Graças ao camarada Vaccari, eu pude ler as Obras Completas do Lênin, de ponta a ponta. E assim pude confirmar que não era fake news: Lênin realmente disse que não se devia confiar nos advogados, especialmente naqueles que diziam ser membros do Partido
Claro que, como tudo em Lênin, aquela boutade dizia respeito a uma situação muito concreta, impossível de detalhar aqui.
Lembrei dessa história ao ler a matéria abaixo:
Se for verdade o que se atribui, nesta matéria, ao companheiro Aloizio Mercadante, ele seria merecedor de um troféu “zuper” da Associação de Pioneiros Comunistas da República Democrática Alemã. Pois só no finado socialismo real alguém poderia dizer, sem corar, que um partido devia sustentar um governo “em qualquer cenário”. Especialmente em se tratando de um governo de frente amplíssima.
Aliás, chega a ser engraçado ler este tipo de declaração, vinda de quem dizia o que dizia na época da queda do Muro de Berlim. Mas tudo bem, coerência e memória são mercadorias escassas nestes tempos bicudos.
O essencial, contudo, é que Aloizio faz diversionismo. Pois o que está em jogo não é definir a posição do partido frente a uma posição já adotada pelo governo. O que está em jogo é definir qual será a posição do governo. Esta posição está sendo decidida em meio a uma imensa disputa. E o que Aloizio está propondo é que, nessa disputa, o Partido fique de boca calada e assine um cheque em branco para alguns petistas que estão no governo, a quem caberia decidir, em nome do Partido, o que seria melhor.
Também é diversionismo afirmar que caberia ao Partido “sustentar a narrativa sobre os excelentes resultados na economia”. Se Aloizio se deu ao trabalho de ler o Manifesto que ele critica, constatará que essa “narrativa” está lá. Portanto, o que está em jogo é outra coisa, a saber: perceber que, apesar dos “excelentes resultados”, podemos por tudo a perder se aceitarmos ceder às pressões da Faria Lima.
Aliás, também faria bem a Aloizio reler o que ele próprio escreveu acerca do que seria o governo Biden e contrastar suas previsões com os fatos, especialmente com a derrota de Kamala Harris, derrota que confirmou, entre outras coisas, que índices não definem os resultados políticos e eleitorais.
Como diria o Olaf Scholz, Aloizio utiliza uma linguagem “obscura” quando afirma que “precisamos ter uma trajetória previsível das despesas obrigatórias, para garantir o investimento. O crescimento vai melhorar as condições para a estabilização da dívida pública”.
O que Aloizio está realmente dizendo é que para ter crescimento, precisaríamos (supostamente) reduzir direitos. Que essa é a história predominante no nosso país, todos sabemos. Acontece que o PT nasceu e cresceu lutando contra isso.
Para além disso, Aloizio deveria lembrar que a maior ameaça à “estabilização da dívida pública” vem - não das “despesas obrigatórias” - mas dos juros e da especulação, sem esquecer dos subsídios ao andar de cima. Mas, pelo visto, Aloizio aderiu à máxima haddadiana segundo a qual “a Faria Lima tem razão”.
Claro que é direito platônico de Aloizio “confiar” que “a equipe econômica terá uma decisão sábia sobre o tema do ajuste fiscal”. Da mesma forma, é direito de qualquer petista perceber que a “sábia” equipe econômica errou (para não dizer coisa pior) quando garantiu que o arcabouço fiscal não resultaria em contingenciamentos e cortes de direitos.
Resultou. Mas um erro não precisa levar a outro.
ps1. Que Aloizio pense mesmo o que está publicado na imprensa não me surpreenderia. Afinal, noutros tempos ele também saiu em defesa da política de Palocci. Sem falar de sua participação no ocorrido em 2015. Sua fidelidade à política econômica “em qualquer cenário”, ademais de sincera e compreensível, é também conveniente no caso de ser necessário substituir alguém.
ps2. Como a realidade é sempre concreta e toda regra sempre tem exceção, a boutade sobre os banqueiros não vale, por exemplo, para a presidenta Dilma, que - ao contrário de outros integrantes de sua equipe - parece ter aprendido com os erros, especialmente os de 2015, e consegue combinar a função de presidenta de banco com uma cabeça de estadista, não de planilha.
ps3. Desenvolvimento num país como o Brasil exige coordenação estatal e investimento público. Se nosso passado tivesse dependido do investimento privado, não se salvaria nem mesmo nossa lavoura. Nosso futuro não pode continuar prisioneiro da mediocridade.
Esses petistas que, há muito, orbitam só entre instituições do governo não tem ideia do que acontece nos inúmeros Brasis existente dentro do Brasil.
ResponderExcluirO que eles gastam em um almoço é mais do que muitos brasileiros recebem durante um mês de trabalho.
Essa crença de que eles são os detentores do saber, das soluções sem sequer consultar a população é completamente desconectado da RAIZ ORIGINAL DO MODO PETISTA DE GOVERNAR que era JUNTO AO POVO e não PARA O POVO como faz sempre a classe dominante lá do alto de sua arrogância.
O partido é a desconfiança organizada...
ResponderExcluirAlgo assim não?
Pomar carregadinho de veneno.
ResponderExcluirPS 1:
“Sua fidelidade à política econômica “em qualquer cenário”, ademais de sincera e compreensível, é também conveniente no caso de ser necessário substituir alguém.”
Jamais saberemos se foi post scriptum legítimo ou se é texto adrede pensado.
Mas vamos adiante.
Mercadante tem motivo pessoal para amaldiçoar Bolsonaro.
Por que o digo?
O Plano A era: Lula no Alvorada, Geraldo “Picolé de Chuchu” no Jaburu e Haddad no Bandeirantes.
Tudo correndo certinho, Mercadante seria o Ministro da Fazenda.
Porém, como diz o ditado: “Do que não se rio o Diabo...”
Quem haveria de imaginar que, Jair Messias, a toque de caixa e com um pé nas costas, elegeria o quase ignoto Tarcísio de Freitas?
O jeito foi acionar o Plano B: Lula no Alvorada, Geraldo “Picolé de Chuchu” no Jaburu e Haddad, herdeiro e candidato de Luiz Inácio para 2026, no Ministério da Fazenda.
Pra Mercadante, sobrou o prêmio de consolação: a chefia do BNDES.
Porém, se eventualmente o dever o chamar para cargo mais elevado, tenhamos a certeza de que Aloizio Mercadante dele não irá se furtar...
(Jucemir Rodrigues da Silva)