Ao retirar de cena o debate sobre o neoliberalismo, o debate sobre o projeto nacional, o confronto político-ideológico entre petismo e tucanato, o governo Lula preparou um terreno favorável à vitória da centro-direita.

Primeiro, livrando-os do debate sobre a “herança maldita”.

Segundo, gerando contradições entre nosso governo e nossa base social.

Terceiro, tirando do PT e da esquerda a condição de “portadores da mudança”.

Quarto, pasteurizando o debate político, que foi remetido a temas “municipais”, “locais”, “gerenciais” (quando todos sabemos que estas questões são fortemente limitadas pelas macro-políticas nacionais).

Os partidos de direita não tinham interesse em contestar a política econômica implementada pelo governo federal, seja porque concordam com ela, seja porque estamos num daqueles momentos em que uma política econômica globalmente negativa gera alguns efeitos positivos de curto prazo.

Algo que ocorreu sob o governo FHC e que pode voltar a ocorrer sob o governo Lula, hipótese que leva setores do PSDB a tratar com cautela suas perspectivas eleitorais em 2006, apesar das vitórias obtidas em 2004.

Os partidos de esquerda que apóiam o governo Lula, por sua vez, também não tinham interesse em contestar a política econômica do governo federal, seja pelos mesmos motivos da direita; seja porque se avaliou que isto seria eleitoralmente contraproducente; seja para não ter que “justificar” (ou questionar) a postura do governo em temas como a taxa de juros, o pequeno reajuste do salário mínimo e a reforma da previdência.

O fato do debate macro-econômico ter perdido peso na campanha eleitoral de 2004, impediu que o trabalho realizado em 2000 e 2002, de contestação ao neoliberalismo, tivesse continuidade.

Isso prejudicou o PT e fortaleceu principalmente o PSDB. E fez com que, em muitas cidades, o debate fosse concentrado nas políticas locais, como se não houvesse conexão entre a ampliação dos serviços públicos, a segurança e o desemprego, com o predomínio dos interesses do capital financeiro na economia nacional.

Sem ter a necessidade de enfrentar o PT no debate grande programático, a centro-direita deslocou sua crítica para outro terreno: o da política.

Nesse terreno, concentrou seu ataque em três críticas principais: o da democracia, o da ética e o da eficiência gerencial.

Já tratamos, na resolução aprovada pela direção nacional da AE em março de 2004, da questão ética.

Sobre isso, portanto, só queremos acrescentar que algumas das alianças praticadas na eleição de 2004, por exemplo, com Paulo Maluf, forneceram excelentes argumentos adicionais para os ataques hipócritas que a centro-direita faz contra nós – ataques feitos muitas vezes por gente que, em pleno século XXI, mantém de maneira generalizada a compra de votos; ou que ressuscitou, durante a campanha, um padrão anti-comunista que só encontra paralelo próximo no “nível” da campanha collorida de 1989.

De maneira geral, a transposição – para o Partido dos Trabalhadores — da política de alianças adotada na base de sustentação do federal, criou mais problemas políticos do que benefícios eleitorais.

A diretriz partidária para as eleições de 2004 estabelecia que nosso objetivo principal era deslocar a correlação de forças do país para a esquerda, o que deveria se traduzir em vitórias do PT e de seus aliados do campo democrático e popular.

Mas a diretriz realmente implementada pelo setor moderado do PT foi bem mais “ampla”. Na política de alianças, tentou transpor, para o PT, a política de alianças adotada no governo federal; estimulou, consciente ou inconscientemente, a ilusão de que haveria recursos abundantes, vindos do empresariado, para financiar nossas campanhas; adotou uma postura politicamente dúbia do governo federal; e aprofundou, em algumas regiões, uma forma empresarial de fazer campanha.

Em Fortaleza, o PT tinha candidatura própria, mas uma parte de nossos ministros, parlamentares e dirigentes nacionais apoiaram a candidatura de um aliado de esquerda.

Em Porto Alegre, o principal oponente de nossa candidatura era integrante de um partido da base de apoio do governo Lula.

Em Salvador, o candidato do PT não conseguia gravar uma declaração de apoio do presidente da República, mas o candidato do PFL carlista conseguiu uma “cena” (no sentido português e espanhol da palavra) com o presidente.

Em São Paulo, nossa candidatura tropeçou na relação com os partidos da base aliada, no primeiro turno e no segundo turno, com destaque para o desastrado “apoio” de Paulo Maluf.

No Rio de Janeiro, nossa candidatura tentava competir com o favoritismo de César Maia, que por sua vez era tratado como aliado prioritário em Niterói e Nova Iguaçú.

Esta confusão prejudicou principalmente o PT, primeiro porque em vários locais nos jogou na vala comum dos partidos tradicionais, com suas alianças movidas por interesses locais e regionais, em detrimento de projetos nacionais; segundo, porque facilitou a operação de nivelamento programático levada a cabo por vários de nossos opositores (em Campinas, como em Porto Alegre, por exemplo, os partidos antagônicos ao PT mimetizavam muitas das propostas apresentadas pelo Partido).

O caso do Rio de Janeiro é o mais ilustrativo dos efeitos de uma política de alianças sem princípio: depois de traumatizar o PT carioca, obrigando-o a fazer uma aliança com o PDT de Garotinho, chega-se ao extremo oposto, construindo uma política de alianças com todos os setores, tendo como único objetivo derrotar o PMDB... de Garotinho.

Neste contexto, não admira que o desempenho do PT tenha sido pífio na capital do Rio, tendo a comemorar a derrota de Garotinho (junto com a vitória de César Maia), assim como antes se tinha a comemorar a vitória de Garotinho (junto com a derrota da direita tradicional).

Os efeitos negativos da política econômica e a política de alianças adotada pelo Partido contribuíram, ademais, para fazer recuar a militância partidária. Em algumas cidades, esse recuo não foi visto, pelo menos de início, como um enorme problema estratégico; e, no lugar da campanha militante, adotaram-se métodos empresariais de disputar eleição, o que também foi apontado pela direita como “desvio ético” do PT: o uso de “militância paga”.

Quanto a questão da eficiência gerencial, trataremos mais adiante, quando falarmos do balanço setorial da atuação do governo Lula. Mas é evidente que os problemas administrativos e gerenciais do governo federal tem ligação direta com problemas políticos e estratégicos.

Sobre a questão da democracia, a pauta da centro-direita foi resumida por Fernando Henrique Cardoso e por José Artur Giannotti. Em artigo e entrevista para a Folha de S.Paulo, ambos sustentaram que a vitória do PT seria uma ameaça à democracia.

A tese implícita é a seguinte: o PT já tem “poder demais”, como se a verdade não fosse outra, como se a verdade não fosse que a imensa maioria do poder, no Brasil, segue nas mãos de quem sempre o teve.

O desdobramento da lógica de FHC/Giannotti é a seguinte: o PT pode ganhar as eleições, mas não pode indicar seus quadros para compor o governo; pode indicar os Ministros da Cultura e da Comunicação, mas não pode impor limites ao monopólio da mídia e à indústria cultural; pode indicar o ministro da Defesa, mas não pode demitir os gorilas da direita; pode indicar a ministra do Meio-Ambiente, mas não pode bloquear os transgênicos; pode ter o ministro da Fazenda, desde que a política ali implementada seja tucana; pode ter o presidente da República, mas não pode governar o país.

O ataque da direita contra o PT repercutiu fortemente nos setores médios, lembrando muito a tática adotada pela direita contra o governo Chavez.

Aqui como lá, a crítica da direita contra o PT tem um forte conteúdo “anti-pobre”. E, como nos Estados Unidos, parte dos pobres e dos setores médios acaba apoiando a centro-direita, a mesmo centro-direita que foi responsável pelas políticas neoliberais que prejudicaram socialmente a classe média e os pobres.

A centro-direita teve sucesso nas eleições de 2004. Construiu uma tática política e um discurso ideológico, reaglutinou suas forças sociais, recuperou importantes setores médios e populares, conquistou aparatos políticos importantes (como as prefeituras de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, combinadas com o controle dos respectivos governos estaduais). E pode vir a contar, em 2006, com dois outros suportes: o governo norte-americano, reeleito; e a possível existência do PSOL, como desaguadouro eleitoral da insatisfação com o PT.

Se o resultado eleitoral confirmou o PT e o PSDB como pólos da política brasileira (algo que não é novidade, pois já se havia verificado em 1994, 1998 e 2002), manteve também um “centro” muito forte, que não acompanhou o PT na maioria das disputas municipais e, portanto, pode ser o fiel da balança nas eleições de 2006.

Boa parte deste “centro” integra a base de apoio do governo federal. Entretanto, convém não se iludir com os resultados obtidos pelos partidos da “base de apoio”. Pois, dependendo da evolução política do país, estes partidos podem constituir uma terceira via ou apoiar uma candidatura tucana em 2006. Neste sentido, a derrota política do PT, em 2004, pode se transformar em derrota eleitoral (e política) do governo federal em 2006.

Nesse contexto, como impedir que a vitória (tucana) em 2004 se transforme na ante-sala da derrota (petista) em 2006? Essa é a principal questão que deve ser debatida pelo PT, nos próximos meses.

A principal resposta para esta questão está, em nossa opinião, numa mudança na política econômica do governo federal.


Articulação de Esquerda

4 de dezembro de 2004

domingo, 21 de maio de 2023

Os ataques contra a presidenta Gleisi

No dia 20 de maio, o jornal O Globo publicou um texto, assinado pelo jornalista Sérgio Roxo, com duros ataques contra a presidenta nacional do PT, a companheira Gleisi Hoffmann.

Os ataques não são inéditos, nem começaram agora. Mas desta vez vieram com CIC e RG.

Mas antes de falar quem colocou o jabuti na árvore, vejamos o mérito dos ataques.

Segundo o texto, Gleisi estaria "enfrentando desgaste com a bancada do partido na Câmara por defender posições mais à esquerda e que por vezes colidem com a pauta econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)". 

O texto também diz que "lideranças petistas afirmam que a dirigente está afastada da corrente majoritária da legenda, a CNB, pela qual foi eleita. É levantada, inclusive, a hipótese de Gleisi deixar o grupo".

Deixemos este segundo ponto para mais adiante e nos concentremos no primeiro.

Na hora de dar exemplos sobre a "política econômica", O Globo cita dois casos: o "arcabouço fiscal" e a "cobrança de impostos dos combustíveis".

Os dois pontos citados fazem parte da política econômica, mas não são "a" política econômica do governo Lula.

Mas a técnica é conhecida: se você divergir de uma vírgula, então é porque diverge do texto inteiro, e se você diverge do texto inteiro, então você é inimigo. 

E assim, por um passe de mágica, figuras de direita que fazem parte do governo se tornam aliados fiéis; enquanto petistas de primeira hora são estigmatizadas.

Para além disso, cabe perguntar: Gleisi é presidenta nacional do PT. E o fato é que o NAF não foi apresentado ao Partido antes de ser divulgado. Como, então, querer impedir que a presidenta do Partido possa apresentar suas opiniões?

Note-se que o próprio Globo diz que Gleisi fez "ressalvas ao novo arcabouço fiscal". Nem ressalva pode fazer?

[Noutras oportunidades já expus minha opinião sobre o NAF. Acho melhor que o Teto de Gastos, mas não estou de acordo com o conjunto da proposta, agora piorada (como não podia deixar de ser) pelo Cajado.]

O Globo atribui a deputados petistas a afirmação segundo a qual "as falas de Gleisi acabam sendo entendidas como posições do partido, embora muita vezes sejam minoritárias dentro da bancada." 

Admitamos a tese. Mas lembremos: a bancada é, inclusive estatutariamente, um organismo do Partido, subordinada ao Partido, cuja posição entre congressos é expressa pelo Diretório Nacional do PT, encabeçado por Gleisi.

Logo, a pergunta que poderia ser feita é se as posições de Gleisi expressam a posição do Diretório Nacional do PT. E, se for assim, caberia então responder como lidar com a eventual contradição entre a posição do Partido e a posição do governo.

Segundo um dos deputados citados pelo Globo, "Causa desgaste. Não podemos ser um partido de oposição sendo governo. Estão querendo repetir com o Lula o que foi feito com a Dilma (Rousseff), que é estreitar a base de apoio no Congresso. Querem uma política fiscal mais radical e que não tem passagem na Câmara."

De fato, governo é governo, oposição é oposição. Mas como deve proceder o PT, frente a um governo de frente ampla, do qual participa inclusive gente que esteve até ontem com Bolsonaro? Se não respondermos a esta questão, o desgaste virá de qualquer maneira. Por exemplo: se a política fiscal que "tem passagem na Câmara" dificultar as políticas sociais e os investimentos que precisamos fazer, o desgaste virá. Como lidar com isso?

Concordemos ou não com as posições de Gleisi, suas movimentações buscam dar conta deste problema. E cabe ao Partido como um todo, não apenas a bancada, debater o que fazer. E o que fazer não pode ser determinado apenas ou principalmente pela correlação de forças no Congresso.

Claro que existem pessoas que não concordam com isso, pessoas que acham que é a bancada que deve dirigir o PT, pessoas que acham que o mundo começa e termina no parlamento. Mas, ao menos por enquanto, estas pessoas podem muito, mas não podem tudo, embora venha crescendo a influência dos que pretendem transformar nosso partido em uma cooperativa de parlamentares.

Feito este preâmbulo, passemos ao segundo ponto: os ataques contra Gleisi estão vindo (e não é de agora) de integrantes da sua própria tendência, a CNB. 

Não vou reproduzir aqui as afirmações (incorretas), atribuídas ao deputado Washington Quaquá, acerca de quem concorda ou discorda de Gleisi na bancada. Nem tenho como opinar sobre as questões internas da CNB.

Apenas alerto que o PT é muito maior que a CNB. Portanto, o método de "fechar questão" na tendência, para depois impor esta posição ao Partido, é meio caminho andado para uma crise (aliás, o método da maioria presumida já demonstrou seus efeitos negativos entre 2003 e 2005).

Por fim, para não dizer que não falei de espinhos: no comando da direção partidária, a Gleisi defende com muita dureza as posições organizativas e também políticas de interesse da CNB, em prejuízo das posições defendidas por outros setores. 

Mas, como se vê, para algumas pessoas isso não basta. É preciso fazer isso "sem ressalvas". De onde veio esta concepção de política? No passado alguém diria: veio de Moscou. Mas há fortes sinais de que, ao menos no caso de uma das fontes da matéria do Globo, a origem é 100% nacional: o coronelismo.

SEGUE ABAIXO O TEXTO COMENTADO

Pressionada no comando do PT, Gleisi enfrenta desgastes no partido e no governo por posições mais à esquerda

Sérgio Roxo

2O.05.2023

Presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) vem enfrentando desgaste com a bancada do partido na Câmara por defender posições mais à esquerda e que por vezes colidem com a pauta econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lideranças petistas afirmam que a dirigente está afastada da corrente majoritária da legenda, a CNB, pela qual foi eleita. É levantada, inclusive, a hipótese de Gleisi deixar o grupo, o que ela nega.

Nesse cenário, Gleisi fez ressalvas ao novo arcabouço fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Anteriormente, a dirigente petista também se posicionou contra a volta da cobrança de impostos dos combustíveis. Haddad acabou vencendo a disputa. Dos 68 deputados do partido, 38 são da CNB. O grupo, do qual Lula e a própria deputada paranaense fazem parte, é conhecido historicamente por ter posições mais moderadas em comparação com as correntes minoritárias de esquerda da sigla.

De acordo com deputados da legenda, as falas de Gleisi acabam sendo entendidas como posições do partido, embora muita vezes sejam minoritárias dentro da bancada. Em razão disso, a relação entre ela e seus colegas é considerada desgastada pelos parlamentares. O deputado Washington Quaquá (RJ), um dos vice-presidentes do PT e membro da CNB, diz que hoje estão alinhados com Gleisi na bancada apenas o ex-presidente do partido Rui Falcão (SP), Bohn Gass (RS), Pedro Uczai (SC) e Lindbergh Farias (RJ), que é namorado dela. Nenhum deles é da CNB.

— Causa desgaste. Não podemos ser um partido de oposição sendo governo — critica Quaquá. — Estão querendo repetir com o Lula o que foi feito com a Dilma (Rousseff), que é estreitar a base de apoio no Congresso. Querem uma política fiscal mais radical e que não tem passagem na Câmara.

Como mostrou O GLOBO ontem, nas duas votações mais relevantes para o Palácio do Planalto até o momento — a urgência do novo arcabouço fiscal e as mudanças no marco do saneamento, na qual Lula foi derrotado —, 118 deputados acompanharam o governo em ambas as ocasiões. O número representa 23% da Casa, patamar distante do necessário para aprovar projetos.

Líder da bancada, Zeca Dirceu (PR), também da CNB, tenta contornar as insatisfações e afirma respeitar as posições de Gleisi.

— Eu vejo a Gleisi na bancada sempre de uma forma especial e diferenciada. Ela é a única entre todos nós que não é só deputada. É presidente do partido também. Então, vejo com respeito e naturalidade algumas posições dela.

Integrantes da direção partidária que fazem parte da CNB dizem que Gleisi não tem participado, nos últimos meses, das reuniões da corrente que são realizadas sempre antes dos encontros da executiva e do diretório nacional, principais instâncias decisórias da sigla. A presidente do partido alega que os horários dos encontros a impedem de ir. Também se queixam do esforço feito por ela para que Paulo Teixeira, da Resistência Socialista, segunda maior força interna, fosse indicado por Lula para comandar o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Quaquá diz esperar que Gleisi não deixe a corrente e “se ajuste na política”, mas afirma que, se ela optar por abandonar a CNB, “perde a governabilidade” para continuar no comando do PT.

O mandato da deputada à frente do partido, que se encerraria este ano, foi prorrogado até 2025.

— De jeito nenhum (existe possibilidade de sair da CNB). Só se alguém quiser sair comigo — afirma Gleisi, ironizando o correligionário. — Considero pouco a opinião do Quaquá.

Apesar de ter sido eleita duas vezes para presidir o PT com o apoio da CNB, Gleisi nunca foi uma militante orgânica da corrente. Ao fim do primeiro mandato à frente do partido, em 2019, lideranças da corrente articularam um movimento para que Haddad assumisse a presidência da legenda. Lula, porém, barrou a iniciativa e garantiu a reeleição da deputada paranaense.

Gleisi já reconheceu internamente que tem posições mais à esquerda nas pautas econômicas, mas seus aliados atribuem os relatos de desgaste com a bancada a intrigas partidárias. Relatam que ela chegou a dizer, num primeiro momento, que o arcabouço fiscal poderia inibir o crescimento econômico, mas depois que a proposta foi chancelada por Lula, passou a defendê-la. Afirmam ainda que foram os alertas da presidente do PT que fizeram com que o governo blindasse o Bolsa Família e a política de aumento do salário mínimo das restrições impostas em caso de descumprimento da regra.

Por fim, alegam que os últimos posicionamentos de Gleisi sobre o tema tinham o objetivo de evitar que o relator Cláudio Cajado (PP-BA) alterasse o projeto para incluir mais restrições. Aliados ainda relatam que a relação da presidente do PT com Haddad foi pacificada.

— Tenho uma boa relação com a bancada. Obviamente, posso ter divergências com alguns. Já tive com o Zeca (Dirceu) e com mais um ou dois deputados, mas não vejo uma relação desgastada. Ser amplo (na base) não quer dizer não ter posição política. Não tem crise. O PT está com muita coesão em torno do governo. Mas isso não impede a gente de fazer debate, inclusive para ajudar.

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SEGUE ABAIXO O TEXTO COMENTADO

https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/05/pressionada-no-comando-do-pt-gleisi-enfrenta-desgastes-no-partido-e-no-governo-por-posicoes-mais-a-esquerda.ghtml

Pressionada no comando do PT, Gleisi enfrenta desgastes no partido e no governo por posições mais à esquerda

Sérgio Roxo

2O.05.2023

Nesse cenário, Gleisi fez ressalvas ao novo arcabouço fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Anteriormente, a dirigente petista também se posicionou contra a volta da cobrança de impostos dos combustíveis. Haddad acabou vencendo a disputa. Dos 68 deputados do partido, 38 são da CNB. O grupo, do qual Lula e a própria deputada paranaense fazem parte, é conhecido historicamente por ter posições mais moderadas em comparação com as correntes minoritárias de esquerda da sigla.

De acordo com deputados da legenda, as falas de Gleisi acabam sendo entendidas como posições do partido, embora muita vezes sejam minoritárias dentro da bancada. Em razão disso, a relação entre ela e seus colegas é considerada desgastada pelos parlamentares. O deputado Washington Quaquá (RJ), um dos vice-presidentes do PT e membro da CNB, diz que hoje estão alinhados com Gleisi na bancada apenas o ex-presidente do partido Rui Falcão (SP), Bohn Gass (RS), Pedro Uczai (SC) e Lindbergh Farias (RJ), que é namorado dela. Nenhum deles é da CNB.

— Causa desgaste. Não podemos ser um partido de oposição sendo governo — critica Quaquá. — Estão querendo repetir com o Lula o que foi feito com a Dilma (Rousseff), que é estreitar a base de apoio no Congresso. Querem uma política fiscal mais radical e que não tem passagem na Câmara.

Como mostrou O GLOBO ontem, nas duas votações mais relevantes para o Palácio do Planalto até o momento — a urgência do novo arcabouço fiscal e as mudanças no marco do saneamento, na qual Lula foi derrotado —, 118 deputados acompanharam o governo em ambas as ocasiões. O número representa 23% da Casa, patamar distante do necessário para aprovar projetos.

Líder da bancada, Zeca Dirceu (PR), também da CNB, tenta contornar as insatisfações e afirma respeitar as posições de Gleisi.

— Eu vejo a Gleisi na bancada sempre de uma forma especial e diferenciada. Ela é a única entre todos nós que não é só deputada. É presidente do partido também. Então, vejo com respeito e naturalidade algumas posições dela.

Integrantes da direção partidária que fazem parte da CNB dizem que Gleisi não tem participado, nos últimos meses, das reuniões da corrente que são realizadas sempre antes dos encontros da executiva e do diretório nacional, principais instâncias decisórias da sigla. A presidente do partido alega que os horários dos encontros a impedem de ir. Também se queixam do esforço feito por ela para que Paulo Teixeira, da Resistência Socialista, segunda maior força interna, fosse indicado por Lula para comandar o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Quaquá diz esperar que Gleisi não deixe a corrente e “se ajuste na política”, mas afirma que, se ela optar por abandonar a CNB, “perde a governabilidade” para continuar no comando do PT.

O mandato da deputada à frente do partido, que se encerraria este ano, foi prorrogado até 2025.

— De jeito nenhum (existe possibilidade de sair da CNB). Só se alguém quiser sair comigo — afirma Gleisi, ironizando o correligionário. — Considero pouco a opinião do Quaquá.

Apesar de ter sido eleita duas vezes para presidir o PT com o apoio da CNB, Gleisi nunca foi uma militante orgânica da corrente. Ao fim do primeiro mandato à frente do partido, em 2019, lideranças da corrente articularam um movimento para que Haddad assumisse a presidência da legenda. Lula, porém, barrou a iniciativa e garantiu a reeleição da deputada paranaense.

Gleisi já reconheceu internamente que tem posições mais à esquerda nas pautas econômicas, mas seus aliados atribuem os relatos de desgaste com a bancada a intrigas partidárias. Relatam que ela chegou a dizer, num primeiro momento, que o arcabouço fiscal poderia inibir o crescimento econômico, mas depois que a proposta foi chancelada por Lula, passou a defendê-la. Afirmam ainda que foram os alertas da presidente do PT que fizeram com que o governo blindasse o Bolsa Família e a política de aumento do salário mínimo das restrições impostas em caso de descumprimento da regra.

Por fim, alegam que os últimos posicionamentos de Gleisi sobre o tema tinham o objetivo de evitar que o relator Cláudio Cajado (PP-BA) alterasse o projeto para incluir mais restrições. Aliados ainda relatam que a relação da presidente do PT com Haddad foi pacificada.

— Tenho uma boa relação com a bancada. Obviamente, posso ter divergências com alguns. Já tive com o Zeca (Dirceu) e com mais um ou dois deputados, mas não vejo uma relação desgastada. Ser amplo (na base) não quer dizer não ter posição política. Não tem crise. O PT está com muita coesão em torno do governo. Mas isso não impede a gente de fazer debate, inclusive para ajudar.