1.No
discurso sobre o Estado da União, Obama anunciou seu apoio a um tratado entre
EU e UE, que segundo ele ajudaria a criar empregos nos Estados
Unidos. Logo em seguida, as partes anunciaram o início das negociações, de
um tratado que em tese abrangeria metade da produção e um terço do comércio
mundial. O anúncio foi recebido, pela oposição brasileira, como suposta
prova de que nossa política externa estaria totalmente errada, pois ela teria
nos afastado dos Estados Unidos e da Europa.
2.O
que há por trás do anúncio? Primeiro, as necessidades da política interna tanto
dos Estados Unidos, quanto da Europa, que precisam sinalizar medidas que
supostamente resultem em crescimento com geração de empregos. Segundo, a
disposição de reorganizar as bases da aliança atlântica. Terceiro, o desejo de
evitar o deslocamento geopolítico em direção à Ásia.
3.Noutras
palavras: as negociações EUA-UE, em torno deste TLC, devem ser colocadas lado a
lado com duas outras iniciativas: o chamado Arco do Pacífico e o TLC
Ásia-Pacífico. São medidas que pretendem superar a crise, reafirmar a hegemonia
mundial e sobre as Américas por parte dos EUA, assim como impedir o
deslocamento do centro mundial em direção à Ásia, sob hegemonia chinesa.
4.Não
cabem dúvidas quanto as intenções, mas cabe questionar as chances de sucesso.
Em primeiro lugar, um TLC deste tipo teria quais consequências práticas, tendo
em vista o nível de comércio já existente entre ambas as regiões? Em segundo
lugar, o estado das economias dos EUA e da UE permitem este tipo de
sinergia virtuosa? Em terceiro lugar, qual o impacto efetivo que isto terá
sobre as demais economias mundiais e em que prazo? Em quarto lugar, quanto
tempo será necessário para negociar um tratado deste tipo, supondo que as
resistências em ambas regiões seja efetivamente superável? Em quinto lugar,
quais os desdobramentos políticos? Em sexto lugar, há algo que pudéssemos ou
que possamos fazer a respeito?
5.Sobre
as três primeiras questões, sou de opinião que devemos minimizar os efeitos
práticos, pelo menos os de curto prazo. Sobre a quarta questão, sou de opinião
que as dificuldades são imensas e o tempo longo. Sobre a quinta questão, penso
que devemos levar muito a sério a intenção dos EUA no sentido de recuperar a
hegemonia e reverter o deslocamento geopolítico. Sobre a sexta questão, a
resposta é: a única coisa virtuosa que podíamos e que podemos fazer a respeito
é acelerar a velocidade da integração regional e das medidas de proteção das
economias latinoamericanas, especialmente a brasileira, pois a alternativa
realmente existente era e continua sendo ao estilo da Alca. Portanto,
inaceitável.
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