Não votei em Gleisi Hoffmann. Não integramos a mesma tendência. Por diversas vezes dissenti de posições adotadas por ela. Ademais, Gleisi não é minha futura candidata à presidência nacional do Partido. Portanto, estou totalmente à vontade para protestar contra o ataque de que ela foi vítima hoje, particularmente em matérias publicadas pelos jornais Valor e O Globo.
Gleisi Hoffmann é presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores. Tem desempenhado um papel extremamente importante na oposição ao governo Bolsonaro e na luta pela liberdade de Lula. Por este motivo, é alvo constante dos ataques da extrema-direita e da grande mídia. Entretanto, os ataques divulgados nesta quarta-feira de cinzas têm outra origem.
As matérias (algumas das quais reproduzidas ao final deste texto) sustentam-se fartamente em declarações anônimas: “O GLOBO ouviu críticas a Gleisi de cinco parlamentares ou integrantes da direção do PT que integram a CNB. Nenhum deles, porém, aceitou falar publicamente sobre o tema, numa demonstração do receio de contrariar Lula”.
Se for verdade, a conclusão é que tem gente que acha razoável usar a grande imprensa para fazer luta interna, acha aceitável falar em público coisas que não fala internamente, mas tem medo de colocar sua assinatura nas críticas, não por causa dos danos causados ao Partido, mas por causa “do receio de contrariar Lula”.
Como jabuti não sobe em árvore, a publicação destas matérias revela que alguns “dirigentes” resolveram deflagrar uma campanha pública para desestabilizar a presidenta nacional do PT.
Como ainda não foi marcada a data para a eleição da nova direção, nem do congresso partidário, esta campanha terá como efeito prático enfraquecer a presidência do Partido, exatamente no momento em que o governo Bolsonaro quer aprovar a reforma da previdência.
Na prática, quem se beneficiaria disto?
Detalhe importante: matérias publicadas hoje dão conta, também, de que estaria em curso uma operação para mudar a tática do PT na luta contra a reforma da previdência. A tática hoje é derrotar a reforma. A tática proposta seria, segundo a imprensa, defender a “nossa” reforma, contra a reforma deles.
O efeito prático disto será confundir a classe trabalhadora.
Esta dupla operação confirma que há uma nova “estratégia” sendo construída, “estratégia” que só faria sentido para quem acha que o governo Bolsonaro estaria desmanchando, havendo espaço para uma saída de curto prazo, uma espécie de governo de “união nacional contra o sanatório geral”, desde que o PT estivesse disposto a “baixar o tom”.
Neste cenário, Haddad cumpriria um papel essencial, mas desde que se dissociasse de certos excessos programáticos e retóricos que alguns atribuem à Gleisi Hoffmann.
Entre estes excessos, na opinião dos tais “dirigentes”, estaria a posição firme de apoio da presidenta nacional do PT à Venezuela. Posição que eles sabem ser a do PT e a de Lula. E sabem que é a única posição possível para um partido que realmente defenda a democracia e a soberania nacional, não da boca para fora, não como uma abstração acadêmica. Mas esta posição de defesa da Venezuela é radical demais para quem deseja converter o PT num partido socialdemocrata, com mais aliados europeus e com menos aliados latino-americanos.
É neste contexto, de pretendida domesticação do PT, que ganharia “sentido” a proposta de fazer de Haddad o novo presidente nacional do PT. Mas como o próprio já deixou claro que esta não é a sua praia, o jeito seria eleger um “presidente-chefe-de-Estado” e um “secretário-geral-chefe-de-governo”. E assim estaria resolvido o dilema de alguns setores que não acham um nome ideal para substituir Gleisi, mas teriam vários nomes para ocupar a tal secretaria-geral.
Neste ponto da narrativa chegamos àquilo que os antigos chamavam de “pedra de toque”: para alguns “dirigentes”, toda esta movimentação tem um único objetivo, que é o de manter a direção nacional do PT controlada por um determinado grupo. O resto todo é “conta de chegar”, argumentos de ocasião e artimanhas que visam atingir o objetivo citado.
A conta de chegar parte de pressupostos falsos, conduz à políticas erradas e inclui atacar covardemente a presidenta nacional do PT, não por seus defeitos, mas por suas qualidades.
Todos nós, do Lula até o mais anônimo filiado, estamos sujeitos a errar e a receber críticas, inclusive duríssimas, inclusive de público. E sempre há o risco destas críticas, inadvertidamente, enfraquecerem ou confundirem a ação do Partido. Até por isto é importante que cada um coloque seu CPF no que fala e faz.
Quem se oculta no anonimato de uma declaração “em off”, quem não assume publicamente a autoria do que fala e pensa, sabe que está agindo contra os interesses do Partido, sabe que está colocando os interesses do seu grupo acima dos interesses do Partido, sabe que está agindo não mais como tendência, mas como "partido dentro do Partido".
Gleisi Hoffmann está certa ao demarcar com estes “supostos personagens que se movem nas sombras e se escondem no anonimato”. Cabe aos filiados julgar se “personagens” assim merecem estar na direção nacional de nosso Partido.
Seguem abaixo alguns dos textos publicados pela grande imprensa
Corrente articula saída de Gleisi Hoffmann da presidência do PT- Sergio Roxo - O GloboPreocupada com o futuro do PT, a corrente majoritária Construindo Um Novo Brasil (CNB) começou um movimento para convencer o ex-presidente Lula a desistir de seu plano de ajudar a eleger a atual presidente, Gleisi Hoffmann, para um novo mandato à frente da legenda.
Para os que o visitam na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, Lula tem sido firme na defesa de Gleisi, uma das principais entusiastas da bandeira “Lula livre”. A eleição para a presidência do PT ainda não tem data, mas a expectativa é que ocorra no segundo semestre.
Líderes da CNB acusam Gleisi de tomar decisões sem consultar os demais membros da direção. Dizem que isso aconteceu, em janeiro, quando ela foi à posse de Nicolás Maduro na Venezuela.
O episódio gerou até uma discussão com o candidato derrotado do partido à Presidência, Fernando Haddad, na última reunião da executiva, no mês passado. Haddad foi questionado sobre as críticas que fez a Gleisi numa entrevista e respondeu que via problema no fato de ela não ter ouvido a legenda. Gleisi rebateu dizendo que o PT já tinha uma posição sobre a Venezuela.
Em 2018, quando tentava se cacifar para substituir Lula como candidato do PT a presidente, Haddad, que sempre teve uma atuação independente, se aproximou da CNB. Parte das lideranças da corrente defende que ele assuma o comando da sigla. Ele resiste.
Em entrevista à “Época” na semana passada, Haddad mais uma vez afirmou não ter interesse em presidir o PT porque pretende seguir com sua vida de professor. Disse que Gleisi tem condições de dirigir a legenda, mas, antes de uma definição sobre isso, o PT deveria discutir os rumos que seguirá diante da nova conjuntura.
Parlamentares ligados à CNB se queixaram da atuação de Gleisi, que é deputada federal pelo Paraná, na condução das negociações para apoiar Marcelo Freixo (PSOL-RJ) para presidência da Câmara. Parte do grupo queria Alessandro Molon.
O GLOBO ouviu críticas a Gleisi de cinco parlamentares ou integrantes da direção do PT que integram a CNB. Nenhum deles, porém, aceitou falar publicamente sobre o tema, numa demonstração do receio de contrariar Lula.
Questionada sobre as críticas, a assessoria de Gleisi informou que ela não iria debater “com supostos personagens que se movem nas sombras e se escondem no anonimato”. Em nota, disse que a decisão de ir à posse de Maduro correspondeu a decisões coletivas com apoio de Lula. Afirmou que a aliança com Freixo foi decidida pela coordenação e lideranças da bancada.
Preso, ex-presidente arbitra sobre futuro de Haddad – Malu Delgado - ValorA sala adaptada da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso, há quase um ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido palco de frequentes reuniões políticas que vão definir os rumos do PT nos próximos anos. Mesmo privado da liberdade, Lula consegue manter a influência sobre todos os passos dos petistas e nenhum movimento interno é iniciado sem que ele seja consultado. Nos últimos dois meses, o PT discutiu maneiras de retomar o protagonismo político de Fernando Haddad e mudanças na direção nacional do partido voltaram à agenda.
O ex-prefeito, que disputou o segundo turno com Jair Bolsonaro em 2018 e terminou o pleito com 47 milhões de votos, passou a cogitar a possibilidade de presidir o PT, segundo dirigentes do partido confirmaram ao Valor. Esta tese havia sido rejeitada por Haddad logo após a campanha eleitoral. Para que isto possa ocorrer, no entanto, é preciso convencer o próprio Lula e mudar o formato de organização da presidência da legenda para que Haddad possa se dedicar a grandes temas e ações que projetem a imagem do PT externamente, sem que tenha que cuidar de questões internas e burocráticas do partido, o que ele se recusa a fazer.
O partido vai iniciar, ainda em março, as viagens de Haddad pelo país. Há quem chame os eventos de "Caravanas Petistas", mas os formatos serão totalmente diferentes dos périplos feitos por Lula de 1993 a 1996, com as Caravanas da Cidadania, quando percorreu 26 Estados, e também entre 2016 e o ano passado, após o impeachment de Dilma Rousseff. Haddad fará viagens de quinta a sábado e não quer comprometer sua agenda de trabalhos acadêmicos como professor no Insper e na USP.
"Não serão caravanas, mas debates", respondeu Haddad, lacônico, ao Valor. Questionado sobre o objetivo destas viagens, disse que a intenção é debater a "conjuntura política e projetos".
Até o momento, Lula defende que a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) seja mantida na presidência da legenda. Há setores do PT, no entanto, que consideram a postura de Gleisi sectária e inadequada para as exigências de união da centro-esquerda na atual conjuntura política.
O papel que Gleisi exerceu no PT é reconhecido por diferentes alas petistas, mesmo as pouco simpáticas à parlamentar. Os petistas são unânimes em afirmar que ela assumiu a defesa do partido no momento mais delicado, com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. A ex-ministra de Dilma é vista, porém, como pouco hábil no diálogo com governadores, parlamentares e outros partidos. Setores petistas a consideram boa interlocutora "para dentro" da militância e com movimentos sociais de esquerda, mas não "para fora".
No dia 15 de fevereiro, Haddad esteve no Ceará. A viagem foi um "piloto" dos futuros encontros. O petista se encontrou com o governador Camilo Santana, de seu partido, e fez uma espécie de palestra com movimentos sociais e lideranças do Estado. A proposta destes eventos é que Haddad sempre tenha uma agenda com lideranças políticas locais, em especial governadores da esquerda, dê entrevistas à imprensa, faça contato com militantes, universitários, religiosos, formadores de opinião e grupos econômicos locais.
"A ideia é voltar a viajar pelo país, mas ainda não temos o detalhamento", disse o deputado Paulo Pimenta (RS), líder do PT na Câmara. Já o deputado federal José Guimarães (PT-CE), que auxiliou a definir a agenda de Haddad no Estado, assegura que a viagem foi o marco de uma grande campanha de mobilização e do calendário de renovação do PT. "Haddad vai percorrer o caminho que Lula nos ensinou. É pé na estrada", enfatizou Guimarães.
Segundo o ex-deputado Márcio Macedo, integrante da Executiva Nacional do PT e um dos organizadores da nova agenda de Haddad, o modelo será totalmente distinto das caravanas. "As caravanas eram do Lula, é difícil caber em outro que não ele."
Lula quer que o ex-prefeito aproveite esses encontros para denunciar sua prisão. O ex-presidente se considera um preso político. Os petistas e advogados que se encontram com Lula frequentemente dizem que a sua resiliência é impressionante, ainda que ele tenha claros momentos de abatimento. Lula enfatiza em todos os encontros que confia na história para manter sua biografia e comprovar sua inocência. A perda do neto Arthur, de 7 anos, na última sexta-feira, foi um profundo baque emocional ao petista, que no mês passado perdeu Vavá, um de seus irmãos mais próximos. Na cerimônia de despedida do neto, ele disse que provará ser inocente.
O PT quer manter acesa a campanha "Lula Livre", mas o objetivo central das viagens de Haddad é fortalecer a sua própria imagem para disputas eleitorais futuras. Segundo Macedo, o ex-prefeito obviamente será um porta-voz par denunciar a situação de Lula pelo país, mas dentro deste "guarda-chuva" cabem vários outros debates, como a reforma da Previdência, as contradições do governo Bolsonaro e a redução de direitos dos trabalhadores. "A ideia é que os debates não sejam só com o PT, mas com outras forças políticas, outros partidos", diz Macedo.
Haddad também vai atuar diretamente em formulações dos Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas (Napps), uma espécie de laboratório de estudos organizado pelo partido que terá diferentes setores: econômico, jurídico, político, ambiental, educacional, de saúde, de segurança, entre outros. Esses núcleos vão acompanhar medidas do governo de Jair Bolsonaro, elaborar análises profundas e também projetos alternativos e distintos da direita que está no poder. Os estudos e projetos vão dar suporte a parlamentares, governadores e futuros candidatos.
Além do próprio Haddad, o ex-ministro Aloízio Mercadante foi chamado para auxiliar na formulação do Napps, ao lado de Ricardo Simões, ex-secretário de formação política e de movimentos populares do PT.
Lideranças petistas têm se alternado em visitas a Lula. No início do mês, o ex-presidente do PT Rui Falcão e Mercadante estiveram em Curitiba. A pedido de Lula, Rui Falcão terá procuração para visitá-lo como advogado. Haddad teve a procuração cassada, porque se registrou como advogado eleitoral. Uma nova procuração já foi formulada e ele entrará no rol de advogados criminalistas. O ex-presidente também recebeu o senador Jaques Wagner e o governador Wellington Dias. Entre o grupo de petistas que querem mudanças na direção do PT é forte a defesa para que um nome do Nordeste possa assumir o partido com Haddad.
Se Lula concordar com este formato, o PT pode retomar um modelo de direção em que a figura do secretário-geral cuida das dinâmicas internas e o presidente faz o debate público, como funcionou com a dobradinha Lula-José Dirceu. Somente assim Haddad concordaria em assumir a presidência. Mas, antes, é preciso que Lula diga sim.
*COLUNA PAINEL-POSICIONAMENTO DO PT SOBRE A REFORMA*
O PT avançou no debate sobre a posição que deve assumir durante a discussão da reforma da Previdência de Jair Bolsonaro. Está praticamente decidido que o partido defenderá uma proposta com a sua marca, diferente da do presidente. Ala importante da sigla prega que seus deputados adotem as medidas que estavam no plano de governo de Fernando Haddad em 2018: primeiro uma mudança nos regimes próprios, focada nos servidores públicos, fundada no discurso de corte de privilégios. Integrantes da legenda dizem que há o entendimento entre os seus principais líderes de que não basta só se opor ao modelo defendido pelo ministro Paulo Guedes (Economia). O PT reunirá seus dirigentes, governadores e parlamentares em um seminário em Brasília no dia 14 para tratar das mudanças nas regras de aposentadoria. Na véspera, o PSDB também vai discutir a reforma proposta por Bolsonaro com os economistas Paulo Tafner e Felipe Salto.
*COLUNA PAINEL – ELEIÇÕES NO PT:
Dirigentes da sigla do ex-presidente Lula já cogitam adiar a eleição da nova cúpula do partido. O grupo que prega a substituição de Gleisi Hoffmann (PT-PR) reconhece que ainda não conseguiu viabilizar um nome competitivo para o posto.
Não tenho direito a opinar em questões internas do PT. Se estivesse no Partido não corria nem em Gleisi nem em Haddad. Mas pelas questões de princípio, defendidas por VAlter Pomar, assino embaixo de sua postagem
ResponderExcluirPomar tem inteira razão . Agir nas sombras é grave e covardia .
ResponderExcluirSou petista filiada há três décadas. Naturalmente já tive divergências na conduta do PT. No entanto, considero vergonhosos os depoimentos à imprensa (se é que existiram de fato) como estratégia de conduzir disputas internas do partido. Não bastassem todos os desafios que temos de nfrentar nesse desgoverno Bolsonaro, ainda teremos de lidar com isso? Sejamos claros: a hora requer muito mais de nós na "responsabilidade coletiva" de confrontar esse governo em absolutamente tudo o que ele significa. Não há negociação possível.
ResponderExcluirEm tempo: sou muito mais Lulista do que há fui. #Lulalivre
Complicadíssima está a situação do partido.
ResponderExcluirAnálise perfeita Pomar. Assino em baixo.
ResponderExcluirEsse é o companheiro Valter Pomar, lúcido, integro, sincero e comprometido com o partido. O PT está acima das nossas divergências internas.
ResponderExcluirSou presidente do PT Vila Velha, admiro muito a Gleisi, uma mulher que não se abala, é firme nos seus posicionamentos, é muita burrice um ataque interno nesse momento em que a conjuntura política está favorável a esquerda, lamento muito essa situação.
ResponderExcluirSou petieta desde sua fundação quando em Moçambique em 1981 criamos um Núcleo do PT, sob a orientação do Companheiro Apolônio de Carvalho já de volta ao Rio de Janeiro, do longo exilio em diversos países.
ResponderExcluirJá apredentado, venho declarar meu apoio alà posição do Companheiro Valter Pomar
Valter, agora descobri que vc não é nem Haddad nem Lula. Quem é o outro "bonitão" do PT que tá querendo ser candidato no lugar de Lula?
ResponderExcluirTemos algumas figuras do PT que só conseguem agir e pensar nos limites da institucionalidade, para manter os espaços na máquina do partido.
ResponderExcluirComo sempre, uma ótima análise.LULA LIVRE! Abraços professor Valter.
ResponderExcluirSe o Macron brasileiro assumir o PT, adeus partido. Andrade não é Lula.
ResponderExcluirBoa, Valter!
ResponderExcluirAjudei a criar o partido no sentido que a luta politica não é individual;mas hoje os projetos individualista leva isso.Presidenta politica tem lado
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