terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Sobre a crítica de Milton Temer

Os tempos andam duros para todo mundo que é de esquerda.

Andam especialmente duros para quem não entende como aquilo deu nisso.

É o caso daqueles setores da “esquerda da esquerda” que acreditam que o PT seria um instrumento da classe dominante.

É o caso, também, dos ultramoderados que acreditavam que o PT estaria demonstrando como salvar o capitalismo brasileiro de si mesmo.

A vida derrotou ambas posições.

Mas é duro reconhecer o erro, mais fácil acusar os outros de incoerência.

É assim que interpreto a crítica que Milton Temer faz a uma entrevista recente que divulguei nas redes sociais.

A entrevista criticada por Temer está disponível no endereço:

http://www.pagina13.org.br/pt/valter-pomar-o-governo-esta-capitulando-ao-programa-da-direita-motivo-pelo-qual-o-alvo-agora-e-o-pt-e-lula/#.VsyPy8eFeOM

Sujeito educado e por quem tenho o maior respeito e carinho pessoal, Temer primeiro me afaga.

Diz que sou “do campo combativo do saudoso PT” e que eu teria “consistente formação teórica”.

Afaga, para em seguida descer o porrete.

Diz que dou “nó em pingo d’água”, para convencer meus leitores de que “só agora, há uma guinada à direita, com as últimas propostas do governo Dilma”.

Respondo: leia o que escrevi desde o início de 2015, ou até antes da posse.

Desde o primeiro dia falo que o governo está sofrendo de torcicolo.

Mas agora há uma evidente mudança de qualidade.

Tanto é assim que o próprio Temer escreve que agora estaria ocorrendo um desmonte “definitivo” (sic) da Seguridade Social.

Outro assunto: Temer pergunta ironicamente se eu esqueci das “primeiras medidas tomadas por Lula quando eleito em 2002”.

Respondo: claro que não esqueci.

Tenho uma memória de cão.

Lembro não apenas do que Lula fez e deixou de fazer, como lembro também das posições de direita defendidas por figuras do PSOL, agora e também quando militavam no PT.

Agora, o que não me esqueço mesmo é que política não é ajuste de contas pessoal.

Política é luta pelo poder entre classes sociais, entre grandes forças políticas.

Temer goste disto ou não, se a direita quer destruir o Lula, a esquerda tem a obrigação de defender o Lula.

Temer pergunta se eu pretendo “convencer alguém de que Lula é aquilo que o próprio faz questão de afirmar nunca ter sido?”

Respondo: de jeito nenhum.

Aliás, não sou nem nunca fui lulista. Sou petista.

Acontece que a direita não quer destruir o Lula pelos seus defeitos, que obviamente existem.

A direita quer destruir o Lula pelas suas qualidades.

Temer insiste em não entender isto.

E como não entende isto, não compreende que não basta “não entrar” no “cantochão absolutamente desprezível do combate sujo e despolitizado a Lula”.

Lavar as mãos não basta.

Por fim: Temer lamenta o que o “lulopragmatismo conseguiu fazer em cabeças pensantes”.

Sugiro que ele pense antes no que o anti-lulismo fez e faz com outras cabeças pensantes.


Por fim, uma historinha que me veio a mente, sei lá por qual motivo: quando os nazistas invadiram a URSS, não faltou quem ficasse lembrando isto ou aquilo da história recente. Mas fez certo quem colocou em primeiro lugar a missão de derrotar o nazismo.

2 comentários:

  1. Concordo plenamente.

    "Certa esquerda" e principalmente os dirigentes do PT precisam entender o último parágrafo do texto em tela!...

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  2. Então vc concorda que Trotsky esteve errado nos anos 30? Evoé!

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