quinta-feira, 12 de junho de 2025

A concepção de partido de Edinho

Na quarta-feira dia 11 de junho de 2025 a tendência Construindo um Novo Brasil realizou uma "Super Live".

O grande evento - que segundo eles mesmos contou com a participação de 300 (sic) pessoas - mereceu uma postagem na conta de Edinho Silva no Instagram.

A postagem pode ser vista no seguinte endereço: https://www.instagram.com/reel/DKy9wj0sdCF/?igsh=bXBra3VxbDhod2Ns

A postagem comprova duas coisas.

Primeiro: revela que Edinho conta com uma estrutura de campanha diferenciada, digamos assim. Tem até fundo de palco, uma coisa meio brega mas bastante cara.

(As 16h05 de 12/6 o companheiro Jilmar Tatto me ligou para dizer que a super live da CNB foi feita com a estrutura da secretaria nacional de comunicação do PT; e que a mesma estrutura está disponível para todas as candidaturas. Jilmar não soube dizer se o fundo de palco brega também foi pago pelo PT.)

Quem paga esta estrutura de campanha?

Aliás, quem pagou os mais de 150 mil reais gastos pelo Diretório Municipal de Araraquara para impulsionar propaganda da campanha de Edinho?

Segundo: a postagem revela que Edinho defende uma concepção que coloca sua tendência acima do Partido.

Palavras de Edinho: "o PT só será forte se a CNB conseguir construir um centro político que seja forte no Partido dos Trabalhadores".

Como há pessoas que falam muito e refletem pouco, há sempre o risco do próprio Edinho não se dar conta das consequências práticas desta formulação.

Mas o que está dito, está dito. 

Portanto, segundo Edinho a força do PT não depende da relação do Partido com a classe trabalhadora, a força do  PT não depende da militância, a força do PT não depende do bom funcionamento das instâncias, a força do PT não depende da formulação política adequada. 

O PT será forte, segundo Edinho, se a CNB "conseguir construir  um centro político que seja forte" do Partido.

Só!!!

Evidente que todo Partido precisa de uma direção, de uma orientação que seja hegemônica, isso que Edinho chama de "centro político", termo que a velha guarda do movimento comunista usava muito. E que segue usando na China, por exemplo, onde Xi Jinping é o "centro" do núcleo dirigente. 

Não sei se Edinho sabe da matriz comunista do termo, nem acho que ele pretenda vestir uma túnica Mao; aliás, talvez ele tenha gostado da palavra apenas porque ela ecoa seu desejo nada oculto de "levar o PT ao centro".

Seja como for, é óbvio que o PT precisa de uma direção, de um "centro". A questão está em saber quem e como

A ideia segundo a qual uma única tendência teria a missão, a capacidade, o poder, a legitimidade de "construir" este "centro" relega ao restante do Partido, tanto às demais tendências quanto à imensa maioria do Partido que não pertence a nenhuma tendência, o papel secundário de "vir atrás", se subordinar, se curvar, cumprir papel acessório.

Esta ideia segundo a qual a CNB teria o "destino manifesto" de "construir o centro" é o que explica boa parte da postura "partido dentro do Partido" que tem sido cada vez mais recorrente na prática de dirigentes da CNB. 

Postura que os leva, por exemplo, a fazer de tudo para controlar a tesouraria do Partido (controle que remonta ao período pré-CNB, pois a genealogia vai até 1995).

É essa concepção segundo a qual a CNB sabe o que é melhor para o Partido que os faz achar normal rasgar o estatuto e as resoluções congressuais, por exemplo permitindo mandatos vitalícios para parlamentares e para dirigentes partidários.

No fundo, no fundo, eles vão se transformando num "partido dentro do Partido". No passado, a Articulação dos 113 foi criada para combater quem pensava assim. Que voltas que o mundo dá.

Mas como a história é mais forte que certos desejos, o que está acontecendo na prática é que a CNB está totalmente dividida, rachada, enfrentada. Em  muitos estados há várias chapas da CNB disputando entre si o comando do Partido. 

Aliás, é bom dizer que há setores da CNB cuja prática destoa deste ponto de vista expresso por Edinho. Assim como há, aqui e ali, outras tendências que copiam  a conduta de "partido dentro do Partido".

Mas no plano nacional a coisa está tão confusa que até hoje não se sabe ao certo quais foram as bases do acordo entre as várias alas da CNB. A tal Super Live, aliás, parece ter sido uma tentativa de mostrar unidade. Mas como se sabe, as aparências enganam.

O problema de fundo é que hoje, diferente do passado, não existe mais na CNB real unidade política acerca da estratégia, do programa e da concepção de partido. 

Por isso, aconteça o que acontecer no PED, não tem como virar realidade a frase "o PT só será forte se a CNB conseguir construir um centro político que seja forte". 

Pelo contrário: para o PT ser forte, será preciso entre muitas outras coisas que a cúpula da CNB desça do pedestal e se disponha a participar em pé de igualdade da construção coletiva de uma nova estratégia para o Partido. 

Nesse sentido, um bom começo é provocar um segundo turno na disputa da presidência nacional do PT. 

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