No dia 25 de fevereiro, quinta-feira passada, o ex-presidente nacional do Partido Comunista do Brasil "tuitou" a seguinte mensagem:
Confesso que fiquei surpreso com o tom da mensagem, mas não com o conteúdo.
Afinal, dentro do próprio Partido dos Trabalhadores e nas reuniões da Frente Brasil Popular, sempre há vozes alertando para o risco que corremos, toda vez que "subimos o tom" nas críticas à política implementada pelo governo Dilma.
De maneira geral, considero bem-vindo este tipo de alerta, pois de fato a situação é muito delicada e exige um permanente ajuste fino.
Mas tal ajuste fino não pode ser unilateral, não pode desconsiderar aspectos importantes da realidade política.
É verdade que a contraofensiva da direita é brutal.
Mas não há como negar que a direita tira parte de suas energias do desânimo popular com o governo, que por sua vez decorre em parte da política econômica do governo. Sem alterar esta política, fica muito mais difícil combater a direita.
É verdade que a contraofensiva é politicamente golpista, o que no curto prazo implica em anular o resultado das eleições presidenciais de 2014, seja via impeachment na Câmara, seja via cassação na Justiça.
Mas o afastamento da presidenta Dilma não é a única pauta antidemocrática da direita.
Há também a criminalização dos movimentos sociais, a judicialização da política, a partidarização da justiça, a tentativa de cassar a legenda do PT e de condenar Lula, a redução global das liberdades democráticas e dos direitos humanos.
E não há como fugir de um fato: em vários momentos o governo Dilma contribui com a pauta acima, seja pela passividade do espero sainte ministro da Justiça, seja por iniciativas desastrosas como a Lei supostamente anti-terrorismo.
É verdade que a contraofensiva da direita é essencialmente política.
Mas ela inclui desde já e visa principalmente objetivos econômicos e sociais mais estratégicos, como a redução da massa salarial e a subordinação do Brasil ao bloco comandado pelos EUA.
E não há como negar que o programa de ação do anterior e também do atual ministro da Fazenda incorporou parte do programa de nossos inimigos.
A obsessão com o ajuste fiscal e com a reforma da previdência são dois exemplos disto.
Quando olhamos o conjunto da realidade, fica claro ser impossível desvincular a defesa da democracia da luta por outra política econômica.
Entre outros motivos porque, mantida a atual política econòmica, será cada vez mais difícil ter apoio popular para defender o governo. E sem apoio popular, seremos derrotados, mais cedo ou mais tarde.
Aí surge a questão: por qual motivo dizer isto, com estas ou com outras palavras, seria "entregar na bandeja a cabeça da presidenta para a direita?"
"Entregar na bandeja" é uma expressão popular bastante conhecida e acho que tem origens bíblicas (João Batista).
Em todas as versões que conheço, há uma dupla de malvados: quem "entrega na bandeja" e quem recebe a cabeça. Já a pessoa decapitada é, sempre, a vítima da dupla maldosa.
Não faço ideia dos motivos pelos quais Renato Rabelo escolheu justamente esta expressão, para referir-se a então possível e hoje consumada aprovação, pelo Partido dos Trabalhadores, de um documento propondo uma política econômica alternativa.
Mas, seja quais forem os motivos, achei totalmente inadequado.
A presidenta é filiada ao PT. Por duas vezes, o PT a escolheu como candidata e fez sua campanha. Miltantes, filiados e simpatizantes do PT constituem a maioria, senão absoluta relativa, dos que foram as ruas durante todo o ano de 2015 em defesa de seu mandato. Além disso, como é público, o Congresso do PT realizado em 2015 derrotou (por 56% a 44% dos votos, aproximadamente) um projeto de resolução que criticava explicitamente a política adotada pelo governo.
Por outro lado, como também é público e notório, a presidenta vem tomando decisões estratégicas sem ouvir seu Partido, nem os partidos de esquerda que constituem sua base efetiva de sustentação. E, o que é pior, tais decisões estratégicas vão na contramão do programa vitorioso nas eleições de 2014. E o que é pior ainda, tais decisões estão colocando em risco não apenas o mandato da presidenta, nem tampouco as chances de vitória da esquerda em 2018; as opções feitas pelo governo estão contribuindo para uma derrota estratégica da esquerda brasileira e dos setores populares.
Sendo estes alguns dos fatos, se tem alguém entregando alguma coisa numa bandeja, este alguém não é o PT.
Portanto, respondendo a segunda pergunta de Rabelo e fazendo uso da imagem que ele mesmo usou: apresentar um programa alternativo contribui para evitar que sejamos, todos nós, a começar pela presidenta Dilma, o PT e o PCdoB, "entregues na bandeja".
Finalmente: considero que a política econômica é a quinta coluna da ofensiva golpista. A presidenta Dilma tem os meios para tentar adotar outra política. A esquerda tem o dever de defender que ela faça isto. Entre outros motivos porque nossos compromissos incluem, mas não se limitam, a mandatos e governos. Renato Rabelo, estou seguro, sabe disto tanto quanto eu. Entendo, embora discorde, os motivos pelos quais defende outra maneira de agir. E espero que ele venha a entender os motivos que levaram à aprovação, pelo Diretório Nacional do PT, da resolução sobre uma política econômica alternativa.
Atenção PT vocês querem entregar na bandeja a cabeça da presidenta para a direita? Onde pretendem ir?@renatorabelobr
Confesso que fiquei surpreso com o tom da mensagem, mas não com o conteúdo.
Afinal, dentro do próprio Partido dos Trabalhadores e nas reuniões da Frente Brasil Popular, sempre há vozes alertando para o risco que corremos, toda vez que "subimos o tom" nas críticas à política implementada pelo governo Dilma.
De maneira geral, considero bem-vindo este tipo de alerta, pois de fato a situação é muito delicada e exige um permanente ajuste fino.
Mas tal ajuste fino não pode ser unilateral, não pode desconsiderar aspectos importantes da realidade política.
É verdade que a contraofensiva da direita é brutal.
Mas não há como negar que a direita tira parte de suas energias do desânimo popular com o governo, que por sua vez decorre em parte da política econômica do governo. Sem alterar esta política, fica muito mais difícil combater a direita.
É verdade que a contraofensiva é politicamente golpista, o que no curto prazo implica em anular o resultado das eleições presidenciais de 2014, seja via impeachment na Câmara, seja via cassação na Justiça.
Mas o afastamento da presidenta Dilma não é a única pauta antidemocrática da direita.
Há também a criminalização dos movimentos sociais, a judicialização da política, a partidarização da justiça, a tentativa de cassar a legenda do PT e de condenar Lula, a redução global das liberdades democráticas e dos direitos humanos.
E não há como fugir de um fato: em vários momentos o governo Dilma contribui com a pauta acima, seja pela passividade do espero sainte ministro da Justiça, seja por iniciativas desastrosas como a Lei supostamente anti-terrorismo.
É verdade que a contraofensiva da direita é essencialmente política.
Mas ela inclui desde já e visa principalmente objetivos econômicos e sociais mais estratégicos, como a redução da massa salarial e a subordinação do Brasil ao bloco comandado pelos EUA.
E não há como negar que o programa de ação do anterior e também do atual ministro da Fazenda incorporou parte do programa de nossos inimigos.
A obsessão com o ajuste fiscal e com a reforma da previdência são dois exemplos disto.
Quando olhamos o conjunto da realidade, fica claro ser impossível desvincular a defesa da democracia da luta por outra política econômica.
Entre outros motivos porque, mantida a atual política econòmica, será cada vez mais difícil ter apoio popular para defender o governo. E sem apoio popular, seremos derrotados, mais cedo ou mais tarde.
Aí surge a questão: por qual motivo dizer isto, com estas ou com outras palavras, seria "entregar na bandeja a cabeça da presidenta para a direita?"
"Entregar na bandeja" é uma expressão popular bastante conhecida e acho que tem origens bíblicas (João Batista).
Em todas as versões que conheço, há uma dupla de malvados: quem "entrega na bandeja" e quem recebe a cabeça. Já a pessoa decapitada é, sempre, a vítima da dupla maldosa.
Não faço ideia dos motivos pelos quais Renato Rabelo escolheu justamente esta expressão, para referir-se a então possível e hoje consumada aprovação, pelo Partido dos Trabalhadores, de um documento propondo uma política econômica alternativa.
Mas, seja quais forem os motivos, achei totalmente inadequado.
A presidenta é filiada ao PT. Por duas vezes, o PT a escolheu como candidata e fez sua campanha. Miltantes, filiados e simpatizantes do PT constituem a maioria, senão absoluta relativa, dos que foram as ruas durante todo o ano de 2015 em defesa de seu mandato. Além disso, como é público, o Congresso do PT realizado em 2015 derrotou (por 56% a 44% dos votos, aproximadamente) um projeto de resolução que criticava explicitamente a política adotada pelo governo.
Por outro lado, como também é público e notório, a presidenta vem tomando decisões estratégicas sem ouvir seu Partido, nem os partidos de esquerda que constituem sua base efetiva de sustentação. E, o que é pior, tais decisões estratégicas vão na contramão do programa vitorioso nas eleições de 2014. E o que é pior ainda, tais decisões estão colocando em risco não apenas o mandato da presidenta, nem tampouco as chances de vitória da esquerda em 2018; as opções feitas pelo governo estão contribuindo para uma derrota estratégica da esquerda brasileira e dos setores populares.
Sendo estes alguns dos fatos, se tem alguém entregando alguma coisa numa bandeja, este alguém não é o PT.
Portanto, respondendo a segunda pergunta de Rabelo e fazendo uso da imagem que ele mesmo usou: apresentar um programa alternativo contribui para evitar que sejamos, todos nós, a começar pela presidenta Dilma, o PT e o PCdoB, "entregues na bandeja".
Finalmente: considero que a política econômica é a quinta coluna da ofensiva golpista. A presidenta Dilma tem os meios para tentar adotar outra política. A esquerda tem o dever de defender que ela faça isto. Entre outros motivos porque nossos compromissos incluem, mas não se limitam, a mandatos e governos. Renato Rabelo, estou seguro, sabe disto tanto quanto eu. Entendo, embora discorde, os motivos pelos quais defende outra maneira de agir. E espero que ele venha a entender os motivos que levaram à aprovação, pelo Diretório Nacional do PT, da resolução sobre uma política econômica alternativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário