sábado, 14 de janeiro de 2012

PED faz parte da solução, não do problema

Texto divulgado em 12 de junho de 2005.


Setores do Campo Majoritário e desavisados têm defendido o adiamento do processo de eleições diretas do PT (PED). Mas, privar os petistas do direito de se manifestarem é uma atitude antidemocrática; adiar a eleição, por medo de perder, é um absurdo inominável.


Logo após a eleição municipal de 2004, nós alertamos: acendera o sinal amarelo para o PT.

A posição do "campo majoritário" foi outra. Tentaram fazer crer que a eleição havia sido uma vitória do Partido. Ou um empate. Ou qualquer coisa, menos uma séria derrota política.

Quando fomos derrotados na eleição da presidência da Câmara, não houve como negar a derrota e seus efeitos gravíssimos.

Mesmo assim, uma parcela do "campo majoritário" preferiu dizer que a derrota tinha sido do PT. E falaram que havia sido causada, não por uma ação articulada da direita, mas principalmente pela divisão do Partido.

Com as acusações do deputado Roberto Jefferson, o ataque da direita ganhou mais amplitude. Mesmo assim, a atitude de alguns foi mandar dizer – por meio do ministro Aldo Rebelo - que a crise era do PT.

Ao mesmo tempo, na Executiva Nacional, o "campo majoritário" não aceitou a proposta feita pela esquerda: mudar a política econômica, mudar a política de alianças. E, num primeiro momento, não quis desqualificar pesadamente o acusador. Compreensível: para quem o tratava, dias antes, como parceiro, aliado e confiável, era mesmo difícil passar a tratá-lo como o que sempre foi. Para lembrar: chefe da tropa de choque de Collor.

Agora, uma semana depois da primeira entrevista do deputado Roberto Jefferson para o jornal Folha de S. Paulo, as declarações dos integrantes do "campo majoritário" subiram de tom. Mas agora, como antes, isso é pouco perto do que precisa ser feito. Não resistiremos aos violentos ataques da direita, apenas desqualificando o acusador e prosseguindo nas medidas contra a corrupção.

Não adiantará, também, afastar Delúbio Soares e Sílvio Pereira da Executiva Nacional, como é proposto por alguns integrantes graduados do "campo majoritário". Supondo que o Partido adotasse esta atitude, alguém acredita mesmo que este é "o" problema? Que afastando os dois, a crise cessará? Que os ataques serão reduzidos?

Tampouco adianta acreditar que "Lula está blindado", como disse recentemente um importante senador. Não está. Basta ver as capas das revistas semanais, que ressuscitaram o preconceito de classe mais rasteiro.

Como pode estar "blindado", se a IstoÉ Dinheiro colocou Collor para dar conselhos para Lula?

A única pessoa "blindada" no governo, pelo menos até agora, chama-se Antonio Palocci. Ele e sua equipe maníaca por juros e superávites. Equipe que, aliás, está se aproveitando da crise para tentar privatizar o IRB.

Ou mudamos a política econômica, ou mudamos a política de alianças, ou permaneceremos na defensiva daqui até 2006. Importante dizer: mudar a política econômica não é igual a substituir o presidente do Banco Central. Nem se resume a reduzir um pouco a taxa de juros. Meirelles pode cair, pois há denúncias pesadas contra ele. Mas a política econômica pode continuar. Seu substituto pode até reduzir um pouco a taxa de juros. Mas isto não é suficiente.

Nos próximos dias, acontecerão várias reuniões no governo, na bancada e no partido. Nestas reuniões, tudo pode acontecer, inclusive nada.

As alternativas em debate (melhor seria dizer: em especulação) vão da esquerda à direita: da manutenção da política econômica até sua alteração total, da manutenção da política de alianças até sua mudança completa, da manutenção da equipe de ministros até uma reforma total, passando por todas as alternativas intermediárias imagináveis.

Parte destas alternativas depende da decisão do presidente da República. Sobre quem o "campo majoritário" tem cada vez menos influência. Neste contexto, a militância do Partido joga um papel fundamental. A solução da crise passa pela ação de dezenas de milhares de companheiros e companheiras espalhadas em todo o país. Em primeiro lugar, fazendo a defesa resoluta de nosso Partido e da democracia. Devemos nos mobilizar para participar do ato do dia 17 de junho, em São Paulo capital; devemos promover atos estaduais e municipais; devemos soltar notas em defesa do Partido.

Em segundo lugar, exigindo do "campo majoritário" que, na reunião do Diretório Nacional marcada para os dias 18 e 19 de junho, vote numa resolução que cobre mudanças no rumo do governo, tanto na economia quanto na política de alianças.

Em terceiro lugar, garantindo a democracia partidária, dando continuidade ao processo de eleição das novas direções partidárias (PD). Setores do campo majoritário e alguns desavisados têm defendido o adiamento do PED. Por trás desta proposta, há uma ilusão, uma monstruosidade e uma esperteza.

A ilusão: achar que daqui há alguns meses, a crise vai ter passado. Mentira: daqui para frente, teremos mais e mais crises. Adiar o PED, por conta da crise, é jogá-lo para as calendas gregas.

A monstruosidade: num momento de crise, como vivemos, a democracia ajuda, não atrapalha. Mais crise, mais democracia. Privar o Partido, privar a base, do direito de se manifestar, é uma atitude profundamente antidemocrática. Até porque não foi a base do Partido, nem a luta de idéias entre as tendências, quem criou a presente crise.

A esperteza: adiar eleição, por medo de perder, é um absurdo inominável. O que nós diríamos de um governo que propusesse isto?

Os ataques da direita provocaram danos, em grande medida por causa das opções políticas incorretas feitas pelo "campo majoritário". O PT precisa de outro rumo e de outra direção. O PED é o momento de eleger esta nova direção.


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