Bom dia a todos e todas.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer o convite para o
Foro de São Paulo contribuir com a Universidade de Verão do PIE.
Para aqueles que ainda não conhecem o que é o Foro de São
Paulo, recomendo ler dois textos: o Documento Base e a Declaração Final do
XVIII Encontro do Foro de São Paulo, realizado de 3 a 6 de julho de 2012, em
Caracas, Venezuela.
Estes dois textos foram traduzidos para o inglês e enviados
para a organização desta Universidade de Verão, para que fossem distribuídos
entre os participantes.
Também solicitei que fossem distribuídos dois outros textos,
igualmente traduzidos para o inglês: as resoluções do 4º Congresso do Partido
dos Trabalhadores do Brasil, de cuja direção nacional eu faço parte; e um texto
de minha autoria, intitulado Una ventana abierta, em que apresento de maneira
mais detalhada o que aqui vou falar de maneira mais resumida.
O tema desta nossa mesa é The crisis in Europa as a part of
the global crisis.
Vou contribuir com este tema falando de três assuntos: como
encaramos a crise global; como estamos reagindo a ela; e como estamos vendo a
situação na Europa.
Concordamos que se trata de uma crise global, ainda que ela
não afete de maneira igual todas as regiões, países, setores sociais e dimensões
da vida humana. Vou resumir, a seguir, as principais variáveis que enxergamos
nesta crise global.
Consideramos que se trata, em primeiro lugar, de uma crise
do capitalismo neoliberal, ou seja, uma crise do padrão de acumulação
capitalisa que se tornou hegemônico a partir da crise dos anos 1970.
Esta crise do capitalismo neoliberal se expressa e se traduz
em diversas crises articuladas: financeira, comercial, ambiental, política,
militar etc. Por razões de tempo, não vou abordar estes diferentes aspectos,
mas ressalto que é desta análise concreta que se pode extrair diretrizes
políticas para enfrentar a crise.
A crise do capitalismo neoliberal se articula com outra
variável: o deslocamento do centro geopolítico do mundo, que parece estar se
movimento do Ocidente de volta para o Oriente, depois de pelo menos 500 anos.
Uma terceira variável da crise global é o declínio da
hegemonia dos Estados Unidos. Evidentemente, declínio não é fim. Além disso,
como estamos vendo, as classes dominantes dos Estados Unidos estão agindo
agressivamente para tentar reverter este declinio: dentro do país, operando um
giro ainda mais reacionário, do ponto de vista social, político e ideológico;
fora do país, lançando mão de seu aparato de mídia, do monopólio do dólar e da
força das armas.
A crise global possui uma quarta variável, que é o conflito
entre dois modelos de capitalismo: o de tipo neoliberal versus o capitalismo de
Estado, conflito que visualizamos, ainda que de maneira imperfeita, no choque
entre a aliança Estados Unidos mais União Européia versus os chamados Brics
(Brasil, Rússia, India, China e África do Sul).
Ainda a respeito desta variável, quero destacar o seguinte:
o principal conflito existente hoje no mundo é intercapitalista, entre modelos
distintos de capitalismo. A alternativa socialista ainda encontra-se num
momento de defensiva estratégica e compreender isto é algo politicamente
fundamental.
Uma quinta variável da crise global é a incerteza acerca de
qual será seu desfecho. Na verdade, o desfecho está sendo construído na luta
entre Estados e, dentro de cada Estado, entre as diferentes classes sociais.
O pano de fundo desta luta remete para uma idéia clássica do
marxismo: a contradição profunda entre o desenvolvimento das forças produtivas
capitalistas, entre a capacidade da humanidade criar riquezas, versus o caráter
limitado das relações de produção baseadas na propriedade privada e na
apropriação privada desta imensa riqueza.
Esta contradição profunda pode ser traduzida assim: os
problemas são cada vez mais globais e não serão resolvidos enquanto o poder
estiver concentrado nas mãos de um punhado de capitalistas, empresas
transnacionais e uns poucos e poderosos Estados nacionais.
A incerteza acerca do desfecho da crise global resultado,
exatamente, da inexistência de um poder capaz de construir tal solução.
Evidentemente, isto não será assim para sempre. O que está
ocorrendo neste momento nos Estados Unidos, na Europa e no Oriente Médio fazem
parte de um plano mais ou menos articulado de superação da crise, do ponto de
vista das classes sociais e dos países que dominaram e se beneficiaram do
período neoliberal.
A questão é: as classes trabalhadoras e os países explorados
conseguirão reunir a força política necessária para vencer esta disputa?
Entendendo aqui vencer como 1) derrotar o neoliberalismo, 2) derrotar o
capitalismo e 3) iniciar a transição para uma sociedade socialista avançada?
Evidentemente não temos como saber. Mas podemos dizer, com
certeza, que o processo que está em curso na América Latina, desde 1998 e 2002,
com as eleições dos presidentes Chavez e Lula, é um ponto de apoio para a luta
das classes trabalhadoras e para a luta dos países explorados de todo o mundo.
Como podemos resumir o que está ocorrendo na América Latina?
Sendo muito sintético, as forças que se opuseram ao
neoliberalismo conseguiram conquistar vários dos principais governos da região;
e onde não somos governo, nos convertemos geralmente na principal força
oposicionista.
Graças a isto, houve uma mudança na correlação de forças na
região que chamamos de América Latina e Caribe. Esta mudança tornou possível
ampliar os níveis de democracia política e as condições sociais de nossa
população. Ao mesmo tempo, ampliamos os graus de soberania nacional e
integração regional.
Evidentemente, tudo isto ocorre em meio a fortes
contradições, de todo tipo. Não estamos falando de processos perfeitos, destes
que só existem nos laboratórios dos chamados cientistas políticos. Estamos
falando de processos reais, feitos por pessoas reais, nos marcos de uma
correlação de forças mundial ainda profundamente difícil para quem é de
esquerda.
É preciso destacar, ainda, que desde a eleição de Obama,
estamos sofrendo um forte contraataque por parte dos Estados Unidos e dos
setores conservadores de nossa região. Exemplo disto são as vitórias eleitorais
da direita na Guatemala, no Panamá, na Costa Rica e no Chile; assim como os
golpes em Honduras e Paraguai; ou ainda a recriação da IV Frota naval dos
Estados Unidos, decisão que vinculamos a tentativa de controlar as reservas de
petróleo da Venezuela e do Brasil.
Seja como for, a experiência da América Latina e do Caribe
demonstram que é possível, mesmo nos marcos de uma situação global ainda muito
difícil para a esquerda, avançar, vencer, construir alternativas e projetar
esperanças.
Por fim, estamos convencidos de que não venceremos sozinhos.
Se não houver mudanças na correlação de forças em outras regiões do mundo, mais
cedo ou mais tarde sofreremos um retrocesso na América Latina e Caribe.
É por isso que o Foro de São Paulo está investindo na
organização dos migrantes latinoamericanos nos Estados Unidos e na Europa.
É por isto, também, que temos a expectativa de que a
esquerda européia seja capaz de defender o estado de bem-estar, seja capaz de
defender as liberdades democráticas, seja capaz de derrotar a integração
conservadora controlada principalmente pelo capital financeiro alemão e
francês, seja capaz de enfraquecer o imperialismo e o colonialismo europeu e
seja capaz, principalmente, de fazer a classe trabalhadora se tornar novamente
protagonista.
Por fim, gostaria de destacar que o tema central, do nosso
ponto de vista, está na política, na capacidade de reunir as forças sociais e
políticas de esquerda em torno de um projeto político que ganhe o apoio da
maioria da população.
É isto que estamos fazendo na América Latina e, pelo menos
até agora, temos conseguido progressos importantes.
Muito obrigado.
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