A direita controla a comissão da
Câmara dedicada a analisar o impeachment. Se nada de extraordinário acontecer,
a tendência é que a direita consiga maioria na comissão e no plenário. Se
nada de extraordinário acontecer, a tendência é que tenha maioria também no
Senado. Na paralela, o TSE acelera o processo. Nas mídias e nas ruas, a
direita exibe sua vantagem. Portanto, o que os segura?
Os prazos e ritos, essenciais para
dar manter alguma aparência de normalidade. As divisões sobre o que fazer em
seguida (posse do vice, parlamentarismo, novas eleições, prisão de Lula,
proscrição do PT?). E o medo de que a ingovernabilidade se aprofunde, desta vez
contra eles. Ingovernabilidade que pode vir de duas fontes opostas: da reação
dos setores populares e da radicalização da extrema direita. O que devemos
fazer?
Em primeiro lugar, esticar a corda.
Não haverá solução negociada para
esta crise. Ou melhor: qualquer solução negociada só resultaria, mais do que em
nossa derrota, em nossa desmoralização. Não devemos contribuir com nenhum gesto
que passe a impressão de que está em curso um processo normal.
Em segundo lugar, esclarecer o que
está em jogo.
Não está em jogo apenas a
"democracia". Está em jogo o alinhamento internacional do
Brasil: Estados Unidos ou integração + BRICS? Estão em jogo os direitos
econômicos e sociais da maioria do povo brasileiro, a começar dos inscritos na
Constituição de 1988. E, claro, estão em jogo as liberdades democráticas,
especialmente o direito de organização e mobilização da classe trabalhadora. Os
ataques contra sedes sindicais são pequena parte do que se está armando.
Em terceiro lugar, não entregar os
pontos.
Embora a situação seja dificílima,
ainda há espaço para reagir. E mesmo que ao final, apesar da nossa reação,
sejamos derrotados, tanto o tipo de derrota quanto nossa capacidade de
reorganização posterior depende da intensidade e da qualidade da resistência
que opusermos agora.
Por isto, não devemos nos dobrar ao
clima de "cumprir tabela". Que em muitos casos aparece como ansiedade
em discutir já o que fazer "depois". Mas aparece, principalmente, sob
a tentativa de discutir uma saída negociada para abreviar a crise. Repetimos: qualquer
solução negociada só resultaria, mais do que em nossa derrota, em nossa
desmoralização.
Em quarto lugar, devemos fazer o que
está a nosso alcance para alterar a correlação de forças.
É preciso recuperar o apoio da
maioria da classe trabalhadora. Hoje a maior parte da classe trabalhadora está
neutralizada, em grande medida devido aos efeitos da política econômica, tendo
crescido muito o setor que acredita no discurso da direita.
Para recuperar o apoio da maioria da
classe trabalhadora, é preciso que o governo entre em campo, com outro
discurso, com outra atitude e com outra política econômica. Se o governo não
mudar, por mais esforço que façamos, não vamos equilibrar o jogo nas ruas. Pode
ser que não haja mais tempo para mudar, pode ser que a mudança não gere efeitos
na velocidade necessária. Mas é nossa obrigação fazer a coisa certa.
Por fim, é preciso abandonar o pensamento mágico e colocar no lugar a
análise da luta de classes realmente existente.
É preciso lembrar: em dezembro de
2015 barramos o lado de lá. Mas nossa presidenta insistiu na política errada. O
lado de lá retomou a ofensiva. E passaram a atacar diretamente o Lula. Aí
decidiu-se mudar de tática, entre outros motivos por acreditar que Lula
ministro ajudaria a romper a paralisia do governo, dificultaria as
arbitrariedades de Moro e facilitaria na negociação de uma saída. E o que
aconteceu?
Até agora o que temos é mais
defensiva que antes, mais arbitrariedade que antes. Ademais, avançam as
negociações entre os diferentes setores da direita para nos destruir. Pior: não
rompemos até agora o círculo vicioso que marca este segundo mandato de Dilma. O
círculo vicioso é o seguinte: o governo faz concessões para tentar evitar o
golpe, as concessões fazem o governo perder apoio popular, fortalecendo o
golpismo e assim sucessivamente.
Para romper este círculo vicioso, a
Frente Brasil Popular, o PT e Lula foram construindo outra política, a saber:
combinar a defesa da democracia com a mudança na política econômica.
Até agora, a ida de Lula para o
governo não se traduziu numa mudança da política econômica. Aliás, não se
traduziu em mudança da política em geral: vide a sanção da lei
anti-terrorismo.
Sem mudança na política econômica, as
chances de obter apoio popular contra o golpe diminuem.
Tudo isto é de conhecimento geral.
Mas apesar disto, decisões fundamentais continuam sendo tomadas com base num
"modo mágico" de pensar. Se isto não mudar, corremos o risco não
apenas da derrota, mas também da desmoralização.
Por isto é fundamental que as
manifestações de hoje expressem, na disposição de luta e nas palavras de ordem,
outro tipo de pensamento: o da velha e boa luta de classes.
Boa sorte e boa luta!!!!
É isto aí, plenamente de acordo! Mas vamos em frente, qualquer que seja as decisoes do poder a História continuará em nossas mãos. Foi lamentável que os nossos dois governos não conseguiram fazer as reformas estruturais que os movimentos populares pediam ´ha muito e sobre as quais o PT foi construido. Mas mesmo que tendo que recomeçar tudo de novo a Hist´ria continua em nossas mãos!
ResponderExcluir