Quarta parte do roteiro da aula 3 do curso de leitura de O Capital.
Recapitulemos: mercadoria, objetos úteis e
portanto têm valor de uso, suportes de valor e portanto têm valor de troca. O
foco agora é o valor de troca. Se verá como ele assume duas formas diferentes:
a forma relativa e a forma equivalente. É a partir da forma equivalente, na
variante equivalente universal, que se gera o dinheiro, que por sua vez está na
base do Capital. Este é o destino para o qual nos conduzem as migalhas.
3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
EU REPETIREI ESTE E OUTROS
TÍTULOS JUNTO COM OS SUBTÍTULOS QUE VIRÃO A SEGUIR, PARA QUE FIQUE CLARA A
SEQUENCIA DO RACIOCINIO
As mercadorias vêm ao mundo na
forma de valores de uso ou corpos de mercadorias, como ferro, linho, trigo etc.
Essa é sua forma natural originária. Porém, elas só são mercadorias porque são
algo duplo: objetos úteis e, ao mesmo tempo, suportes de valor.
Por isso, elas só aparecem como mercadorias ou só possuem a forma de mercadorias
na medida em que possuem esta dupla forma: a forma natural e a forma de valor.
A objetividade do valor das
mercadorias é diferente de Mistress Quicklyf, na medida em que não se sabe por
onde agarrá-la. Exatamente ao contrário da objetividade sensível e crua dos
corpos das mercadorias, na objetividade de seu valor não está contido um único
átomo de matéria natural. Por isso, pode-se virar e revirar uma mercadoria como
se queira, e ela permanece inapreensível como coisa de valor [Wertding].
-matéria natural VERSUS relação
social
Lembremo-nos, todavia, de que as mercadorias
possuem objetividade de valor apenas na medida em que são expressões da mesma
unidade social, do trabalho humano, pois sua objetividade de valor é puramente
social e, por isso, é evidente que ela só pode se manifestar numa relação
social entre mercadorias.
-O VALOR EXISTE
-MAS SÓ APARECE NA RELAÇÃO
-E SÓ APARECE NA RELAÇÃO PORQUE
FOI PRODUZIDO
-SE NÃO TIVESSE SIDO PRODUZIDO,
NÃO APARECERIA
(É POR ISSO aliás QUE SE DIZ QUE CERTOS
ATIVIDADES OU COISAS “NÃO TÊM PREÇO”, PORQUE NÃO FORAM PRODUZIDOS PARA TROCA,
embora se possa de trás pra frente tentar precificar o amor etc e tal)
Partimos do valor de troca ou
da relação de troca das mercadorias para seguir as pegadas do valor que nelas
se esconde. Temos, agora, de retornar a essa forma de manifestação do valor.
-notem que ele partiu do mais aparente
(mercadoria) para chegar ao valor de troca, agora parte do mais aparente (valor
de troca, para chegar ao valor). Mas agora voltará ao valor de troca, pois é
ele que se constitui na RELAÇÃO e, portanto, são seus pólos componentes que
permitem seguir adiante na análise.
Qualquer um sabe, mesmo que não
saiba mais nada além disso, que as mercadorias possuem uma forma de valor em
comum que contrasta do modo mais evidente com as variegadas formas naturais que
apresentam seus valores de uso: a forma-dinheiro.
Cabe, aqui, realizar o que jamais foi tentado pela economia burguesa, a saber,
provar a gênese dessa forma-dinheiro, portanto, seguir de perto o desenvolvimento
da expressão do valor contida na relação de valor das mercadorias, desde sua
forma mais simples e opaca até a ofuscante forma-dinheiro. Com isso,
desaparece, ao mesmo tempo, o enigma do dinheiro.
-OUTRO ELEMENTO IMPORTANTE: ELE
ANTES FALOU QUE O DUPLO CARÁTER DO TRABALHO TINHA SIDO UMA NOVIDADE DELE
-AGORA FALA QUE sobre O TEMA DO DINHEIRO
ele fará algo que nunca foi tentado pela economia política burguesa
A relação mais simples de valor
é, evidentemente, a relação de valor de uma mercadoria com uma única mercadoria
distinta dela, não importando qual seja. A relação de valor entre duas
mercadorias fornece, assim, a mais simples expressão de valor para uma
mercadoria.
-O QUE SEGUE, OS ITENS A E SEGUINTES, É UMA
DECOMPOSIÇÃO DE EQUAÇÕES. A DIFICULDADE NÃO ESTÁ NA DECOMPOSIÇÃO EM SI, MAS NO
ENTENDIMENTO DAS DUAS CATEGORIAS CENTRAIS: FORMA DE VALOR RELATIVA E FORMA DE
VALOR EQUIVALENTE.
-a noção de “forma” (lógica dialética)
-o que segue é mais facilmente compreendido
se pensarmos num palco, onde duas mercadorias dialogam entre si, uma delas projetando
seu valor na outra (RELATIVAMENTE A), a outra aceitando personificar o valor da
primeira (EQUIVALENTE A)
LEMBRANDO QUE EU REPETIREI ESTE E
OUTROS TÍTULOS JUNTO COM OS SUBTÍTULOS QUE VIRÃO A SEGUIR, PARA QUE FIQUE CLARA
A SEQUENCIA DO RACIOCINIO
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca ]
A) A forma de valor simples,
individual ou ocasional
x mercadorias A = y mercadorias
B
ou: x mercadorias A têm o valor
de y mercadorias B.
(20 braças de linho = 1 casaco
ou: 20 braças de linho têm o valor de 1 casaco.)
LEMBRANDO QUE EU REPETIREI ESTE E
OUTROS TÍTULOS JUNTO COM OS SUBTÍTULOS QUE VIRÃO A SEGUIR, PARA QUE FIQUE CLARA
A SEQUENCIA DO RACIOCINIO
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor simples,
individual ou ocasional]
1. Os dois polos da expressão
do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
O segredo de toda
forma de valor reside em sua forma de valor simples. Sua análise oferece, por
isso, a verdadeira dificuldade.
Aqui, duas mercadorias
diferentes, A e B – em nosso exemplo, o linho e o casaco –, desempenham
claramente dois papéis distintos.
-dois papéis distintos
O linho expressa seu valor no
casaco; este serve de material para essa expressão de valor. A primeira
mercadoria desempenha um papel ativo, a segunda um papel passivo.
-na equação simples, a primeira desempenha
um papel ativo (RELATIVO A), a segunda um papel passivo (EQUIVALENTE DE)
O valor da primeira mercadoria
se apresenta como valor relativo, ou encontra-se na forma de valor relativa. A
segunda mercadoria funciona como equivalente, ou encontra-se na forma de
equivalente.
Forma de valor relativa e forma
de equivalente são momentos inseparáveis, interrelacionados e que se determinam
reciprocamente, mas, ao mesmo tempo, constituem extremos mutuamente excludentes,
isto é, polos da mesma expressão de valor; elas se repartem sempre entre
mercadorias diferentes, relacionadas entre si pela expressão de valor.
[analogia com
física quântica...]
Não posso, por exemplo,
expressar o valor do linho em linho. 20 braças de linho = 20 braças de linho
não é nenhuma expressão de valor. A equação diz, antes, o contrário: 20 braças
de linho não são mais do que 20 braças de linho, uma quantidade determinada do
objeto de uso linho. O valor do linho só pode, assim,
ser expresso relativamente, isto é, por meio de outra mercadoria. A
forma de valor relativa do linho pressupõe, portanto, que uma outra mercadoria
qualquer se confronte com ela na forma de equivalente. Por outro lado, essa
outra mercadoria, que figura como equivalente, não pode estar simultaneamente
contida na forma de valor relativa. Ela não expressa seu valor; apenas fornece
o material para a expressão do valor de outra mercadoria.
De fato, a expressão 20 braças
de linho = 1 casaco ou 20 braças de linho valem 1 casaco também inclui as
relações inversas: 1 casaco = 20 braças de linho ou 1 casaco vale 20 braças de
linho. Mas, então, tenho de inverter a equação para expressar relativamente o
valor do casaco e, assim o fazendo, o linho é que se torna o equivalente, em
vez do casaco. A mesma mercadoria não pode, portanto, aparecer simultaneamente
em ambas as formas na mesma expressão do valor. Essas formas se excluem, antes,
como polos opostos.
[QUANTICO]
Se uma mercadoria se encontra
na forma de valor relativa ou na forma contrária, a forma de equivalente, é
algo que depende exclusivamente de sua posição eventual na expressão do valor,
isto é, se num dado momento ela é a mercadoria cujo valor é expresso ou a
mercadoria na qual o valor é expresso.
LEMBRANDO QUE EU REPETIREI ESTE E
OUTROS TÍTULOS JUNTO COM OS SUBTÍTULOS QUE VIRÃO A SEGUIR, PARA QUE FIQUE CLARA
A SEQUENCIA DO RACIOCINIO
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente ]
2. A forma de valor relativa
a) Conteúdo da forma de valor
relativa
Para descobrir como a expressão
simples do valor de uma mercadoria está contida na relação de valor entre duas
mercadorias é preciso, inicialmente, considerar essa
relação de modo totalmente independente de seu aspecto quantitativo. Na
maioria das vezes, percorre-se o caminho contrário e se vislumbra na relação de
valor apenas a proporção em que quantidades determinadas de dois tipos de
mercadoria se equiparam. Negligencia-se que as grandezas de coisas diferentes
só podem ser comparadas quantitativamente depois de reduzidas à mesma unidade.
Somente como expressões da mesma unidade são elas grandezas com um denominador
comum e, portanto, grandezas comensuráveis.
Se 20 braças de linho = 1
casaco ou = 20 ou = x casacos, isto é, se uma dada quantidade de linho vale muitos
ou poucos casacos, independentemente de qual seja essa proporção, ela sempre
implica que linho e casaco, como grandezas de valor, sejam expressões da mesma
unidade, coisas da mesma natureza. A igualdade entre
linho e casaco é a base da equação.
Mas as duas mercadorias
qualitativamente igualadas não desempenham o mesmo papel. Apenas o valor do
linho é expresso. E como? Por meio de sua relação com o casaco como seu
“equivalente”, ou com seu “permutável” [Austauschbar].
[EQUIVALENTE= PERMUTÁVEL]
Nessa relação, o casaco vale como
forma de existência do valor, como coisa de valor, pois apenas como tal ele é o
mesmo que o linho. Por outro lado, o próprio ser do valor [Wertsein] do linho
se revela ou alcança uma expressão independente, pois apenas como valor o linho
pode se relacionar com o casaco como equivalente ou algo com ele permutável.
PARA A PARTE ABAIXO, CHAMEM OS
UNIVERSITÁRIOS!!!
Assim, o ácido butanoico é um
corpo diferente do formiato de propila. Ambos são formados, no entanto, pelas
mesmas substâncias químicas – carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O) – e
combinados na mesma porcentagem, a saber: C4H8O2 . Ora, se o ácido butanoico
fosse equiparado ao formiato de propila, este último seria considerado, em primeiro
lugar, como uma mera forma de existência de C4H8O2 e, em segundo lugar, poder-se-ia
dizer que o ácido butanoico também é composto de C4H8O2 . Desse modo, a equação
do formiato de propila com o ácido butanoico seria a expressão de sua substância
química em contraste com sua forma corpórea.
Como valores, as mercadorias
não são mais do que geleias de trabalho humano; por isso, nossa análise as reduz
à abstração de valor, mas não lhes confere qualquer forma de valor distinta de suas
formas naturais. Diferente é o que ocorre na relação de valor de uma mercadoria
com outra. Seu caráter de valor manifesta-se aqui por
meio de sua própria relação com outras mercadorias.
Quando o casaco é equiparado ao
linho como coisa de valor, o trabalho nele contido é equiparado com o trabalho
contido no linho. Ora, a alfaiataria que faz o casaco é um tipo de trabalho
concreto diferente da tecelagem que faz o linho. Mas a equiparação com a
tecelagem reduz a alfaiataria, de fato, àquilo que é realmente igual nos dois trabalhos,
a seu caráter comum de trabalho humano. Por esse desvio, diz-se, então, que também
a tecelagem, na medida em que tece valor, não possui nenhuma característica que
a diferencie da alfaiataria, e é, portanto, trabalho humano abstrato. Somente a
expressão de equivalência de diferentes tipos de mercadoria evidencia o caráter
específico do trabalho criador de valor, ao reduzir os diversos trabalhos contidos
nas diversas mercadorias àquilo que lhes é comum: o trabalho humano em geral.
-O TRECHO A SEGUIR É IMPORTANTE
-A FORÇA HUMANA DE TRABALHO
OU
-O TRABALHO HUMANO
-CRIA VALOR
-MAS NÃO É, ELA PRÓPRIA, VALOR
Mas não basta expressar o
caráter específico do trabalho que cria o valor do linho. A força humana de trabalho em estado fluido, ou trabalho
humano, cria valor, mas não é, ela própria, valor. Ela se torna valor em
estado cristalizado, em forma objetiva. Para expressar o valor do linho como
geleia de trabalho humano, ela tem de ser expressa como uma “objetividade”
materialmente [dinglich]g distinta do próprio linho e simultaneamente comum ao
linho e a outras mercadorias. Assim, a tarefa está resolvida.
[OU SEJA, TEM QUE MOSTRAR QUE NÃO É LINHO, ESTÁ
LINHO, MAS É ALGO ALÉM DO LINHO]
Na relação de valor com o
casaco, o linho vale como seu equivalente qualitativo, como coisa da mesma
natureza, porque ele é um valor. Desse modo, ele vale como uma coisa na qual se
manifesta o valor ou que, em sua forma natural palpável, representa valor. Na
verdade, o casaco, o corpo da mercadoria casaco, é um simples valor de uso. Um
casaco expressa tão pouco valor quanto a melhor peça de linho. Isso prova apenas que ele significa mais quando se encontra
no interior da relação de valor com o linho do que fora dela, assim como alguns
homens significam mais dentro de um casaco agaloado do que fora dele.
Na produção do casaco houve, de
fato, dispêndio de força humana de trabalho na forma da alfaiataria. Portanto,
trabalho humano foi nele acumulado. Por esse lado, o casaco é “suporte de
valor”, embora essa sua qualidade não se deixe entrever nem mesmo no casaco
mais puído. E na relação de valor com o linho ele só é considerado segundo esse
aspecto, isto é, como valor corporificado, como corpo de valor. Apesar de seu
aspecto abotoado, o linho reconhece nele a bela alma de valor que lhes é
originariamente comum. O casaco, em relação ao linho, não pode representar
valor sem que, para o linho, o valor assuma simultaneamente a forma de um
casaco. Assim, o indivíduo A não pode se comportar para com o indivíduo B como
para com uma majestade, sem que, para A, a majestade
assuma a forma corpórea de B e, desse modo, seus traços fisionômicos,
seus cabelos e muitas características se modifiquem de acordo com o soberano em
questão.
Portanto, na relação de valor
em que o casaco constitui o equivalente do linho, a forma de casaco vale como
forma de valor. O valor da mercadoria linho é, assim,
expresso no corpo da mercadoria casaco, sendo o valor de uma mercadoria
expresso no valor de uso da outra. Como valor de uso, o linho é uma
coisa fisicamente distinta do casaco; como valor, ele é “casaco-idêntico”
[Rockgleiches] e aparenta, pois, ser um casaco. Assim, o linho recebe uma forma
de valor diferente de sua forma natural. Seu ser de valor aparece em sua
igualdade com o casaco, assim como a natureza de carneiro do cristão em sua
igualdade com o Cordeiro de Deus.
Como se vê, tudo o que a análise do valor das mercadorias nos disse
anteriormente é dito pelo próprio linho assim que entra em contato com outra
mercadoria, o casaco. A única diferença é que ele revela seus
pensamentos na língua que lhe é própria, a língua das mercadorias. Para dizer que seu próprio valor foi criado pelo trabalho, na
qualidade abstrata de trabalho humano, ele diz que o casaco, na medida em que
lhe equivale – ou seja, na medida em que é valor –, consiste do mesmo trabalho
que o linho. Para dizer que sua sublime
objetividade de valor é diferente de seu corpo entretelado, ele diz que o valor
tem a aparência de um casaco e, com isso, que ele próprio, como coisa de valor,
é tão igual ao casaco quanto um ovo é ao outro. Note-se de passagem que
a língua das mercadorias, além do hebraico, tem também muitos outros dialetos,
mais ou menos corretos. Por exemplo, o termo alemão “Wertsein”[ser valor]
expressa – de modo menos certeiro do que o verbo românico valere, valer, valoir
– o fato de que a equiparação da mercadoria B com a mercadoria A é a própria
expressão de valor da mercadoria A. Paris vaut bien une messe! [Paris vale bem
uma missa!]h
Por meio da relação de valor, a
forma natural da mercadoria B converte-se na forma de valor da mercadoria A, ou
o corpo da mercadoria B se converte no espelho do valor
da mercadoria A. Ao relacionar-se com a mercadoria B como corpo de
valor, como materialização de trabalho humano, a mercadoria A transforma o
valor de uso de B em material de sua própria expressão de valor. O valor da mercadoria A, assim expresso no valor de uso da
mercadoria B, possui a forma do valor relativo.
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa ]
b) A determinidade quantitativa
da forma de valor relativa
Toda mercadoria, cujo valor
deve ser expresso, é um objeto de uso numa dada quantidade: 15 alqueires de
trigo, 100 libras de café etc. Essa dada quantidade de mercadoria contém uma
quantidade determinada de trabalho humano. A forma de
valor tem, portanto, de expressar não só valor em geral, mas valor quantitativamente
determinado, ou grandeza de valor. Na
relação de valor da mercadoria A com a mercadoria B, do linho com o casaco, não
apenas a espécie de mercadoria casaco é qualitativamente equiparada ao linho,
como corpo de valor em geral, mas uma determinada quantidade
de linho, por exemplo, 20 braças, é equiparada a uma determinada quantidade do
corpo de valor ou equivalente, por exemplo, a 1 casaco.
A equação “20 braças de linho =
1 casaco, ou: 20 braças de linho valem 1 casaco” pressupõe que 1 casaco contém
tanta substância de valor quanto 20 braças de linho; que, portanto, ambas as
quantidades de mercadorias custam o mesmo trabalho, ou a mesma quantidade de
tempo de trabalho. Mas o tempo de trabalho necessário para a produção de 20
braças de linho ou 1 casaco muda com cada alteração na força produtiva da
tecelagem ou da alfaiataria. A influência de tais mudanças na expressão
relativa da grandeza de valor tem, por isso, de ser investigada mais de perto.
O QUE SEGUE SÃO VARIAÇÕES RECIPROCAS, AQUI
PARECE PURA DIGRESSÃO, MAS SERÃO UTEIS MAIS ADIANTE, LEMBRANDO QUE É NA FORMA
SIMPLES QUE SE CONTÉM TODO O DEMAIS
I. O valor do
linho varia, enquanto o valor do casaco permanece constante. Se o tempo
de trabalho necessário à produção do linho dobra – por exemplo, em consequência
da crescente infertilidade do solo onde o linho é cultivado –, dobra igualmente
seu valor. Em vez de 20 braças de linho = 1 casaco, teríamos 20 braças de linho
= 2 casacos, pois 1 casaco contém, agora, a metade do tempo de trabalho contido
em 20 braças de linho. Se, ao contrário, o tempo de
trabalho necessário para a produção do linho cai pela metade – graças, por
exemplo, à melhoria dos teares –, cai também pela metade o valor do linho.
Temos, agora: 20 braças de linho = ½ casaco. Assim, o
valor relativo da mercadoria A, isto é, seu valor expresso na mercadoria B,
aumenta e diminui na proporção direta da variação do valor da mercadoria A em
relação ao valor constante da mercadoria B.
II. O valor do
linho permanece constante, enquanto varia o valor do casaco. Se dobra
o tempo de trabalho necessário à produção do casaco – por exemplo, em
consequência de tosquias desfavoráveis –, temos, em vez de 20 braças de linho =
1 casaco, agora: 20 braças de linho = ½ casaco. Ao contrário, se cai pela
metade o valor do casaco, temos 20 braças de linho = 2 casacos. Permanecendo
constante o valor da mercadoria A, aumenta ou diminui, portanto, seu valor
relativo, expresso na mercaria B, em proporção inversa à variação de valor de
B.
Ao compararmos os diferentes
casos sob I e II, concluímos que a mesma variação de grandeza do valor relativo
pode derivar de causas absolutamente opostas. Assim, a equação 20 braças de linho
= 1 casaco se transforma em: 1) a equação 20 braças de linho = 2 casacos, seja
porque o valor do linho dobrou, seja porque o valor dos casacos caiu pela metade;
e 2) a equação 20 braças de linho = ½ casaco, seja porque o valor do 109? linho caiu pela metade, seja porque dobrou o
valor do casaco.
III. As quantidades
de trabalho necessárias à produção de linho e casaco podem variar ao mesmo
tempo, na mesma direção e na mesma proporção. Nesse
caso, como antes, 20 braças de linho = 1 casaco, sejam quais forem as mudanças
ocorridas em seus valores. Sua variação de valor é descoberta tão logo o casaco
e o linho sejam comparados com uma terceira mercadoria, cujo valor permaneceu
constante. Se os valores de todas as mercadorias
aumentassem ou diminuíssem ao mesmo tempo e na mesma proporção, seus valores relativos
permaneceriam inalterados. Sua variação efetiva de valor seria inferida do fato
de que no mesmo tempo de trabalho passaria agora a ser produzida uma quantidade
de mercadorias maior ou menor do que antes.
Os tempos de trabalho necessários
à produção do linho e do casaco, respectivamente, e, com isso, seus valores,
podem variar simultaneamente, na mesma direção, porém em graus diferentes, ou
em direção contrária etc. A influência de todas as combinações possíveis sobre
o valor relativo de uma mercadoria resulta da simples aplicação dos casos I, II
e III.
As variações efetivas na grandeza
de valor não se refletem nem inequívoca nem exaustivamente em sua expressão
relativa ou na grandeza do valor relativo. O valor
relativo de uma mercadoria pode variar, embora seu valor se mantenha constante.
Seu valor relativo pode permanecer constante, embora seu valor varie, e, finalmente,
variações simultâneas em sua grandeza de valor e na expressão relativa dessa
grandeza não precisam de modo algum coincidir entre si.
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa ]
3. A forma de equivalente
Vimos: quando uma mercadoria A
(o linho) expressa seu valor no valor de uso de uma mercadoria diferente B (o
casaco), ela imprime nesta última uma forma peculiar de valor: a forma de
equivalente. A mercadoria linho expressa seu próprio valor quando o casaco vale
o mesmo que ela sem que este último assuma uma forma de valor distinta de sua
forma corpórea. Portanto, o linho expressa sua própria qualidade de ter valor
na circunstância de que o casaco é diretamente permutável com ele. Consequentemente,
a forma de equivalente de uma mercadoria é a forma de
sua permutabilidade direta com outra mercadoria.
EQUIVALENTE É PERMUTÁVEL
No fato de que um tipo de
mercadoria, como o casaco, vale como equivalente de outro tipo de mercadoria,
como o linho – com o que os casacos expressam sua propriedade característica de
se encontrar em forma diretamente permutável com o linho –, não está dada de
modo algum a proporção em que casacos e linho são permutáveis. Tal proporção
depende da grandeza de valor dos casacos, já que a grandeza de valor do linho é
dada. Se o casaco é expresso como equivalente e o linho como valor relativo,
ou, inversamente, o linho como equivalente e o casaco como valor relativo, sua
grandeza de valor permanece, tal como antes, determinada pelo tempo de trabalho
necessário à sua produção e, portanto, independente de sua forma de valor. Mas quando o tipo de mercadoria casaco assume na expressão do
valor o lugar de equivalente, sua grandeza de valor não obtém nenhuma expressão
como grandeza de valor. Na equação de valor, ela figura, antes, como quantidade
determinada de uma coisa.
O que está acima será fundamental para entender
algumas características do dinheiro.
Por exemplo: 40 braças de linho
“valem” – o quê? 2 casacos. Como o tipo de mercadoria casaco desempenha aqui o
papel do equivalente, o valor de uso em face do linho como corpo de valor, uma
determinada quantidade de casacos é também suficiente para expressar uma
determinada quantidade de valor do linho. Portanto, dois
casacos podem expressar a grandeza de valor de 40 braças de linho, porém jamais
podem expressar sua própria grandeza de valor, a grandeza de valor dos casacos.
A interpretação superficial desse fato, de que o equivalente sempre possui, na
equação de valor, apenas a forma de uma quantidade simples de uma coisa,
confundiu Bailey, assim como muitos de seus predecessores e sucessores,
fazendo-o ver na expressão do valor uma relação meramente quantitativa. Ao contrário, a forma de equivalente de uma mercadoria não
contém qualquer determinação quantitativa de valor.
(QUALQUER DETERMINAÇÃO
QUANTITATIVA RELATIVA – RECOMENDAR LER E RELER O TRECHO ACIMA E ABAIXO)
A primeira peculiaridade que se
sobressai na consideração da forma de equivalente é esta: o valor de uso se
torna a forma de manifestação de seu contrário, do valor.
A forma natural da mercadoria
torna-se forma de valor. Porém, nota bene, esse quiproquó se dá para uma
mercadoria B (casaco, trigo ou ferro etc.) apenas no interior da relação de
valor em que outra mercadoria A qualquer (linho etc.) a confronta, apenas no
âmbito dessa relação.
Como nenhuma
mercadoria se relaciona consigo mesma como equivalente e, portanto, tampouco
pode transformar sua própria pele natural em expressão de seu próprio valor,
ela tem de se reportar a outra mercadoria como equivalente ou fazer da pele
natural de outra mercadoria a sua própria forma de valor.
Isso pode ser ilustrado com o
exemplo de uma medida que se aplica aos corpos de mercadorias como tais, isto
é, como valores de uso. Um pão de açúcar, por ser um corpo, é pesado e tem,
portanto, um peso, mas não se pode ver ou sentir o peso de nenhum pão de
açúcar. Tomemos, então, diferentes pedaços de ferro, cujo peso foi predeterminado.
A forma corporal do ferro, considerada por si mesma, é tão pouco a forma de
manifestação do peso quanto o é a forma corporal do pão de açúcar. No entanto,
a fim de expressar o pão de açúcar como peso, estabelecemos uma relação de peso
entre ele e o ferro. Nessa relação, o ferro figura como um corpo que não contém
nada além de peso. Quantidades de ferro servem, desse modo, como medida de peso
do açúcar e representam, diante do corpo do açúcar, simples figura do peso,
forma de manifestação do peso. Tal papel é desempenhado pelo ferro somente no
interior dessa relação, quando é confrontado com o açúcar ou outro corpo qualquer,
cujo peso deve ser encontrado. Se as duas coisas não fossem pesadas, elas não
poderiam estabelecer essa relação e, por conseguinte, uma não poderia servir de
expressão do peso da outra. Quando colocamos as duas sobre os pratos da balança,
vemos que, como pesos, elas são a mesma coisa e, por isso, têm também o mesmo
peso em determinada proporção. Como medida de peso, o ferro representa, quando
confrontado com o pão de açúcar, apenas peso, do mesmo modo como, em nossa
expressão de valor, o corpo do casaco representa, quando confrontado com o
linho, apenas valor.
Mas aqui acaba a
analogia. Na expressão do peso do pão de
açúcar, o ferro representa uma propriedade natural comum a ambos os corpos, seu
peso, ao passo que o casaco representa, na expressão de valor do linho, uma
propriedade supernatural: seu valor, algo puramente social.
Como a forma de valor relativa de
uma mercadoria, por exemplo, o linho, expressa sua qualidade de ter valor como
algo totalmente diferente de seu corpo e de suas propriedades, como algo igual
a um casaco, essa mesma expressão esconde em si uma relação social. O inverso
ocorre com a forma de equivalente, que consiste precisamente no fato de que um
corpo de mercadoria, como o casaco, essa coisa imediatamente dada, expressa valor
e, assim, possui, por natureza, forma de valor. É verdade que isso vale apenas
no interior da relação de valor na qual a mercadoria casaco se confronta como equivalente
com a mercadoria linho. Mas como as propriedades de uma
coisa não surgem de sua relação com outras coisas, e sim apenas atuam em tal
relação, também o casaco aparenta possuir sua forma de equivalente, sua
propriedade de permutabilidade direta como algo tão natural quanto sua propriedade
de ser pesado ou de reter calor. Daí o caráter enigmático da forma de
equivalente, a qual só salta aos olhos míopes do economista político quando lhe
aparece já pronta, no dinheiro. Então, ele procura escamotear o caráter místico
do ouro e da prata, substituindo-os por mercadorias menos ofuscantes, e, com
prazer sempre renovado, põe-se a salmodiar o catálogo inteiro da população de mercadorias que, em épocas passadas, desempenharam
o papel de equivalente de mercadorias. Ele nem sequer
suspeita que uma expressão de valor tão simples como 20 braças de linho = 1 casaco
já forneça a solução do enigma da forma de equivalente.
O corpo da mercadoria que serve
de equivalente vale sempre como incorporação de trabalho humano abstrato e é
sempre o produto de um determinado trabalho útil, concreto. Esse trabalho concreto se torna, assim, expressão do trabalho
humano abstrato.
-Notem que aqui as coisas se “misturam”,
se alternam, se convertem no seu contrário, o trabalho concreto de um se torna expressão do trabalho humano
abstrato de outro...
Se o casaco, por exemplo, é considerado
mera efetivação [Verwirklichung], então a alfaiataria, que de fato nele se
efetiva, é considerada mera forma de efetivação de trabalho humano abstrato. Na
expressão de valor do linho, a utilidade da alfaiataria não consiste em fazer
roupas, logo, também pessoas, mas sim em fazer um corpo que reconhecemos como
valor e, portanto, como geleia de trabalho, que não se diferencia em nada do
trabalho objetivado no valor do linho. Para realizar tal espelho de valor, a
própria alfaiataria não tem de espelhar senão sua qualidade abstrata de ser
trabalho humano.
Tanto na forma da alfaiataria
quanto na da tecelagem, força humana de trabalho é despendida. Ambas possuem, portanto,
a propriedade universal do trabalho humano, razão pela qual em determinados casos,
por exemplo, na produção de valor, elas só podem ser consideradas sob esse
ponto de vista. Nada disso é misterioso. Mas na expressão de valor da mercadoria
a coisa é distorcida. Por exemplo, para expressar que a
tecelagem cria o valor do linho não em sua forma concreta como tecelagem, mas
em sua qualidade universal como trabalho humano, ela é confrontada com a
alfaiataria, o trabalho concreto que produz o equivalente do linho, como a
forma palpável de efetivação do trabalho humano abstrato.
Assim, constitui uma
segunda propriedade da forma de equivalente que o trabalho concreto torne-se
forma de manifestação de seu contrário, trabalho humano abstrato.
RECAPITULANDO: O trabalho concreto que produziu a mercadoria que está na posição de equivalente
se torna, assim, expressão do trabalho humano abstrato.
LOCALIZAR A PRIMEIRA...
Mas porque esse trabalho
concreto, a alfaiataria, vale como mera expressão de trabalho humano indiferenciado,
ele possui a forma da igualdade com outro trabalho, aquele contido no linho e,
por isso, embora seja trabalho privado como todos os outros, trabalho que produz
mercadorias, ele é trabalho em forma imediatamente social. Justamente por isso,
ele se apresenta num produto que pode ser diretamente trocado por outra
mercadoria. Assim, uma terceira peculiaridade da forma
de equivalente é que o trabalho privado converta-se na forma de seu contrário,
trabalho em forma imediatamente social.
-trabalho concreto/abstrato, trabalho privado/trabalho
social
-pedir especial atenção para o que está na p133
ARISTOTELES
As duas peculiaridades por
último desenvolvidas da forma de equivalente tornam-se ainda mais tangíveis se
recorremos ao grande estudioso que pela primeira vez analisou a forma de valor,
assim como tantas outras formas de pensamento, de sociedade e da natureza. Este
é Aristóteles.
De início, Aristóteles afirma
claramente que a forma-dinheiro da mercadoria é apenas a figura ulteriormente
desenvolvida da forma de valor simples, isto é, da expressão do valor de uma
mercadoria em outra mercadoria qualquer, pois ele diz que:
“5 divãsk = 1 casa” (“Klínai
pénte Ãntì oÏkíav”) “não se diferencia” de: “5 divãs = certa soma de dinheiro”
(“Klínai pénte Ãntì... ösou aï pénte klínai”).
Além disso, ele vê que a
relação de valor que contém essa expressão de valor condiciona, por sua vez,
que a casa seja qualitativamente equiparada ao divã e que, sem tal igualdade de
essências, essas coisas sensivelmente distintas não poderiam ser relacionadas
entre si como grandezas comensuráveis. “A troca”, diz ele, “não pode se dar sem
a igualdade, mas a igualdade não pode se dar sem a comensurabilidade” (o3tH
Ïsótjv mb o3sjv summetríav). Aqui, porém, ele se detém e abandona a análise
subsequente da forma de valor. “No entanto, é na verdade impossível (to mèn o5n
Ãljqeíà Ãdúnaton) que coisas tão distintas sejam comensuráveis”, isto é, qualitativamente
iguais. Essa equiparação só pode ser algo estranho à verdadeira natureza das
coisas, não passando, portanto, de um “artifício para a necessidade prática”.
O próprio Aristóteles nos diz o
que impede o desenvolvimento ulterior de sua análise, a saber, a falta do
conceito de valor. Em que consiste o igual [das Gleiche], isto é, a substância
comum que a casa representa para o divã na expressão de valor do divã? Algo
assim “não pode, na verdade, existir”, diz Aristóteles. Por quê? A casa, confrontada
com o divã, representa algo igual na medida em que representa aquilo que há de
efetivamente igual em ambas, no divã e na casa. E esse igual é: o trabalho
humano.
O fato de que nas formas dos
valores das mercadorias todos os trabalhos são expressos como trabalho humano
igual e, desse modo, como dotados do mesmo valor é algo que Aristóteles não
podia deduzir da própria forma de valor, posto que a sociedade grega se baseava
no trabalho escravo e, por conseguinte, tinha como base natural a desigualdade
entre os homens e suas forças de trabalho. O segredo da
expressão do valor, a igualdade e equivalência de todos os trabalhos, porque e
na medida em que são trabalho humano em geral, só pode ser decifrado quando o
conceito de igualdade humana já possui a fixidez de um preconceito popular.
-O FENOMENO EXISTE
-MAS A PERCEPÇÃO DO FENOMENO NÃO
O CAPTA IMEDIATAMENTE
-PARA QUE ELE SEJA CAPTADO, O FENOMENO
PRECISA SER MUITO FREQUENTE
Mas isso só é possível numa
sociedade em que a forma-mercadoria [Warenform] é a forma universal do produto
do trabalho e, portanto, também a relação entre os homens como possuidores de
mercadorias é a relação social dominante. O gênio de Aristóteles brilha
precisamente em sua descoberta de uma relação de igualdade na expressão de
valor das mercadorias. Foi apenas a limitação histórica da sociedade em que ele
vivia que o impediu de descobrir em que “na verdade” consiste essa relação de
igualdade.
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente ]
4. O conjunto da forma de valor simples
A forma de valor simples de uma
mercadoria está contida em sua relação de valor com uma mercadoria de outro
tipo ou na relação de troca com esta última. O valor da mercadoria A é expresso
qualitativamente por meio da permutabilidade direta da mercadoria B com a
mercadoria A. Ele é expresso quantitativamente por meio da permutabilidade de
uma determinada quantidade da mercadoria B por uma dada quantidade da mercadoria
A
-VALOR E VALOR DE TROCA, VER
ABAIXO
Em outras palavras: o valor de uma mercadoria é expresso de modo independente por
sua representação como “valor de troca”. Quando, no começo deste
capítulo, dizíamos, como quem expressa um lugar-comum, que a mercadoria é valor
de uso e valor de troca, isso estava, para ser exato, errado. A mercadoria é valor de uso – ou objeto de uso – e “valor”.
Ela se apresenta em seu ser duplo na medida em que seu valor possui uma
forma de manifestação própria, distinta de sua forma natural, a saber, a forma
do valor de troca, e ela jamais possui essa forma quando considerada de modo
isolado, mas sempre apenas na relação de valor ou de troca com uma segunda mercadoria
de outro tipo. Uma vez que se sabe isso, no entanto, aquele modo de
expressão não causa dano, mas serve como abreviação.
categorias
-MERCADORIA
-VALOR DE USO, VALOR
-troca
-forma relativa, forma
equivalente
-TRABALHO UTIL-CONCRETO, ABSTRATO
-Valor de troca
Nossa análise demonstrou que a
forma de valor ou a expressão de valor da mercadoria surge da natureza do valor
das mercadorias, e não, ao contrário, que o valor e a grandeza de valor sejam
derivados de sua expressão como valor de troca. Esse é, no entanto, o delírio
tanto dos mercantilistas e de seus entusiastas modernos, como Ferrier, Ganilh etc.,
quanto de seus antípodas, os modernos commis-voyageurs do livre-câmbio, como
Bastiat e consortes. Os mercantilistas priorizam o aspecto qualitativo da expressão
do valor e, por conseguinte, a forma de equivalente da mercadoria, que alcança
no dinheiro sua forma acabada; já os mascates do livre câmbio, que têm de dar
saída à sua mercadoria a qualquer preço, acentuam, ao contrário, o aspecto quantitativo
da forma de valor relativa. Consequentemente, para eles não existem nem valor
nem grandeza de valor das mercadorias além de sua expressão mediante a relação
de troca, ou seja, além do boletim diário da lista de preços. O escocês
Macleod, em sua função de aclarar do modo mais erudito possível o emaranhado
confuso das noções que povoam a Lombard Street, opera a síntese bem sucedida
entre os mercantilistas supersticiosos e os mascates esclarecidos do
livrecâmbio.
A análise mais detalhada da
expressão de valor da mercadoria A, contida em sua relação de valor com a
mercadoria B, mostrou que, no interior dessa mesma expressão de valor, a forma
natural da mercadoria A é considerada apenas figura de valor de uso, e a forma
natural da mercadoria B apenas como forma de valor ou figura de valor [Wertgestalt].
A oposição interna entre valor de uso e valor, contida
na mercadoria, é representada, assim, por meio de uma oposição externa, isto é,
pela relação entre duas mercadorias, sendo a primeira – cujo valor deve ser expresso
– considerada imediata e exclusivamente valor de uso, e a segunda – na qual o
valor é expresso – imediata e exclusivamente como valor de troca. A
forma de valor simples de uma mercadoria é, portanto, a forma simples de
manifestação da oposição nela contida entre valor de uso e valor.
-ou seja, existe uma contradição interna
que se expressa como uma contradição externa, mas note que esta contradição externa
é entre duas mercadorias, sendo que cada uma delas ocupa lugares diferentes
LER ABAIXO COM CALMA
O produto do trabalho é, em
todas as condições sociais, objeto de uso, mas o
produto do trabalho só é transformado em mercadoria numa época historicamente
determinada de desenvolvimento: uma época em que o trabalho despendido
na produção de uma coisa útil se apresenta como sua qualidade “objetiva”, isto
é, como seu valor. Segue-se daí que a forma de valor
simples da mercadoria é simultaneamente a forma-mercadoria simples do produto
do trabalho, e que, portanto, também o
desenvolvimento da forma-mercadoria coincide com o desenvolvimento da forma de
valor.
O primeiro olhar já mostra a
insuficiência da forma de valor simples, essa forma
embrionária que só atinge a forma-preço [Preisform] através de uma série
de metamorfoses.
A expressão numa mercadoria qualquer
B distingue o valor da mercadoria A apenas de seu próprio valor de uso e a
coloca, assim, numa relação de troca com uma mercadoria qualquer de outro tipo,
em vez de representar sua relação de igualdade qualitativa e proporcionalidade
quantitativa com todas as outras mercadorias. A forma de equivalente individual
de outra mercadoria corresponde à forma de valor simples e relativa de uma
mercadoria. Assim, o casaco possui, na expressão relativa de valor do linho,
apenas a forma de equivalente ou a forma de permutabilidade direta no que diz
respeito a esse tipo individual de mercadoria: o linho.
Todavia, a forma individual de
valor se transforma por si mesma numa forma mais completa. Mediante essa forma,
o valor de uma mercadoria A só é expresso numa mercadoria de outro tipo. Mas de
que tipo é essa segunda mercadoria, se ela é casaco, ou ferro, ou trigo etc., é
algo totalmente indiferente. Conforme ela entre em relação de valor com este ou
aquele outro tipo de mercadoria, surgem diferentes expressões simples de valor
de uma mesma mercadoria. O número de suas expressões possíveis de valor só é limitado
pelo número dos tipos de mercadorias que dela se distinguem. Sua expressão
individualizada de valor se transforma, assim, numa série sempre ampliável de
suas diferentes expressões simples de valor.
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente ]
4. O conjunto da forma de valor simples
B) A forma de valor total ou desdobrada
z mercadoria A = u mercadoria B, ou = v
mercadoria C, ou = w mercadoria D, ou = x mercadoria E, ou = etc. (20 braças de
linho = 1 casaco, ou = 10 libras de chá, ou = 40 libras de café, ou = 1 quarter
de trigo, ou = 2 onças de ouro, ou = ½ tonelada de ferro, ou = etc.)
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente
4. O conjunto da
forma de valor simples]
B) A forma de valor total ou
desdobrada
1.A forma de valor relativa e
desdobrada
-como já foi dito antes, agora a
equação é desdobrada
O valor de uma mercadoria – do
linho, por exemplo – é agora expresso em inúmeros outros elementos do mundo das
mercadorias. Cada um dos outros corpos de mercadorias torna-se um espelho do
valor do linho. Pela primeira vez, esse mesmo valor aparece verdadeiramente
como geleia de trabalho humano indiferenciado. Pois o trabalho que o cria é,
agora, expressamente representado como trabalho que equivale a qualquer outro
trabalho humano, indiferentemente da forma natural que ele possua e, portanto,
do objeto no qual ele se incorpora, se no casaco, ou no trigo, ou no ferro, ou
no ouro etc. Por meio de sua forma de valor, o linho se encontra agora em
relação social não mais com apenas outro tipo de mercadoria individual, mas com
o mundo das mercadorias. Como mercadoria, ele é cidadão desse mundo. Ao mesmo
tempo, a série infinita de suas expressões demonstra que, para o valor das
mercadorias, é indiferente a forma específica do valor de uso na qual o linho
se manifesta.
Na primeira forma – 20 braças
de linho = 1 casaco –, pode ser acidental que essas duas mercadorias sejam
permutáveis numa determinada relação quantitativa. Na segunda forma, ao contrário,
evidencia-se imediatamente um fundamento essencialmente distinto da
manifestação acidental e que a determina. O valor do linho permanece da mesma
grandeza, seja ele representado no casaco, ou café, ou ferro etc., em inúmeras
mercadorias diferentes que pertencem aos mais diferentes possuidores. A relação
acidental entre dois possuidores individuais de mercadorias desaparece.
Torna-se evidente que não é a troca que regula a grandeza de valor da mercadoria,
mas, inversamente, é a grandeza de valor da mercadoria que regula suas relações
de troca.
-NOTEM NA FRASE ACIMA QUE ELE DESCREVE
O FINAL DE UM PROCESSO HISTÓRICO, NÃO O SEU INICIO
-pode ser acidental, mas quando
deixa de ser acidental, quando se torna regular, fica claro que é expressão de
uma dinâmica interna
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente
4. O conjunto da
forma de valor simples
B) A forma de valor total ou
desdobrada
1.A forma de valor relativa e
desdobrada ]
2. A forma de equivalente
particular
Na expressão de valor do linho,
cada mercadoria, seja ela casaco, chá, trigo, ferro etc., é considerada como
equivalente e, portanto, como corpo de valor. A forma natural determinada de
cada uma dessas mercadorias é, agora, uma forma de equivalente particular ao
lado de muitas outras. Do mesmo modo, os vários tipos de trabalho, determinados,
concretos e úteis contidos nos diferentes corpos de mercadorias são
considerados, agora, como tantas outras formas de efetivação ou de manifestação
particulares de trabalho humano como tal.
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente
4. O conjunto da
forma de valor simples
B) A forma de valor
total ou desdobrada
1.A forma de valor
relativa e desdobrada
2. A forma de equivalente
particular ]
3. Insuficiências da forma de valor
total ou desdobrada
Em primeiro lugar, a expressão
de valor relativa da mercadoria é incompleta, pois sua série de representações
jamais se conclui. A cadeia em que uma equiparação de valor se acrescenta a
outra permanece sempre prolongável por meio de cada novo tipo de mercadoria que
se apresenta, fornecendo, assim, o material para uma nova expressão de valor.
Em segundo lugar, ela forma um colorido mosaico de expressões de valor,
desconexas e variegadas. E, finalmente, se o valor relativo de cada mercadoria
for devidamente expresso nessa forma desdobrada, a forma de valor relativa de
cada mercadoria será uma série infinita de expressões de valor, diferente da
forma de valor relativa de qualquer outra mercadoria. As insuficiências da
forma de valor relativa e desdobrada se refletem na sua correspondente forma de
equivalente. Como a forma natural de todo tipo de mercadoria individual é aqui
uma forma de equivalente particular ao lado de inúmeras outras formas de
equivalentes particulares, conclui-se que existem apenas formas de equivalentes
limitadas, que se excluem mutuamente. Do mesmo
modo, o tipo de trabalho determinado, concreto e útil contido em cada equivalente
particular de mercadorias é uma forma apenas particular e, portanto, não
exaustiva de manifestação do trabalho humano. De fato, este possui sua forma
completa ou total de manifestação na cadeia plena dessas formas particulares de
manifestação. Porém, assim ele não possui qualquer forma de manifestação unitária.
A forma de valor relativa e
desdobrada consiste, no entanto, apenas de uma soma de expressões simples e
relativas de valor ou de equações da primeira forma, como:
20 braças de linho = 1 casaco 20
braças de linho = 10 libras de chá etc.
Mas cada uma dessas equações
também contém, em contrapartida, a equação idêntica: 1 casaco = 20 braças de
linho 10 libras de chá = 20 braças de linho etc.
De fato, se alguém troca seu
linho por muitas outras mercadorias e, com isso, expressa seu valor numa série
de outras mercadorias, os muitos outros possuidores de mercadorias também têm
necessariamente de trocar suas mercadorias pelo linho e, desse modo, expressar
os valores de suas diferentes mercadorias na mesma terceira mercadoria: o
linho. Se, portanto, invertemos a série: 20 braças de linho = 1 casaco, ou = 10
libras de chá, ou = etc., isto é, se expressamos a relação inversa já contida
na própria série, obtemos:
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente
4. O conjunto da
forma de valor simples
B) A forma de valor
total ou desdobrada
1.A forma de valor
relativa e desdobrada
2. A forma de equivalente
particular
3. Insuficiências da
forma de valor total ou desdobrada ]
C) A forma de valor universal
1 casaco = 10 libras de chá = 40 libras de
café = 1 quarter de trigo = 2 onças de ouro = ½ tonelada de ferro = x mercadoria
A = etc. mercadoria = 20 braças de linho
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente
4. O conjunto da
forma de valor simples
B) A forma de valor
total ou desdobrada
1.A forma de valor
relativa e desdobrada
2. A forma de equivalente
particular
3. Insuficiências da
forma de valor total ou desdobrada
C) A forma de valor universal ]
1.Caráter modificado da forma de valor
Agora, as mercadorias expressam
seus valores 1) de modo simples, porque numa mercadoria singular, e 2) de modo
unitário, porque na mesma mercadoria. Sua forma de valor é simples e comum a
todas, e, por conseguinte, universal.
As formas I e II só foram introduzidas
para expressar o valor de uma mercadoria como algo distinto de seu próprio
valor de uso ou de seu corpo de mercadoria.
A primeira forma resultou em
equações de valor como: 1 casaco = 20 braças de linho, 10 libras de chá = ½
tonelada de ferro etc. O valor casaco é expresso como igual ao linho, o valor-chá
como igual ao ferro etc., mas as igualdades com o linho e com o ferro, essas
expressões de valor do casaco e do chá, são tão distintas quanto o linho e o
ferro. Tal forma só se revela na prática nos primórdios
mais remotos, quando os produtos do trabalho são transformados em mercadorias
por meio da troca contingente e ocasional.
A segunda forma distingue o
valor de uma mercadoria de seu próprio valor de uso mais plenamente do que a
primeira, pois o valor do casaco, por exemplo, confronta-se com sua forma natural
em todas as formas possíveis, como igual ao linho, igual ao ferro, igual ao chá
etc., mas não como igual ao casaco. Por outro lado, toda expressão comum do
valor das mercadorias está aqui diretamente excluída, pois na expressão de
valor de cada mercadoria todas as outras aparecem agora na forma de equivalentes.
A forma de valor desdobrada se mostra pela primeira vez
apenas quando um produto do trabalho, por exemplo, o gado, passa a ser trocado
por outras mercadorias diferentes não mais excepcional, mas habitualmente.
A nova forma obtida expressa os
valores do mundo das mercadorias num único tipo de mercadoria, separada das
outras, por exemplo, no linho, e assim representa os valores de todas as
mercadorias mediante sua igualdade com o linho. Como algo igual ao linho, o
valor de cada mercadoria é agora não apenas distinto de seu próprio valor de
uso, mas de qualquer valor de uso, sendo, justamente por isso, expresso como
aquilo que ela tem em comum com todas as outras mercadorias. Essa forma é, portanto, a primeira que relaciona efetivamente
as mercadorias entre si como valores, ou que as deixa aparecer umas para as
outras como valores de troca.
As duas formas anteriores expressam,
cada uma, o valor de uma mercadoria, seja numa única mercadoria de tipo diferente,
seja numa série de muitas mercadorias diferentes dela. Nos dois casos, dar a si
mesma uma forma de valor é algo que, por assim dizer, pertence ao foro privado
da mercadoria individual, e ela o realiza sem a ajuda de outras mercadorias.
Estas representam, diante dela, o papel meramente passivo do equivalente. A forma universal do valor só surge, ao contrário, como obra
conjunta do mundo das mercadorias. Uma mercadoria só ganha expressão universal
de valor porque, ao mesmo tempo, todas as outras expressam seu valor no mesmo
equivalente, e cada novo tipo de mercadoria que surge tem de fazer o mesmo. Com
isso, revela-se que a objetividade do valor das mercadorias, por ser a mera
“existência social” dessas coisas, também só pode ser expressa por sua relação
social universal [allseitige], e sua forma de valor, por isso, tem de ser uma
forma socialmente válida.
-OU SEJA, ESTAS CATEGORIAS
EXPRESSAM O FENOMENO como ele se revela e se comporta NO SEU PONTO DE CHEGADA
Na forma de iguais ao linho, todas
as mercadorias aparecem agora não só como qualitativamente iguais, como valores
em geral, mas também como grandezas de valor quantitativamente comparáveis. Por
espelharem suas grandezas de valor num mesmo material, o linho, essas grandezas
de valor se espelham mutuamente. Por exemplo, 10 libras de chá = 20 braças de
linho, e 40 libras de café = 20 braças de linho. Portanto, 10 libras de chá =
40 libras de café. Ou: em 1 libra de café está contida apenas ¼ da substância
de valor – de trabalho – contida em 1 libra de chá.
A forma de valor relativa e
universal do mundo das mercadorias imprime na mercadoria equivalente, que dele
é excluída, no linho, o caráter de equivalente universal. Sua própria forma
natural é a figura de valor comum a esse mundo, sendo o linho, por isso,
diretamente permutável por todas as outras mercadorias. Sua forma corpórea é
considerada a encarnação visível, a crisalidação social
e universal de todo trabalho humano. A tecelagem, o trabalho privado que produz
o linho, encontra-se, ao mesmo tempo, na forma social universal, a forma da igualdade
com todos os outros trabalhos. As inúmeras equações em que consiste a forma de
valor universal equiparam sucessivamente o trabalho efetivado no linho com todo
trabalho contido em outra mercadoria e, desse modo, transformam a tecelagem em
forma universal de manifestação do trabalho humano como tal. Assim, o trabalho
objetivado no valor das mercadorias não é expresso apenas negativamente como
trabalho no qual são abstraídas todas as formas concretas e propriedades úteis
dos trabalhos efetivos. Sua própria natureza positiva se põe em destaque: ela se
encontra na redução de todos os trabalhos efetivos à sua característica comum
de trabalho humano; ao dispêndio de força humana de trabalho.
A forma de valor universal, que
apresenta os produtos do trabalho como meras geleias de trabalho humano,
mostra, por meio de sua própria estrutura, que ela é a expressão social do mundo
das mercadorias. Desse modo, ela revela que, no interior desse mundo, o caráter
humano universal do trabalho constitui seu caráter especificamente social.
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente
4. O conjunto da
forma de valor simples
B) A forma de valor
total ou desdobrada
1.A forma de valor
relativa e desdobrada
2. A forma de equivalente
particular
3. Insuficiências da
forma de valor total ou desdobrada
C) A forma de valor
universal
1.Caráter modificado
da forma de valor
2. A relação de desenvolvimento
entre a forma de valor relativa e a forma de equivalente
Ao grau de desenvolvimento da
forma de valor relativa corresponde o grau de desenvolvimento da forma de
equivalente. Porém, deve-se ressaltar que o desenvolvimento da forma de equivalente
é apenas expressão e resultado do desenvolvimento da forma de valor relativa.
A forma de valor relativa
simples ou isolada de uma mercadoria transforma outra mercadoria em equivalente
individual. A forma desdobrada do valor relativo, essa expressão do valor de
uma mercadoria em todas as outras mercadorias, imprime nestas últimas a forma
de equivalentes particulares de diferentes tipos. Por
fim, um tipo particular de mercadoria recebe a forma de equivalente universal
porque todas as outras mercadorias fazem dela o material de sua forma de valor
unitária, universal.
Mas na mesma medida em que se
desenvolve a forma de valor em geral, desenvolve-se também a oposição entre seus
dois polos: a forma de valor relativa e a forma de equivalente.
A primeira forma – 20 braças de
linho = 1 casaco – já contém essa oposição, porém não explicitada. Conforme a
mesma equação seja lida numa direção ou noutra, cada um dos dois extremos de mercadorias,
como linho e casaco, encontra-se, na mesma medida, ora na forma de valor relativa,
ora na forma de equivalente. Compreender a oposição entre os dois polos demanda-nos
ainda um certo esforço.
Na forma II, cada tipo de
mercadoria só pode desdobrar totalmente seu valor relativo, ou só possui ela
mesma a forma de valor relativa desdobrada, porque e na medida em que todas as
outras mercadorias se confrontam com ela na forma de equivalente. Não se pode
mais, aqui, inverter os dois lados da equação de valor – como 20 braças de linho
= 1 casaco, ou = 10 libras de chá, ou = 1 quarter de trigo etc. – sem alterar
seu caráter global e transformá-la de forma de valor total em forma de valor
universal.
Por fim, a última forma, a
forma III, dá ao mundo das mercadorias a forma de valor relativa e sociouniversal
porque e na medida em que todas as mercadorias que a ela pertencem são, com uma
única exceção, excluídas da forma de equivalente universal. Uma mercadoria, o
linho, encontra-se, portanto, na forma da permutabilidade direta por todas as
outras mercadorias, ou na forma imediatamente social, porque e na medida em que
todas as demais mercadorias não se encontram nessa forma.
Inversamente, a mercadoria que
figura como equivalente universal está excluída da forma de valor relativa unitária
e, portanto, universal do mundo das mercadorias. Para que o linho, isto é, uma
mercadoria qualquer que se encontre na forma de equivalente universal, pudesse
tomar parte ao mesmo tempo na forma de valor relativa universal, ele teria de
servir de equivalente a si mesmo. Teríamos, então, 20 braças de linho = 20
braças de linho, uma tautologia em que não se expressa valor nem grandeza de valor.
Para expressar o valor relativo do equivalente universal, temos, antes, de inverter
a forma III. Ele não possui qualquer forma de valor relativa em comum com outras
mercadorias, mas seu valor é expresso relativamente na série infinita de todos
os outros corpos de mercadorias. Assim, a forma de valor relativa e desdobrada,
ou forma II, aparece agora como a forma de valor relativa específica da mercadoria
equivalente.
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente
4. O conjunto da
forma de valor simples
B) A forma de valor
total ou desdobrada
1.A forma de valor
relativa e desdobrada
2. A forma de equivalente
particular
3. Insuficiências da
forma de valor total ou desdobrada
C) A forma de valor
universal
1.Caráter modificado
da forma de valor
2. A relação de
desenvolvimento entre a forma de valor relativa e a forma de equivalente ]
3. Transição da forma de valor
universal para a forma-dinheiro [Geldform]
A forma de equivalente
universal é uma forma do valor em geral e pode, portanto, expressar-se em
qualquer mercadoria. Por outro lado, uma mercadoria encontra-se na forma de
equivalente universal (forma III) apenas porque, e na medida em que ela é
excluída por todas as demais mercadorias na qualidade de equivalente. E é
somente no momento em que essa exclusão se limita definitivamente a um tipo
específico de mercadoria que a forma de valor relativa
unitária do mundo das mercadorias ganha solidez objetiva e validade social
universal.
Agora, o
tipo específico de mercadoria em cuja forma natural, a forma de equivalente, se
funde socialmente torna-se mercadoria-dinheiro [Geldware] ou funciona como dinheiro.
Desempenhar o papel do equivalente universal no mundo das mercadorias torna-se
sua função especificamente social e, assim, seu monopólio social. Entre as
mercadorias que, na forma II, figuram como equivalentes particulares do linho e
que, na forma III, expressam conjuntamente no linho seu valor relativo, uma mercadoria determinada conquistou historicamente esse
lugar privilegiado: o ouro. Assim, se na forma III substituirmos a
mercadoria linho pela mercadoria ouro, obteremos:
[3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor
simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da
expressão do valor: forma de valor relativa e forma de equivalente
2. A forma de valor
relativa
a) Conteúdo da forma
de valor relativa
b) A determinidade
quantitativa da forma de valor relativa
3. A forma de
equivalente
4. O conjunto da
forma de valor simples
B) A forma de valor
total ou desdobrada
1.A forma de valor
relativa e desdobrada
2. A forma de equivalente
particular
3. Insuficiências da
forma de valor total ou desdobrada
C) A forma de valor
universal
1.Caráter modificado
da forma de valor
2. A relação de
desenvolvimento entre a forma de valor relativa e a forma de equivalente
3. Transição da forma
de valor universal para a forma-dinheiro [Geldform] ]
D) A forma-dinheiro
20 braças de linho = 1 casaco =
10 libras de chá = 40 libras de café = 1 quarter de trigo = ½ tonelada de ferro
= x mercadoria A = } 2 onças de ouro 120 ?
Alterações essenciais ocorrem
na transição da forma I para a forma II, e da forma II para a forma III. Em
contrapartida, a forma IV não se diferencia em nada da forma III, a não ser
pelo fato de que agora, em vez do linho, é o ouro que possui a forma de equivalente
universal. O ouro se torna, na forma IV, aquilo que o linho era na forma III: equivalente
universal. O progresso consiste apenas em que agora, por meio do hábito social,
a forma da permutabilidade direta e geral ou a forma de equivalente universal
amalgamou-se definitivamente à forma natural específica da mercadoria ouro.
O ouro só se confronta
com outras mercadorias como dinheiro porque já se confrontava com elas anteriormente,
como mercadoria. Igual a todas as outras mercadorias,
ele também funcionou como equivalente, seja como equivalente individual em atos
isolados de troca, seja como equivalente particular ao lado de outros
equivalentes-mercadorias [Warenäquivalenten]. Com o tempo, ele passou a
funcionar, em círculos mais estreitos ou mais amplos, como equivalente
universal. Tão logo conquistou o monopólio dessa posição
na expressão de valor do mundo das mercadorias, ele tornou-se
mercadoria-dinheiro, e é apenas a partir do momento em que ele já se
tornou mercadoria-dinheiro que as formas IV e III passam a se diferenciar uma
da outra, ou que a forma de valor universal se torna forma-dinheiro.
A expressão de valor
relativa simples de uma mercadoria – por exemplo, do linho – na mercadoria que
funciona como mercadoria-dinheiro – por exemplo, o ouro – é a forma-preço
[Preisform]. A “forma-preço” do linho é, portanto:
20 braças de linho = 2 onças de ouro ou, se £2 for a denominação monetária de 2
onças de ouro: 20 braças de linho = £2
SURGE ACIMA ENTÃO A FORMA PREÇO, DA FORMA
DINHEIRO, DA FORMA EQUIVALENTE UNIVERSAL, DA FORMA EQUIVALENTE...
A dificuldade no conceito da
forma-dinheiro se restringe à apreensão conceitual da forma de equivalente universal,
portanto, da forma de valor universal como tal, a forma III. A forma III se
decompõe, em sentido contrário, na forma II, a forma de valor desdobrada, e seu
elemento constitutivo é a forma I: 20 braças de linho = 1 casaco, ou x
mercadoria A = y mercadoria B. A forma-mercadoria simples
é, desse modo, o germe da forma-dinheiro.
RECAPITULANDO OS PONTOS DO INDICE
3. A forma de valor
[Wertform] ou o valor de troca
A) A forma de valor simples, individual ou ocasional]
1. Os dois polos da expressão do valor: forma de valor relativa e
forma de equivalente
2. A forma de valor relativa
a) Conteúdo da forma de valor relativa
b) A
determinidade quantitativa da forma de valor relativa
3. A
forma de equivalente
4. O
conjunto da forma de valor simples
B) A
forma de valor total ou desdobrada
1.A
forma de valor relativa e desdobrada
2. A
forma de equivalente particular
3.
Insuficiências da forma de valor total ou desdobrada
C) A
forma de valor universal
1.Caráter
modificado da forma de valor
2. A
relação de desenvolvimento entre a forma de valor relativa e a forma de
equivalente
3.
Transição da forma de valor universal para a forma-dinheiro [Geldform]
D) A
forma-dinheiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário