domingo, 27 de novembro de 2016

Sobre o texto do companheiro Artur Henrique

O companheiro Artur Henrique da Silva Santos, ex-presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores, divulgou recentemente o seguinte texto:

Nós da CNB vamos mudar o PT pra avançar e não pra retroceder;
Nós da CNB queremos mudança pra fazer avançar o PT não pra ficar só fazendo balanço, balanço, e procurando "culpados" ou caçando  "bruxas";
Avança PT com a CNB pra olhar pra frente; pra fazer propostas; pra aprender com os erros cometidos sim, mas dar a volta por cima e enfrentar os desafios;
CNB - AVANÇA PT quer ouvir a militância, quer participação dos movimentos sociais e dos "novos" movimentos.
CNB - AVANÇA PT quer ouvir a juventude, quer ouvir os negros e as negras, quer ouvir a comunidade LGBTT, quer ouvir e debater com a periferia, com a cultura, com a música, com a arte.
Quer fazer balanço sim,  pontuando os erros, mas principalmente reafirmando os acertos; avaliar criticamente o PT mas também os nossos Governos e os nossos parlamentares;
mas vai fazer isso nas instâncias e fóruns do Partido e não pela imprensa golpista;
AVANÇA PT - CNB entende que os grandes desafios que temos pela frente são:
Defender o PT, o LULA, a DILMA e o legado dos nossos Governos.
Fazer oposição sem tréguas ao governo golpista de Temer e dos Tucanos.
Defender intransigentemente nenhum direito a menos.
AVANÇA PT É SO COM A CNB

Após a leitura, entrei em contato com o companheiro Artur Henrique, perguntando se o texto acima era realmente dele. Ele confirmou a autoria.

O valor do texto está em ser um desabafo, que revela parte do que pensa um quadro importante da tendência "Construindo um Novo Brasil", que hoje possui maioria no Diretório Nacional e em quase todas as direções estaduais do Partido.

Vejamos frase a frase, parágrafo a parágrafo, toda a riqueza deste texto.


"Nós da CNB vamos mudar o PT pra avançar e não pra retroceder".

Como é um desabafo, o texto não toma o cuidado de fazer nenhuma mediação.

Quem vai mudar o PT somos "nós da CNB".

Não é o Partido, não é a maioria do Partido, não é o Congresso do Partido, nem a base do Partido.

Quem vai mudar o PT é a CNB,

Evidentemente, mudar "pra avançar e não pra retroceder".

Mas por qual motivo se faz necessário "mudar pra avançar"?

O desabafo não explica.


"Pra fazer avançar não pra ficar só fazendo balanço, balanço, e procurando 'culpados' ou caçando 'bruxas'."

A CNB tem a maioria do Diretório Nacional do PT desde 1995.

Maioria relativa entre 2005 e 2007, maioria absoluta no restante do período.

E as regras aprovadas pelo atual Diretório Nacional do PT para o Sexto Congresso do Partido garantem, para a CNB, um ponto de partida favorável para a eleição da próxima direção nacional.

Mesmo assim, até agora a CNB não apresentou ao Partido seu "balanço" acerca do que ocorreu.

Concordando ou discordando, outros setores do Partido apresentaram seus respectivos balanços.

Estes balanços criticam a linha política e o funcionamento adotado pelo Partido, na relação com seus governos, bancadas parlamentares, com os movimentos sociais e com suas bases sociais, eleitorais e militantes.

Se isto é "procurar culpados" ou "caçar bruxas", fica a dúvida: a CNB considera inaceitável criticar sua linha política e sua postura?


"Avança PT com a CNB pra olhar pra frente; pra fazer propostas; pra aprender com os erros cometidos sim, mas dar a volta por cima e enfrentar os desafios".

Se a CNB fosse uma tendência como outra qualquer, este tipo de frase não chamaria a atenção.

Mas a CNB é, como já foi dito, a tendência majoritária no atual Diretório Nacional do PT e na maioria dos diretórios estaduais.

Se um grupo majoritário numa instância age como se fosse "a" instância, como se fosse "o" Partido, ele deixa de considerar uma hipótese: a de que os "erros cometidos" tenham sido tão grandes e tão graves, que pode ser que o Partido tenha que -- para sobreviver -- construir uma nova maioria dirigente.


"CNB - AVANÇA PT quer ouvir a militância, quer participação dos movimentos sociais e dos "novos" movimentos. CNB - AVANÇA PT quer ouvir a juventude, quer ouvir os negros e as negras, quer ouvir a comunidade LGBTT, quer ouvir e debater com a periferia, com a cultura, com a música, com a arte".

A palavra "ouvir" parece generosa, mas é uma generosidade limitada.

Pois não se trata apenas de "ouvir", não se trata apenas de "querer a participação".

Trata-se de aceitar, como ponto de partida, que é legítimo que, como resultado do balanço, o Partido decida eleger outra maioria.

Não se pede à CNB que aceite ser derrotada sem lutar.

Mas se pede à CNB que aceite, como premissa democrática, que o Partido é maior que a CNB e que o Partido tem o direito de escolher outra maioria.

Vale dizer, para deixar claro o que penso, que considero que a atual maioria e a atual minoria não estão a altura de dirigir o Partido.

A atual maioria, principalmente devido ao esgotamento de sua estratégia, mas também devido a algumas de suas condutas e limitações, bem como a suas divergências internas.

A atual minoria, principalmente porque sua política era uma alternativa a estratégia da maioria, mas para um contexto que não existe mais. Sem contar que parte da minoria defendia uma estratégia "republicana" que era uma variante da estratégia majoritária.

Considero que o processo de Congresso terá que forjar uma nova maioria, com base em uma nova estratégia, em um novo programa, em um novo padrão de funcionamento.


"Quer fazer balanço sim,  pontuando os erros, mas principalmente reafirmando os acertos; avaliar criticamente o PT mas também os nossos Governos e os nossos parlamentares; mas vai fazer isso nas instâncias e fóruns do Partido e não pela imprensa golpista".

Nesta pequena frase estão condensados três equívocos muito comuns.

"Pontuando os erros mas principalmente reafirmando os acertos" é algo bonito de dizer, mas completamente inócuo quando se trata de fazer o balanço de uma derrota.

Fomos derrotados. Os golpistas nos atacaram porque temos qualidades. Mas eles nos derrotaram devido aos nossos erros.

Se queremos vencer, precisamos analisar principalmente nossos erros. Pois é da análise de nossos erros que brotarão os caminhos para as vitórias futuras.

A postura de "principalmente reafirmar os acertos" nos levará -- ao contrário do que pretende o próprio Artur Henrique -- a errar novamente.

Portanto não ajudará nada a que, no futuro, possamos reafirmar na prática os acertos.

Nos transformará num partido que tem "um grande passado pela frente". Do qual nos orgulhamos. Mas que não moverá os moinhos do futuro.

O segundo equívoco está em falar em avaliar criticamente o PT "mas também" os nossos governos e os nossos parlamentares.

O autor desta frase supõe que seja possível avaliar o PT sem avaliar ao mesmo tempo, como parte de um mesmo processo, o que fazem os governos encabeçados pelo PT, os parlamentares eleitos pelo PT, os movimentos sociais dirigidos pelo PT, os intelectuais que constróem e difundem o petismo???

O terceiro equívoco está em supor que seja possível, num partido de massas que atua numa sociedade como a brasileira, fazer debates que não sejam públicos. Especialmente quando o próprio Partido não construiu, ao longo dos últimos 37 anos, meios de comunicação de massa próprios, onde pudesse travar o debate público sob seu próprio controle.

Ademais, basta pesquisar para descobrir que -- desde 1995 até hoje -- a maior parte das entrevistas e artigos publicados pelo PIG são de autoria de quadros vinculados ao setor majoritário do Partido.

Assim, talvez fosse melhor localizar o problema no que se diz e menos no onde se diz.

Por quais motivos Artur comete os três equívocos? Na minha opinião, porque está na defensiva.

Por isto quer falar só dos acertos, por isto não gosta do debate público, por isto acha que fazendo uma análise "mas também" divide as responsabilidades.

AVANÇA PT - CNB entende que os grandes desafios que temos pela frente são: Defender o PT, o LULA, a DILMA e o legado dos nossos Governos. Fazer oposição sem tréguas ao governo golpista de Temer e dos Tucanos. Defender intransigentemente nenhum direito a menos.

Sem dúvida estes são grandes desafios.

Mas são desafios de natureza tática.

Se não formos capazes de vincular isto a uma nova estratégia, corremos dois riscos: o de não recuperarmos o espaço perdido e o de incidirmos nos mesmos erros.

Infelizmente, o desabafo do Artur não diz absolutamente nada sobre temas de fundo como o socialismo, as reformas estruturais, a disputa pelo poder, o novo contexto da luta de classes em âmbito nacional, continental e internacional.


AVANÇA PT É SO COM A CNB

Esta é a frase síntese do texto-desabafo de Artur Henrique.

É curioso.

Eu faça parte da minoria e combato as posições da atual maioria desde 1995.

Mesmo assim, não acredito que seja possível ao PT avançar, sem contar com os milhares de militantes que tem a CNB como referência.

Mas segundo Artur Henrique, é "só" com a CNB que o PT avança.

Como ele acha que isto soa para os militantes que não são da CNB?

O nome disto é sectarismo.

Sectarismo que prejudica o PT.

A velha Articulação dos 113 -- da qual fiz parte até 1993-- agia geralmente de outro jeito.

Buscava incorporar os demais setores do Partido.

E colocava o Partido acima dos seus interesses específicos de tendência.

Mas para fazer isto há uma pre-condição: ter uma política, uma linha, um programa, uma estratégia.

Sem isto, ter maioria vira um fim em si mesmo.

Um objetivo sectário e medíocre.


ps1. o texto do Artur é um desabafo individual. Para quem quiser ler uma posição coletiva e oficial, uma alternativa está aqui:

http://www.gteptsp.com.br/so/0LYT9M-C?cid=06713d58-5be2-4601-94a7-7ed914bb2a96#/main


ps. o que defendo acerca do programa, da estratégia, da tática e do Partido está no link abaixo:

http://5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.rackcdn.com/wp-content/files/3_congresso_AE_Resolucao_completa_web.pdf


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