Primeiro foi Marilena Chauí, depois foi Breno Altman,
agora é Tarso Genro.
Segundo o 247, reproduzindo o Valor, Tarso teria dito:
“Não tenho nenhuma restrição de
princípios em relação a Jilmar Tatto, mas sim ao fato de o PT forçar ter a
cabeça de chapa. O PT precisa se abrir e mostrar a grandeza política que temos.
Sabemos ser tanto cabeça de chapa como apoiar outro candidato. É preciso ter
grandeza política para ter um candidato de unidade”.
Diferente do Tarso,
eu tenho inúmeras restrições ao companheiro Jilmar Tatto. Inclusive por isso,
não apoiei sua pré-candidatura a prefeito. Entretanto, igual a Tarso, não
milito nem voto em São Paulo capital. Assim, a pergunta em primeiro lugar é: o
que farão os petistas da maior cidade do país?
A julgar pelas
primeiras pesquisas, formais e informais, parece que uma parte do eleitorado petista estaria migrando (ou propenso a migrar)
para a candidatura Boulos.
Claro que em tese isto pode ser revertido, no curso da campanha eleitoral. Mas, a julgar pelo número de pessoas preocupadas, parece crescer a ideia de que, mantido Tatto, a migração será muito grande.
Surpresa? Ao menos
para mim, não. Chega a ser óbvio que poderia dar nisto, não apenas por conta das
características da candidatura Tatto, mas também por conta do método utilizado
para escolhê-lo como candidato.
Vamos lembrar que o
Diretório Municipal do PT de São Paulo escolheu um método que excluiu a imensa
maioria da base petista, usando como pretexto a pandemia.
Pois bem: o PSOL acabou
de escolher a chapa Boulos e Erundina fazendo uma prévia que respeitou os
procedimentos sanitários, demonstrando mais uma vez que a direção municipal do PT de
São Paulo errou ao optar por um colégio eleitoral.
A direção municipal do PT?
Sim, mas não apenas, pois a direção estadual do PT e o Diretório nacional do PT endossaram
as decisões do município.
Que fique claro: a
maioria dos integrantes destas três instâncias, contra o voto de uma minoria, optou
por um método de escolha que restringiu brutalmente o número de votantes.
A esse respeito, sugiro
ler o seguinte: https://www.pagina13.org.br/nota-da-ae-sp-a-candidatura-do-pt-a-prefeitura-de-sao-paulo-deve-ser-eleita-em-previas-virtuais/
Tão logo
Tatto foi escolhido, por pequena diferença em relação ao segundo colocado, um
grupo de militantes do PT São Paulo encaminhou um recurso ao Diretório
Nacional.
Este recurso
repousa em alguma gaveta, mas pode ser lido aqui:
Isto posto, as
pessoas ilustres que estão se posicionando publicamente poderiam fazer o mesmo
que estes filiados acima-assinados fizeram, ou seja, encaminhar ao Diretório
Nacional um apelo para que intervenha.
Afinal, é bom
lembrar, se o Diretório Nacional tem o direito de escolher a candidata do PT em
Recife, também tem a “potesdade” de escolher o candidato do PT em São Paulo.
Entretanto, Marilena
e Tarso não falam em escolher outra candidatura petista. Falam em retirar a
candidatura petista da disputa e em apoiar a candidatura de Boulos.
Ou seja, propõem
algo que na prática vai eliminar o PT da disputa eleitoral da maior cidade do
país, com impactos políticos e eleitorais em 2020 e para além (especialmente nas cidades ao
redor de São Paulo, mas não só).
Digamos que o PT
faça esta opção, mesmo não recebendo da parte do PSOL nenhuma contrapartida à
altura (o PT já apoia o PSOL em Belém e queria apoiar o PSOL no Rio de Janeiro,
mas as recíprocas são, digamos, “menos verdadeiras”).
A pergunta é: qual
seria o impacto disto nas eleições?
Claro que a esta
altura do campeonato e numa eleição tão anormal, é tudo hipótese, mas a minha hipótese
é que tem gente superestimando as possibilidades de êxito eleitoral de uma chapa
Boulos-Erundina, mesmo que com apoio do PT ou até com o PT na vice.
Os resultados das
eleições 2012-2016 e 2018 mostram que o eleitorado de esquerda está muito
reduzido em São Paulo. Além disso, a depender do que faça Marta Suplicy, uma
parte deste eleitorado vai migrar em outra direção, que não o PSOL.
Infelizmente, como
ocorreu no Rio de Janeiro, o debilitamento do PT em São Paulo não é acompanhado
do fortalecimento de toda a esquerda; o eventual crescimento do PSOL, atraindo
eleitores petistas, especialmente nos setores médios, não implica em crescimento
do conjunto da esquerda, pelo contrário.
Isto pode mudar?
Sempre pode, mas os indicadores que vejo não apontam para uma mudança agora,
pelo menos.
Portanto, na minha
opinião retirar Tatto da disputa pode contribuir para o PSOL e pode contribuir para
um aparente e passageiro bem-estar daqueles que têm restrições (de princípio,
ou não) contra sua candidatura.
Mas, até onde eu
consigo ver, não vai contribuir nada, ou vai contribuir muito pouco, para aqueles
que deveriam ser nossos objetivos centrais: disputar para valer a prefeitura de
São Paulo e usar a campanha para fortalecer a oposição a Bolsonaro.
Haveria uma solução
que ajudasse nesses objetivos?
Claro que sim, a
solução chama-se Haddad.
Sua candidatura a prefeito daria uma estatura nacional
para a disputa em São Paulo, ampliaria muito nossa votação, com mais chances de
vitória do que qualquer outro nome.
Infelizmente, uma
parte do PT segue achando que Haddad deve ser preservado para 2022 e/ou deve
ter como prioridade em 2020 fazer campanha em todo o Brasil. E outra parte do
PT, inclusive pessoas muito importantes que não concordam com as duas premissas
expostas anteriormente, não fez até agora nenhum movimento prático para tentar
convencer Haddad.
O resultado prático
destas duas atitudes será, ou bem manter Tatto (enfrentando o risco da
debandada de uma parte do nosso eleitorado), ou bem lançar outro nome (que,
salvo Haddad, não terá desempenho eleitoral melhor), ou então... a “solução”
proposta por Tarso e Marilena (e, em último caso, também apoiada por Breno Altman).
Não concordo com
esta “solução”, entre outros motivos porque não considero que tirar Tatto em
favor de Boulos seja solução para os nossos Problemas com P maiúsculo, a saber:
disputar para valer a prefeitura de São Paulo e usar a campanha para fortalecer
a oposição a Bolsonaro.
Por óbvio, também não acredito que este tipo de movimentação resulte numa "frente de esquerda" que mereça o nome e corresponda às expectativas.
Ademais, simplesmente
não consigo entender o raciocínio segundo o qual, para impedir um péssimo desempenho,
seria melhor não ter desempenho algum. Noutras palavras, com medo de um fiasco
eleitoral, algumas pessoas preferem não ter candidatura!!!
Dizem que quem pode
o mais, pode o menos. Se as pessoas acham possível que o Partido apoie Boulos,
então também devem achar possível que o Diretório nacional do Partido diga ao
companheiro Haddad – com todo o tato que cabe -- para ser nosso candidato, em
2020, na cidade de São Paulo.
Um último
comentário: eu combato os métodos e as opções políticas que deram em Tatto, e que conduzem
nosso Partido a este tipo de situação.
Mas não acho que a melhor forma para
enfrentar estes métodos e estas opções seja optar por soluções que, mesmo não
sendo a intenção, na prática desconstroem o Partido.
Nem todo mundo pensa só em vitória eleitoral, Valter. A Marilena não está escolhendo, está dizendo: "A ser isso, prefiro o PSol do que passar pano para isso que o PT fez". Já Tarso quer a legenda enterrada faz tempo. Essa imposição absurda do secretário de Haddad ninguém vai engolir, assim como o Brasil também não vai engolir Haddad presidente. Eles estão se julgando muito espertos em impor seus nomes... Só se o plano deles for mesmo enterrar o PT. Aí estão de parabéns pelo desempenho.
ResponderExcluirNesta discussão de candidatura naovexiste nenhuma cierenvia de orograma? De que adianta ao partido ganhar uma prefeitura com um programa republicanista? Se for isto, menos ruim o apoio ao PSOL.
ResponderExcluirNesta discussão de candidatura não existe nenhuma coerência de programa? De que adianta ao partido ganhar uma prefeitura com um programa republicanista? Se for isto, menos ruim o apoio ao PSOL.
ResponderExcluirTem coisas que esses caciques não levaram em conta. O PT tem 9 vereadores em SP, o PSOL tem 2, dentre os vereadores do PT, 2 são da familia Tatto, só ai já mostra que os Tattos ganham ou empatam com o PSOL em SP. O movimento que estão construindo tira o Lula da disputa, tira palanque do Lula. Afinal o Tatto é o candidato do Lula. A burguesia quer que Lula desapareça, por isso a insistência em abandonar o único cara que vai levantar a bandeira do Lula na maior cidade do país. De todo jeito o antipetismo esta dando um jeito de, perdendo Boulos, culpar o PT. Não digo que os que se manifestaram são da burguesia, mas com certeza isso tomou um vulto também entre a militância. Vamos aguardar de todo jeito, afinal PT e PSOL somam apenas 20% da camara, e o nosso objetivo real tem que ser tomar aquela casa, portanto quanto mais candidatos a esquerda tiver, melhor.
ResponderExcluirMe parece coerente
ExcluirEu sinto falta de maiores diálogos com a periferia. Noto que Boulos tem de certa forma encabeçado mais este papel, sobretudo nesta pandemia com assistência junto ao mst. Mas o que os líderes de movimentos e bairros periféricos tem a dizer sobre este debate (pt x psol)? Galera, olha todo o sul e o leste da capital, são imensos eleitorados! Se não trouxé-los, vao acabar votando até na Marta pensando em sua prefeitura junto ao pt. Manu Brown falou, Manu Brown avisou: TRABALHO DE BASE.
ResponderExcluirSou dos antigos, 1980, e sinto falta da militância verdadeira e combativa. A disputa pela cabeça da chapa, passa por uma luta a ferro e a fogo, que os movimentos de esquerda, ao invés de abrir o ângulo para entender a realidade atual, se fecham discutindo perfumarias; a coligação que elegeu Dilma, congelou-a - não governou - governar é preciso, e para isso é importante que a maioria dos participantes sejam de esquerda e da mais alta confiança entre todas as partes. Uma coligação com tal qualidade, é um sonho, mas é preciso sonhar e planejar, sem ilusões...
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