terça-feira, 31 de julho de 2018

A questão da vice de Lula

(primeira parte)

Lula será inscrito candidato à presidência da República no dia 15 de agosto. Quem será inscrito à vice-presidência junto com Lula?

Alguns gostariam que fosse Ciro ou Boulos. Mas ambos são candidatos à presidência e não cogitam a vice.

Também são considerados vários nomes do PT e a companheira Manuela, do PCdoB.

Há algum tempo, a direção do PT ofereceu publicamente a candidatura a vice como parte das negociações com o PSB e o PCdoB. 

Analisemos primeiro a alternativa socialista.

O PSB apoiou Aécio no segundo turno de 2014, envolveu-se profundamente no golpe de 2016 e em vários estados do Brasil participa ou apoia governos e candidaturas de direita (como é o caso de SP e RS). 

Aliás, considerado este histórico, é bastante ousado oferecer a vice para o PSB. Até porque, se for necessário alterar a chapa, isto terá que ser feito pela coligação, não apenas pelo PT.

Seja como for, apesar de existir um importante setor pró-Lula no PSB, não se acredita que haja maioria na Convenção socialista para decidir apoiar Lula e indicar seu vice.

E o que a Convenção do PSB poderia decidir?

Até onde sabemos, ou lançar candidatura própria, ou apoiar Ciro, ou optar pela "neutralidade", ou seja, não apoiar nenhuma candidatura  à presidência. Neste caso, cada setor do PSB faria o que quisesse.

Dentre estas alternativas ruins, o melhor para Lula e para o PT seria evidentemente a "neutralidade". 

Um problema é que, ao que tudo indica, o grupo majoritário na direção do PSB só optaria pela "neutralidade" se o PT retirasse a candidatura de Marilia Arraes ao governo de Pernambuco.

Ou seja: para este setor do PSB, sua posição nacional (de "neutralidade") dependeria de um acordo estadual. 

No PT este modo de pensar causa evidente constrangimento, por variados motivos. 

Mesmo assim, há quem defenda que a neutralidade do PSB seria tão importante, que justificaria a retirada da candidatura de Marilia Arraes ao governo de Pernambuco, desde que o PSB também retirasse a candidatura de Marcio Lacerda ao governo de MG.

Entre outros argumentos, diz-se que tal movimentação teria como efeito colateral consolidar a aliança com o PCdoB.

Todos sabemos que Lacerda é um dos muitos tucanos abrigados no PSB. E há diferentes opiniões sobre que impacto teria uma eventual retirada de Lacerda, nas chances de reeleição de Pimentel em MG. Mas o problema maior, ao menos visto do ponto de vista de um setor do PT, está no "desde que".

Pois, falemos claro, este tipo de abordagem desequilibra muito demais a relação que deve existir entre as questões nacionais e as questões estaduais. 

Esta mesma lógica desequilibrada está conduzindo o PT a compartilhar chapas majoritárias e proporcionais com partidos golpistas em vários estados do país. Em alguns casos, acordos regionais, negociações em torno do tempo de  horário eleitoral gratuito e outras questões são apresentados e defendidos como se fossem a materialização dos "interesses nacionais" --como se os últimos anos já não tivessem demonstrado que acordos nestas bases são, além de frágeis, perigosos.

Os defensores desta postura subestimam seus efeitos deletérios, especialmente sobre o animo da "nação petista".

Claro que se conseguirmos que Lula esteja na urna eletrônica, os danos diretamente eleitorais serão minimizados. Mas os defensores daquela postura sabem muito bem que se Lula for oficialmente candidato, estes acordos também serão eleitoralmente menos relevantes do que se pinta.

O que parece empurrar alguns setores a, mesmo assim, considerar positivo cometer tais acordos é o medo do que pode ocorrer se a direita conseguir impedir o registro de Lula. 

O que os defensores daquela postura não percebem é que, num cenário em que Lula fosse impedido de ser oficialmente candidato, portanto num cenário em que a eleição virasse fraude, o que quer que façamos teria que estar mais do que nunca baseado na grande política, em alianças programáticas e no engajamento apaixonado da militância. 

É muito importante a aliança com o PCdoB. Assim como seria muito importante conseguir uma efetiva aliança nacional com o PSB. Mas se ilude quem acha que isto será obtido trocando Arraes por Lacerda.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Certas alianças são inaceitáveis

Um setor do PT comporta-se, nas eleições estaduais deste ano, como se ainda estivéssemos em 2010 ou 2014. Defendem a adoção de uma tática eleitoral e "ampla" política de alianças, semelhantes àquelas adotadas naquelas duas oportunidades.

Isto é proposto inclusive em estados onde disputamos a reeleição de governos bem avaliados, onde Lula e o PT exibem altos índices de aprovação. Ou seja, estados onde certamente temos boa margem para arriscar, na perspectiva de contribuir para deslocar a correlação de forças para a esquerda.

Mas não. A opção daquele setor do PT é "bourbon", conservadora, temerosa. Um dos resultados dessa postura, se o DIretorio Nacional do PT não fizer nada a respeito, poderá ser mantermos nosso espaço nos governos estaduais mas, ao mesmo tempo, contribuirmos para manter e as vezes até aumentar a força dos neoliberais no Senado e na Câmara dos Deputados.

E ainda existe quem defenda, neste contexto, a retirada da candidatura própria do PT em Pernambuco. Tese que, se vingasse, na melhor das hipóteses congelaria a correlação de forças institucional no Nordeste tal e qual era em 2014, com exceção do Rio Grande do Norte.

Os defensores desta tática e política de alianças parecem pensar que um resultado como o indicado no parágrafo é o melhor que podemos obter; e que, em tempos de golpe e retrocesso, já estaria de bom tamanho manter o que temos.

Se o Brasil se resumisse a cada um dos estados citados anteriormente, o pensamento acima já seria questionável. Mas não é assim que as coisas são. Dito de outra forma: repetir hoje a tática e as alianças de 2010/2014 não nos ajuda a derrotar o golpe, não nos ajuda a reconquistar a presidência da República, não nos ajuda a governar o Brasil e, ademais, será um peso negativo (inclusive para os governadores petistas que se reelejam) caso os golpistas vençam em 2018.

Comecemos por esta última possibilidade: em caso de vitória presidencial golpista em 2018, cada concessão feita agora vai custar muito caro, inclusive em 2022. Aliás é paradoxal que gente tão atenta para a dimensão institucional minimize este detalhe.

E se a esquerda vencer na presidencial de 2018? Neste caso as concessões feitas serão um freio de mão puxado. O que atrapalhará muito um governo que se propõe a adotar medidas mais radicais.

E na campanha presidencial de 2018? Tendo em vista que Lula lidera as pesquisas em todos os estados em que se fez amplas alianças (e aliás é fundamentalmente por isso que partidos de direita topam aliar-se com o PT), é possível argumentar que caso Lula seja o candidato, as amplas alianças não causarão grande dano à campanha presidencial. Ou seja: os palanques que cedemos a partidos que tem outros candidatos presidenciais terão pouca chance de fazer estrago. Admitamos, por hipótese, que isto pode ser assim. Mas e se não for? Nesse caso, nossos "aliados" estaduais terão um grande espaço para nos causar danos severos. Sem falar, é claro, na dúvida acerca de como vão se comportar certos governadores num cenário em que os golpistas tirem Lula da urna eletrônica.

Mas o problema principal causado por alianças com a direita não é futuro, é presente: não há argumento capaz de explicar como alianças com golpistas ajudam a derrotar o golpe.

Por tudo isso, não há como negar que existe uma contradição entre a tática nacional do PT e a tática implementada em alguns estados. 

Alguns acham que esta contradição é apenas aparente, outros acham que é inevitável, em nosso caso achamos que é inaceitável.

Deste ponto de vista, o caso do Ceará não se distingue de outros.

O chocante no caso do Ceará é que nele a contradição chegou a tal ponto que não é mais óbvio, natural e evidente que um governador filiado ao PT deva fazer campanha para a candidatura do PT à presidência.


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Respostas para a Manuela Azenha

Segue ao final a versão completa da entrevista concedida, por escrito, para a Manuela Azenha, parte da qual foi aproveitada no texto disponível no endereço abaixo:

https://www.nocaute.blog.br/2018/07/26/maringoni-censura-ufabc-lula/


Qual a sua opinião sobre você, o Pomar e o Giorgio Romano serem investigados por uma Comissão de Sindicância Investigativa? É a primeira vez que isso te acontece? O que isso diz sobre a autonomia universitária e a liberdade de cátedra?

Entrei na UFABC através de um concurso realizado no final de 2014 e tomei posse no início de 2015. 
É a primeira vez que sou submetido a esta situação. 
Considero o episódio grave em três sentidos diferentes. 
Primeiro, pelo fato de ser uma denúncia anônima. 
Há toda uma polêmica sobre a validade ou não de denúncias anônimas. 
Mas é óbvio que não há, no caso em tela, nenhuma justificativa para que se faça uma denúncia anônima.
A banalização deste instrumento cria um ambiente de denuncismo, de assédio moral, de autocensura.
Segundo, por ameaçar o ambiente indispensável a atividade acadêmica. 
O fato: um professor publica um livro e faz o lançamento dele num debate, em que se apresentam opiniões políticas sobre o que está ocorrendo no Brasil.
Se isto for considerado passível de investigação, é porque é considerado passível de processo. 
E se isto é considerado passível de processo, então a diversidade, a autonomia e a liberdade estão sob ameaça.
Terceiro, por desrespeitar a Constituição. 
É inaceitável criminalizar as liberdades democráticas.
É inaceitável confundir os limites que um servidor público tem, no trato com a população, dos direitos que um cidadão tem -- servidores incluídos -- de manifestar sua opinião política participando de um lançamento de um livro.


Quem será o responsável por decidir sobre a aplicação ou não de uma punição? E quais são as possíveis punições? Quando isso será decidido?

Não tive acesso a denúncia. 
Assim, cabe a Universidade, particularmente a Reitoria e a Corregedoria, responder sobre os procedimentos e prazos.
No momento, está instalada uma comissão de investigação.
Três professores foram convidados a responder um questionário absolutamente bizarro.
Não respondemos e tornamos pública a situação.
Esta denúncia será arquivada.
O mais importante é que este tipo de denúncia não volte a ser considerada passível de investigação.

A denúncia foi feita sob anonimato, mas vocês têm alguma pista de quem possa ter sido responsável?

Alguém tosco, muito tosco.
Basta dizer que eu não sou autor do livro que foi lançado, não sou organizador do ato de lançamento e não estive presente na atividade.
Mas alguém muito tosco deve me achar com cara de suspeito.

Nas eleições de 2014, Vitor Marchetti e outros dois professores da UFABC foram denunciados por darem entrevistas defendendo a candidatura de Dilma. Existe um movimento de censura e criminalização da esquerda dentro das universidades e, mais especificamente, dentro da UFABC?

Sofremos um golpe em 2016,o governo golpista ataca a soberania nacional, as liberdades democráticas e os direitos do povo.
Querem fraudar a eleição presidencial de 2018, Lula está preso.
Neste contexto, há uma ofensiva específica contra a educação. 
O projeto Escola sem partido é um dos principais símbolos disto. 
As Universidades também são alvo de ataque. Vide a tentativa de criminalizar os cursos sobre o golpe.
O que está ocorrendo conosco é, portanto, parte de um contexto mais geral.
A denúncia anônima contra nós é, portanto, também um ataque contra o projeto pedagógico da UFABC.

E qual tem sido a postura da UFABC sobre essa comissão? Maringoni escreveu que a investigação foi feito a pedido da CGU e enviado à universidade. Ela poderia ter se negado fazê-la?

Claro que poderia.
A sindicância foi aberta por um organismo da universidade.
Do ponto de vista fático, formal, é um organismo da universidade que está nos investigando.
Não importa de onde tenha vindo a denúncia, sempre é feita uma triagem, um filtro, uma análise preliminar.
Esta triagem deveria ter levado ao arquivamento imediato.
Pelo visto, a Corregedoria achou melhor investigar primeiro, antes de arquivar.
Mas não se deu conta de que, ao fazer isto, estava naturalizando e em certa medida legitimando um absurdo completo e inaceitável.
De forma geral, a comunidade universitária criticou duramente a tal sindicância investigativa.
No dia 31, a Associação Docente vai reunir-se com a reitoria. 
Confiramos que a reitoria tome medidas práticas para defender a Constituição, preservar a autonomia universitária e barrar este denuncismo.
De preferência que o faça antes da reunião.

Quem são as pessoas que fazem parte dessa comissão?
São colegas de trabalho.
Não são "investigadores", são trabalhadores como nós.
E que, portanto, também precisam de uma proteção institucional contra o denuncismo.
Esperamos que o enfrentamento público do problema tenha como efeito colateral mudar alguns procedimentos da Corregedoria e,
assim, garantir a estes colegas (e a qualquer um de nós que seja no futuro convocado à mesma posição) a orientação e a proteção
institucional adequadas para lidar com situações como esta que estamos vivendo.
É preciso que exista uma clara orientação institucional no sentido de impedir o desperdício de recursos públicos, o desrespeito às determinações constitucionais, a ameaça às liberdades acadêmicas e inclusive as pequenas vinganças pessoais que podem resultar da formalização de certo tipo de "denúncia anônima".

terça-feira, 10 de julho de 2018

A hora da bastilha


Durante a manhã, a tarde e o início da noite do dia 8 de julho de 2018, a Polícia Federal recusou-se a cumprir imediatamente uma ordem judicial que determinava a soltura do presidente Lula.

A desobediência da Polícia Federal tinha como objetivo criar as condições para anular o habeas corpus obtido por Lula.

O habeas corpus fora concedido pelo desembargador Rogério Favreto, que no final-de-semana de 7 e 8 de julho era responsável pelo plantão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).

Ao não cumprir imediatamente a ordem de soltura, a Polícia Federal manteve o presidente Lula sequestrado por várias horas, sequestro respaldado pelo ministro da Segurança Pública Raul Jungmann e apoiado pelo oligopólio da comunicação.

A primeira tentativa de anular o habeas corpus partiu do juiz Sérgio Moro, que a imprensa noticiou estar de férias e fora do país.

A segunda tentativa partiu do desembargador Gebran Neto, relator do processo contra Lula no TRF4.

Contra estas duas tentativas, o desembargador Rogério Favreto reafirmou sua decisão.

No final do dia 8 de julho, o desembargador presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), Carlos Eduardo Thompson Flores, determinou que o presidente Lula deveria continuar preso.

O descumprimento da ordem de soltura por parte da Polícia e a anulação do habeas corpus --sem respeitar nem os ritos, nem os escrúpulos -- não devem surpreender ninguém: golpistas são golpistas!

Portanto, aplicam o “estado de direito” quando lhes convém, reservando aos seus inimigos o “estado da direita”.

E por qual motivo não cumpriram os ritos?

Porque respeitar os ritos, seguir os procedimentos, implementar o devido processo legal, implicaria em aceitar que o presidente Lula passasse pelo menos algumas horas, talvez alguns dias, fora da cadeia.

Essa possibilidade atemoriza os golpistas mais do que qualquer outra coisa.

Porque Lula livre conduz a Lula candidato, Lula candidato conduz a Lula presidente, Lula presidente conduz à derrota do golpe.

Note-se que o habeas corpus foi concedido em resposta ao seguinte fato: o presidente Lula não teve seus direitos políticos cassados, é pré-candidato à presidência da República e está sendo impedido de participar das atividades da pré-campanha.

A juíza responsável pela execução da pena recebeu vários pedidos, por parte da defesa do presidente, para garantir por exemplo o direito de Lula conceder entrevistas aos meios de comunicação.

Como a juíza não respondeu a estes pedidos, três parlamentares federais impetraram um habeas corpus junto ao TRF4. E o desembargador Rogério Favreto acolheu o habeas corpus.

Ou seja: a decisão do desembargador parte do princípio que Lula pode ser candidato. 

Fica óbvio, portanto, o motivo pelo qual a soltura de Lula, por este motivo em particular, era algo absolutamente intragável para o golpismo.

A decisão do desembargador Rogerio Favreto pode ser lida no endereço abaixo:


A decisão do desembargador é uma lição para todos os integrantes do poder judiciário que discordam do “Estado de exceção”: decisões individuais e monocráticas, mesmo que venham a ser desacatadas e revertidas pela quadrilha golpista, cumprem um papel importante na conscientização e mobilização política.

A decisão do desembargador é, também, uma lição para quem está engajado na defesa do presidente Lula. Ele quase foi solto por um habeas corpus fundamentado em argumentos políticos. E não, como se vinha tentando, em base a argumentos técnicos, nem pelo fato de ter sido condenado injustamente.

A decisão do desembargador revela, por fim, as fragilidades e fortalezas do golpismo.
Uma destas fragilidades é a evidente ilegalidade e perseguição movidas contra o presidente Lula, que vão ao ponto de juízes estimularem policiais a desrespeitarem uma ordem judicial.

Já uma das fortalezas consiste na articulação entre setores dominantes no aparato judicial, policial e midiático.

Noutros termos: eles estão decididos a fazer qualquer coisa e, ao menos por enquanto, tem os meios para fazer qualquer coisa.

E o que mais eles podem fazer?

1.Os golpistas mantiveram Lula preso, mas perderam a batalha da opinião pública no dia 8 de julho. Farão de tudo para reverter esta derrota, tentando apresentar a decisão do desembargador Rogério Favreto como artimanha partidária, erro técnico e ilegalidade. Buscarão estigmatizar Favreto, para atemorizar outros garantistas. É preciso responder a esta ofensiva.

2.Os golpistas dizem que Lula não poderá ser candidato, mas não tem como impedir que ele registre a candidatura no dia 15 de agosto. Entretanto, os golpistas podem tentar antecipar simbolicamente a decisão, para estimular dúvida e confusão no eleitorado de Lula. Ou até podem tentar constitucionalizar, no STF, a prisão em segunda instância: nesta hipótese, a maioria de 6 a 5 contra o habeas corpus de Lula poderia se repetir, agora como maioria de 6 a 5 contra o preceito constitucional da presunção da inocência. É preciso se preparar para cada uma destas possibilidades.

3.O núcleo duro dos golpistas enfrenta dificuldades eleitorais. Seus candidatos preferidos (como Meirelles e Alckmin) não chegam a 10% das intenções de voto. As pesquisas informam que todas as candidaturas golpistas, Bolsonaro inclusive, perdem para Lula no primeiro e no segundo turno. Os golpistas podem tentar acelerar a unificação entre eles, inclusive apostando em algum nome de “centro” que aceite o papel de candidato alternativo a Lula e ao PT. É preciso desmascarar estas movimentações e encorpar ainda mais nossa força eleitoral.

4.A política do governo golpista, as decisões do Parlamento e do Judiciário jogaram o país na crise, na regressão e no caos. Os golpistas continuam encaminhando medidas, como no caso da Embraer e da Eletrobrás, que no limite buscam tornar irreversível a regressão neoliberal. Alguns dos desdobramentos disto puderam ser vistos no movimento dos caminhoneiros, que alguns dizem pode ser retomado proximamente. Como solução ao caos que eles mesmos criam, os golpistas agitam cada vez mais o espantalho da “ordem unida”, leia-se, de uma intervenção e/ou golpe militar. É preciso deixar claro quem está por trás do caos e o caos ampliado que especulam causar.

Que podemos fazer diante disso? Por exemplo:

1.Travar a “batalha das narrativas”, sempre explicando o pano de fundo: os golpistas mantém Lula preso e querem impedir sua candidatura, para seguir prejudicando o povo brasileiro, pisoteando as liberdades democráticas e golpeando a soberania nacional. Centrar fogo no aparato judiciário e no oligopólio da mídia. É preciso uma ação de comunicação de outra qualidade e potência.

2.Apoiar ativamente a luta do movimento sindical e popular contra o governo golpista e suas medidas. A paralisação do dia 10 de agosto cumpre papel importante neste sentido. Jogar energias na mobilização de massa.

3.Apresentar ao país nosso programa emergencial, destacando a revogação das medidas golpistas e a convocação de uma Assembleia Constituinte.

4.Transformar a inscrição da candidatura de Lula, no dia 15 de agosto, num grande ato de massas. O ideal é que a candidatura seja respaldada por um abaixo-assinado em que milhões de brasileiros e de brasileiras apoiem a inscrição. É preciso ter pelo menos 100 mil em Brasília para inscrever Lula.

5.Articular a mobilização interna com a mobilização internacional. Há um potencial imenso, ainda subaproveitado.

6.Preparar-se para o agravamento das tensões e das ameaças.

Uma das ameaças recorrentes é a da intervenção militar. Não devemos subestimar este risco, até porque certa intervenção já está em curso: militares assumindo cada vez mais postos e tarefas no governo federal, militares da ativa fazendo “pronunciamentos”, pesquisas indicam que cresce o apoio a uma ditadura como saída para a crise, fortalecimento da “versão eleitoral” do golpe, que é a candidatura de Bolsonaro.

Mas não se enfrenta um golpe, capitulando frente a ele. Não se enfrentam ameaças de intervenção e ditadura militar, recuando e calando covardemente. Não se derrota os golpistas, com candidaturas que aceitam o golpismo. E, principalmente, não se derrota uma candidatura como a de Bolsonaro, sem apresentar uma saída popular para a crise econômico-social alimentada pelo programa “ponte para o futuro”.

Neste sentido, não há como separar a chamada questão democrática da luta em defesa das condições de vida das camadas populares.

É por isso que dizemos: contra o golpismo, contra as ameaças de ditadura militar, contra Bolsonaro, contra o caos, neste momento só há uma saída ao mesmo tempo democrática e em favor dos setores populares: a eleição de Lula.

Claro que a eleição de Lula provocará reações dos golpistas de 2016 e dos que defendem o golpe-dentro-do-golpe. Mas iludem-se os que acham que será possível derrotar o golpe, sem travar enfrentamentos e sem correr riscos.

Outra ameaça recorrente é a de que o Partido dos Trabalhadores corre o “risco de isolamento.” Entre os que falam isso, há muita gente de boa fé, motivo pelo qual é preciso explicar pacientemente qual o problema e como enfrentá-lo.

Existem cerca de 20 pré-candidaturas presidenciais. Hoje uma delas, a de Lula, tem mais força eleitoral que todas as demais somadas. Isso não elimina a necessidade de ampliar os apoios. Mas coloca o problema no grau devido.

Destas cerca de 20 pré-candidaturas presidenciais, quatro se posicionaram contra o golpe: Lula (PT), Manuela (PCdoB), Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT).

Dos demais partidos que são ou foram da esquerda brasileira, o Partido Comunista Brasileiro deve apoiar a candidatura de Boulos. O Partido da Causa Operária deve apoiar a candidatura de Lula. O Partido Socialista Brasileiro, que apoiou e articulou em favor do golpe contra a presidenta Dilma, tende neste momento a apoiar Ciro Gomes. E a Rede, que também apoiou e articulou em favor do golpe, tem Marina Silva como sua candidata. E o PSTU, que para ser gentil lavou as mãos diante do golpe, também terá candidatura própria.

Sendo assim, é por definição muito estreito o leque de alternativas partidárias com quem o PT poderia fazer alianças no primeiro turno da disputa presidencial. E mesmo estes possíveis aliados teriam que estar dispostos a aceitar a tática de inscrever Lula e uma candidatura a vice-presidência também petista no dia 15 de agosto.

Portanto, independente da política de aliança que se defenda adotar nos estados – acerca desta política há óbvias divergências -- a política de alianças nacional será basicamente com movimentos sociais e lideranças democráticas.

Entretanto, este indesejado “isolamento de alianças partidárias” não implica em isolamento eleitoral, nem no segundo turno, nem no governo. Aliás, se fosse assim, 11 governadores (12 com o do Amapá) não teriam se pronunciado em seguida ao 8 de julho.

Entre as ameaças, está também a falta de esperança que volta-e-meia atinge alguns dirigentes da esquerda brasileira, contaminando por tabela a militância, nossas bases sociais e nosso eleitorado.

De fato, as coisas estão difíceis e podem ficar ainda mais difíceis. E erra muito feio quem pintar um quadro cor-de-rosa.

Mas observemos a coisa do ângulo dos inimigos do povo: eles deram um golpe, controlam o aparato de Estado, os meios de produção e de comunicação, tem maioria no parlamento e mesmo assim estão com dificuldades para derrotar Lula e o PT nas eleições de 2018.

A nossa resiliência tem bases objetivas e subjetivas, entre as quais se destacam os efeitos da “ponte para o futuro” golpista sobre as condições de vida da classe trabalhadora depois de 2016 versus a memória das transformações positivas que ocorreram depois de 2003.

Nossa resiliência é um dos motivos que torna possível derrotar o golpismo. É, portanto, uma das bases reais da esperança.

A esperança não garante a vitória. Quem garante a vitória é a luta. Vence a luta quem combina adequadamente força e política correta. Mas só luta de verdade quem acredita que pode vencer.

Neste sentido, o ocorrido no dia 8 de junho ajudou a demonstrar, para centenas de milhares de militantes e para milhões de simpatizantes, que a luta pode tornar factível o que antes parecia totalmente impossível.

Uma quarta ameaça que enfrentamos é a distância entre a teoria e a prática de vários de nossos dirigentes e militantes.

Antes, predominava entre nós a ilusão republicana no lado de lá. E a prática era coerente com isso: não nos preparamos à altura para enfrentar o golpe.

Hoje, está quase predominando entre nós a percepção de que o lado de lá não tem limites, não tem escrúpulos e não tem dúvida sobre o que deseja: manter Lula preso, fraudar as eleições 2018, fazer a esquerda brasileira deixar de ser alternativa de governo, matar qualquer chance futura de sermos alternativa de poder e, fazendo tudo isto, criar as condições para ampliar a desigualdade social, esmagar as liberdades democráticas e pisotear a soberania nacional.

Entretanto, embora na teoria a ilusão republicana tenha perdido muito espaço, na prática seguem predominantes os “hábitos de tempos pacíficos”.

Acontece que agora “os tempos são de guerra”. Sendo assim, é preciso fazer o lado de lá perceber que temos escrúpulos e que por isso mesmo estamos dispostos a fazer tudo o que for necessário para defender nossos direitos e liberdades.

E quem é o “lado de lá”?

Para muitos militantes, o lado de lá tem nome e sobrenome. Por exemplo: Sérgio Moro.

Para outros, o lado de lá tem CNPJ: a Rede Globo, por exemplo.

A grande maioria ainda não compreendeu que o “lado de lá” não é este ou aquele golpista, esta ou aquela empresa ou instituição. O lado de lá é tudo isso, mas é muito mais.

O lado de lá é a classe dominante brasileira e seus aliados internacionais.

Este é o tamanho do inimigo que precisamos derrotar.

Esta classe dominante e seus aliados tomaram a decisão e a estão aplicando: não respeitam a legalidade, nem aceitam que o povo eleja livremente o próximo presidente da República.

Esta é a conclusão teórica a que está chegando a maior parte da esquerda brasileira. 

Mesmo assim, e por isto mesmo, e corretamente, temos aproveitado toda e qualquer brecha que nos permita fazer prevalecer a legalidade e as liberdades democráticas. A síntese disto é Lula livre, Lula candidato e Lula presidente.

Mas caso a classe dominante mantenha Lula preso e impugne sua candidatura, qual será a conclusão prática que vamos tirar disto?

Especificamente no caso das eleições presidenciais, que tática vamos adotar?

Dizem que esta decisão deve ser tomada depois de 15 de agosto, caso sejamos derrotados. Isto é verdade.

Outros dizem que antecipar a discussão sobre esta possibilidade pode prejudicar nosso posicionamento futuro. Isto já não é tão verdade.

Pois embora a tática frente a uma fraude não seja uma questão de princípio, é uma questão de princípio falar a verdade para a classe trabalhadora e para o povo brasileiro.

E a verdade é que eleição sem Lula é fraude.

E, cá entre nós, se ordem judicial a favor pode ser desrespeitada, a recíproca é verdadeira. Só assim caem algumas bastilhas.