O texto abaixo foi apresentado como contribuição à reunião do conselho político da presidência nacional do PT. Durante o dia, o recrudescimento dos ataques contra Lula e contra o PT confirmaram a necessidade de apostar na mobilização da militância e do conjunto das forças democráticas e populares, para barrar o aprofundamento do golpe.
Prezado Rui Falcão
Agradeço o
convite para participar da reunião do conselho político da presidência do PT,
nesta quarta-feira 14 de setembro.
Suponho que
a metodologia desta reunião será igual a das anteriores. Assim, encaminho por
escrito minha contribuição. No caso, baseada na síntese de recente reunião
realizada por integrantes da Frente Brasil Popular, para debater: 1) qual o
cenário pós-impeachment, do ponto de vista estratégico e do ponto de vista
tático? 2) quais as diretrizes políticas e organizativas para atuar neste
cenário?
Partimos da
constatação de que sofremos uma derrota
estratégica, da qual decorre um período de defensiva estratégica
nossa e de ofensiva estratégica deles.
O conteúdo
da ofensiva estratégica consiste em um novo ciclo neoliberal, no realinhamento
internacional do Brasil, no afastamento da integração regional e dos BRICS, na redução
de direitos e de salários diretos e indiretos, na redução das liberdades
democráticas (existindo quem fale na construção de um “Estado de exceção”).
Eles terão
sucesso? Quanto tempo esta ofensiva reacionária vai durar?
Não há como
saber. Isto dependerá da ação deles, da nossa reação e de fatores objetivos que
ninguém controla, tais como a dinâmica da crise econômica nacional, a dinâmica
da crise econômica internacional, a situação político-militar internacional,
assim como as contradições internas à coalizão golpista (contradições que são
tão acentuadas que alguns falam que vivemos uma “crise de regime”).
Entretanto, dure
o quanto durar a ofensiva deles, vamos precisar reorganizar nossa atuação
e reprogramar
nossa estratégia. Tendo como questão central reconstruir nossos laços
com os diferentes setores da classe trabalhadora, especialmente com a juventude
trabalhadora e filha de trabalhadores.
Para reorganizar
nossa atuação e para reprogramar nossa estratégia, não basta constatar e/ou explicar
a vitória deles, não basta apontar quais são os objetivos estratégicos da
ofensiva reacionária, é preciso também caracterizar “aonde foi que nós
erramos”.
De maneira
resumida: eles nos atacaram por nossas virtudes, mas eles tiverem êxito por
causa de nossos erros, defeitos, debilidades.
É preciso
que sejamos nós, do Partido dos Trabalhadores, os primeiros a apontar com
clareza estes erros, defeitos e debilidades. Se nos limitarmos a ficar falando
de nossas virtudes, seremos um partido com um grande passado pela frente.
Entre os
vários erros cometidos, há um que deve ser destacado: nossa derrota estratégica
foi também a derrota de uma estratégia, da estratégia adotada desde 1995 e
aprofundada a partir de 2003.
É preciso
compreender qual era aquela estratégia, explicando como ela contribuiu ao
mesmo tempo para nossas vitórias e também para nossa derrota. Porque
nisto reside a “graça” da coisa toda: as virtudes transformam-se em defeito, as
fortalezas transformam-se em debilidades, o que nos trouxe até aqui não
permitirá seguirmos muito à frente.
A estratégia
1995-2016 era baseada numa certa leitura do capitalismo internacional e da
sociedade brasileira. Desta leitura derivava a crença na possibilidade de
conciliar, durante um largo espaço de tempo, sem conflitos mais profundos, os
interesses do grande empresariado com a elevação do nível de vida da maioria do
povo, com a ampliação das liberdades democráticas e com uma política externa
“altiva e soberana”.
Em
decorrência da crença acima, nossos objetivos estratégicos foram deslizando
pouco a pouco: do democrático-popular e socialista, para o antineoliberal, para o
progressismo “melhorista” e de inclusão social.
Esta última
versão foi a que predominou em parte do primeiro governo Lula e em parte do
segundo mandato Dilma. Já o segundo mandato de Lula foi marcado por uma
inflexão antineoliberal do objetivo estratégico. Em nenhum momento, entretanto,
prevaleceu como objetivo estratégico a realização de reformas estruturais, democráticas
e populares, articuladas com a luta pelo socialismo.
A estratégia
1995-2016 enfrentou o tema do poder a partir de uma lógica fundamentalmente
eleitoral e institucional, segundo a qual ser governo é igual a ter o poder. E
como ser governo implica em ganhar eleições, toda a nossa ação política foi
mais e mais se concentrando exclusivamente nisto.
Abandonou-se
assim a estratégia do V Encontro Nacional, que considerava que ser governo era
parte da disputa pelo poder. Para o V Encontro, ser poder exigia
acumular forças, construir um forte movimento social, organizar um forte
partido militante em aliança com outras organizações democrático-populares, forjar
uma cultura política de massas comprometida com mudanças e também conquistar uma
forte presença nas instituições de Estado, principalmente através das eleições.
Nestes
marcos, nossa presença no governo federal deveria ajudar a construir/conquistar
as condições para ser poder, por exemplo: garantindo a influência dos
interesses públicos sobre os “mercados”, democratizando os meios de
comunicação, estabelecendo controle social sobre o aparato de Estado,
realizando uma reforma político-eleitoral etc.
Entretanto,
como subproduto da maneira estritamente eleitoral e institucional que foi
prevalecendo entre nós, na prática não se disputou o poder, deixando nas mãos
da classe dominante os meios para influenciar, sabotar e derrubar o governo por
nós encabeçado. Dito de outra forma, a via estritamente institucional produziu
desacumulo institucional.
No âmbito do
programa e da ação de governo, houve uma crescente desidratação e uma “desideologização”.
A desidratação implicava em não realizar reformas estruturais, nos concentrando
em políticas públicas que dependem da tributação, que por sua vez depende do
nível de investimento decidido e controlado pelo capital privado.
A “desideologização”
implica em retirar o caráter de classe das ações que realizamos: o ponto máximo
disto foi dizer que nossa meta seria construir “um país de classe média”, o que
além de ser uma tolice do ponto de vista sociológico, foi um desastre do ponto
de vista político.
Em
decorrência disto tudo, se privilegiaram as alianças táticas em detrimento das
alianças estratégicas. E no âmbito das alianças táticas, cresceram os
compromissos com os inimigos estratégicos (ou que tinham grande potencial para
converter-se em, como se viu no caso do vice-presidente golpista).
Além disto, enfraquecemos
o peso dos partidos e movimentos sociais, em favor dos governos e mandatos
parlamentares. E cresceu o oportunismo tático, como se cada batalha fosse a
última e não tivesse vínculo com nossos objetivos de longo prazo.
Um pequeno,
mas deprimente exemplo disto é o grande e ecumênico número de candidaturas que
estão escondendo a bandeira do PT.
Pelos
motivos apontados – sem prejuízo de outras questões e sem prejuízo de
considerar que algum dos motivos tenha tido mais peso que outros— a estratégia que
nos ajudou a ganhar quatro eleições presidenciais, que nos ajudou a construir
políticas públicas que melhoraram a vida do povo, não foi suficiente para viabilizar
transformações estruturais na sociedade brasileira e principalmente não criou
as condições para derrotar a reação da classe dominante.
Reação que,
aliás, pegou muita gente de surpresa. Especialmente quem acreditava que nossa
moderação ia moderar o lado de lá.
Hoje estamos
diante do desafio de construir outra estratégia, que seja capaz de enfrentar a
nova situação criada a partir de 31 de março de 2016. Esta nova estratégia terá
que ser formulada sob fogo inimigo. E
não pode ser a velha estratégia, apenas corrigida, depurada e customizada. A nova
situação exige uma nova estratégia.
Ao mesmo
tempo em que enfrenta o governo golpista, defendendo Fora Temer e Diretas Já, ao
mesmo tempo que apoia as mobilizações e a greve geral, ao mesmo tempo em que
implementa uma dura oposição parlamentar, ao mesmo tempo em que mobiliza a
sociedade em defesa da democracia e dos direitos, ao mesmo tempo em que disputa
eleições e exerce seus mandatos, o Partido dos Trabalhadores tem que se dispor
a estimular, no seu interior e na sociedade, um forte debate de ideias, com
ênfase no balanço (1995-2016, 2003-2016, 2015-2016), na análise do capitalismo
brasileiro e internacional, na análise das classes e da luta de classes, na
formulação da estratégia e do programa.
Este debate
de ideias é parte importante da reconstrução dos laços com a maioria da classe
trabalhadora urbana, com os camponeses, com a juventude trabalhadora, os negros
e negras, as mulheres, o movimento LGBT, os indígenas, a intelectualidade, o
mundo da cultura, os diferentes setores sociais que fizeram parte das vitórias
de 2002 a 2014, que inclusive se jogaram na luta contra o golpe, mas que com o
passar do tempo foram divergindo em maior ou menor medida com as opções feitas
por nosso Partido (ou atribuídas a ele), especialmente durante o ano de 2015.
O petismo
tem enormes energias. Isto pode ser constado nas ruas, mas também na quantidade
de militantes que estão voltando à ativa. Entretanto, a depender de como a
direção nacional do Partido atue, estas energias podem ser desperdiçadas e nossa
chance de retomada pode ser perdida.
Deste ponto
de vista, considero extremamente grave a hipótese do Diretório Nacional do PT,
convocado para os dias 15 e 16 de setembro, adiar o encontro nacional petista convocado
para dezembro deste ano. E acho ainda mais temerário, para não escrever uma palavra
mais ofensiva, que se fale em adiar a eleição das direções partidárias
para o final de 2017.
Não se trata
de um problema de legalidade, nem de datas. Trata-se de um problema político:
amplos setores da militância e de nossos simpatizantes querem debater os rumos
do Partido e consideram que a atual direção precisa ser profundamente renovada,
se quiser enfrentar os desafios presentes e futuros. Esta demanda tende a
crescer após as eleições municipais, seja qual for o resultado.
Se a direção
nacional responder a esta demanda com adiamentos e artifícios (do tipo prometer
um encontro “de massas e pela base”, mas na prática atuar para perpetuar quem atualmente
dirige o Partido, através da manipulação dos procedimentos eleitorais
internos), a sobrevivência do Partido estará colocada em questão.
A direção
nacional deve, na minha opinião, convocar um congresso extraordinário, com
delegados eleitos livremente nos encontros de base, sem a canga das chapas e
listas que hoje são decididas nacionalmente pela cúpula das tendências, sem as
distorções eleitoreiras que passaram a caracterizar o chamado “ped”, um congresso que possa decidir
programa, estratégia, tática e -- caso a maioria dos delegados e delegadas
queira isto-- eleger uma nova direção.
Não vivi
1964, portanto não assisti ao desmanche do Partidão após o golpe militar. Mas
tudo o que li e ouvi a respeito me faz concluir que, se queremos que o PT
sobreviva e continue a ser um dos protagonistas centrais na esquerda
brasileira, é preciso apostar na radicalização da democracia interna.
Espero que o
presidente do Partido, assim como o presidente de honra, adotem a proposta de
um Congresso partidário plenipotenciário.
Saudações
petistas
Valter Pomar
13 de
setembro de 2016
A situação exige ação!...nada de debates!..AÇÃO!...
ResponderExcluirFazer debates é uma ação mais enérgica do que as movimentações da atual direção do partido.
ResponderExcluirFazer debates é uma ação mais enérgica do que as movimentações da atual direção do partido.
ResponderExcluirPuzzz....ação, ação e ação!,,,debate e merda não leva a nada!,,,
ResponderExcluirPuzzz....ação, ação e ação!,,,debate e merda não leva a nada!,,,
ResponderExcluiro oportunismo no PT vem desde a sua fundaçao e as memoraveis greves do inicio dos anos 80, cujo historia poucos sabem, pois a posiçao do Sr. Lula sempre foi da reconciliaçao de classe, algo estranho ao marxismo-leninismo,assim o momento imediato é juntar forças, promover greve geral com todos os trabalhadores, pensar em fundar uma frente de revolucionarios internacionalista, afim de culminar em revoluçao internacional, a comerçar pelo brasil, estender pela america latina, e conquistar o mundo, mas primeiro temos que ter claro os objetivos , que sociedade queremos construir, o fim das classe socias, o fim do capital e da mais valia, demos uma unidade de açao revolucionario com ARMAMENTO GERAL DOS TRABALHADORES., pense , discuta e vamos a açao revolucionariao.
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