1.Vivemos um momento de derrota. É preciso reconhecer isto com todas as
letras. Um partido habituado a medir suas vitórias apenas em termos
eleitorais, acaba medindo suas derrotas também apenas em termos eleitorais. Focar
apenas nos resultados eleitorais é um erro, entre outros motivos porque nos
impediria de perceber que tragédias maiores já ocorreram no passado, perdas
maiores estão ocorrendo no presente e podem vir a ocorrer no futuro.
2.Momentos de derrota são momentos de confusão, tanto no terreno
"prático" quanto no terreno das ideias. Há vários aspectos que
concorrem para isto:
a) grande número de pessoas que concordavam conosco, passam a aderir ou
capitular ou silenciar frente às ideias dos adversários e inimigos;
b) muitos aderem à tese de que "a culpa é do PT" (vide
Freixo), reforçando direta ou indiretamente o discurso da direita, nos
empurrando para um tipo de debate que torna ainda mais
difícil tanto a resistência quanto a retomada da ofensiva;
c) além disso, há as nossas dificuldades --dificuldades do próprio PT--
em produzir um balanço de "como aquilo deu nisto" e em produzir uma
alternativa.
3.Sobre nossas dificuldades, é preciso perceber que elas afetam tanto
quem integra o grupo atualmente majoritário no Diretório Nacional, quanto setores
da chamada esquerda petista.
4.No grupo atualmente majoritário, há setores que resistem em admitir
que parte importante da derrota deve-se não só à práticas incorretas, mas
também a concepções incorretas. Outros setores tentam interpretar a derrota e
buscam definir os próximos passos, utilizando os mesmos pressupostos teóricos
que adotavam antes. Ou seja, não fazem uma autocrítica no plano da teoria, no
plano das suas visões programáticas e estratégicas.
5.Já na chamada esquerda petista, nem todos percebem que as críticas que
fazíamos não são iguais a um balanço; e que as alternativas que propúnhamos até
31/8/2016 não servem como alternativa para a situação atual. Propúnhamos
alternativas para uma situação em que éramos governo. Hoje é preciso construir
outro programa, outra estratégia e outro padrão de funcionamento. Ao menos por enquanto, não existe unidade a este respeito no chamado Muda PT (além de existirem diferentes análises acerca do futuro imediato próprio Partido). A leitura daquilo que nós da AE escrevemos desde 1993,
especialmente desde 2003, é muito útil, mas insuficiente. Podemos nos orgulhar do papel que cumprimos em vários momentos da história do Partido, especialmente em 1993 e 2005; mas tampouco queremos ter um grande passado pela frente. Devemos nos esforçar para ajudar o PT a superar a crise atual.
6.Para sair da confusão será necessário algum tempo, muito esforço prático
para reconstruir os laços com a classe trabalhadora, e também muito esforço
teórico. E não devemos subestimar o risco de errarmos na análise e nas
propostas.
(Os autores do Manifesto achavam que uma
revolução socialista estava próxima; a primeira revolução socialista vitoriosa
foi ocorrer uns 70 anos depois. Os revolucionários de 1917 achavam que outras
revoluções vitoriosas ocorreriam brevemente; depois de uns 30 anos vieram novas
vitórias. Um dos principais dirigentes da esquerda brasileira disse, antes de
1964, que estávamos praticamente no poder; cerca de 40 anos depois chegamos ao governo federal. Mas -- ainda bem -- há também exemplos opostos, de "pessimismo" exagerado.)
7.Uma das dificuldades no debate estratégico reside no vocabulário
mesmo. Depois de anos de debate escasso, é comum utilizarmos palavras
diferentes para dizer o mesmo, bem como palavras iguais para nos referir a
fenômenos diferentes.
8.Outras dificuldades estão relacionadas à própria conjuntura. Estamos
chamados a criticar uma estratégia de conciliação, quando estamos numa situação de defensiva estratégica. Temos que construir uma estratégia que
coloque as eleições no seu devido lugar, mas não há como minimizar a
importância por exemplo de 2018. Temos que fazer uma crítica teórica ao
"republicanismo" que levou setores do Partido a acreditar em contos
de fada, num momento que empurra à defesa do "Estado de
Direito" e da "Constituição cidadã".
9.Do que está dito nos projetos de resolução ao congresso de 12 a 5/1, alguns destaques:
a) sobre o balanço do período 1995-2016: a questão central é a política
de conciliação de classes. A moderação do lado de cá nunca moderou o lado de
lá;
b) sobre o programa: nosso programa de reformas estruturais deve adotar uma
perspectiva socialista, por ser a mais capaz de resolver os problemas reais do
Brasil em benefício das maiorias. É preciso superar as orientações de tipo keynesiano, nacional-desenvolvimentista, nacionalista, social-democrata;
c) sobre a estratégia: precisamos disputar o poder no amplo sentido da palavra, o que significa
abordar de forma integrada governo, parlamento, judiciário, burocracia de
estado, segurança pública e defesa, gestão da economia, educação, cultura e
comunicação, além da auto-organização da classe trabalhadora. Cabe recuperar a orientação
estratégica contida no V Encontro Nacional do PT (luta institucional + social + organização + cultura) e construir a Frente Brasil Popular;
d) em todos os cenários --internacional, regional e nacional – há uma
forte tendência para maiores conflitos e para o aprofundamento da ofensiva
reacionária. Mesmo que possa haver crescimento econômico, haverá reduzida
redistribuição. Tudo isto cria uma situação contraditória. Por um lado, a
classe dominante terá dificuldades objetivas para cooptar nossas bases sociais.
Por outro lado, isto os levará a intensificar as operações de desmoralização
ideológica, certo e aniquilamento. Entre outros motivos, para que não haja quem
lidere a insatisfação popular que tende a crescer;
e) perdemos quando perdemos maioria na classe trabalhadora. Nosso principal desafio é recuperar maioria entre os trabalhadores, especialmente jovens, mulheres, negros e negras. Um desafio para o Partido em si, para a militância petista de base, mas também para o conjunto da esquerda, para os movimentos sociais, o movimento sindical, o MST e a CUT.
10.O cenário ideal para a classe dominante é aquele em que a esquerda se limita à ser
uma eterna oposição, que nunca consegue chegar ao governo. Ou que chega ao governo,
mas não consegue permanecer nele e/ou não consegue fazer mudanças permanentes na
ordem econômico-social. Devemos trabalhar para voltar ao governo, mas para isto
será necessária outra estratégia. Inclusive porque o cenário internacional pode
desdobrar-se numa crise e conflito de grandes proporções; e também porque a ofensiva
reacionária busca inviabilizar não apenas nossa volta ao governo, mas também
busca destruir os instrumentos de governo necessários para transformações na
ordem econômico-social.
11.Por tudo isto, a tática neste momento de defensiva
estratégica deve ser pensada com muita atenção. É preciso uma tática que derrote a contraofensiva, sem colocar todas as fichas no eleitoral, enfatizando a luta social e cultural. É preciso que nosso congresso dedique bastante tempo a isto, à análise concreta da situação conjuntural.
(A este respeito, entre tantos outros temas, sugerimos atenção para a iniciativa denominada "queroprevias". Noutro lugar já comentamos seus aspectos interessantes. Aqui cabe destacar que ela incorre em vários dos problemas já citados, entre os quais: 1-a exemplo do que ocorreu tantas vezes até 2016, as questões programáticas e estratégicas são colocadas em segundo plano. Em primeiro plano ficam 2018, o eleitoral, o tático e a inclinação a resolver problemas políticas através de soluções organizativas; 2-a exemplo do que ocorreu tantas vezes até 2016, definir quem será o candidato torna-se tão ou mais relevante do que definir o programa, confundido-se ambos momentos; 3-a exemplo do que ocorreu tantas vezes até 2016, o leque é de centro-esquerda, não de esquerda. Sem contar, é claro, os problemas políticos e logísticos envolvidos na proposta. Claro que, se for possível superar estes problemas, é uma abordagem interessante para um problema real. Maiores detalhes ver http://www.compartilhadores.queroprevias.org.br/)
12.O Congresso do PT será sido exitoso se, entre tantas outras coisas, ocorrer um dos seguintes
cenários: a) se a atual minoria virar maioria; b) se a atual maioria adotar
total ou parcialmente as posições hoje minoritárias; c) se ocorrer uma divisão
na atual maioria, possibilitando a construção de uma "nova maioria"
que esteja à esquerda da atual. Nos outros cenários, o PT e o conjunto da
esquerda brasileira experimentarão dificuldades maiores do que as atuais.
13. Um dos principais objetivos da ofensiva reacionária é destruir o PT.
Este motivo é mais do que suficiente para que reafirmemos a defesa do Partido
dos Trabalhadores. Não devemos subestimar a ofensiva reacionária. Nem devemos
subestimar as dificuldades que alguns setores do PT têm demostrado, no que diz respeito a fazer um
balanço autocrítico e a formular uma nova estratégia. Por outro lado, os que falam em sair do PT não percebem que, se não formos capazes de enfrentar e superar os problemas vividos pelo Partido, o mais provável é que tais problemas inviabilizem no presente e no
futuro todas as tentativas que se proponham a construir uma esquerda socialista de massas,
enraizada na classe trabalhadora e capaz de se converter em alternativa de
governo e poder. Uma "confirmação" desta "maldição" pode ser vista nos limites e contradições de todos aqueles que, desde os anos 1980, tentaram superar o PT construindo outras organizações. Por isto, àqueles que brincam que nós da AE ficaremos no PT "até que apaguem a última luz", devemos lembrar que não temos medo de escuro.
Quem tem medo de escuro nunca viu a luz.
ResponderExcluirFalar no futuro do PT sem falar em Lula e nas eleições de 2018 isso sim que me parece uma loucura delirante. O campo de batalha está já definido e vai ser a próxima eleição presidencial. Nossos adversários inclusive temem essa luta e vão ter muitas dificuldades em se organizar nessa próxima etapa da guerra. Buscando contornar essas dificuldades é bem possível e provável que eles possam buscar alguma "solução institucional" "criativa" e "alternativa" ao campo aberto de batalha eleitoral. Já não podem apenas como oposição atacar, tem agora como governo também defender sua "obra" (que até o momento é francamente indefensável e tende a piorar com o tempo). Lula tem que sair em caminhada pelo Brasil em campanha aberta para 2018 e fora do Brasil denunciando o golpe e seus desdobramentos. O PT tem que se organizar e liderar essa estratégia de luta e refazer uma frente de esquerda contra o golpe e de resistência as políticas dos governos ilegítimos de Temer e de quem vier o substituir ano que vem (cenário bem provável). O PT sem Lula nesse momento é presa fácil, Lula sem o PT é impensável.
ResponderExcluirEu vivo sempre no mundo da lua.......
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