A morte de Chavez e as dificuldades na eleição de Maduro fizeram uma parte da esquerda latino-americana se dar conta de que estamos em uma nova etapa, diferente dos anos 1998-2008, marcados pela ofensiva da esquerda. Até abril de 2013, ainda havia setores que não aceitavam, não concordavam, não percebiam que estamos numa etapa de contra-ofensiva da direita. Esta nova etapa resulta principalmente da combinação de três processos: os impactos da crise internacional sobre nossa região, a contraofensiva do imperialismo e seus aliados, os limites da estratégia da própria esquerda.Os desafios postos são inúmeros, mas o principal deles diz respeito a acelerar o processo de integração, entendendo por isto não apenas a unidade política, mas principalmente a adoção de um novo padrão de desenvolvimento regional. Que só será possível se for compreendido, pela maioria de nossas populações, como um caminho para mais bem-estar social e para mais democracia. Construir esta compreensão, assim como ajudar a derrotar os inimigos deste processo, é uma das principais tarefas da esquerda social e política.
2) Você disse que o 19º estará fortemente marcado pelas discussões sobre a necessidade de uma mudança de rumos da esquerda latino-americana, por um lado, e, por outro, sobre a necessidade de integração. Em que sentido devem as forças de esquerda se encaminhar para uma mudança efetiva? Que mudança seria essa? Tomando como exemplo o governo da presidenta Dilma Rousseff, o que teria que se transformado para responder a essa necessidade de mudança?
A mudança de rumos diz respeito a realizar reformas estruturais. Isto é bastante claro no caso brasileiro, onde a cultura, a política e a economia continuam sob hegemonia do grande capital. Desde já, mas principalmente no segundo mandato Dilma, precisamos caminhar no sentido de cumprir a agenda democrático-popular, por exemplo as reformas agrária e urbana, desmontar o oligopólio financeiro e o da comunicação, reformar o Estado e a política, ampliar o peso do investimento público e social, gerar uma dinâmica de industrialização e inovação tecnológica baseada principalmente na sinergia causada pela oferta de bens públicos e não principalmente na ampliação do consumo e do investimento privado.
O apoio popular à integração regional varia de pais para país. No caso brasileiro, é menor do que em outros países da região. E isto tem relação com fatores culturais, históricos, políticos e econômicos, entre os quais destaca-se a preferência de nossa classe dominante por ser sócia menor do imperialismo. Os governos Lula e Dilma operaram noutro sentido. Sendo que após Lula ter sentado as bases, era necessário ao governo Dilma dar um salto de qualidade, que exigia principalmente um pesado investimento público no desenvolvimento do conjunto da região. E isto não foi feito.
Há várias direitas na região. Algumas sempre apostaram na combinação de diferentes formas de luta: mídia, massas, eleições e golpes. No caso brasileiro, nos últimos anos a esquerda monopolizava as ruas e ganhava nas urnas nacionais, perdendo para a direita na mídia. Agora a direita resolveu disputar também as ruas, o que exige de nós recuperar a organicidade social que perdemos nos últimos dez anos.
Tomando de conjunto, é um espaço da disputa deles contra nós, pois o desequilíbrio é brutal, em favor da direita, dos conservadores, do capital. Países onde se adotou uma legislação mais democrática, conseguiram no máximo equilibrar a disputa entre a minoria oligopolista da comunicação e as maiorias desprovidas de meios de comunicação. Não fosse este desequilíbrio e a manipulação informativa que daí decorre, as reformas democrático populares estariam muito mais adiantadas em nossa região. A internet, embora tenha possibilidades e potencialidades mais democráticas, também é hegemonizada por eles: basta ver que a maior parte do conteúdo que circula na rede é produzida nas redações do PIG. Para não falar dos provedores privados e da espionagem em escala industrial. No caso brasileiro, o grave é a cumplicidade do ministro das comunicações com parte deste status quo.
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