sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Fim do ciclo progressista?

Ante las dificultades que enfrentan varios países gobernados por fuerzas de izquierda, se ha abierto un debate en torno a si el progresismo se estaría agotando.

Na edición 510 (dezembro de 2015) de ALAI temos um debate desde diversas perspectivas:

Problemas de la política económica progresista
Gustavo Codas

La identidad de los progresismos en la balanza
Eduardo Gudynas

La historicidad del “ciclo progresista” actual
Cinco tesis para el debate
Roger Landa

¿Fin de ciclo? La disputa por el relato
Katu Arkonada

Retos y perspectivas de la izquierda latinoamericana
Valter Pomar

Gobiernos populares de América Latina, ¿fin de ciclo o nuevo tiempo político?
La clave del protagonismo popular
Isabel Rauber

La guerra por los corazones y las mentes y el “fin de ciclo”
Silvina M. Romano

Cómo se ve el panorama del futuro próximo
Oscar Ugarteche

Veja tudo nos seguintes endereços:

http://www.alainet.org/es/revistas/510#sthash.3gjdZ1hK.dpuf

http://www.alainet.org/es/revistas/510

http://www.alainet.org/sites/default/files/alai510w.pdf

Segue meu texto, neste caso em português.

Desafios e perspectivas da esquerda latino-americana

Valter Pomar

A situação brasileira, o resultado da recente eleição presidencial argentina e os prognósticos sobre a eleição parlamentar venezuelana intensificaram o debate sobre se estaríamos ou não diante do “fim do ciclo” aberto, entre 1998 e 2003, pelas eleições de Hugo Chávez, Luis Inácio Lula da Silva e Nestor Kirchner.
As posições em debate são variadas, pois não há consenso sobre a existência de tal ciclo nem sobre sua natureza. Além disso, há tanto os que afirmam seu término, quanto os que defendem a possibilidade de uma continuidade com aprofundamento das mudanças etc. Debate que se combina com a análise da situação mundial e com a discussão acerca da estratégia da esquerda.
Debate similar foi travado no âmbito do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, quando analisamos os impactos da eleição de Obama e da crise de 2007-2008 sobre América Latina e Caribe. Vários dos integrantes do Foro apontaram existir, já naquela época, sinais evidentes de uma contraofensiva da direita latino-americana e de seus sócios externos.
Entretanto, por motivos variados e às vezes opostos, diversos setores discordavam desta caracterização.
Alguns, em geral não participantes do Foro, consideravam que os governos “progressistas e de esquerda” faziam parte da arquitetura neoliberal e imperialista, motivo pelo qual não fazia sentido falar em “contraofensiva” dos que nunca teriam sido efetivamente derrotados.
Outros consideravam como característica fundamental do momento a crise do capitalismo e a desmoralização do neoliberalismo, superestimando as possibilidades e minimizando as ameaças, tanto estratégicas quanto táticas, que a situação oferecia para as esquerdas.
Havia ainda os que pareciam trabalhar com o pressuposto de que a “fórmula” econômica e política adotada pelos governos “progressistas e de esquerda” era no fundamental imune a retrocessos e não deveria sofrer alterações. Curiosamente, esta tese da imunidade a retrocessos vinha tanto de setores ultrarradicais, quanto de setores radicalmente moderados.
Um argumento usado no debate, para contraditar os que falavam em contraofensiva, era o de que, pelo menos até então, nenhum governo “eleito pela esquerda” havia sido derrotado eleitoralmente pela direita.
O caso de Piñera e as eleições na Guatemala, os golpes no Paraguay e em Honduras eram utilizados em favor do argumento acima, no primeiro caso por não serem considerados como governos integrantes do ciclo de 1998, no segundo caso pela via não eleitoral adotada pela direita.
Independente de como este debate foi equacionado, na época e posteriormente, seja nos documentos do Foro, seja na ação dos partidos, movimentos e governos “progressistas e de esquerda” existentes na região, o fato é que a contraofensiva das direitas prosseguiu.
No âmbito econômico-social, pressionando, sabotando e revertendo processos e conquistas. No terreno ideológico, contendo, desmoralizando e dividindo os oponentes. E no que diz respeito ao desempenho político-eleitoral, parte da direita regional aprendeu as lições das derrotas sofridas a partir de 1998 e, sempre “combinando formas de luta” (inclusive o paramilitarismo), quase ganhou as eleições presidenciais no Brasil em 2014 e agora ganhou as eleições presidenciais na Argentina.
A vitória de Macri – independente do que ocorra nas eleições parlamentares de 6 de dezembro de 2015 na Venezuela—colocou a contraofensiva da direita noutro patamar.
Argentina, junto com Brasil e Venezuela, cumpriram até agora um papel decisivo no processo de integração regional, que constitui a retaguarda estratégica de cada uma das esquerdas que atua nos países da região. É evidente que a situação se tornará mais difícil a partir de agora, seja pelo efeito demonstração-emulação que a vitória de Macri terá sobre as direitas em outros países, seja pelos efeitos práticos em todos os terrenos da integração regional.
Isto, claro, se desconsiderarmos o otimismo de Poliana segundo o qual um governo Macri causará danos tão intensos e tão rapidamente, além de provocar tamanha reação popular, que se transformará numa vitória de Pirro para a direita. Certamente os danos serão intensos, certamente haverá reação, mas é preciso levar em consideração que estamos diante de uma onda, não de um episódio isolado.
Independente dos motivos específicos, táticos, conjunturais, episódios e as vezes “pessoais”, envolvidos em cada situação nacional, há um processo regional e mundial que devemos levar em consideração. É isto, aliás, que nos possibilita entender melhor a aparente contradição entre o que acontece com a esquerda europeia e latino-americana.
Em escala mundial, as grandes variáveis são: a defensiva estratégica da classe trabalhadora, desde o fim da URSS; a decorrente hegemonia capitalista, numa intensidade superior a de outras épocas da história; a profundidade da crise capitalista, consequência combinada das outras duas variáveis; o declínio da hegemonia dos Estados Unidos e o esforço brutal que eles estão fazendo para interromper e reverter este declínio; a disputa entre diferentes formas de capitalismos, e não entre capitalismo e socialismo, como sendo o fio condutor das grandes disputas mundiais; a formação de blocos regionais, principalmente como reação defensiva aos processos citados; e, por fim, mas não menos importante, uma tendência a instabilidade, a crises e a conflitos cada vez mais profundos.
Sendo este o ambiente mundial, é evidente que a esquerda latino-americana corre contra o tempo, como foi dito em 2012 num artigo denominado “Ensaio sobre uma janela aberta”, publicado na coletânea La izquierda latinoamericana a 20 años del derrumbe, da editora Ocean Sul. A seguir a parte final deste artigo.
Há que se considerar, em primeiro lugar, o impacto sobre a região de macro-variáveis sobre as quais não temos incidência direta: a velocidade e profundidade da crise internacional, os conflitos entre as grandes potências, a extensão e impacto das guerras. Destacamos, entre as macro-variáveis, aquelas vinculadas ao futuro dos Estados Unidos: recuperará sua hegemonia global? Concentrará energias na sua hegemonia regional? Esgotará suas energias no conflito interno ao próprio país?
Há que se considerar, em segundo lugar, o comportamento da burguesia latinoamericana, em especial dos setores transnacionalizados. Qual sua conduta frente aos governos progressistas e de esquerda? Qual sua disposição frente aos processos regionais de integração? Qual sua capacidade de competir com as burguesias metropolitanas e aspirar a um papel mais sólido no cenário mundial? Do “humor” da burguesia dependerá a estabilidade da via eleitoral e a solidez dos governos pluriclassistas. Ou, invertendo o raciocínio, sua falta de humor radicalizará as condições da luta de classe na região e em cada país.
Em terceiro lugar, qual a capacidade e disposição dos setores hegemônicos da esquerda regional --partidos políticos, movimentos sociais, intelectualidades e governos. A questão posta é: até onde estes setores hegemônicos estão dispostos e conseguirão ir, e com qual velocidade, nos marcos do atual período. Dito de outra maneira, o quanto conseguirão aproveitar desta conjuntura política inédita na história regional, para aprofundar as condições de integração regional, soberania nacional, democratização política, ampliação do bem-estar social e do desenvolvimento econômico. E, principalmente, se vão conseguir ou não alterar os padrões estruturais de dependência externa e concentração de propriedade vigentes na região há séculos.
Considerando estas três grandes dimensões do problema, podemos resumir assim as perspectivas: potencialidades objetivas, dificuldades subjetivas e tempo escasso.
Potencialidades objetivas: o cenário internacional e as condições existentes hoje na América Latina, especialmente na América do Sul, tornam factíveis duas grandes alternativas, a saber, um ciclo de desenvolvimento capitalista com traços social-democratas e/ou um novo ciclo de construção do socialismo. Quanto a esta segunda alternativa, estamos, do ponto de vista material, relativamente melhor do que a Rússia de 1917, do que a China de 1959, do que Cuba de 1959, do que Nicarágua de 1979.
Dificuldades subjetivas: por enquanto, os que têm vontade não têm força, os que têm força não têm demonstrado vontade para adotar, na velocidade e na intensidade adequadas, as medidas necessárias para aproveitar as possibilidades abertas pela situação internacional e pela correlação de forças regional. Detalhe importante: não há tempo nem matéria-prima para formar outra esquerda. Ou bem a que está aí aproveita a janela aberta, ou teremos uma oportunidade perdida.
Tempo escasseando: a evolução da crise internacional tende a produzir cada vez mais instabilidade, o que sabota as condições de atuação da esquerda regional. A possibilidade de utilizar governos eleitos, para fazer transformações significativas nas sociedades latinoamericanas, não vai durar para sempre. A janela aberta no final dos anos 90 ainda não fechou. Mas a tempestade que se aproxima pode fazer isto.
Concluo dizendo que o jogo ainda não foi jogado. Motivo pelo qual devemos trabalhar para que a esquerda latinoamericana, especialmente aquela que está governando, especialmente a brasileira, faça o que deve e pode ser feito. Se isto acontecer, poderemos superar exitosamente o atual período de defensiva estratégica da luta pelo socialismo. Em resumo, a janela segue aberta.
Ate aqui citei literalmente o texto de 2012. Concluo dizendo que a janela segue aberta, mas está se fechando. O que vai acontecer com o “ciclo” aberto em 1998 depende, em grande medida, de saber se o Partido dos Trabalhadores e o governo Dilma Rousseff vão manter ou alterar sua estratégia.

Valter Pomar é professor de economia política internacional na Universidade Federal do ABC. É militante do Partido dos Trabalhadores (Brasil). Entre 1997 e 2013 foi dirigente nacional do PT, assumindo entre outras tarefas a de secretário de relações internacionais e a de secretário executivo do Foro de São Paulo. Contato: pomar.valter@gmail.com



Um comentário:

  1. Caso não tivessem roubado pra caralho e pegos, ainda estariam no poder. O problema é que justificam o roubo alegando o roubo dos outros. O PT PERDEU UM MOMENTO HISTÓRICO QUE NUNCA MAIS VAI VOLTAR. SACANEARAM O POVÃO MAIS HUMILDE, CARNE A 20, GASOL A 4, GAS A 70, ENERGIA SUBIU 70%, TUDO QUE AUMENTOU ACIMA FOI PARA COMPENSAR O ROUBO DO PRÓPRIO PT, QUE ROUBOOU DIRETAMENTE E INDIRETAMENTE, APOIANDO LADRÕES HISTÓRICOS. OU O PT DEU A BR DISTRIBUIDORA PARA O COLLOR PARA MORALIZA-LA? VÃO TOMAR NO ÂNUS. RSRSR

    ResponderExcluir