sexta-feira, 31 de maio de 2024

O Proifes é pelego?

Acabo de ler uma “carta aberta à sociedade”, assinada pelo presidente do Proifes.


A carta pode ser lida aqui: 

A carta reclama das acusações que estariam sendo feitas contra o Proifes, segundo as quais a referida entidade não passaria de um “mero escritório de representação do Governo: o PROIFES-Federação”.

Infelizmente, o autor da carta não cita quem disse o que, nem quando.

Isso seria fundamental, pois no Andes, no Sinasefe e na Fasubra há de tudo. Na última eleição do Andes, por exemplo, a chapa de que a maioria dos petistas fez parte teve 41% dos votos, a chapa do PSTU teve 14% e a chapa que ganhou teve 43%.

Como é óbvio, as críticas ao Proifes feitas por nós que somos petistas são diferentes das críticas feitas por outros setores. Óbvio que misturar tudo num só pacote interessa a quem quer apresentar o Andes como se fosse 100% dominado pelo PSTU, mas isto simplesmente não é verdade.

Por exemplo: o Proifes é pequeno? É. É pouco representativo? É. Mas este é um problema do Proifes. O nosso (PT) problema é que o negociador do governo resolveu dar ao Proifes um status que o Proifes não tem. E ao fazer isso, complicou ainda mais a situação.

Quanto ao surgimento do Proifes, o que posso dizer é que já na época, muitos de nós criticamos a iniciativa. E nós petistas que seguimos no Andes tivemos em torno de 40% dos votos nas três últimas eleições. Ou seja: sozinhos, somos maiores do que o Proifes. 

Os que saíram do Andes escolheram um jeito de lidar com as divergências bem diferente do nosso. Quem está certo? Se o critério for quem tem mais presença em Associações Docentes, a resposta já está dada.

Vale dizer que a pretensão do Proifes, de representar os professores dos Institutos Federais, esbarra na realidade e na justiça.

E acrescento ainda o seguinte: parte das bases do Proifes está na greve, contra a orientação da direção da federação. Esses são fatos, que a carta não comenta.

A carta do Proifes diz, ainda, que “o Andes hoje é um verdadeiro braço de organizações políticas que se colocam no campo da esquerda e da extrema-esquerda”. 

Deve ter sido um ato falho do autor da carta colocar num mesmo plano “ultraesquerda” e “esquerda”. Mas vamos aos fatos: como já foi explicado, a chapa integrada majoritariamente por petistas teve 41% dos votos na última eleição do Andes. Por 2% não ganhamos a diretoria, que não adota o método da proporcionalidade.

A ultra-esquerda propriamente dita teve 14%. E na chapa vencedora, que teve 43% dos votos, há de tudo um pouco, inclusive gente do PSOL, partido hoje aliado do PT. 

Óbvio que nós do PT divergimos da linha adotada pela diretoria. E, mesmo que esteja fazendo um esforço imenso para se comportar como sindicato, esta diretoria ainda carrega uma herança horrorosa da época em que era braço do Conlutas.

Entretanto, o problema real neste dia 31 de maio de 2024 não são os crimes cometidos no verão passado. O problema real é que há uma pauta de reivindicações que é legítima; e há uma greve que é representativa. E, curiosamente, a carta aberta não fala nada da greve.

É incrível, mas a carta se gaba do papel do Proifes nas negociações com o governo, omitindo o papel que a greve de técnicos e professores jogou no sentido de melhorar a proposta do governo. É como se as melhoras se devessem ao gênio do negociador e a generosidade da outra parte!

Deste ponto de vista, os argumentos usados pela carta endossam a crítica segundo a qual o Proifes adota o ponto de vista do governo, acerca do que seria ou não possível.

Nós, petistas que atuamos no Andes, mas também na Fasubra e Sinasefe, achávamos e seguimos achando que é possível algo mais. Estamos certos? Ainda não há como saber. O que dá para saber é que o Proifes escolheu não insistir. E seus argumentos para justificar esta postura não incluem, em absolutamente nenhum momento, o estado de ânimo das categorias em greve (palavra que, salvo engano não aparece em nenhum momento na carta).

Pergunto: quem age assim dá ou não dá margem para ser criticado? E não pelo que fez no passado, mas pelo que está fazendo (ou deixando de fazer) agora.

Enfim, espero que o governo, na negociação marcada para 3 de junho, revele um pouco mais de sensibilidade política com os técnicos e professores. Tipo a que demonstrou ter com a PF e com os policiais rodoviários federais.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Pergunta para o camarada Cantalice


Alberto Cantalice é pessoa afável, companheiro de partido e meu colega na diretoria da Fundação Perseu Abramo.

Além disso, temos afinidades passadas: ambos militamos no movimento comunista: ele no MR8 e no PCB, eu no PCdoB. 

É verdade que viemos para o PT em épocas e por motivos diferentes: eu, para questionar a aliança estratégica com a burguesia, ele à busca de uma nova maneira de continuar o lado B da política do “partidão”.

Mas, apesar disso, ele tem orgulho de seu passado e acredita até mesmo que segue sendo marxista. Enfim, um cara simpático ou, pelo menos, que se esforça nesse sentido.

Digo tudo isso, para explicar porque penso duas vezes antes de contestar suas “postagens”, forma mais elevada do pensamento teórico de muitos integrantes da atual esquerda brasileira.

Mas tem vezes que não dá para segurar. É o caso da postagem de 27/5, onde ele pergunta onde estavam os guerreiros do Andes durante o governo Bolsonaro.

Realmente, a direção do Andes fez muita merda durante o golpe e durante os governos de Temer e do cavernícola. E, claro, segue cometendo erros. 

(Vale dizer que outros fizeram muita merda na mesma época, inclusive em meu Partido. Mas disso já tratei em outros textos).

Devido aos erros da diretoria do Andes, inclusive, houve chapas de oposição nas últimas eleições. Oposição encabeçada principalmente por dirigentes petistas.

Entretanto, pergunto: As reivindicações apresentadas pelo Andes nesta greve estão erradas? São impossíveis de atender? Os professores representados pelo Andes merecem ser punidos por causa dos erros cometidos pela sua direção? O Andes pode ser resumido à sua diretoria?

O mais impressionante na atitude de Cantalice e de outros que pensam como ele é o sectarismo seletivo.

Por um lado, lembram da existência de contradições na classe dominante, pedem para não estigmatizar os setores populares que seguem os pastores fundamentalistas, enxergam diferenças nos grupos conservadores, onde mentes toscas enxergam apenas farinha do mesmo saco. Sem falar na generosidade com que, muitas vezes, tratam gente da direita e outros que nos traíram (não vou citar nomes).

Mas na hora de tratar uma greve com grande apoio na base, aí incluindo muitos petistas que dirigem Associações Docentes, deixam de lado a análise da realidade e expressam um sectarismo cego.

Isto posto, deixo uma pergunta ao Cantalice: onde estavam os heróis da PF e da Polícia Rodoviária durante o governo Bolsonaro?

Pergunto porque a eles foi concedido um tratamento que é negado aos professores e aos técnico-administrativos.

Responde aí, camarada Cantalice.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

O aplicativo do PT contém uma notícia incorreta sobre a greve nas universidades

Ontem eu li no site do PT uma notícia incorreta.

Avisei imediatamente a presidenta do Partido e o secretário nacional de comunicação.

O secretário solicitou que a matéria fosse tirada do ar.

E assim foi: quem clicar (neste momento, 11h30 de 29 de maio) o link abaixo vai ver um espaço vazio.

https://pt.org.br/governo-lula-garante-reajuste-salarial-para-entidade-de-docentes-federais/

Page not found | Partido dos Trabalhadores (pt.org.br)

Ademais, enviei ao secretário um texto alternativo, informativo, objetivo, que ele poderia publicar no lugar da notícia incorreta.

Assunto resolvido?

Não.

As 11h da manhã de 29 de maio fui informado por  um colega que a matéria continuava no ar, mais exatamente no aplicativo do PT.

E de fato lá está, como se pode ver pelas fotos inseridas nesta postagem.

Isto posto, o que é incorreto na matéria citada?

Primeiro, em nenhum momento a matéria informa que havia e segue havendo uma greve.

A greve envolve técnicos administrativos, professores de institutos federais e professores de universidades federais.

E a greve continua, pois a maioria das assembleias realizadas até agora não aceitou a proposta do governo.

A negociação do governo foi feita com várias entidades, das quais apenas uma - a menos representativa - assinou o acordo.

É surreal, para não dizer outra palavra, que o site de um Partido que teve origem nas grandes lutas e greves dos anos 1970, não informe aos leitores que há uma greve em curso.

Segundo, em nenhum momento a matéria informa o nome das entidades com as quais o governo negocia. Aliás, aparece um funcionário do governo dando entrevista, aparece um deputado do partido dando entrevista, mas não aparece nenhum sindicalista dando entrevista. Nem um sindicalista em greve, nem um sindicalista da entidade que assinou o acordo.

Não é deveras estranho esta ausência, este silêncio?

Em terceiro lugar, a matéria difunde algumas informações falsas, disfarçadas - como manda a boa regra das fake news - por estatísticas.

Diz o texto: "do conjunto de reivindicações, cerca de 80% foram atendidas"; "a correção salarial chega a 43% para a base e 28% para o topo", "ganho real significativo nesses quatro anos".

Para começo de conversa, os dados do governo não concidem com os dados do movimento sindical. 

Aliás, não coincidem nem mesmo com os dados elaborados por nós, petistas que somos das entidades que dirigem a greve. Mas a matéria publicada no site do PT não dá voz para ninguém, a não ser para um funcionário do governo.

Em segundo lugar, reposição salarial (devido as perdas acumuladas desde 2016) é diferente de aumento salarial. A honestidade manda explicar isso.

Em terceiro lugar, quando chegarmos em 2026, se nada de extraordinário ocorrer, a maior parte dos servidores estará com salários próximos aos que tinha no início de 2023. Ou seja, não se trata de "ganho real", nem mesmo de reposição das perdas acumuladas. Aliás, ganho real seria aumento acima da inflação e não é disso que se trata, mas sim de reposição.

Em quarto lugar, mas muito importante: no ano de 2024 o índice proposto pelo governo é de ZERO por cento nos salários. Os aposentados, além de zero de recomposição nas aposentadorias, não tem os adicionais. Portanto, duplo zero para os aposentados.

Em quinto lugar, recomendo a quem fez a matéria que pergunte, ao Feijóo, quantas pessoas estão na base da carreira de docentes e que vão receber, segundo ele, 43%. Façam a pergunta e aguardem a resposta....

Em sexto lugar, a matéria não fala nada acerca dos outros pleitos das categorias em greve, entre as quais a recomposição do orçamento da educação e a revogação de uma série de medidas adotadas pelo governo do cavernícola, que seguem aí.

Em sétimo lugar, a matéria não informa que no dia 3 de junho haverá nova reunião, agendada a contragosto pelo Feijóo, a partir da pressão dos grevistas, que querem ter a chance de negociar a contraproposta que formularam.

Enfim, a matéria é cheia de falhas, erros, omissões, desinformações.

A mais grave de todas é a frase final, atribuída ao Zeca Dirceu: "o parlamentar destaca que o mais importante é o bom diálogo entre as partes".

Pessoal, não houve bom diálogo entre as partes. Uma das provas disto foi a decisão de encerrar a negociação no dia 27 e assinar o acordo com uma entidade que representa muito pouco, perto das demais, tentando forçar um desfecho.

Haveria outras coisas a dizer sobre a matéria publicada no app do PT, mas acho que o que foi dito basta. 

Espero que no dia 3 de junho a negociação seja reaberta. Espero que a CUT e o PT convençam o governo de que isto é necessário, reafirmando o que já foi dito várias vezes, por inúmeros dirigentes e parlamentares do Partido e por integrantes da Central. E espero, também, que o governo trate aliados como aliados; pois não faz sentido ver a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal receberem melhor tratamento do que técnicos e docentes.

Fica, também, a sugestão de que a executiva nacional do Partido convide os petistas das entidades que estão em greve. Assim poderão ouvir outro lado da história, muito diferente daquele que Feijóo contou para a executiva, no dia 27 de maio.

Antes que me esqueça: espero também que os textos publicados no nosso site e aplicativo sejam elaborados com mais cuidado jornalístico e político.

Segue abaixo o texto que enviei ao secretário de comunicação do PT, como uma sugestão de nota jornalisticamente neutra. E seguem, também, os prints da matéria publicada no app do PT.

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[06:05, 29/05/2024] Valter Pomar: Jilmar, bom dia. Minha sugestão de texto NEUTRO, jornalisticamente objetivo e sem chapa branquice, é o que segue abaixo.

[06:05, 29/05/2024] Valter Pomar: Greve nas universidades: dia 3 de junho prosseguem as negociações

As universidades e os institutos federais estão em greve. A greve envolve três categorias diferentes: os professores das universidades, os professores dos institutos e os técnicos administrativos. Cada uma destas categorias é representada por diferentes entidades sindicais. No caso dos docentes, há duas entidades que disputam a representação: o Andes e o Proifes. O Andes representa cerca de 60 associações docentes, o Proifes representa cerca de 10 associações docentes.

No dia 27 de maio, o governo considerou encerradas as negociações e assinou um acordo em separado com o Proifes. O acordo assinado contém três dimensões principais: reajustes no salário, reajuste nos benefícios e mudanças na progressão das carreiras. O governo argumenta que, considerando o conjunto do que foi oferecido, estaria oferecendo um reajuste que cobriria não apenas as perdas estimadas para o período 2025-2026, mas também parte das perdas ocorridas durante o biênio 2023-2024 e, inclusive, parte das perdas ocorridas durante o período do golpe e do governo de extrema-direita.

Parte dos trabalhadores concorda com esta opinião e aprovou, em assembleias e consultas em urna, tanto a proposta do governo quanto o encerramento da greve (há, também, algumas poucas universidades que nunca chegaram a entrar em greve). Outra parte dos trabalhadores discorda da proposta do governo e decidiu manter a greve. Embora haja diferentes versões, os dados disponíveis indicam que até o momento da assinatura do acordo, a maioria das categorias, na maioria das universidades, se manifestou contra o acordo e a favor de continuar a greve.

As entidades que decidiram manter a greve apresentaram uma contraproposta e solicitar ao governo que mantivesse a negociação. O governo, mesmo reafirmando que não tem margem orçamentária para conceder mais nada, agendou uma nova reunião no dia 3 de junho. A contraproposta apresentada pelas entidades inclui medidas não orçamentárias (como revogação de decisões dos governos Temer e Bolsonaro), inclui medidas gerais (como recomposição do orçamento das universidades) e inclui medidas orçamentárias (como a concessão de um reajuste em 2024).

Um dos pontos mais polêmicos reside exatamente no tema do reajuste de 2024. O governo afirma que não tem margem para oferecer mais; que reajustou os benefícios; e que o conjunto dos reajustes oferecidos dará conta de eliminar as perdas inflacionárias de 2024. Já os grevistas afirmam que reajuste zero em 2024 equivale a confisco salarial, que afetará principalmente os aposentados, que não terão nem mesmo os reajustes em benefícios.

Outro ponto polêmico reside na decisão do governo, de assinar um acordo com o Proifes. O próprio Proifes é filiado a CUT e afirma que sua posição é respaldada em decisões de base. Já o Andes afirma que o Proifes é pouco representativo e que a maioria da base do Proifes recusou a proposta do governo e segue em greve.

A executiva nacional do PT debateu o tema na sua reunião de 27 de maio e solicitou ao governo que fizesse um esforço de prosseguir a negociação.









terça-feira, 28 de maio de 2024

A deusa e a greve

Será uma pessoa com pais que viam longe?

Ou será uma pessoa, digamos, tímida demais para assinar seu nome verdadeiro?

Não sei.

Mas sei que  a sabedoria é mercadoria escassa  nos textos (ver ao final) de Palas Atena.

Por exemplo: não é verdade que o funcionalismo público esteja pedindo que o governo devolva imediatamente o que os governos golpista e cavernícola tirou em sete.

Também não é verdade que o conjunto dos servidores tenha ficado “pianinho” durante aqueles 7 anos. Houve muita luta e resistência. Assim como teve adesão e colaboracionismo, por exemplo na PF e na PRF, que não obstante receberam melhor tratamento por parte do governo atual, na hora de negociar salários.

Também é verdade que teve esquerdismo. Mas em que manual está dito que o fato de uma direção sindical ser esquerdista retira o direito da categoria que ela representa ser bem tratada pelo governo??

Ademais, no caso do Andes, nas últimas eleições sindicais, pouco menos de metade da categoria votou na oposição. Quase todas as ADs dirigidas pela oposição estão apoiando a greve, exatamente porque as reivindicações são justas.

Acusar todos os servidores públicos de covardia, como faz o texto de Palas Atena, é pior que um crime, é um erro.

Palas Arena, como não poderia deixar de ser, ama Haddad. Mas não se dá conta da óbvia relação que existe entre o auto-imposto déficit zero e a dificuldade de achar recursos que permitam dar aos professores a reposição da inflação!

Pois, é bom lembrar, é no fundamental isto que os “irresponsáveis” pedem: que não haja confisco salarial em 2024.

Palas Atena não nega que os servidores tenham “direito” a exigir. Só pede que os servidores não exerçam este direito. Talvez seja este o ponto em que a “deusa” tenha chegado mais perto, não da sabedoria, mas da esperteza.

De resto, não entendeu nada. A greve de 2024, pelo menos até o Feijóo romper as negociações, não tem nada que ver com as greves ocorridas antes do golpe. Talvez por acreditar que estamos em 2012 ou 2015, haja gente do governo errando tanto. 

Aliás, talvez Palas Atena entre nessa vibe por ser, não uma pessoa, mas uma IA. Neste caso, deixo uma questão: Alexa, digo, Palas Atena, se o governo é tao aberto ao diálogo, por qual motivo o Feijóo não prolongou as negociações? Por qual motivo não deu a mínima atenção para a contraproposta elaborada pelo Andes?


Segue o texto comentado 

*SEMPRE A MESMA SABOTAGEM* Palas Atena Li que hoje servidores federais da educação entraram em greve. O movimento é organizado pelo sindicato nacional dos servidores de educação básica, profissional e tecnológica (sinasefe) e já tem a adesão de 270 institutos. Eles reivindicam: aumento entre 22,71% a 34, 32%; reestruturação da carreira; aumento do orçamento; ajustes imediatos de auxílios e bolsas, entre outras medidas. Querem que o atual governo revogue todas as legislações (leis, decretos) impostas pelos golpistas temer e genocida, consideradas prejudiciais à educação. Também a associação nacional dos docentes das universidades (andes) está organizando greve de professores universitários. Funcionários do Ibama, ICMBio do Banco Central também estiveram/estão em greve. Todos querem que o governo atual recupere em um ano o que o golpe lhes tirou em sete. Foram mais de sete anos de destruição do Estado, mas só agora os servidores resolveram reagir. Fico só observando. Nos governos temer e genocida, esse pessoal ficou pianinho. Os sindicatos desapareceram. Por pouco, paulo guedes, que disse naquela famosa reunião que ia colocar uma granada no bolso dos servidores públicos, não aprovou uma reforma administrativa que, no final das contas, acabaria com a carreira de servidor público. Ficariam sem estabilidade, poderiam ser demitidos a bel prazer dos chefes de cargos comissionados, indicados por deputados, senadores, governadores. Íamos voltar à velha prática de aparelhamento do serviço público, cabide de emprego de parasitas. Me lembro que, em 2014, 2015, no governo Dilma Rousseff, acuado de todo lado, prestes a ser golpeado, os mesmos servidores faziam greve atrás de greve, gritavam "Fora, Dilma". Teve aquela cena emblemática de carteiros queimando a bandeira do PT. Conseguiram o que desejavam: Dilma foi golpeada. Por ajudarem a derrubar o governo, no golpe de michel temer, tiveram de recompensa: arrocho, programa de demissão voluntária, perda do direito à aposentadoria com a reforma previdenciária, cortes de promoções, demissões em massa, sucateamento das instituições com cortes e/ou contingenciamentos de verbas, a ponto de o MP precisar agir para a justiça obrigar os desgovernos temer e genocida darem verba a fim de as instituições de ensino não fecharem, literalmente. Nenhum sindicato organizou nada enquanto havia esse desmonte. Mas foi só o governo Lula voltar para os servidores ficarem valentes de novo. Valentes e alienados, sem noção de conjuntura. Fora aqueles servidores que aderiram ao bozofascismo, como barata que se apaixona por inseticida. Hoje vivemos um semipresidencialismo, em que deputados e senadores se sentem no direito de determinar como o governo vai distribuir o orçamento do União. Abocanham sem a mínima cerimônia grandes somas das verbas destinadas a setores essenciais, como educação e saúde. Sabotam a arrecadação do governo, como fez o pústula rodrigo pacheco, ao mesmo tempo em que impõem déficit zero. Os jornais diuturnamente cantam o mantra: governo gastador para impor a agenda ultraliberal dos desgovernos temer e genocida. Fernando Haddad já está fazendo malabarismo com o parco orçamento que tem. Neste ano, teve de contingenciar mais de 2bi. Para evitar cortar na educação e na saúde, tirou isso das verbas do PAC, no setor de transporte. Mas, com o golpe que tomou do pústula rodrigo pacheco que, rompendo acordo com a Fazenda, manteve a desoneração dos municípios (ou seja, eles não pagarão impostos da União), terá de fazer novos cortes do orçamento para manter o tal equilíbrio fiscal. Ah! Mas Haddad é ultraliberal, propôs o déficit zero. Haddad fez mágica ao conseguir derrubar o criminoso teto de gastos imposto pelo golpista michel temer e que, se mantido, simplesmente impediria o governo Lula de comprar clipes. Haddad conseguiu aprovar a PEC do Orçamento para que o governo respirasse em 2023. Com isso, concedeu 9% de aumento para os servidores federais e 45% de reajuste do vale refeição/alimentação, entre outros ajustes. Como Dilma em 2014, 2015, o governo Lula está sob cerco da mídia golpista, do Congresso bozofascista, do agronazi que exigiu renegociação de dívidas e, para chantagear, reteve produtos a fim de que aumentassem os preços lá na ponta, nos supermercados. As altas de arroz, feijão, leite e outros produtos da cesta básica tiveram dedo do agronazi, retendo a produção (soja, milho e afins que são insumos para a produção desses alimentos da cesta básica). Os servidores têm direito à greve? Óbvio. Têm direito a reivindicar melhoria de salários, valorização da carreira e afins? Mais óbvio ainda. Mas o que não podem é sabotar um governo que é aberto ao diálogo e, mesmo acuado por forças golpistas, se abre a negociações dentro do que lhe é possível. Volto a dizer. Temos um Congresso que está governando. Se apropria de verbas do orçamento, por meio de emendas impositivas dos deputados/senadores, sem nenhuma contrapartida ou compromisso com programas sociais. São emendas para fins eleitoreiros. Neste ano, as bancadas do quadrilhão, bozofascistas estão abastecendo prefeitos em seus currais eleitorais. Nísia está sob fogo cerrado por causa disso. Os deputados e senadores pressionam por mais verbas para suas "bases", sem nenhuma vinculação com programas de saúde, como postos de saúde, vacinação, farmácia popular. É grana para prefeito fazer campanha e, assim, garantir palanque para deputados e senadores em 2026. A greve de servidores federais neste ano é um repeteco do que fizeram em 2014 e 2015, o que ajudou a culminar no golpe. Lula não é Dilma Rousseff, tem genialidade política e mais jogo de cintura. Mas os servidores estão contribuindo para criar as "narrativas" a serem usadas pelo bozofascismo para eleger um número absurdo de prefeitos e vereadores e, assim, chegar quase que imbatível em 2026. Depois não digam que não foram avisados.

Rudá Ricci e a teoria que não é de esquerda

Não sei se é verdade, mas dizem por aí que Brecht recomendava, a quem encontrasse uma ideia circulando na praça, perguntar a ela: a quem serve vossa senhoria?

Lembrei disso, ao ler o texto de Rudá Ricci acerca da “esquerda que não é esquerda”, corolário da teoria segundo a qual a esquerda brasileira se dividiria em dois blocos: “institucional” e “social”.

A rigor, além de perguntar a quem serve, vale perguntar  a esta ideia, também, se “não te conheço de algum lugar?”

Afinal, como o próprio Rudá em certa medida sugere, esta dicotomia social/institucional é um remake da dicotomia social/política que esteve presente no debate entre marxistas e anarquistas, entre economicistas e iskristas, entre a esquerda e a direita da socialdemocracia alemã, entre comunistas e socialdemocratas etc.

Os economicistas russos, por exemplo, também acreditavam que a disputa que travavam seria “mais aguda" porque enfrentavam "diretamente a ordem social”. Acontece que a vida já mostrou, inúmeras vezes, que o questionamento da “ordem social” só é completo quando se politiza. E a politização inclui, em maior ou menor medida, alguma relação com ou participação no Estado do inimigo, ou seja, envolve a chamada "institucionalidade".

Portanto, este tema das duas esquerdas não é um assunto do século XXI, não é uma jabuticaba brasileira, nem tampouco um desdobramento do “lulismo” (termo que alguns intelectuais tratam como se fosse o “mordomo” da história recente do Brasil, ao qual se atribui a responsabilidade por qualquer suposto mistério que não conseguem explicar de outro jeito).

A ideia de que existiria uma "divisão de trabalho" dentro da esquerda é, portanto, bem velha. O engraçado – sempre há algum motivo para achar graça de algo trágico – é ver essa ideia reaparecer, hoje, sob a forma de uma crítica aparentemente radical ao status quo vigente no Brasil: de um lado estaria a esquerda social, supostamente mais radical; de outro lado a esquerda “institucional”, que seria mais acomodada e que, progressivamente, estaria deixando de ser de esquerda.

Evidente que há uma "estratégia institucional" e também evidente que há uma esquerda que usa os "limites da institucionalidade burguesa" como explicação para tudo o que fazem e o que deixam de fazer. Mas a dicotomia proposta (esquerda social versus esquerda institucional) não é propriamente uma descrição da realidade, mas sim uma caricatura.

Em primeiro lugar, porque parte da esquerda “social” é igualmente acomodada (prefiro não citar nomes, mas peço que lembrem da atuação de certos “fóruns da sociedade civil”, sem falar de uma entidade que assinou, ontem, um acordo com o governo federal).

Em segundo lugar, porque outra parte da “esquerda social” tem muita retórica, mas pouco “social”.

Em terceiro lugar, porque falta história e política nessa descrição, sem as quais não dá para entender como é que se opera a metamorfose que transforma líderes da esquerda “social” em expoentes da esquerda “institucional”. Metamorfose que atinge não apenas petistas, mas também os que vieram antes e depois (vide, por exemplo, a trajetória de certos expoentes comunistas e psolistas).

Por último, mas mais importante, aceitar esta dicotomia conduz, no limite, a renunciar a qualquer possibilidade de vitória por parte da classe trabalhadora. Afinal, se por algum mistério de Fátima, toda “esquerda social” que amplia o “poder político da sua base social” termina deixando de ser de esquerda, nossa história nunca acabará bem.

Num país como o Brasil, na situação história aberta desde 1989, não há como abrir mão das “conquistas eleitorais”. Tampouco há como explorar estas conquistas institucionais, sem que tenhamos força social organizada fora das instituições. E não há como ter vitória, sem combinar os dois movimentos, "dentro" e "fora", em torno de uma linha política comum. Evidente, se a situação histórica mudar, isto também muda. Mas por enquanto, este é um de nossos desafios estratégicos.

Entretanto, nada disso será possível ou necessário, se acharmos que a “esquerda social” é - por definição e sempre - moral ou politicamente superior à esquerda “institucional”. 

Aliás, a certeza desta suposta superioridade é, por paradoxal que possa parecer, um dos motivos que explica a atitude lamentável de algumas pessoas oriundas da luta social e que ocupam espaços no aparelho de Estado.

Tampouco será possível construir uma estratégia que combine os movimentos, se acharmos que estamos diante de um fenômeno irreversível, cristalizado, da “formação de um segmento social ou político autóctone, autorreferente, que não se vincula mais à base social nenhuma, nem fora, nem à base partidária”, uma “elite autolegitimada pela conquista eleitoral, como provedora de uma sabedoria política”.

Embora seja bizarra a ideia de uma burocracia “autorreferente”, este tipo de descrição é atraente, pois faz referência a fenômenos realmente existentes. Mas a descrição tem uma falha fundamental: esquece que existe luta de classes, que existe uma pequena burguesia, que existe uma classe dominante burguesa, que existe uma direita neoliberal e uma extrema-direita neoliberal, que não vivemos na Europa imperialista, que estamos num momento de crise sistêmica. Portanto, esquece que não existe espaço estrutural, no Brasil de 2024, para uma esquerda profundamente integrada ao sistema, como ocorreu com a socialdemocracia europeia entre o pós Segunda Guerra e a ascensão do neoliberalismo. Se existisse, aliás, não teria havido o golpe de 2016 e o que veio depois.

Verdade seja dita, os primeiros que se esquecem disto, os primeiros que acreditam que têm um lugar na mesa da casa grande, são alguns militantes de esquerda que ocupam espaços na institucionalidade. Há até quem trate sua cooptação individual como se fosse uma mudança estrutural para o conjunto da classe trabalhadora.

Mas o antídoto para esta postura não é decretar como fatal, como mortal, toda participação institucional. Entre outros motivos, porque o fatalismo não é de esquerda: é apenas expressão de impotência.

 

SEGUE O TEXTO COMENTADO

A esquerda que não é esquerda

POR Rudá Ricci

Recentemente, alguns intelectuais sugerem a divisão da esquerda brasileira em dois blocos: a esquerda institucional e a esquerda social. Esta é a proposição de Carlos Vainer, da UFRJ.

A divisão teria ocorrido mais nitidamente neste século XXI e, possivelmente, tem relação com o advento do lulismo como fiel da estrutura e dinâmica de poder nesta primeira quadra do século.

A esquerda social seria aquela vinculada e orientada por movimentos sociais, sindicatos e organismos ou fóruns da sociedade civil. Seus membros podem estar filiados a um partido, mas privilegiam pautas e planos de ação de suas organizações sociais.

Por sua vez, seu foco é a luta social, a ampliação dos direitos coletivos e o aumento do poder político da sua base social. A disputa política que travam é mais aguda porque enfrentam diretamente a ordem social, embora raramente se posicionem como organizações revolucionárias.

Já a esquerda institucional é aquela que privilegia o campo institucional e sua pauta gravita ao redor de conquistas eleitorais.

Assim, se a esquerda social se orienta por práticas de confronto e conquista de direitos, a esquerda institucional se pauta pelo calendário eleitoral e acordos para manutenção dos seus mandatos.

Na esquerda social, as alianças são mais estratégicas, podendo ocorrer alguma aliança tática como, por exemplo, acordos com parlamentares para emplacarem um projeto de lei.

Já na esquerda institucional, as alianças são sempre muito amplas, muitas vezes descaracterizando até mesmo a identidade de esquerda justamente porque procuram criar bases para a governabilidade de seus mandatos, evitando ao máximo solavancos e surpresas.

Ocorre que, nos últimos anos, a esquerda institucional se encontra mais e mais nas cordas. O que a obriga a ceder mais. O cenário mais desfavorável ocorre porque agora a maior oposição à suas pretensões não vêm de uma direita dócil, mas de uma extrema-direita mobilizadora e popular. As ruas, portanto, passaram a ser campo de disputa, assim como corações e mentes da base popular.

Há, portanto, uma esquerda que vai se desgarrando de sua identidade original e se tornando cada vez mais moldada pelas amplas alianças e acordos que minam as agendas e pautas originais.

Esta discussão não é nova no campo da esquerda. Lênin, em seu artigo “Mais vale pouco e bom”, de 2 de março de 1923 (ele faleceu em janeiro de 1924) já citava os erros na estruturação do aparelho de Estado. Sem dar nome aos bois, sugere que “no que se refere ao problema do aparelho estatal, devemos concluir da experiência anterior que seria melhor ir mais devagar” e conclui “é preciso, enfim, que tudo isso mude”.

Talvez, o texto mais cirúrgico de crítica às mudanças de projeto e conceito que a máquina soviética gerou é o livro de Charles Bettelheim, “A Luta de Classes na URSS”.

Enfim, há farta literatura de esquerda a respeito desses atalhos da esquerda institucionalizada que vai se afastando da sua origem até se perder num mar revolto.

E é aqui que gostaria de lançar uma reflexão: esta esquerda institucionalizada continua esquerda? A pergunta não é meramente retórica. A questão é se o centro de decisão desse segmento não seria nem mesmo o partido, mas a própria lógica da burocracia estatal e a base de amplos acordos.

Se esta hipótese tem sentido, estaríamos presenciando a formação de um segmento social ou político autóctone, autorreferente, que não se vincula mais à base social nenhuma, nem fora, nem à base partidária.

Ora, tal orientação ensimesmada criaria uma série de laços de lealdade de caráter grupal que se esforçaria para interditar divergências ou debate público de projetos e teses.

Não sei se o leitor desta provocação percebeu, mas minha sugestão é que tal esquerda institucional estaria criando uma elite autolegitimada pela conquista eleitoral, como provedora de uma sabedoria política.

Na tradição da literatura de esquerda, teria certo paralelo com o conceito de “aristocracia operária”, aquele segmento de operários altamente qualificados que recebem salários acima da média geral da classe trabalhador e que gerava uma identidade política e social muito peculiar, menos afeta à transformação política e social. O termo foi criado por Engels em um artigo publicado nas revistas Commonweal da Inglaterra e Die Neue Zeit da Alemanha no ano de 1885 e, décadas depois, Lênin, o retomou para analisar a consequência política que seria a separação deste segmento das grandes massas do proletariado.

Minha impressão é que estamos vivenciando no país a cristalização deste segmento social e político próprio que é a esquerda institucional que vai se distanciando tanto da sua origem que nem mesmo se sabe se ainda é esquerda. (FIM)


sem revisão

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Feijóo elege o Proifes

Hoje teve reunião da executiva nacional do PT.

O secretário Feijóo participou da reunião, para dar um informe sobre as negociações entre o governo, docentes e técnicos administrativos.

Não tenho informações precisas sobre o caso dos técnicos administrativos. 

Mas no caso dos docentes, posso dizer que o informe dado por Feijóo teve de tudo um pouco, desde informações factuais corretas, até avaliações incorretas e que subestimam o que está acontecendo.

Ao contrário do que Feijóo disse ou deu a entender, para a executiva nacional do PT:

-a imensa maioria das Universidades está em greve;

-a imensa maioria das assembleias rejeitou a proposta do governo;

-a rejeição ocorreu tanto em assembleias, quanto também em votação em urna;

-a rejeição ocorreu tanto onde as Associações são ligadas ao Andes, quanto onde são ligadas ao Proifes;

-o Proifes controla um número muito pequeno de associações docentes;

-a maior parte das Associações Docentes é vinculada ao Andes;

-tem mais petistas em Associações dirigidas pelo Andes, do que em associações dirigidas pelo Proifes;

-há um grande número de petistas e simpatizantes do PT em greve e/ou criticando a proposta do governo;

-a esmagadora maioria dos grevistas votou em Lula nas eleições de 2022. Diferente dos policiais federais e rodoviários agraciados com reajustes mais substanciais;

-ao contrário do que sugeriu Feijóo, a rejeição a proposta do governo não é motivada por radicalismo esquerdista. A rejeição é devida a vários motivos, entre os quais acho que o principal é o zero em 2024.

Aliás, duvido que o Feijóo, quando era sindicalista, aceitasse de bom grado um zero, que na prática significa confisco salarial (pois, é bom lembrar, não estamos falando de aumento real, mas de reposição).

Por fim: Feijóo disse para a executiva nacional do PT que ele era contra prosseguir as negociações. 

Seus (dele) argumentos foram mais ou menos os seguintes: já houve negociação, o governo está no limite, estender alguns dias não vai mudar nada, prosseguir prejudicaria os setores do movimento que apoiam a proposta do governo.

De fato, já houve negociação. Mas por qual motivo não continuar negociando?

De fato, o governo acha que está no limite. Mas há outras opiniões, segundo as quais o custo de uma contraproposta seria totalmente absorvível.

De fato, estender alguns dias talvez não mude nada. Mas por qual motivo não tentar?

Por fim: seria mesmo verdade que prosseguir a negociação prejudicaria quem já aceitou a proposta do governo? 

Não sei dizer. O que sei é que Feijóo pagou para ver. E assinou um acordo com uma entidade (o Proifes) que representa muito pouco; sem falar que várias das bases do Proifes estão em greve.

Além disso, Feijóo tratou com desprezo e desdém a contraproposta apresentada pelo Andes. Contraproposta que o governo poderia ter atendido, se a boa política estivesse no comando.

Nos próximos dias se verá o efeito disto sobre a greve. Mas o efeito imediato foi desgastar o governo e o PT junto a amplos setores da categoria docente. Além disso, há os efeitos negativos sobre a educação pública, efeitos que podem ser difíceis de medir, mas que existem.

Como resumo de tudo, cabe lembrar que, em 2022, nós ganhamos por apenas 2 milhões de votos. Cerca de 30 milhões de trabalhadores não votaram em ninguém. Já passaram 18 meses de governo e a vida segue difícil. Sendo assim, o mais prudente seria não tratar mal quem está do nosso lado. Mas, pelo visto, a opção segue sendo a de dar tiro no pé e sair cantando vitória.


ps.há duas décadas, fiz parte de um governo em que cometemos desatino parecido. O desfecho não foi positivo.





domingo, 26 de maio de 2024

O PT não larga o osso?

Não! Desta vez não foi o cavernícola, que já disse que “quem gosta de osso é cachorro”, naquela feita ridicularizando a luta dos familiares dos mortos e desaparecidos.

Desta vez quem apelou para a imagem ossuária foi um filiado ao PT, que numa dessas lives-sem-life defendeu que devemos apoiar Simone Tebet para presidenta, emendando que infelizmente o PT não larga o osso.

A coisa dita pode ser conferida aqui:


A rigor, trata-se da roupagem nova de um papo velho, que nos últimos anos teve como principal expoente o Ciro Gomes.

Incapazes de derrotar o PT, querem que o PT derrote a si mesmo, abrindo mão de uma posição ocupada não por acaso, mas graças a mais de quarenta anos de luta.

O papo é velho, mas volta precisamente agora porque estão sentindo espaço para este tipo de ataque.

Quanto ao filiado em tela, o que pode ser dito é que a Open Society e Israel sabem o que fazem!

 

O sucessor

Numa galáxia muito muito distante, há um planeta onde vive uma confraria que, nos últimos anos, adotou o NozChato como ferramenta de comunicação.


Ontem, um dia qualquer do ano estelar 2024 depois da Era Cavernícola, ocorreu um curioso micro-debate em um dos 131.313 grupos de NozChato em que a confraria debate seus dilemas.

O micro-debate versou sobre o sucessor do número 1, a saber, o grande líder da confraria. O ponto de partida foi a declaração de um digital influencer, segundo a qual ele gosta muito do grande líder, mas acha que é hora de de renovação.

Impossível aqui citar as opiniões proferidas no tal micro-debate. Mas o simples fato de ele estar acontecendo é bastante revelador do “clima” que existe em alguns setores da confraria.

Em resumo:

1/Ao invés de debater a política, priorizam debater as pessoas.

2/Ao invés de resolver os problemas aqui e agora, ficam discutindo o que faremos daqui há ou 2 ou 6 anos.

3/Ao invés de fortalecer as estruturas coletivas, ficam querendo o impossível: achar um “sucessor” para alguém que sintetiza - com seus erros e acertos - 50 anos de história.

4/E, o que é mais bizarro, há até quem proponha apoiar gente de fora da confraria.

Se raciocínios deste tipo são representativos ou não, só os grandes adivinhos saberão dizer.

Ainda bem que essa gente mora noutra galáxia. Imagina se fosse aqui? Em que confusão não estaríamos??


sexta-feira, 24 de maio de 2024

A general gringa mandou bala

Recomendamos ler a "ordem do dia" da General Laura Richardson.

Está disponível aqui: General americana mira China e diz que Brasil e EUA têm de se unir | Brasil | Valor Econômico (globo.com)

Primeiro, um comentário: americanos somos todos nós que vivemos no continente.

A general é estadounidense.

Chamar de "americana" é uma decorrência da Doutrina Monroe, que dizia "a América para os americanos", mas queria dizer "a América para os Estadounidenses".

A general está no Brasil, para "exercícios militares conjuntos", denominados Southern Seas 2024.

Quem introduziu o tema China foi o próprio Valor, que perguntou ""qual é a mensagem geopolítica que esse exercício envia, especialmente à China, cuja presença crescente na América Latina tem sido motivo de preocupação de integrantes do governo dos EUA, de parlamentares e também uma preocupação sua?"

A resposta de Laura Richardson é um primor: "Número um, são 200 anos [de relações entre EUA e Brasil]. E se você quiser comparar com a China, são 50 anos. O Brasil e os Estados Unidos compartilham 200 anos de relações bilaterais, isso é muito significativo". 

Realmente, é muito significativo, especialmente se lembramos do papel que os Estados Unidos teve no golpe militar de 1964 e na sustentação da ditadura militar. Ou do apoio dado pelos EUA ao golpe de 2016, à Operação Lava Jato e à prisão de Lula.

Aliás, citar um porta-aviões neste contexto é um ato falho genial, que remete à Operação Brother Sam. Mais detalhes sobre isso, aqui: Teoria e Debate | 1964: os Estados Unidos e o golpismo - Teoria e Debate

O Valoer pergunta se "esses exercícios militares na região colocam os EUA em uma situação distinta da situação da China na região, ainda que a China seja o primeiro parceiro comercial de muitos dos países?"

A pergunta contém uma condenação explícita: enquanto a China faz negócios, vocês promovem guerras. Mas a general não veste a carapuça e responde o seguinte: "Como democracias de mentalidade semelhante, procuramos buscar uma situação em que todos saiam ganhando, em que ambos os países, ambas as nações, se beneficiem. E não uma relação de ganha-perde, não é assim que operamos. Como democracias, respeitamos uns aos outros. Respeitamos a soberania uns dos outros. Respeitamos o povo um do outro, as democracias, o que não acontece com um país comunista, porque eles não respeitam os direitos de seu próprio povo".

Sobre a parte do respeito a soberania, a general é negacionista. A história dos Estados Unidos é a história do desrespeito à soberania dos demais povos, a começar pelos povos da América Latina e Caribe.

Quanto ao respeito aos direitos de seu próprio povo, que tal começar por um direito fundamental: a vida? E tomar como parâmetro a pandemia de Covid 19. Pergunto: um trabalhador comum tinha mais chance de sobreviver onde? Nos EUA ou na China? Os números são acachapantes a este respeito.

Mas a principal mensagem política da general é o lugar do Brasil no mundo, que segundo ela é o de "alimentar e abastecer o mundo", com "soja, o milho, o açúcar, o petróleo bruto pesado, o petróleo bruto leve, as terras raras, o lítio, a Amazônia". Ou seja: nosso lugar no mundo é e deve continuar sendo primário-exportador.

Neste quesito, a Belt and Road Iniciative (Iniciativa Cinturão e Rota) é uma possibilidade alternativa. Os EUA não querem que o Brasil adira. Mas o argumento da general é outro ato falho: ela fala das "letras miúdas" e de ""como a soberania é retirada ao longo do tempo se os empréstimos não forem pagos", ou seja, ela fala exatamente do que ocorreu na relação entre EUA e Brasil na crise da dívida externa. Situação que, gostemos ou não da China, não tem nada que ver com a Iniciativa Cinturão e Rota. Como também é hilário a tentativa de vincular a ampliação da presença da China, com a ampliação da presença do crime organizado.

O mais divertido, entretanto, é ver como a general define soft power: "No meu cargo no Comando Sul dos EUA, procuro fazer parte do soft power que podemos exercer. Não se trata apenas de poder militar duro". Pois é: não se trata "apenas" de poder militar duro, mas de "unir os instrumentos de poder nacional: diplomático, de informação, militar e econômico". 

Seja como for, é ótimo que a general tenha se transformado em propagandista da "Parceria Americana para a Prosperidade Econômica". Primeiro, porque nos ajuda a explicar qual é o lado B desta "parceria". Segundo, porque concorrência ajuda na negociação. 

Uma última nota: a general foi absurdamente injusta com o Irã. Não é verdade que "o Irã é o maior patrocinador estatal do terrorismo". Os fatos demonstram que ninguém supera os Estados Unidos e Israel neste quesito.

E por falar em terrorismo, quando é que os EUA vão suspender o bloqueio e tirar Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo (pois, até agora, tiraram de outra lista, mas mantiveram Cuba na lista que maiores danos causa)?


quinta-feira, 23 de maio de 2024

Da série “nojento, mas não me surpreende”

Que ia nesse caminho, tava na cara faz tempo.

Que o caminho fosse dar nisso, era uma possibilidade.

Que tenha chegado tão longe, aí é total responsabilidade do cidadão.

Que sirva de alerta sobre outros, que beijam mãos, tiram fotos e fazem declarações impublicáveis: melhor deter enquanto é tempo.



A greve dos docentes e o Proifes

No dia 22 de maio, a CUT organizou uma boa Marcha em Brasília.

Em certo momento da Marcha, fez uso da palavra o vice-presidente do Proifes, entidade que disputa com o Andes a condição de representante dos docentes das universidades públicas federais.

O vice falou da greve dos docentes das federais.

Disse que o governo apresentou uma proposta.

Comentou que estão ocorrendo assembleias para deliberar sobre a proposta.

E concluiu informando que, semana que vem, o Proifes assinará a proposta…

… imediatamente deu-se conta do ato falho e emendou mais ou menos assim: “isso, é claro, se as assembleias aceitarem a proposta”.

O vice-presidente foi sincero: o Proifes quer assinar a proposta e está trabalhando ativamente por isso.

O que ele não comentou é que a imensa maioria dos docentes em greve não reconhece o Proifes como sua entidade nacional.

Não comentou, também, que várias associações docentes ligadas ao Proifes decidiram - na contramão de sua entidade nacional - entrar em greve.

Tampouco comentou que a maioria das assembleias realizadas até agora rejeitou a proposta do governo, que dá zero de reajuste em 2024, sendo que para os aposentados dá duplo zero.

Atendendo neste caso à orientação de “não remoer o passado”, não vou lembrar, aqui, como e para que foi criado o Proifes. 

Apenas registro que a Marcha era o espaço mais que adequado para que um Sindicato - ao invés de avisar que já desistiu de lutar - defendesse as reivindicações da categoria que pretende representar.

Espero que a CUT faça gestões junto ao presidente Lula, para que altere a proposta apresentada. Afinal, zero é zero. E duplo zero para os aposentados é inclassificável.

Vale dizer que o PT já fez estas gestões. Entre outros motivos porque não faz sentido, politicamente falando, conceder reajuste para algumas categorias (como a PF e a PRF) e zerar o reajuste dos professores.

A não ser, é claro, que o objetivo seja dar um tiro no pé. 





quarta-feira, 22 de maio de 2024

José Dirceu rumo a seus plenos direitos

Está de volta a “bússola do PT”. Com frases deste tipo, muita gente comemorou a recente decisão judicial que acumula para restituir os plenos direitos políticos de José Dirceu, ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores .

A citada decisão foi baseada no mesmo padrão adotado no caso de Lula. Ou seja: as mesmas instituições que, no passado, avalizaram o mérito das barbaridades cometidas pela Lava Jato, agora dizem que houve falhas no método. E, com base nisso, anulam os processos. O mesmo foi feito no caso de Marcelo Odebrecht e outros.

Quem vai pagar pelos danos causados? Quem vai reparar os estragos provocados pelos governos Temer & Cavernícola? Os atuais ministros do STF que foram cúmplices vão continuar julgando??

Aliás, quem vai pagar pela decisão judicial, também de ontem, que garantiu a Moro - aquele mesmo - seu mandato?

Por todos estes motivos, é prudente fazer uma análise mais refletida sobre o papel do judiciário, antes e agora. Talvez esta análise venha a ser feita, futuramente, mas no momento - ao menos em dois grupos de “zap” de que participo, o que mais tenho lido são declarações entusiasmadas pelo “regresso do comandante”, que “precisa voltar a fazer parte do Diretório Nacional do PT”

De fato será muito útil que Dirceu volte ao DN, cabendo ressaltar que se ele não está lá hoje, não é por conta de uma decisão judicial, mas sim por conta da opção que prevaleceu, em determinado momento, em determinada tendência.

Alias, é dos integrantes desta tendência que partem as maiores comemorações. 

Compreensível: a chamada “Construindo um novo Brasil” passa por momentos difíceis, com muitas divisões e certa dificuldade, digamos assim, de lidar com alguns dos efeitos colaterais da política adotada nas eleições de 2022.

Zé Dirceu “de volta” gera, em alguns setores do Partido, a ilusão de que “os bons tempos” também vão voltar. Mas é pouco provável que isso ocorra, ao menos no sentido que certas pessoas interpretam. 

Primeiro, porque a estratégia defendida por Dirceu naqueles “bons tempos” mostrou seus limites já naquela época. Segundo, porque a situação atual é muito diferente e muito pior. Terceiro, porque a linha atualmente defendida por Dirceu - conforme se pode ler nos seus textos e entrevistas - tem seus méritos, mas tem o grande defeito de bater continência para a política implementada por Haddad, política que é o principal obstáculo para a superação das dificuldades do nosso governo e de nosso partido. Finalmente, cabe lembrar que Dirceu agora “está de volta” aos processos eleitorais; mas sua injusta interdição nunca o impediu de participar, em maior ou menor medida, dos debates da esquerda brasileira.

Um último comentário: temos sim um problema de “bússola”, embora cada um tenha a sua preferida. Mas temos também um problema de velocímetro. Planos de voo do tipo “marcha lenta e segura durante 12 anos”, só servem (mas nem sempre) para quem controla o poder de Estado. Para nós, que nem o governo controlamos, é preciso menos mediocridade e cautela, é preciso muito mais velocidade e audácia.

Foi algo assim que pensei e disse, aliás, quando entrevistei Dirceu, “a long time ago”, para o hoje falecido jornal Brasil Agora. Naquela ocasião tomei contato pela primeira vez com a “teoria” dos sucessivos governos cada vez mais progressistas, que seriam necessários antes que um dia pudéssemos ter um governo verdadeiramente democrático-popular. Como sabemos, antes desse dia chegar, fomos abatidos em pleno voo.

Hoje corremos o mesmo risco. Só não vê quem não quer.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

A presidência do PT e o X da questão




Pessoa amiga acaba de me ligar, para informar que X teria dito que o presidente da República o convidou para ser presidente do PT. 

A mesma pessoa amiga informou, ainda, que X teria aceitado o convite. 

A pessoa perguntou se eu sabia disso tudo.

Respondi que já tinha ouvido falar que X fora um dos nomes citados pelo presidente.

Respondi, também, que não saberia dizer se era verdade ou não que X teria sido convidado.  

Ademais, embora ache os termos e a conduta inadequados, "convidar" e "aceitar" é direito de todo mundo. 

Entretanto, embora tenha virado hábito alterar o estatuto partidário, desconheço que alguém queira que nossos diretórios e presidências deixem de ser eleitos pela base, via voto direto e secreto, e passem a ser indicados.

Assim, sendo ou não verdade o convite, o mais relevante é saber se X combinou com os russos e com a “nação petista”. 

Os russos, como na futebolística história original, são os russos propriamente ditos. 

Ao atacar a Ucrânia, a Federação Russa rompeu com o monopólio que os Estados Unidos mantinham desde o início da década de 1990. Nesse sentido, a guerra entre Rússia e Ucrânia abriu um novo capítulo na disputa pelos rumos do mundo. Capítulo que inclui, entre outros, o conflito entre EUA e China.

Não há como saber quanto tempo vai durar esta disputa, nem qual será o seu desfecho. Mas os acontecimentos – econômicos, sociais, políticos, culturais, sanitários, ambientais – não deixam dúvida: vivemos tempos não apenas de crise e guerra, mas de catástrofes. 

Qual nossa estratégia para enfrentar este período histórico? 

Alguns de nós têm opiniões a respeito, que podem estar mais ou menos certas, mais ou menos erradas. Mas o Partido dos Trabalhadores enquanto tal não possui uma estratégia desenhada, muito menos aplicada, para enfrentar os desafios do presente e do futuro. 

Começamos a elaborar esta estratégia no 6º Congresso Nacional do PT (2017). Mas, desde então, temos focado no enfrentamento dos desafios imediatos – prisão de Lula, campanha de 2018, governo neofascista e ultraliberal, pandemia, eleições de 2022, intentona golpista de 2023, reconstrução, agora catástrofe no Rio Grande do Sul, eleições municipais de 2024 etc. 

E a verdade é que, de urgência em urgência, estamos deixando em segundo lugar a reflexão estratégica. 

O que cada uma das pré-candidaturas à presidência nacional do PT tem a dizer sobre como mudar o lugar do Brasil neste mundo cada vez mais perigoso? Não sei. 

Mas sei que outro dos nossos desafios estratégicos consiste em recuperar a autoridade coletiva do Partido. Sem autoridade coletiva, não haverá autonomia. E, sem autonomia, mais cedo ou mais tarde seremos atropelados pela implacável biologia. E aí pode ser tarde demais para salvar o Partido, inclusive salvar da quase absoluta dependência financeira frente aos fundos do Estado e da crescente dependência política frente às bancadas e governos. 

Neste sentido, no início de 2024, numa das pouquíssimas vezes em que tive a oportunidade de conversar pessoalmente com o companheiro presidente, disse a ele que, na minha opinião, era melhor que “deixasse a disputa correr”, antes de declarar seu apoio a alguma das candidaturas que disputarão a presidência nacional do PT. 

Disse isto não apenas por motivos óbvios e pragmáticos, mas também por um motivo mais nobre, a saber: quem quer que venha a ocupar a presidência nacional do Partido, deve conquistar este lugar mais devido a seus méritos próprios e menos devido ao QI. 

Até porque precisamos, entre muitas outras coisas, de um Partido com muita autonomia frente ao governo. Inclusive para defender o governo, é muito melhor que nossa presidência partidária não seja ocupada por um "ministro sem pasta", indicado pelo chefe do governo. 

(Perdoem a brincadeira séria, mas, às vezes melhor perder certos amigos do que perder a piada: se for para ser um ministro, que seja do tipo Mucio, que é um representante dos militares junto ao Presidente. Por analogia, precisamos de um representante do Partido junto ao governo e não de um representante do governo junto ao Partido). 

Não se trata apenas de uma questão de método, mas principalmente de uma questão política. 

Ou recuperamos a autonomia e autoridade partidária, ou não seremos capazes de enfrentar os desafios do atual período histórico, entre os quais se destaca, também, o de libertar o Brasil do contubérnio rentista-primário-exportador. Falando pela positiva: industrializar o país. 

Uma industrialização de novo tipo, a serviço do desenvolvimento com ampliação do bem-estar social, da soberania com ampliação das liberdades democráticas, da ampliação da capacidade produtiva com redução dos impactos sobre a natureza. 

A classe dominante brasileira é incapaz e não tem motivos para fazer tudo isso; só a classe trabalhadora tem os motivos e a capacidade necessária. Motivos pelo quais, no Brasil, desenvolvimento e socialismo têm tudo que ver. 

O que cada pré-candidatura à presidência nacional do PT pensa disso? Não sei. Ou melhor, até imagino, mas vamos deixar isso na conta do benefício da dúvida. 

Um terceiro desafio estratégico é o da “união e reconstrução”. Não do Brasil, mas da força da classe trabalhadora brasileira. 

O fracasso do primeiro de maio de 2024 em São Paulo capital é apenas um de inúmeros indícios de que estamos desacumulando forças no que diz respeito a capacidade de organização e mobilização da classe trabalhadora. E isto é produto de um combo de fatores objetivos e subjetivos, entre os quais há pelo menos quatro que são de nossa inteira responsabilidade: a fragilidade de nossa política de comunicação, a fraqueza de nossa política de formação, o desmonte de boa parte de nossas organizações de massa e o conservadorismo de nossa política eleitoral. 

Desconheço dirigente partidário que não reclame de nossas políticas de formação e comunicação. Assim como desconheço quem não tenha reparos a fazer sobre a situação dos chamados movimentos sociais, sindicatos inclusive. Mas conheço poucos dirigentes que estejam dispostos a enfrentar o processo de adaptação do nosso partido a determinados hábitos eleitorais e institucionais, hábitos que estão fazendo setores de nosso Partido ficarem cada vez mais parecidos com aquilo que é dominante nos partidos tradicionais e cada vez menos presentes – enquanto partido - no trabalho cotidiano de organização da classe. 

Sem enfrentar estes "hábitos de partido tradicional", não haverá formação, comunicação nem empenho real no reerguimento dos movimentos sociais.

As candidaturas à presidência nacional do PT precisam se posicionar a respeito destes e de outros problemas políticos e organizativos. Por fim, mas não menos importante, temos o desafio estratégico de impor derrotas tanto à extrema-direita neoliberal, quanto à direita neoliberal tradicional. Sobre isso, é preciso reconhecer que não estamos nada bem. 

Depois de um ano e meio de governo Lula, todas as pesquisas confirmam a resiliência da extrema-direita e as fragilidades do nosso lado, parte das quais deriva das concessões que fizemos não apenas à direita neoliberal tradicional, mas principalmente ao capital financeiro e ao agronegócio. 

Ademais, a extrema-direita não é uma oposição normal. Trata-se de um movimento político-social de massas, orientado por um programa reacionário. Programas exitosos de governo não são suficientes para derrotar este tipo de movimento. 

Se quisermos derrotar um movimento reacionário de massas, precisamos opor a ele um movimento político-social de massas, em torno de um programa de transformações revolucionárias em nosso país: soberania de fato frente aos Estados Unidos e seus aliados imperialistas; liberdades democráticas e bem-estar social para toda a população brasileira e não apenas para quem tem dinheiro; desenvolvimento de verdade e não destruição de tudo e de todos em benefício do lucro de alguns. De conjunto, tudo aquilo que faz parte de um programa socialista. 

Espero que o processo de eleições diretas das novas direções partidárias, que deveria ter ocorrido em 2023, mas foi adiado para 2025, seja um momento para debatermos essas e muitas outras questões. E que nos permita eleger, não a pessoa que vai ocupar a presidência, mas coletivos de direção, em torno de uma linha política para o período.

É isso o que o PT precisa e merece, se quisermos que a roda da história não ande de novo para trás, como ocorreu entre 2016 e 2022. 

Espero, também, que não percamos o foco. A hora é de vencer as eleições municipais de 2024. Entre outros motivos, para que tenhamos um ambiente político melhor em 2025, quando formos debater os rumos do nosso Partido e escolher nossas novas direções.

Ajudaria muito nisso se o governo fizesse uma inflexão em sua política. Mas, infelizmente, nosso partido também tem seus bourbons. Este é, aliás, o verdadeiro X da questão.