terça-feira, 1 de setembro de 2020

Roteiro da aula 3-2

Segue a segunda parte do roteiro da aula 3 do curso de leitura de O capital.

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Feita esta leitura de trechos da resenha escrita por Engels, partamos agora para o Capítulo 1 A mercadoria.

CONFORME INFORMADO, LEREI TRECHOS E FAREI ALGUNS COMENTÁRIOS. Como este capítulo é grande tem cerca de 45 páginas, acontecerá de parte dele ficar para a próxima aula, a quarta.

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1. Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor (substância do valor, grandeza do valor)

A riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma “enorme coleção de mercadorias”, e a mercadoria individual como sua forma elementar. Nossa investigação começa, por isso, com a análise da mercadoria.

-porque começar pela mercadoria?

-aparência, superfície

-forma elementar da riqueza capitalista

-célula

A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa que, por meio de suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de um tipo qualquer. A natureza dessas necessidades – se, por exemplo, elas provêm do estômago ou da imaginação – não altera em nada a questão.

-mercadoria.... satisfação de necessidades que provêm do estômago ou da imaginação

-da imaginação: logo no início, Marx revela como falam besteira os teóricos da “imaterialidade” (falam besteira duplamente, pela maneira como abordam a questão e pela acusação lançada contra Marx)

Tampouco se trata aqui de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se diretamente, como meio de subsistência [Lebensmittel], isto é, como objeto de fruição, (material ou intelectual) ou indiretamente, como meio de produção.

-objeto de fruição ou meio de produção

-aqui é algo que vai ganhar imensa importância mais adiante, inclusive no que diz respeito a “realização”, uma vez que em tese os limites da fruição são mais modestos

Toda coisa útil, como ferro, papel etc., deve ser considerada sob um duplo ponto de vista: o da qualidade e o da quantidade.

-portanto, até agora mercadoria/valor de uso/qualidade e quantidade

-notem que, conforme explicou Engels na sua resenha da Contribuição, o método lógico conduz a esta sequência: relação, seus lados... aparência e essência, quantidade e qualidade, valor de uso e valor etc. Sendo que cada “lado” é, em si mesmo, uma relação e assim sucessivamente.

Cada uma dessas coisas é um conjunto de muitas propriedades e pode, por isso, ser útil sob diversos aspectos. Descobrir esses diversos aspectos e, portanto, as múltiplas formas de uso das coisas é um ato histórico. Assim como também é um ato histórico encontrar as medidas sociais para a quantidade das coisas úteis. A diversidade das medidas das mercadorias resulta, em parte, da natureza diversa dos objetos a serem medidos e, em parte, da convenção.

A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso.

-se formula aqui, portanto, uma categoria: valor de uso

Mas não se pretende estudar estas qualidades e quantidades. O Capital x merceologia...

Mas essa utilidade não flutua no ar. Condição dada pelas propriedades do corpo da mercadoria [Warenkörper], ela não existe sem esse corpo. Por isso, o próprio corpo da mercadoria, como ferro, trigo, diamante etc. [quadro de pintura, livro, filme etc], é um valor de uso ou um bem. Esse seu caráter não depende do fato de a apropriação de suas qualidades úteis custar muito ou pouco trabalho aos homens.

-apropriar-se (fruição ou meio de produção) das qualidades úteis do corpo físico de  uma mercadoria pode dar mais ou menos trabalho, mas não é isso que determina a utilidade

-notar que este raciocínio será essencial na discussão sobre a força de trabalho. O valor de uso da mercadoria força de trabalho é dada pelas propriedades do “corpo da mercadoria”, está contida potencialmente naquele “corpo”, e o consumo das suas utilidades pode “dar mais ou menos trabalho” = pode levar/exigir mais tempo ou menos tempo

Na consideração do valor de uso será sempre pressuposta sua determinidade [Bestimmtheit] quantitativa, como uma dúzia de relógios, 1 braça de linho, 1 tonelada de ferro, 1 livro de contos) etc. Os valores de uso das mercadorias fornecem o material para uma disciplina específica, a merceologia.

O valor de uso se efetiva apenas no uso ou no consumo. Os valores de uso formam o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta. Na forma de sociedade que iremos analisar, eles constituem, ao mesmo tempo, os suportes materiais [stofflische Träger] do valor de troca.

-importante: o valor de uso se efetiva no uso ou no consumo

-valores de uso = conteúdo material da riqueza em qualquer sociedade

-mas no capitalismo são suportes materiais do valor de troca (3 categorias portanto= mercadoria, valor de uso, valor de troca)

O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo, uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço.

-o valor de troca APARECE na troca

-aparece como a proporção em que se troca X de algo por Y de outra coisa

-e como as trocas são muitas, simultâneas ou sequenciais, parece que o valor de troca é primeiro uma relação quantitativa e, em segundo lugar...

Por isso, o valor de troca parece algo acidental e puramente relativo, um valor de troca intrínseco, imanente à mercadoria (valeur intrinsèque); portanto, uma contradictio in adjecto [contradição nos próprios termos]. Vejamos a coisa mais de perto.

-valor de troca... acidental

-quantidade de um valor de uso por quantidade de outro valor uso

-parece que se trata de uma troca entre quantidades (de valores de uso)

Certa mercadoria, 1 quarter a de trigo, por exemplo, é trocada por x de graxa de 97 sapatos ou por y de seda ou z de ouro etc., em suma, por outras mercadorias nas mais diversas proporções. O trigo tem, assim, múltiplos valores de troca em vez de um único.

-REPETINDO: o valor de troca aparece na troca, aparece como a proporção em que trocam os valores de uso, uma proporção que varia constantemente

Mas sendo x de graxa de sapatos, assim como y de seda e z de ouro etc. o valor de troca de 1 quarter de trigo, então x de graxa de sapatos, y de seda e z de ouro etc. têm de ser valores de troca permutáveis entre si ou valores de troca de mesma grandeza.

-portanto, trata-se de uma equação, onde os diferentes valores de troca remetem todos eles para uma grandeza comum

-aqui é a base da diferença entre valor de troca e valor (como será, mais adiante, a base da diferença entre valor de troca e preço...]

Disso se segue, em primeiro lugar, que os valores de troca vigentes da mesma mercadoria expressam algo igual. Em segundo lugar, porém, que o valor de troca não pode ser mais do que o modo de expressão, a “forma de manifestação” [Erscheinungsform] de um conteúdo que dele pode ser distinguido.

-existe algo de igual naquilo que é trocado (e que permite que a troca exista, não como algo fortuito, mas como parte do metabolismo social)

-e este algo de igual não é o valor de uso

-valor de troca expressa, é manifestação de algo distinto do valor de uso

-...um “cavalo” e um espírito que usa um corpo como “cavalo”...

-ou seja, o valor de troca é o modo de expressão do valor (entendendo por valor o nome que é dado para uma substância de que se falará logo mais]

Tomemos, ainda, duas mercadorias, por exemplo, trigo e ferro. Qualquer que seja sua relação de troca, ela é sempre representável por uma equação em que uma dada quantidade de trigo é igualada a uma quantidade qualquer de ferro, por exemplo, 1 quarter de trigo = a quintaisb de ferro. O que mostra essa equação? Que algo comum de mesma grandeza existe em duas coisas diferentes, em 1 quarter de trigo e em quintais de ferro. Ambas são, portanto, iguais a uma terceira, que, em si mesma, não é nem uma nem outra. Cada uma delas, na medida em que é valor de troca, tem, portanto, de ser redutível a essa terceira.

-“ambas são iguais a uma terceira, que em si mesma não é uma nem outra”

Um simples exemplo geométrico ilustra isso. Para determinar e comparar as áreas de todas as figuras retilíneas, é preciso decompô-las em triângulos. O próprio triângulo é reduzido a uma expressão totalmente distinta de sua figura visível – a metade do produto de sua base pela sua altura. Do mesmo modo, os valores de troca das mercadorias têm de ser reduzidos a algo em comum, com relação ao qual eles representam um mais ou um menos.

-Marx e a matemática, tema interessantíssimo, diretamente relacionado ao que estamos tratando, mas que escapa do nosso foco

Esse algo em comum não pode ser uma propriedade geométrica, física, química ou qualquer outra propriedade natural das mercadorias. Suas propriedades físicas importam apenas na medida em que conferem utilidade às mercadorias, isto é, fazem delas valores de uso.

-raciocínio dedutivo: o que entra na composição do valor de uso, do cavalo, não pode ser a explicação do valor de troca. Inclusive porque, como se verá em seguida...

Por outro lado, parece claro que a abstração dos seus valores de uso é justamente o que caracteriza a relação de troca das mercadorias. Nessa relação, um valor de uso vale tanto quanto o outro desde que esteja disponível em proporção adequada. Ou como diz o velho Barbon:

“Um tipo de mercadoria é tão bom quanto outro se seu valor de troca for da mesma grandeza. Pois não existe nenhuma diferença ou possibilidade de diferenciação entre coisas cujos valores de troca são da mesma grandeza.”

Como valores de uso, as mercadorias são, antes de tudo, de diferente qualidade; como valores de troca, elas podem ser apenas de quantidade diferente, sem conter, portanto, nenhum átomo de valor de uso.

-pouco antes Marx disse o seguinte: “Toda coisa útil, como ferro, papel etc., deve ser considerada sob um duplo ponto de vista: o da qualidade e o da quantidade.”

-agora ele diz: como valores de uso (como coisa útil) as mercadorias são ANTES DE TUDO de diferente qualidade

-portanto, valores de uso, quantidade MAS ANTES DE TUDO qualidade

-já os valores de troca, APENAS quantidade diferentes

-mas quantidade do que?

-não é, por óbvio, quantidade... de valores de uso, nem de utilidades (=qualidades), pois isso nos remeteria a um lop ou, no segundo caso, a uma incongruência

-lembremos da frase anterior: “Toda coisa útil, como ferro, papel etc., deve ser considerada sob um duplo ponto de vista: o da qualidade e o da quantidade”

-mas no caso que está sendo discutido, não é quantidade de valores de uso, mas sim a quantidade de algo que SOBRA depois que se elimina a utilidade, as características corpóreas...

Prescindindo do valor de uso dos corpos das mercadorias, resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do trabalho.

-se você jogar todas as mercadorias do mundo num liquidificador mental (ou em uma prensa de ferro velho, ou numa caldeira de alto-forno) a geleia que sobrará fará “abstração” das utilidades, restando uma gosma de trabalho humano

Mas mesmo o produto do trabalho já se transformou em nossas mãos. Se abstraímos seu valor de uso, abstraímos também os componentes [Bestandteilen] e formas corpóreas que fazem dele um valor de uso. O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer outra coisa útil. Todas as suas qualidades sensíveis foram apagadas. E também já não é mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados e, portanto, também as diferentes formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem uns dos outros, sendo todos reduzidos a trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato.

-a geleia, a gosma... trabalho humano abstrato

-portanto, já fomos apresentados até aqui as categorias mercadoria/valor de uso/valor de troca/trabalho/trabalho útil-concreto/trabalho abstrato

Consideremos agora o resíduo dos produtos do trabalho. Deles não restou mais do que uma mesma objetividade fantasmagórica, uma simples geleia [Gallerte] de trabalho humano indiferenciado, i.e., de dispêndio de força de trabalho humana, sem consideração pela forma de seu dispêndio. Essas coisas representam apenas o fato de que em sua produção foi despendida força de trabalho humana, foi acumulado trabalho humano. Como cristais dessa substância social que lhes é comum, elas são valores – valores de mercadorias.

-cristais, geléia, imagens para dar ideia de produtos de uma metamorfose

-substância social comum =  trabalho... valores de mercadoria, valores de troca

Na própria relação de troca das mercadorias, seu valor de troca apareceu-nos como algo completamente independente de seus valores de uso. No entanto, abstraindo-se agora o valor de uso dos produtos do trabalho, obteremos seu valor como ele foi definido anteriormente. O elemento comum, que se apresenta na relação de troca ou valor de troca das mercadorias, é, portanto, seu valor. A continuação da investigação nos levará de volta ao valor de troca como o modo necessário de expressão ou forma de manifestação do valor, mas este tem de ser, por ora, considerado independentemente dessa forma.

-ele aqui fala da diferença, mas adiante ele explicará a diferença entre valor e valor de troca

-valor de troca como forma de expressão do valor

-portanto, a rigor a categoria mercadoria/valor de uso e valor (curiosidade lógica, o valor de uso, ao ser consumido, gera uma categoria simétrica a de valor de troca, mas que escapa da análise aqui)

Assim, um valor de uso ou bem só possui valor porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato. Mas como medir a grandeza de seu valor? Por meio da quantidade de “substância formadora de valor”, isto é, da quantidade de trabalho nele contida. A própria quantidade de trabalho é medida por seu tempo de duração, e o tempo de trabalho possui, por sua vez, seu padrão de medida em frações determinadas de tempo, como hora, dia etc.

-voltando a afirmação feita antes: valores de uso, quantidade MAS ANTES DE TUDO qualidade. Já os valores de troca, APENAS quantidade diferentes

-qual a grandeza (qual a quantidade da quantidade) do valor?

-quantidade da substância formadora de valor

-aqui tem nova dedução lógica: a quantidade de trabalho é medida por seu tempo de duração

-tempo de duração do trabalho

Poderia parecer que, se o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho despendido durante sua produção, quanto mais preguiçoso ou inábil for um homem, tanto maior o valor de sua mercadoria, pois ele necessitará de mais tempo para produzi-la.

-para escapar da dificuldade, outra dedução lógica

 No entanto, o trabalho que constitui a substância dos valores é trabalho humano igual, dispêndio da mesma força de trabalho humana. A força de trabalho conjunta da sociedade, que se apresenta nos valores do mundo das mercadorias, vale aqui como uma única força de trabalho humana, embora consista em inumeráveis forças de trabalho individuais.

-notem que a premissa implítica é que as mercadorias & a troca de mercadorias são fenômenos SOCIAIS, permitindo falar pois...

... não em trabalho individual, mas em trabalho social

... em uma média historicamente construída

-notar que a própria categoria é PRODUZIDA HISTORICAMENTE, ou seja, a percepção da realidade supõe que a realidade exista (ou que possa ser deduzida dela, caso a contradição ainda não tenha sido resolvida, lembrar do que é dito na resenha de Engels), mas neste caso o fato de existir não quer dizer que esta realidade existiu sempre, até porque, para que exista uma média, é preciso que esta média se constitua DE FATO

-o que nos leva a outro raciocínio: o fato de que certas previsões possam ser feitas, não quer dizer que elas necessariamente vão se tornar realidade, elas não se tornam realidade por serem feitas como desdobramento lógico, como solução lógica para contradições postas, elas se tornam realidade quando se constituem materialmente, históricamente (o caso da socialização da produção, ela existe realmente, mas que a contradição entre a socialização da produção e a apropriação privada vá se resolver através da apropriação coletiva, isto é uma dedução lógica que ainda não se materializou senão parcialmente, por exemplo sob a forma de propriedade estatal)

 Cada uma dessas forças de trabalho individuais é a mesma força de trabalho humana que a outra, na medida em que possui o caráter de uma força de trabalho social média e atua como tal força de trabalho social média; portanto, na medida em que, para a produção de uma mercadoria, ela só precisa do tempo de trabalho em média necessário ou tempo de trabalho socialmente necessário.

-aqui, ou por conta da tradução, ou por conta da dificuldade de expressar ideias novas com o aparato linguístico disponível, há uma certa imprecisão: “Cada uma dessas forças de trabalho individuais é a mesma força de trabalho humana que a outra”, a rigor cada uma dessas forças individuais é e não é, pois “na vida real” é como se todas as forças individuais fizessem uma conversão em uma força de trabalho humana geral, que por sua vez regressa para cada força de trabalho individual, mas isso é uma abstração mental de um duplo processo, primeiro a equalização realizada no âmbito da troca, segundo a equalização realizada no âmbito da produção material, inclusive por acicate da equalização realizada no âmbito da troca

-ou seja, o tempo de trabalho socialmente necessário, de que Marx vai falar a seguir, ele se produz historicamente, como efeito de um triplo processo, as diferenças iniciais, a média no mercado, o rebote no processo produtivo real

 Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer sob as condições normais para uma dada sociedade e com o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho.

-tempo de trabalho socialmente necessário

-é este tempo que conta para a determinação do valor

-o que segue é auto-explicável

Após a introdução do tear a vapor na Inglaterra, por exemplo, passou a ser possível transformar uma dada quantidade de fio em tecido empregando cerca da metade do trabalho de antes. Na verdade, o tecelão manual inglês continuava a precisar do mesmo tempo de trabalho para essa produção, mas agora o produto de sua hora de trabalho individual representava apenas metade da hora de trabalho social e, por isso, seu valor caiu para a metade do anterior.

Portanto, é apenas a quantidade de trabalho socialmente necessário ou o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de um valor de uso que determina a grandeza de seu valor. A mercadoria individual vale aqui somente como exemplar médio de sua espécie. Por essa razão, mercadorias em que estão contidas quantidades iguais de trabalho ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho têm a mesma grandeza de valor. O valor de uma mercadoria está para o valor de qualquer outra mercadoria assim como o tempo de trabalho necessário para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção de outra. “Como valores, todas as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho cristalizado.”

Assim, a grandeza de valor de uma mercadoria permanece constante se permanece igualmente constante o tempo de trabalho requerido para sua produção. Mas este muda com cada mudança na força produtiva do trabalho. Essa força produtiva do trabalho é determinada por múltiplas circunstâncias, dentre outras pelo grau médio de destreza dos trabalhadores, o grau de desenvolvimento da ciência e de sua aplicabilidade tecnológica, a organização social do processo de produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais.

-interessante notar as muitas variáveis envolvidas e citadas acima

 Por exemplo, a mesma quantidade de trabalho produz, numa estação favorável, 8 alqueires de trigo, mas apenas 4 alqueires numa estação menos favorável. A mesma quantidade de trabalho extrai mais metais em minas ricas do que em pobres etc. Os diamantes muito raramente se encontram na superfície da terra, e, por isso, encontrá-los exige muito tempo de trabalho. Em consequência, eles representam muito trabalho em pouco volume. Jacob duvida que o ouro tenha alguma vez pago seu pleno valor. Isso vale ainda mais para o diamante. Segundo Eschwege, oitenta anos de exploração das minas de diamante brasileiras não havia atingido, em 1823, o preço do produto médio de um ano e meio das plantações brasileiras de açúcar ou café, embora ela representasse muito mais trabalho, portanto, mais valor.

-aqui é outro exemplo de uma inconsistência lógica: oitenta anos de exploração das minas de diamante brasileiras não havia atingido, em 1823, o preço do produto médio de um ano e meio das plantações brasileiras de açúcar ou café, embora ela representasse muito mais trabalho, portanto, mais valor. 960 meses de trabalho PREÇO MENOR E VALOR MAIOR que 18 meses de trabalho. A RIGOR, NÃO HÁ PROBLEMA NISSO...

Com minas mais ricas, a mesma quantidade de trabalho seria representada em mais diamantes, e seu valor cairia. Se com pouco trabalho fosse possível transformar carvão em diamante, seu valor poderia cair abaixo do de tijolos. Como regra geral, quanto maior é a força produtiva do trabalho, menor é o tempo de trabalho requerido para a produção de um artigo, menor a massa de trabalho nele cristalizada e menor seu valor. Inversamente, quanto menor a força produtiva do trabalho, maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo e maior seu valor. Assim, a grandeza de valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade de trabalho que nela é realizado e na razão inversa da força produtiva desse trabalho.

-notem que nessa pequena frase está contida toda a interpretação acerca da crise do capitalismo: “a grandeza de valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade de trabalho que nela é realizado e na razão inversa da força produtiva desse trabalho”

-o capitalismo aumenta a força produtiva (e a quantidade de mercadorias produzidas no mesmo tempo), ao tempo que reduz o valor destas mercadorias (portanto, para aumentar o valor é preciso produzir muito mais mercadorias que antes, de jeito que a massa compense, mas isso cria problemas de realização etc.)

-AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR SÃO AS, DIGAMOS, “EXCEÇÕES A REGRA”, QUE COMO SE VERÁ MAIS ADIANTE, NÃO SÃO TÃO SIMPLES QUANTO PARECEM

Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor. É esse o caso quando sua utilidade para o homem não é mediada pelo trabalho. Assim é o ar, a terra virgem, os campos naturais, a madeira bruta etc. Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano sem ser mercadoria. Quem, por meio de seu produto, satisfaz sua própria necessidade, cria certamente valor de uso, mas não mercadoria. Para produzir mercadoria, ele tem de produzir não apenas valor de uso, mas valor de uso para outrem, valor de uso social. {E não somente para outrem. O camponês medieval produzia a talha para o senhor feudal, o dízimo para o padre, mas nem por isso a talha ou o dízimo se tornavam mercadorias. Para se tornar mercadoria, é preciso que o produto, por meio da troca, seja transferido a outrem, a quem vai servir como valor de uso.} Por último, nenhuma coisa pode ser valor sem ser objeto de uso. Se ela é inútil, também o é o trabalho nela contido, não conta como trabalho e não cria, por isso, nenhum valor.

-primeiro: o fato de que tudo seja convertido em mercadoria, faz com que se estenda o manto do valor até sobre aquilo que não foi produto do trabalho humano, ou seja, o capitalismo converte em valor tudo, mesmo aquilo que não é produto do trabalho

-segundo, como já foi dito antes, o duplo valor/valor de troca tem seu correspondente lógica na noção utilidade/valor de uso, em que este valor de uso é valor de uso para outrem

-e não apenas para outrem, mas para outrem mediado por uma relação de troca

-por fim, resta saber se tem algo inútil neste mundo de mercantilização ampla, geral de ireestrita

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