Entre 28 de abril e 1 de maio de 2013, uma
delegação do Partido dos Trabalhadores visitou Havana, Cuba.
A delegação foi composta por Rui Falcão, presidente
nacional do PT; Iriny Lopes, secretária de relações internacionais do PT; João
Vaccari, tesoureiro nacional do PT; José Guimarães, líder do PT na Câmara dos
Deputados; Ângela Portela, senadora; Francisco Campos e Valter Pomar,
integrantes do Diretório Nacional.
A programação incluiu entrevistas aos meios de
comunicação; reuniões com integrantes do Comitê Central do Partido Comunista,
entre os quais José Ramon Balaguer e Machado Ventura; contatos com integrantes
do governo e parlamento, como Marcelino Medina,
vice-ministro do Ministério de Relações Exteriores, Ana María Mari Machado, vice-presidenta
da Assembléia Nacional do Poder Popular, Marino Murillo Jorge, vice-presidente
do Conselho de Ministros, Kenia Serrano, deputada e presidenta do Instituto
Cubano de Amizade com os Povos (ICAP), além de Miguel Mario Díaz-Canell, membro do Buró
Político do Comitê Central do Partido Comunista e primeiro vice-presidente do
Conselho de Estado e do Conselho de Ministros da República de Cuba
A delegação também participou do V Encontro de
Petistas e Núcleos do PT no Exterior; manteve um encontro com a Agência de
Promoção das Exportações do Brasil em Cuba (APEX) e com o Embaixador do Brasil
em Cuba, José Eduardo Martins Felicio.
Além disso, participou da reunião do Grupo de Trabalho
do Foro de Sao Paulo, realizou um intercâmbio con familiares dos cubanos presos
nos Estados Unidos e esteve na comemoração do Día Internacional dos Trabalhadores.
De abril de 1961 até hoje, Cuba busca construir o
socialismo. Numa primeira etapa, tentou um caminho próprio, tanto do ponto de
vista político quanto econômico.
Simbolicamente, esta etapa “experimental” pode dar-se
por encerrada em 8 de outubro de 1967, quando Che Guevara foi assassinado na
Bolívia. Naquele momento ficou claro que, pelo menos temporariamente, estava
encerrado um ciclo revolucionário latinoamericano e caribenho, obrigando Cuba a
depender do apoio soviético mais do que os cubanos certamente gostariam.
Numa segunda etapa, a transição socialista em Cuba
tornou-se altamente dependente do modelo soviético. Esta etapa começa a
encerrar-se por decisão unilateral da URSS, no período Gorbachev; e se encerrou
de maneira abrupta com a dissolução da URSS, em 1991.
Entre 1989 e 1991, entre a dissolução dos regimes
socialistas no Leste Europeu e o fim da URSS, as exportações cubanas se
reduziram em 62% e as importações caíram pela metade.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos ampliaram o bloqueio
e todo tipo de sabotagem contra a Ilha, na expectativa de que Cuba tivesse o
mesmo destino dos regimes dirigidos pelos partidos comunistas do Leste Europeu.
Durante esta terceira etapa, há um forte debate sobre
como sobreviver e prosseguir socialista, nas terríveis condições dos anos 1990,
com unilateralismo, neoliberalismo e colapso do socialismo.
O problema de fundo enfrentado por Cuba é clássico:
uma revolução num país de baixo desenvolvimento capitalista, cercado e
hostilizado pelo imperialismo, só pode realizar uma transição socialista
exitosa se contar com a) apoio externo e/ou b) achar maneiras próprias de
desenvolver sua capacidade econômica, suas forças produtivas.
O apoio externo, proveniente da União Soviética, entre
1961 e 1991, permitiu a Cuba manter um padrão de vida superior à sua própria
capacidade produtiva. O desaparecimento da URSS obrigou a superestrutura cubana
a depender de uma economia marcada por fortes limitações.
Cuba foi colocada diante da necessidade de substituir
as importações baratas, oriundas principalmente da URSS e do Leste Europeu, por
produção nacional e/ou importações caras vindas do mundo capitalista, alternativa
que implicava gerar divisas em moeda estrangeira, para pagar as importações.
No curtíssimo prazo, as receitas (em moeda conversível)
necessárias para isto vieram em parte do turismo, em parte de exportações. Mas
as receitas arrecadadas, especialmente no contexto do bloqueio, não eram
suficientes para financiar o funcionamento geral da economia, as políticas
públicas e os salários bancados pelo Estado, o que foi gerando um crescente
déficit.
Cuba segue, hoje, diante da necessidade de garantir
segurança alimentar, autonomia energética e industrial.
Ao longo da terceira etapa (1991-2013), o governo
cubano experimentou três políticas distintas.
A primeira ficou conhecida como “período especial”, em
que foi adotada uma “economia de guerra em período de paz”.
O segundo tipo de política foi adotado quando teve início
o ciclo de vitórias eleitorais das forças progressistas e de esquerda na
América Latina e Caribe.
O terceiro tipo de política começa depois que Raul
Castro assume o governo, devido ao afastamento de Fidel, por motivos de saúde.
A política atual está descrita num documento chamado
"Lineamientos para la Política Económica y Social del Partido y la
Revolución", um conjunto de orientações aprovadas pelo Sexto Congresso do
Partido Comunista de Cuba, realizado em 2011.
Tendo como objetivo construir um “socialismo próspero
y sostenible”, os “Lineamientos” reafirmam a propriedade social dos meios de
produção fundamentais e falam em “atualização do modelo”.
A leitura dos “Lineamientos” e as ações práticas
decorrentes não constituem, entretanto, uma mera “atualização”, mas sim o
abandono de um determinado “modelo” de construção do socialismo, baseado na
quase exclusiva propriedade estatal dos meios de produção, em favor de outro
caminho que, para desenvolver as forças produtivas indispensáveis ao socialismo,
apela para diferentes formas de propriedade privada e relações de mercado.
Este outro caminho, na medida em que busca dar uso
produtivo para a capacidade de trabalho de amplos setores da população cubana,
também implica em legalizar e em alguns casos ampliar a desigualdade social. O
que tanto resolve quanto cria velhos e novos problemas.
As reformas (termo mais adequado que “atualização do
modelo”) geram polêmicas. A direita não gosta da reafirmação do socialismo, nem
da manutenção do Partido Comunista no comando do Estado cubano: Raul Castro deixou
claro que não foi eleito para fazer Cuba voltar a ser capitalista.
Por outro lado, setores de esquerda não apreciam as “concessões
ao capitalismo”, além dos que defendem que as reformas sejam acompanhadas de
mais debate e democracia popular, inclusive para tratar das citadas
desigualdades.
Para além destas polêmicas, há a conjuntura internacional
e latinoamericana. O resultado da eleição venezuelana de 14 de abril mostra,
entre outras coisas, os riscos embutidos em qualquer dependência. Há o fator
Estados Unidos, que mantém o bloqueio, sendo que o almejado fim do bloqueio
também contém seus perigos: uma invasão de dólares. Além disso, há as dificuldades
em si do processo de reformas, entre as quais aquelas derivadas de mais de 50
anos de poder, com suas conquistas, mas também com suas debilidades, sentidas
com muita força pelas gerações mais recentes.
Estas dificuldades exigem manter e aprofundar nossas
relações com Cuba. Claro que as reformas em Cuba abrem espaço para negócios que
interessam a setores empresariais. Claro, também, que o fortalecimento de Cuba
interessa à política de integração regional, que de fato constitui uma política
de Estado, para além da esquerda.
Mas no caso específico do Partido dos Trabalhadores e
de outros setores da esquerda brasileira, a decisão de manter e aprofundar as
relações com Cuba incluem motivações de outra natureza.
Cuba é um dos pontos altos da luta antiimperialista, pela
soberania nacional, contra a ingerência externa, e esta luta nos diz respeito.
Cuba constitui a primeira tentativa de construir um país socialista na nossa
região do mundo, e esta luta também nos diz respeito. Portanto, o sucesso de
Cuba também é, pelo menos em alguma medida, nosso sucesso.
Vale dizer que o governo cubano e o Partido Comunista
apreciam tremendamente as relações com o governo Dilma e o apoio constante do PT.
A recíproca é e deve seguir sendo verdadeira.
Box informativo
Cuba é uma ilha situada no mar do Caribe, com 110.922
km2 de extensão. O PIB é de 54 bilhões de dólares; a dívida externa de
aproximadamente 12 bilhões. O IDH (2003) era de 0,817, o que naquele momento
colocava Cuba em 8º lugar na América Latina e 52º lugar no mundo.
A população gira ao redor de 11.164.000 habitantes,
76% urbanos. Quase 2% da população latinoamericana e 0,16% da população
mundial, números que em 1950 eram 3,5% e 0,23% respectivamente. Uma tendência
ao envelhecimento.
O principal fato político da história cubana foi e
segue sendo a luta pela independência.
Como a oligarquia cubana era altamente integrada a
metrópole, a luta pela independência frente a Espanha foi travada em grande
medida pelas classes exploradas; o que por sua vez deu à luta pela independência
um caráter político e social muito radical.
Na luta pela independência, há três marcos: a guerra
de 1868-1878 (derrotada); a guerra de 1895-1902 (parcialmente vitoriosa); e a
revolução de 1953-1959 (vitoriosa).
Na guerra de 1895-1902, quando os revolucionários
estavam para vencer a guerra de independência, os Estados Unidos invadiram Cuba
a pretexto de “ajudar” na luta contra a Espanha.
Por isto, quando é proclamada, em 20 de maio de 1902,
a República de Cuba nasce constitucionalmente atrelada aos Estados Unidos. A
chamada Emenda Platt legalizava o direito dos EUA intervirem em Cuba.
A história de Cuba, de 1902 até 1959, girou ao redor
da luta de independência contra os Estados Unidos.
Esta luta passa por diversas etapas, a última das
quais se combina com a luta contra a ditadura surgida a partir de março de
1952, quando ocorre um golpe encabeçado pelo sargento Fulgencio Batista.
Uma das reações a este golpe é o ataque ao Quartel
Moncada, ataque liderado por Fidel Castro, jovem advogado ligado ao Partido
Ortodoxo, partido que provavelmente venceria as eleições canceladas devido ao
golpe.
O ataque ao Moncada, realizado no dia 26 de julho de
1953, é massacrado e os poucos sobreviventes, entre eles Fidel, são condenados
à prisão.
Anistiados em 1955, fundam o Movimento 26 de julho,
vão para o exílio e desencadeiam um plano político-militar que os levaria ao
poder, em 1 de janeiro de 1959.
É importante ter claro que o M26 de julho era uma
organização político-militar, com forte base urbana; existiam outras forças com
muita presença de massa, como o Diretório Revolucionário e o Partido Popular
Socialista (o PC local), além de um forte movimento estudantil e sindical.
A revolução vitoriosa em 1959 foi democrática,
nacional e popular. Converteu-se em anti-imperialista e socialista à medida que
as ações do governo revolucionário entraram em choque com os interesses
políticos e econômicos dos Estados Unidos.
O marco da conversão de uma revolução
democrático-popular em uma revolução socialista foi o discurso feito por Fidel
Castro, dia 15 de abril de 1961, na véspera da invasão da Praia Girón, episódio
também conhecido como Baia dos Porcos, quando um grupo de mercenários
contratados, treinados e armados pelos Estados Unidos desembarcou na Ilha, sendo
cercado e derrotado pelas forças armadas cubanas.
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