Não pude assistir online
a live do movimento “Direitos Já”,
realizada nesta última sexta-feira, dia 26 de junho.
Mas no sábado, 27 de junho, dediquei mais de 5 horas para
assistir a coisa toda, de ponta a ponta.
Quem quiser fazer o mesmo, seguem algumas alternativas:
Neste último endereço, a transmissão durou 4 horas, 45
minutos e 45 segundos.
Desconheço se este detalhe (45, 45) tem algum significado
oculto.
O movimento “Direitos Já” foi lançado em setembro de 2019,
em um ato público realizado na PUC-SP, do qual teriam participado, segundo os
organizadores, 1500 convidados, vinculados a 300 organizações e a 16 partidos
políticos.
O nome completo da iniciativa é "Direitos Já! Fórum
Pela Democracia".
O coordenador é o sociólogo Fernando Guimarães, conhecido
também como Fefo.
Fernando Guimarães foi filiado ao PSDB por três décadas, foi
do Diretório Nacional do PSDB, mas parece ter sido expulso do partido em maio
de 2019.
Em entrevista recente à Carta Capital, o próprio Fernando//
Guimarães fala do assunto:
https://www.cartacapital.com.br/politica/expulso-do-psdb-lider-do-direitos-ja-diz-que-nao-foi-avisado-sobre-desfiliacao/
Para quem quiser saber mais, recomenda-se ler aqui:
https://tucano.org.br/fernando-guimaraes-2/
O ato de 26 de junho foi denominado ato virtual “EM DEFESA
DA DEMOCRACIA, DA VIDA E PROTEÇÃO SOCIAL”.
A atividade foi aberta com a leitura de um manifesto, que
está disponível aqui, junto com a devida análise crítica:
Desta leitura, destaco a seguinte ideia: convocar todas as
forças democráticas a se somarem conosco nesta tão necessária frente ampla, um
movimento de caráter não eleitoral, em defesa da democracia, da vida e da
proteção social.
Tomem nota disto, voltaremos ao tema no final.
Em seguida a leitura do manifesto, Fernando Rodrigues chamou
os participantes a falar, por 1 minuto.
Isso, 1 minuto!
O que é bom, pois em 1 minuto as pessoas são obrigadas a
adotar o papo reto de que Aécio Neves dizia gostar.
Aliás, Aécio não foi ao ato pelos “Direitos Já”.
Em seguida a leitura, Fernando Guimarães Rodrigues (que a
partir de agora vou chamar de FGR) leu a lista de “professores” que redigiram o
manifesto: Adriano Massuda, Alberto Almeida, Almir Surui, Felizardo Santos
Junior, Gonzalo Vecina, Jose Alvaro, Lilian Vitorino, Jose Gregori, Maria
Herminia Tavares, Pedro Serrano, Monica de Boe, Sergio Fausto, Eunice Prudente,
Rogerio Studart, Silvia Pimentel, Ricardo Saens e Anderson Marques, este último
o relator.
Alerto que posso ter anotado errado o nome de algum dos
supracitados.
Vários deles são conhecidos por sua militância tucana.
Aliás, salvo melhor juízo, a maioria dos que falaram no ato
era integrante dos setores médios, homens, brancos, tucanos, com doutorado.
Evidentemente, houve pontos fora da curva, mas esta era a
curva.
Na sequência, FRG afirmou que a última vez que esse país
assistiu a uma tão ampla união de forças, de campos políticos tão diversos,
acima de tudo convergência no compromisso inalienável com a democracia, até
para que nossas divergências estejam asseguradas, foi o movimento pela Diretas
Já.
E então passou um vídeo de Osmar Santos, o célebre locutor
dos comícios das diretas, hoje com 71 anos!
Uma respeitosa matéria sobre o locutor pode ser lida aqui:
https://esportes.r7.com/osmar-santos-celebra-70-anos-sem-perder-irreverencia-fiquei-velho-14082019
Vale lembrar que a emenda das Diretas foi derrotada e o
movimento pelas Diretas Já rachou entre os que apoiaram o comparecimento ao
Colégio Eleitoral, para votar em Tancredo Neves e José Sarney; e os que se
recusaram a fazer isto, caso do Partido dos Trabalhadores.
Deixo aos leitores decidir se cada alguma reflexão sobre
história, repetição, tragédia e farsa.
Em seguida houve um ato ecumênico, aberto pelo Rabino
Michel, presidente da confederação israelita paulista, segundo o qual o Talmud
afirma que onde houver 2 judeus, haverá 3 opiniões.
Depois falaram representantes de várias crenças, entre as
quais um pastor batista, um pelas matrizes africanas, um padre, uma monja, um
pastor, uma representante do Conic, um espírita, um clérigo islâmico.
Encerrada esta parte, foram chamadas “algumas das principais
vozes do país” (sic), para usar da palavra por um minuto, ao final do qual
seria dado “um sinal para que concluam”, senão o som seria silenciado.
A partir deste ponto, fui tomando nota dos nomes dos
oradores e do que me chamou a atenção em suas falas. Alerto que posso ter
entendido ou grafado algum nome incorretamente. Além disso, como é óbvio,
destaquei o que me chamou a atenção.
O primeiro a falar foi o advogado Belisário dos Santos Jr:
viva o SUS, a constituição cidadão, contra a tortura. Ao final, Belisário
voltará a falar, num dos melhores momentos do ato.
O segundo a falar foi Rogério Studart, ex-diretor executivo
do Banco Mundial.
Antes de abrir a a palavra, FGR disse que ele coordenou um
grupo de economistas, que fez a elaboração de um documento que será apresentado
a todos os parlamentares, com medidas de saída para a crise, grupo composto
pelos economistas Monica de Bole, Rogerio Studart, Ricardo Saens, Nilson
Araujo, Guilherme Melo, Baliseu Alves Margarido, Sérgio Buarque, Nelson
Marconi, Vitor de Melo, Nelson Marconi, Vitor Pagani, Nilson Araújo, José
Aurelio Oreiro.
Me chamou a atenção que FGR afirma que estes economistas
teriam sido indicados pelos partidos.
Pelo menos no caso do PT, isto deve ser
algum mal-entendido.
Mal entendido ou não, o fato é que Rogerio Studart comemora
a impressionante capacidade que tivemos, de distintos matrizes de pensamento,
de convergirmos em função de uma macroeconomia e de uma visão de
desenvolvimento para o país.
Só lendo o tal documento é que poderemos ter certeza se esta
“convergência” deve ser comemorada ou lamentada.
Em seguida falou o Vereador Gilberto Natalini, sobre quem se
destacou ter sido torturado pelo próprio Ulstra.
Depois falou Flavia Piovesan, procuradora e jursta, da
comissão interamericana de direitos humanos.
A fala de Flávia Piovesan pode ser tomada como paradigma de
grande parte dos discursos feitos no ato: falas curtas e genéricas,
politicamente corretas no que diz respeito a justiça social, mas essencialmente
preocupadas em “salvar o Estado democrático de direito”.
Na fala de Piovesan e também em outras, um recado contra “a
dor da polarização extrema”.
Depois falou a deputada federal Jandyra Fegali, a primeira
Comunista do Brasil a quem se deu a palavra. Outros comunistas falariam, assim
como petistas e psolistas. A maioria dos oradores destes partidos foi muito
cuidadosa no uso das palavras, algumas vezes evitando até mesmo falar em
impeachment e fora Bolsonaro, preferindo outras construções verbais (do tipo
“com Bozo não dá”).
Falou em seguida Mario Nicacio, vice-coordenador das
organizações indígenas da Amazonia brasileira; e aí veio um das celebridades da
noite, Luciano Huck.
Este começou dizendo que, por conta da pandemia e das lives,
estamos mais eficientes, mas com menos tempo para pensar e elaborar, por isso
ele falaria o que estou sentindo, mas as coisas se conectam, e toca falar de
uma menina de Goiânia, jovem cientista, a primeira de sua família a alcançar o
ensino superior, na Federal de Goiás, e esta moça tinha uma demanda com ele
Huck, que era o apoio para uma iniciativa de jovens cientistas, e a boa notícia
é que esta moça não é exceção, pois existem milhares de Patrícias espalhadas
pelo Brasil inteira.
Patrícia, esqueci de dizer, é o nome da moça de Goiania,
segundo Luciano Huck.
Pois bem: depois de nos informar que existem milhares de
Patrícias espalhadas pelo Brasil inteiro, Huck falou da importância da
educação, criticou as “papagaiadas” do último um ano e meio, disse que a
educação deveria ser prioridade, nesses tempos em que a ciência está sendo
negada, essa turma de jovens cientistas me inspirou na mensagem que ele deveria
dar no ato pelos Direitos Já, eles são a exceção mas deveriam ser a regra, um
país mais eficiente, onde os serviços funcionem de maneira potente, começando
pela educação, um país mais afetivo, onde as soluções não irão despontar por
geração espontânea, ou todos nós nos envolvemos, ou vamos seguir na mesma
situação, dividios, disfuncionais, sem um sonho maior..
A essa altura, o FGR, visivelmente constrangido, lembrou de
pedir que o Huck concluísse, mas o cidadão continuou falando da sociedade
civil, dos novos atores de que ele se sente parte, do debate público, citou
alguns colegas globais, falou que precisa de uma mudança de paradigma...
...ai o FGR lembrou de novo para ele concluir...
... mas o Huck continuou falando, disse que democracia é
importante, que é uma obra aberta, novas emoções, imperfeita, a que deu mais
certo até hoje, agradece muito e falou que “chega de iluminar o que nos separa
e vamos buscar o que nos une”.
Enfim, diria que o cidadão ainda não ensaiou direito o seu
papel. Mas a pauta está clara. E o vocabulário também.
Depois falou o ex-governador Márcio França: “a medida que
estamos juntos é que nos reanimamos”.
Depois veio o Rapper Xis, que lembrou que democracia nunca
existiu para os negros e para os indígenas, que estamos cansados, que
precisamos democratizar cultura, política, moradia internet, saneamento básico.
Infelizmente, ninguém no ato lembrou da privatização
recém-ocorrida do saneamento básico, com o voto e apoio de vários dos que ali
estavam.
E aí o FGR chamou, com a pompa e circunstância possíveis, o
“nosso presidente Fernando Henrique Cardoso”.
O “príncipe dos sociológos” não disse nada de memorável,
falou de momento de união em torno da democracia e da Constituição, que as
coisas mudam, que ele já está velho e viu de Getúlio as diretas já, que não é
um momento igual, mas é importante começar e que está disposto a dar as mãos a
todos os que queiram defender a democracia. E terminou dando vivas à liberdade
e à democracia.
Fiquei tocado, especialmente sabendo que ele já lutou contra
o golpe de 2016, contra a condenação e prisão de Lula, contra a eleição de
Bolsonaro. Ops, não lutou não, esquece, sigamos adiante.
Aliás, sobre FHC, recomendo ler: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/fhc-prega-tolerancia-com-bolsonaro-e-mostra-que-a-tal-frente-ampla-nao-e-para-ser-levada-a-serio/]
Depois falaram Eduardo Paes, ex-prefeito do Rio de Janeiro, em
defesa da permanente vigilância, “acima de qualquer diferença”, para defender a
democracia; o professor Kabengele Munanga, que lembrou que nenhum país do mundo
respeita integralmente a declaração de direitos humanos; o deputado federal
Marcelo Calero, que leu um discurso em que esqueceu de citar que foi ministro
da Cultura de Michel Temer.
Aliás, infelizmente Michel Temer e José Sarney não
compareceram ao ato. Aqui há mais detalhes: https://www.brasil247.com/brasil/com-pretensao-de-ser-frente-ampla-movimento-direitos-ja-realiza-ato-com-defeccoes-de-temer-e-sarney
Sobre Moro, se foi convidado ou não, só ouvi boatos.
Depois falou o Miguel Torres, presidente da Força Sindical,
que lembrou dos direitos que a classe trabalhadora vem perdendo nos últimos
anos, relevando o fato de que no comício estavam alguns dos algozes destes
direitos.
Em seguida falou Arnaldo Jardim, conhecido como Chefão pelos
nem tão íntimos, que falou de unidade em defesa da democracia, que democracia
rima com o combate da desigualdade, que democracia significa desenvolvimento
que combate as desigualdades e busca a justiça social, para depois citar o
Calero e o Roberto Freire!!!
Definitivamente, a consciência culpada já produziu peças
retóricas de melhor qualidade. Mas em 1 minuto é difícil escapar da máxima: a
hipocrisia é a homenagem que o vício rende à virtude.
Depois falou o Alessandro Molon, ex-petista, hoje no PSB,
que também fez um discurso paradigma de muitos outros: devemos combater o
desequilíbrio com bom senso, até porque a fé não costuma falhar.
Esta embocadura, segundo a qual frente ao fascismo vamos
reagir mostrando que fomos educados no sacre coeur de marie, esteve presente em
vários discursos. Infelizmente, na luta de classes, gentileza não costuma gerar
gentileza.
Depois falou Petra Costa, que como muitos lembrou que para
enfrentar a extrema-direita, é correto se aliar com inimigos históricos para
defender a democracia; mas logo em seguida cometeu a suprema indelicadeza de
lembrar, de maneira muito suave, que isto poderia ter sido feito em 2018 e aí
não estaríamos na situação em que estamos agora.
Em seguida falou Marcelo Coelho, que disse que eles são
muito poucos, nós somos muitos, acho que nunca houve uma aliança tão ampla,
mais que diretas e mais que Fora Collor, que o governo está perdendo, está
caindo, vai durar pouco, que a democracia vai vencer e rapidamente.
Esta também foi uma fala paradigmática. Não apenas pelo tom
de extrema satisfação consigo mesmos, bem
classe-média-como-nós-somos-inteligentes-bonitos-e-cheirosos, mas pela subestimação
da força de Bolsonaro e da extrema direita. Aliás, é um paradoxo que uma frente
que se convoca contra o fascismo (por definição, algo aterrorizante), tenha
sido lançda com tantos discursos que minimizam o perigo, a tal ponto de não
propor fazer nada de prático para enfrentar o problema (foram poucos os
oradores que falaram em impeachment, por exemplo).
Depois falaram o Marcelo Ramos, do Partido Liberal do
Amazonas, que descobri ser um especialista em Churchill; o Leoni, cantor e
compositor, que lembrou que sempre que chega uma crise, quem paga a conta são
os mais vulneráveis, além de citar Gilberto Gil como nosso melhor ministro da
cultura (aliás, ministro de um governo que recebeu duríssima oposição de grande
parte dos que participaram do encontro dos direitos já).
Depois falou o Jose Luis Penna, do Partido Verde, que
lembrou do saudoso Alberto Goldman (que, verdade seja dita, chamou o golpe em
2016, mas chamou publicamente o voto em Haddad em 2018, coragem que faltou a
muitos dos ali presentes), atacou o regime presidencialista como uma
insuportável fábrica de crises e defendeu que devemos aproveitar a crise para
refazer o mundo.
Aqui vale o registro: a defesa do parlamentarismo está no
ar.
Depois falou o governador Camilo Santana, do Ceará.
E em seguida valou o governador Flávio Dino, celebrando a
nossa união, defendendo valores e princípios, a democracia em sua dimensão
institucional, que os poderes possam funcionar livremente, contra as pressões
venham de onde vierem, em segundo lugar a dimensão social de democracia,
cuidado com a vida e a saúde, a defesa do sus, a renda básica emergencial como
uma proteção da democracia para os mais pobres, a geração de empregos, assim a
democracia chega na casa do cidadão, e condições institucionais para que as investigações
possam ser feitas, inclusiva aquelas gravíssimas, atinentes ao atual presidente
e os que o cercam, lei para todos.
Depois falou a Rosana Barros, presidenta da Ubes, que fez um
discurso vintage.
Em seguida veio o Roberto Freire, dizendo que a época atual
e a época das Diretas Já são coisas distintas, pois ali tratava-se de restaurar
a democracia e hoje trata-se de defender a democracia. E, talvez numa menção ao
seu passado, perguntou “que fazer”, dizendo que temos amplíssima maioria na
sociedade, que precisamos ampliar ainda mais, sem vetos, nas diretas saudávamos
todos aqueles que eram arrependidos.
Hehe. Nas diretas saudávamos os arrependidos que apoiavam as
diretas. Hoje os supostamente arrependidos muitas vezes não defendem nem mesmo
o impeachment.
Depois falaram o Paulo Câmara, governador de Pernambuco; o
Lupi, presidente do PDT; e a Zelia Duncan. Antonio Neto, presidente da Central
de Sindicatos Brasileiros, disse que nossas diferenças debateremos no momento
certo, que o atacado que nos une é maior do que o varejo que nos separa,
terminando com um unidos contra o fascismo.
Ironicamente, logo em seguida falou Bruno Araújo, presidente
nacional do PSDB, que afirmou que “não há mais espaço para aventuras
autoritárias” (talvez para os tucanos o fascismo seja um tigre de papel???) e
que o Brasil pode contar sempre com o PSDB.
Depois veio mais uma fala paradigmática, da socióloga Neca
Setubal, para quem é uma honra estar aqui no meio de tantas pessoas, super
parabéns!!!
Como disse antes, muitos dos que ali estavam gastaram parte
de sua fala para se afirmar satisfeitos com estarem ali, tudo tão lindo, tão
legal, com um discurso tão politicamente correto.
Uma cabotinice G-E-N-I-A-L.
Depois veio o jornalista Juca Kfouri, cuja fala infelizmente
teve problemas de conexão, pois foi um dos pouquíssimos que falou do Lula.
Kfouri também falou das fake news, da perda dos direitos dos trabalhadores, da
violência da PM, do Estado de Direito, Basta de Bolsonaro, direitos já.
Depois veio o prefeito de Manaus, Arthur Virgilio, uma das
falas mais hilárias da sessão, com direito a se dizer mais bonito que um
bonequinho que, pelo visto, alguém mostrou enquanto ele falava.
Depois veio o Fernando Haddad.
Em seguida falou o senador Randolfe Rodrigues, que lembrou
Ulysses Guimarães ao promulgar a Constituição de 1988. Sem dúvida Ulysses
parece um gigante, em comparação com os anões que transitam pelo atual
Congresso, mas convenhamos: é sintomático ver um dos gestores da transição
conservadora serem apresentados como exemplos de boa política.
Depois veio o Drauzio Varela. A respeito da fala dele, dois
comentários. Um, é impressionante como todo mundo virou defensor do SUS. Dois,
Drauzio afirmou que não será jogando um brasileiro contra o outro que vamos
construir uma solução. Esta lógica, segundo a qual a democracia não rima com
conflitos e lutas, esteve presente em muitos oradores. É uma visão autoritária
e elitista de democracia, antagônica a ideia de que a luta faz a lei.
Por falar nisso, o orador seguinte foi o ex-governador Geraldo
Alckmin, que pediu para deixarmos de lado os personalismos (de quem será que
ele estaria falando?), da união em defesa das instituições, da paciência frente
a impaciência, da tolerância frente a intolerância etc.
E por falar em tolerância, o seguinte orador foi o Ciro
Gomes, que saudou a legião de brasileiros de boa fé, falou de um profundo e
generoso sentimento de reconciliação, para logo em seguida dizer que haverá a
hora de debater o que deu margem ao Bolsonaro (ele não disse, mas até as pedras
ouviram que a culpa é do PT). Tirante isto, fez algo que muita gente boa
esqueceu de fazer: falar dos desempregados, dos míseros 413 reais, num discurso
que tem pegada popular.
Aí veio a Monica de Bole, apresentando a plataforma social-liberal,
cujo centro é a renda básica universal; e cuidando de contrapor a democracia,
de um lado, e a polarização e a divisão, de outro lado.
Em seguida tivemos o Eduardo Leite, governador do RS, que
disse ser um democrata desde criancinha.
Depois veio a Marina Silva, com um discurso de sempre, mas
também com o cuidado que outros não tiveram, de falar dos desempregados, dos
jovens, das mulheres.
Iago Montalvão, presidente da UNE, nos ofereceu uma poesia
do Honestino Guimarães.
Boulos, do PSOL, falou em seguida, dizendo que defender a
democracia é derrotar Bolsonaro, por impeachment ou por cassação da chapa.
Diferente de outros, lembrou de Dilma, ao falar que impeachment sem crime é
golpe e crime sem impeachment é omissão. E falou a frase proibida: Fora
Bolsonaro.
Gabeira, o próximo a falar, disse que essa ditadura,
diferente da anterior, está comendo a democracia pela beirada.
A Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação,
se disse honrada por estar participando, e arrematou que nenhuma visão é mais
potente do que cuidar das crianças mais pobres, pretas, periféricas. Recomendo
a quem puder que veja este discurso, com atenção aos detalhes da decoração.
Depois João Signorelli citou Gandhi, o amor cura, une,
nutre, pulsa, educa, encoraja, faz nascer, entusiasma etc.
Depois falou o Tarso Genro, que elogiou a plenária
democrática amplíssima, mencionando a presença de Marina, Haddad, Ciro, Alckmin
e Boulos. Elogia nominalmente o Boulos, igualmente aos demais.
Diz que ali se
está aplicando uma tecnologia política testada na Europa, uma concertação por
uma agenda de unidade, deixando de lado as questões que não estão incidentes
diretamente na realidade, que seriam a democrática, a pandemia e os direitos
fundamentais. Fala que o fascismo chegou ao poder através de uma ampla frente
política, inclusive através de processos eleitorais, e que precisamos nos unir
para bloquear o fascismo, que está agindo a partir do poder de Estado. Que
devemos defender a Constituição de 1988 e guardar as nossas diferenças para
compor uma agenda posterior. Que ninguém ali está a beira de chegar no governo,
que estamos a beira de sermos derrotados pelo fascismo.
Noutro lugar, comentarei o que acho da posição do Tarso.
Em seguida veio o Reinaldo Azevedo, dizendo-se feliz em
encontrar um momento de políticos, porque foi a demonização dos políticos que
nos fez chegar a esse ponto. E defendeu um novo normal que inclua os pretos e
os pobres.
Fiquei pensando comigo se, convidado para um evento de
petistas, Reinaldo Azevedo também dir-se-ia feliz, porque foi a demonização dos
petistas que nos fez chegar a esse ponto. Quem foi mesmo que inventou o termo
“petralha”???
Depois falou o Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB,
falando não apenas de tirar o Bolsonaro do poder, mas também em unir a nação
para reconstruir. Aliás, esta foi a pegada de muitos ali: não se trata apenas
de tirar Bolsonaro, mas de unidade depois. O curioso é que a imensa maioria não
falou de impeachment já. Para que mesmo seria esta frente??
Na mesma linha, de preocupar-se com o depois, foi Aldo
Rebelo, para quem tão importante quanto a democracia é a retomada do
crescimento, voltar a crescer, devemos nos unir em torno de uma agenda do
crescimento.
Depois falaram Renata Abreu, do Podemos; Arlindo Filipe,
coordenador da comissão étnico racial do Direitos Já; e a vice governadora de
Pernambuco.
Curiosamente, foi só depois de Luciana Santos falar que FGC
corrigiu a gafe e lembrou que Luciana é presidenta nacional do PCdoB.
Luciana defendeu que em momentos agudos, de virada, sempre
se buscou frentes amplas, heterogêneas, e concluiu citando Pablo Milanes e
Chico Buarque.
Em seguida falou Pedro Ivo, porta voz nacional da Rede
Sustentabilidade. Disse que vivemos uma crise civilizatória, que a maior doença
é a insustentabilidade, falou da normose, disse que o novo normal tem que ser
sustentável, baixo carbono, democracia ampliada e direitos humanos e da
natureza.
Sim, este Pedro Ivo é aquele Pedro Ivo da antiga Tendência
Marxista, acho até que foi do PRC. Aliás, do comício participaram muitos ex-petistas
(Molon, Cristovam, Pedro Ivo, Eduardo Jorge, Weffort e wefraco, Marta).
Depois José Carlos Dias defendeu o direito de dizer não a um
governante truculento e despreparado.
E Marta Suplicy repetiu um discurso que eu já tinha ouvido
ela fazer, acho eu, em 2016, sobre deixar de lado as diferenças de lado pelo
que importa, em nome de algo muito maior, uma frente ampla que acabe com o
risco, que dê esperanças para o povo brasileiro, lembrando que até em guerras
ocorrem união de adversários. E que dos liberais aos mais progressistas (quem
seriam os mais progressistas, ela não disse), trata-se da formação de um
programa que permita tirar o país desta situação tão difícil.
Como se vê no discurso da Marta e de outros, não basta
ajoelhar, vai ter que rezar: participar desta
frente-supostamente-ampla-que-não-é-pelo-impeachment, implicará em assumir
compromissos com um programa etc e tal.
Depois de Marta falou Fernanda Melchiona, do PSOL,
defendendo a mais ampla unidade de ação contra o autoritarismo, alerta que é um
erro sangrar Bolsonaro até 2022, ataca a agenda ultraliberal (que inclui
privatizar o saneamento, algo feito por vários dos que ali estavam, mas a
Melchiona não citou isso) e também disse as palavras proibidas: Fora Bolsonaro.
Depois falou o Diogens Lucca, fundador do GATE, da PM de SP.
Ele nos informa ter aprendido na caserna os valores da democracia, bem como que
é parte dos 70%.
Depois falaram a Joênia Wapichana (falou Fora Bolsonaro), o
Ricardo Patah da UGT, o governador Wellington Dias, Flávia Cale (ANPG), Adilson
de Araújo (CTB), Lidice da Mada (a democracia é a vacina contra o fascismo).
Aqui vale a pena refletir sobre um certo paradoxo. Alguns
salientaram que a democracia seria uma vacina contra o fascismo. Outros
chamaram a atenção para que a democracia tem que se traduzir em uma vida
decente para o povo, sob pena do povo não ter apreço pela democracia. E alguns,
como o Senador José Anibal, do PSDB de SP, orador que falou depois, fizeram
questão de criticar o pacto pela desigualdade enraizado na sociedade brasileira.
E ainda tem a desfaçatez de citar o saneamento, empurrado para a privatização
total por uma frente com as digitais tucanas.
Depois de Anibal, falou Maite Schneider, fundadora da
TransEmpregos, que disse que a destruição da democracia começa toda vez que a
gente encontra brigas, brigas entre esquerda e direita, brigas entre homens e
mulheres, pretos e brancos etc.
Maite defendeu, como outros e outras que falaram antes e
depois, uma concepção de democracia sem conflito.
Falaram depois Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque. Este
último reclamou que muitos de nós ainda ficamos pensando em 2020 e não no
próximo ano. E disse que precisamos de um plano que nos unifique, elogiando
José Anibal e defendendo um pacto pela superação da pobreza.
Depois vieram Jamila Ribeiro e o deputado federal Eduardo
Barbosa (PSDB MG), que confessou que não imaginávamos que a crise ia se agravar
tanto, dizendo que projetos individuais (não disse de quem) não podem estar
acima de projetos de nação e defendendo sobretudo combater as desigualdades
(não explicou o que isso tem que ver com privatizar o saneamento).
Depois vieram José Nelton, do Podemos de Goiás; a atriz Lulu
Pavarini, o líder indígena Almir Surui e a deputada federal Erica Kokay, que
defendeu uma democracia de alta intensidade, criticou a necropolitica e propôs
arrancar a faixa presidencial que está no peito do fascismo.
Em seguida falou o deputado federal Alexandre Padilha, filho
de pais perseguidos pela ditadura, que lembrou ter sido ministro de Lula e de
Dilma, defensor do SUS, afirmou ter ficado muito triste quando aprovaram o
congelamento (EC95), portanto teria motivos para não estar aqui e para colocar
as divergências em primeiro lugar, mas que os mortos e contaminados pelo
Covid19 leva a que estejamos unidos para barrar o mais rápido possível o
genocida. Defende o Fora Bolsonaro e da recuperação dos direitos políticos do
Lula.
Registre-se, uma vez mais, que a maioria dos que ali estavam
não falou do impeachment, mas enfim...
Depois veio o Eduardo Moreira, apresentado como criador do
movimento somos 70%, diz que chegou a hora de compreendermos que durante todo
este tempo fomos a maioria, criticou a estratégia do medo, que se especializou
em destruir reputações, falou que quer a Amazonia preservada, um governo que ouça
a medicina, que trate a desigualdade como principal assunto, com as regras
democráticas prevalecendo, agregando que cansamos de viver num pais onde antes
as pessoas eram torturadas pela ditadura e agora por esta politica de desigualdade,
direitos já e não aguentamos mais este governo de Bolsonaro.
Divertido este Eduardo Moreira, ele tem um gêmeo que apoiou
o impeachment da Dilma e que atacou Lula e Haddad em 2018.
Depois falou o Roberto Claudio, prefeito de Fortaleza,
orgulhoso de fazer parte deste coletivo; a Carolina Kotscho, que disse ser muito
emocionante estar aqui, que é muito importante estar aqui com a classe politica,
que estamos juntos é um movimento da sociedade civil que acredita na politica,
que é preciso deixar de lado projetos pessoais de poder por um projeto comum de
país. E depois dessa quase citação da pior frase de Frei Beto, Carolina diz que
é hora da elite entender que, se não for por solidariedade, por consciência, por
compaixão, que seja por inteligência, egoísmo, que igualdade é fundamental.
Carolina também diz que é preciso ir além de Bolsonaro, estar junto para o que
vem depois, que este governo já acabou. Ecoa Ciro Gomes na pergunta sobre onde
está/esteve nosso erro, buscar a responsabilidade de cada um de nós. E termina
pedindo que esta não seja mais uma reunião de brancos clamando por igualdade.
Pois é.
Depois entrou na passarela aquele que ganharia o prêmio fantasia
radical da noite: Raul Jungman, segundo o qual "as forças armadas tem tido
um comportamento absolutamente democrático e impecável no seu compromisso
constitucional"!!!
Depois veio o deputado federal David Miranda, defendendo o impeachment
mais urgente, para que a população possa respirar, viver, seguir em frente, renda
emergencial por mais período, pois a fome é a próxima pandemia.
Em seguida veio o jornalista Glenn Greenwald, apelando para
que coloquemos em segundo lugar questões de ideologia, política, partido,
porque quando a democracia está sendo ameaçada nada disto importa. Faz
comentários sobre Trump e a força da democracia nos Estados Unidos que eu não
saberia traduzir.
É assustador ouvir este tipo de coisa, pois não é por razões
“técnicas”, a-ideológicas, a-políticas, a-partidárias, que as pessoas lutam
contra o fascismo e pela democracia.
Depois falam Douglas Belchior, da UNIAFRO; a atriz Lulu, que
lê um poema feito pelo filho dela; o Márcio Jerry, presidente do PCdoB do
Maranhão, que fala da linda passarela, pela qual desfila nosso compromisso com
a democracia; o Danilo Passaro, do Somos Democracia; a Eunice Prudente, que diz
que o povo é titular do poder, que o povo precisa de mais esclarecimentos, que
é pela via da educação em direitos que vamos construir o novo cidadão
brasileiro, informação, crença, esperança em suas lideranças.
A Tabata Amaral é a próxima a falar e também diz estar muito
feliz de participar deste movimento (Direitos Já é, definitivamente, um
movimento de gente feliz em estar juntos).
Depois fala o Estevão André Silva, da Advocacia Negra; e o
Eduardo Jorge, ex-candidato a presidente da República, que diz que em março de
2020 ele constatou a atitude sabotadora do PR quanto a pandemia, desde março
ele vem defendendo que se use outra vez a constituição e que o PR seja impedido
imediatamente, que cada dia dele, mais mortes para a sociedade brasileira, este
é o motivo que une a maior parte da população, que une a maior parte contra ele,
há outros motivos, mas é esse que possibilita o fora Bolsonaro, que deputados
precisam acordar para isso, Fora Bolsonaro já.
Em seguida Mauricio Parrone lê um trechinho da natureza das
coisas, do Lucrecio!! E em seguida FGR introduz na passarela da democracia
aquele que FGR diz ter tido a alegria de ter como professor, o Jose Alvaro Moises,
também conhecido pelo carinhoso apelido de wefraco. E que nos explica que
devemos defender a democratização da democracia, que a democracia tem que
“incorporar as pessoas mais simples”.
Os mais simples...
Depois Gonzalo Vecina nos informa que descobriram que, neste
momento de loucura e desgoverno, estamos sonhando mais, é tempo de sonhar
portanto, sonhar com utopias, igualdade e direitos já.
Depois Gustavo Fruet, ex-prefeito de Curitiba, nos fala da relação
direta entre democracia e qualidade de vida, criticando em seguida o populismo
(sic). Depois vem a poetisa Elisa Lucinda, o Adriano Massuda (que defende
enfaticamente o SUS e ataca a austeridade fiscal) e o Ricardo Borgens Martins,
que alerta para não cair na cilada que a defesa da democracia seja a defesa do
status quo, defender a democracia é entender que só construiremos um país mais
justo por meio da democracia.
Depois a atriz Ana
Petta fala que é uma honra estar aqui, que é um momento muito bonito que já é
histórico, defende as gestões Gil e Juca (não cita a Marta...).
Logo vem o Daniel Cara, que defende uma frente ampla
substantiva, com pão na mesa, educação publica de qualidade, 10% para a escola
pública, o SUS e muitas coisas mais (não cita o saneamento).
Depois é a vez do jurista Pedro Serrano, que defende o
impeachment de Bolsonaro e diz que esta frente só tem um sentido, a saber,
desembocar no impeachment do Bolsonaro.
Ou seja, se Serrano tem razão, e considerando que a maior
parte dos presentes não se declarou a
favor do impeachment...
Depois vem o dramaturgo Kiko Rieser, que lê um trecho de uma
peça de Brecht. E depois Henrique Melo faz uma performance, com direito a bataclava,
luvas, efeitos especiais e tudo o mais.
Depois tem um vídeo do Ubiraci Dantas, da CGTB; outro vídeo da Maria Perpetua, do PCdoB do
Acre; a fala do José Calixto Ramos, presidente da Nova Central Sindical, que
dita a EC95; o deputado federal do PSOL Freixo, o Francisco Weffort, a Leci
Brandão (um ato que renova as esperanças) e o José Gregori, para quem a peste
está entrando pela frente e o autoritarismo pela porta dos fundos.
Por coincidência, o próximo a falar (contra o radicalismo de
direita e de esquerda) foi o Tasso Jereissati. Defendeu o pragmatismo, o bom
senso, o equilíbrio. Definitivamente um cara a favor do saneamento!!!!
Depois temos um vídeo, acho, do André Figueiredo, um
depoimento do Walter Casagrande (orgulhoso do convite), uma performance da
atriz Cleo (bolo, vela, parabéns para voce) e uma canção do Gilberto Gil.
E no final vem o melhor.
Depois de uns vídeos e de uns agradecimentos, FGR diz que “começamos
com Belisário, vamos terminar com Belisário”.
Belisário diz que “foi sensacional”, que seguramente será
possível montar esta frente, porque as pessoas que por aqui passaram mostraram
generosidade, tolerância, quase todo mundo falando direitos já. E engatou
explicando que esta é uma frente ampla, que de início não é eleitoral, mas...
FGR sentiu o perigo e rapidamente reassumiu o comando,
explicando que a frente não é eleitoral, é uma frente pela democracia... e
vamos encerrar.
Pano rápido!!!!
E assim terminou o comício virtual pelos “direitos já”.
Adorei ler o texto, Valter. Bem melhor que a live kkk.
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